ꕥ Capítulo 41 ꕥ
Scarlet Narrando
Parecia até mentira, mas era real... eu e a Raquel estávamos nos beijando com tanta urgência, como se estivéssemos querendo isso há tanto tempo que não queríamos parar.
Mas precisamos parar para recuperarmos o fôlego.
Ainda de olhos fechados, senti a respiração dela ofegante batendo no meu rosto e eu abri os olhos. A filha da mãe é tão bonita que se eu pudesse, ficaria aqui admirando ela a madrugada inteira. Ela abriu os olhos e deu um sorriso fechado.
— Foi melhor do que da última vez. — Ela disse e eu ri de canto.
— Sim... — Digo feliz mas não demorou para que a minha consciência pesasse. — Mas você é comprometida.
— Eu sei... — Ela soltou um suspiro e passou as mãos nos seus cabelos curtos. — Há alguns meses atrás, eu ainda tinha esperanças de que o meu noivo saísse do coma. Eu tinha certeza de que o amava e que iria esperar por ele, que assim que ele acordasse e se recuperasse, nós dois iríamos nos casar... Peter é um homem incrível para falar a verdade — Ela disse me olhando e por um momento senti inveja desse Peter. — Mas então, você apareceu na MHS, não nos demos muito bem de primeira e eu não pretendia ser amigável com você. Com o tempo passei a te achar interessante e pensei que fosse loucura da minha cabeça, e quando você me beijou naquela piscina... foi então que tudo mudou. Fiquei confusa? Fiquei, fiquei até mesmo com raiva de mim mesma por ter traído o Peter, eu viajei para a França e durante o meu voo eu não parava de pensar no que tinha acontecido.
— Sério? — Perguntei surpresa e ela confirmou minha pergunta com um aceno de cabeça. — E eu pensando que você não estava nem aí, e eu que fui dormir pensando. — Digo e ela ri de canto.
— Mas o que eu quero dizer é que, eu estava confusa em relação a isso... Ah eu odeio falar sobre sentimentos mas estou vendo que não tenho outra escolha — Ela revirou os olhos. — Eu pensei que estava certa de que amava o Peter e que por você eu, talvez, sentisse apenas uma pequena atração. Que fosse algo passageiro.
— Ah vai, uma pequena atração?
— Lembre-se que eu disse talvez — Ela disse e eu fiz um sinal com a mão para que ela continuasse falando. — Eu estava confusa esse tempo todo, mas agora... não estou mais.
Eu deveria bater em mim mesma por eu estar me sentindo feliz naquele momento, ela confessou que não estava confusa então... ela também está sentindo algo por mim?
— Então... você sente mesmo algo por mim?
— Acredite, se eu não sentisse eu não estaria mais aqui conversando com você. — Ela disse irônica, o que me fez rir.
— Se isso for um sonho, eu não quero ser acordada dessa vez.
— Dessa vez? — Ela perguntou confusa. — Então você esteve sonhando comigo e com esse momento? — Ela perguntou e eu parei de rir.
É, eu não estou sonhando mesmo... ISSO É ÓTIMO.
— É... eu não diria que eram sonhos, na verdade eram pesadelos — Digo e Raquel me encara. — Calma — Ri. — Era quando eu não sentia antes o que eu sinto agora por você.
Envolvo meu braço na sua cintura por ela ainda estar sentada nas minhas pernas e me olhando. Ela pegou na minha mão e fez um sinal de negação com a cabeça.
— Não faça o que você está pensando em fazer agora. Eu estou há tantos meses sem sentir uma carícia, um toque de alguém que... se você me beijar de novo, eu provavelmente perderia o controle e também o meu emprego depois por ter feito loucuras com a filha do diretor. — Raquel disse e eu senti minha pele se arrepiar só de imaginar tendo algo mais íntimo com ela.
Eu nunca consegui me entregar para o meu namorado, que atualmente é o meu ex. Eu pareço forte mas em relação a isso eu sou tão insegura, sempre vem a minha mente que eu só irei ser usada e depois serei descartada como um copo de plástico.
Claro que também não sou santa, eu e aquele idiota fizemos outras coisas mas nunca cheguei a dar o que realmente ele queria. Me pergunto se... com a Raquel irei agir do mesmo jeito, mas o que estou sentindo agora por ela é diferente do que eu sentia pelo meu ex. O que me faz pensar que eu não o amava tanto assim.
— Eu adoraria que você fizesse loucuras comigo. — Digo e Raquel ri de canto e se levanta das minhas pernas, ficando de pé e passando a mão nos seus cabelos.
— Fala como se nunca tivesse feito com alguém.
— É porque... eu nunca fiz. — Confesso ficando cabisbaixa.
— Não precisa mentir Scarlet, voc
— Não estou mentindo — Interrompo ela erguendo a cabeça para olhar para ela, que estava de braços cruzados. — Eu nunca estive na cama com alguém, se é que me entende.
— Está querendo dizer que você ainda é virgem? — Raquel perguntou arqueando uma sobrancelha e eu cruzei as pernas. — Não é possível...
— Ah é sim. Pode rir, mas ri baixo para não acordar ninguém lá em cima.
— Rir? Eu deveria era te aplaudir por você consegui chegar nessa idade que está agora e ainda ser virgem. É tão raro encontrar uma garota da sua idade e ainda sendo virgem... — Ela disse me analisando com seus olhos azuis e logo pareceu resmungar baixinho. — E eu pensando que você ser a filha do diretor já era péssimo para mim. Imagina se nós fossémos além do beijo? Eu estaria correndo um risco não só de perder o meu emprego, também perderia a confiança de seu pai.
— Então, vamos fingir que nada aconteceu entre nós duas? — Pergunto ficando um pouco triste e Raquel se senta ao meu lado no sofá.
— Sim, vamos — Ela disse e eu desviei o olhar dela, ela tocou no meu rosto fazendo eu voltar a olhar para ela novamente. — Vamos fingir somente para as pessoas, para as pessoas, nós duas somos rivais e tem que continuar assim. Agora, fingir para nós mesmas que nada aconteceu entre a gente? Não daria certo... eu não conseguiria.
Dei um sorriso fechado e toquei em sua mão que estava agora, acariciando o meu rosto.
— Eu também não conseguiria. — Me aproximei dela e tudo que eu mais queria era beijá-la, ela percebeu quais eram as minhas intenções e riu de canto.
— Nem tente, eu vou voltar para o quarto onde as outras professoras estão dormindo. É melhor assim. — Ela disse e afastou a sua mão da minha, se levantando do sofá.
Me levantei do sofá e Raquel pareceu ficar atenta a cada movimento que eu poderia fazer.
— Calma, eu não vou te agarrar. Por mais que eu deseje fazer isso — Digo e ela da um sorriso fechado. — Eu não consigo acreditar ainda que você também sente algo por mim, isso é incrível... mas como vai ser agora? Ah Raquel, eu queria tanto poder passar um tempo com você amanhã.
— Sabe que isso não vai ser possível, mas podemos marcar de nos ver no sábado. Se der para você é claro. — Ela disse e eu provavelmente estava sorrindo como uma tonta, estava tão feliz por ser correspondida e logo pela mulher que eu nunca imaginei que teria chance.
— Eu darei um jeito.
Ela assente e quando ela iria dar as costas eu pego em seu pulso.
— Espera, e o meu beijo de boa noite?
— Não tem beijo, mas tem o boa noite então, boa noite. — Ela disse me fazendo rir baixinho.
Estava começando a ver um lado da Raquel que antes eu desconhecia.
— Não tem nem um... abraço? — Pergunto e vejo ela arquea uma sobrancelha. — Ah vai, é só um abraço Raquel.
Afastei minha mão do pulso dela e ela confessou que não gostava tanto assim de abraços, então eu a abracei primeiro e demorou alguns segundos para ela retribuir. Inalei o cheiro do perfume que ela usava e minha vontade foi de arrastar ela para aquele sofá e não parar de beijá-la.
Quando eu iria fazer isso escutei um som vindo do meu celular que estava em cima do sofá.
— Alguém está te enviando algumas mensagens. — Raquel disse se afastando de mim e eu soltei um suspiro frustrada.
Fui até o sofá e peguei o meu celular, olhei na tela e vi que quem estava me mandando mensagens naquele momento era a Samara. Era só o que me faltava...
— Ela não desiste. — Raquel disse agora próxima a mim e olhando para a tela do meu celular.
— Ela é muito insistente.
— E louca por você.
Coloquei meu celular em cima do sofá e olhei para a Raquel que estava séria.
Ela está com ciúmes? Não dá nem para acreditar.
— Eu não posso fazer nada se ela é louca por mim, infelizmente eu já sou louca por você — Digo agarrando a cintura da Raquel, trazendo-a para mais perto de mim e ela aperta com força a ponta do meu nariz com o dedo polegar e o dedo indicador. — Ai Raquel!
— Adorei saber que você é louca por mim, mas não me agarre de novo — Ela disse conseguindo se soltar de mim. — Eu já era para ter ido para o quarto e ainda estou aqui, nos vemos amanhã.
— Acho que vou responder a Samara e também acho que vou no quarto em que ela está agora. — Digo para ver o que a Raquel iria fazer e não demorou para que ela parasse de caminhar e voltasse a me olhar.
— Responde, responde a Samara que eu irei adicionar o número da Sheila na minha lista de contatos.
Ela me encarava e eu também passei a encará-la quando ela pronunciou o nome da Sheila e também o que pretendia fazer.
— Ela passou o número do telefone dela para você?
— Passou, depois que saiu daquela brincadeira sem graça. Sério... não precisava você ter aceitado o desafio da Isla, ficou vestida só com as peças intímas enquanto a Samara não parava de te elogiar e você não tem noção do quanto isso me deixou incomodada e irritada, tanto que tive que inventar uma mentira de que alguém estava me ligando só para não continuar ali — Raquel disse me fazendo ficar surpresa e quando ela parou de falar, a mesma desviou o olhar de mim, soltando um suspiro. — Antes que pergunte, a resposta é sim, eu fiquei.
— Eu já estava desconfiando que você estava com ciúmes de mim, mas a sua mentira sobre a ligação... Raquel você é maluca. — Rir indo até ela. — Será que é por isso que nos gostamos? Porque somos malucas?
— Não tenho duvidas. — Ela disse ainda sem olhar para mim e eu toquei no rosto dela, fazendo com que ela me olhasse.
— Não precisa ter ciúmes de mim com a Samara. Ela pode me olhar o quanto ela quiser e até dar em cima de mim, mas quem eu quero mesmo é você. — Digo vendo a mesma dar um sorriso fechado.
Iria beijar ela quando a mesma afastou a minha mão do seu rosto e deu dois passos para trás.
— Não Scarlet. Eu te disse para não se controlar mas é melhor você se controlar, eu estou tentando e quero que você faça o mesmo... podemos nos ver no sábado? — Ela perguntou e pensei se tinha algum compromisso no sábado.
Mesmo que eu tenha, eu irei desmarcar.
— Podemos... mas como vamos nos ver sábado? A gente vai ter um encontro? — Pergunto não conseguindo conter o sorriso e Raquel ri de canto. — Para onde vamos?
— Para o cinema, o que acha? — Ela perguntou irônica e eu resolvi responder a ela sem ironia alguma.
— O que eu acho? Um máximo. — Digo empolgada e vejo Raquel revirar os olhos.
— Não criatura, não podemos ir a nenhum lugar porque corremos o risco de ser vistas por alguém que já nos conhece. Mas eu vou decidi para onde iremos, amanhã eu te passo o meu número de telefone, boa noite. — Ela caminhou na direção onde havia deixado o seu travesseiro e edredom.
— Não vou ganhar outro abraço de boa noite? — Pergunto depois de vê-la pegar seu travesseiro e o edredom.
— Ganharia, mas se eu ficar mais alguns minutos aqui eu não vou consegui subir aquelas escadas — Ela disse me fazendo rir baixinho. — Até mais tarde.
— Até mais tarde.
Ela foi embora e eu nem conseguia acreditar que tudo aquilo havia mesmo acontecido. Não era um sonho... não me lembro da última vez que senti o meu coração tão acelerado, e também a famosa sensação de borboletas no estômago.
Annabelle Narrando
Até que a festa da Alice foi ótima, apesar da brincadeira que fizeram ontem e que eu achei alguns desafios um pouco pesados. Ainda bem que eu não participei, iria acabar saindo mesmo.
O café da manhã de hoje também foi ótimo, tudo ocorreu bem. Percebi que Scarlet estava mais animada e em algumas vezes ela me deixou falando sozinha, parecia estar com a cabeça nas nuvens e quando eu perguntava o que ela tinha, ela nem se quer tinha escutado a minha pergunta.
E quando eu voltava a perguntar a ela, ela dizia que iria me contar depois. Já estou no uber, a caminho de casa e ela não me contou. Se eu tenho noção do que pode ter acontecido? Até tenho, mas só vou acreditar quando ela me contar.
Talvez a Samara tenha decidido deixar ela em paz.
Cheguei em casa e a tv estava ligada, mas minha mãe não estava na sala.
— Mãe? Cheguei. — Digo entrando dentro de casa e fecho a porta atrás de mim.
Caminho na direção do sofá e coloco a minha bolsa em cima do mesmo. Ainda bem que consegui trazer um pedaço de bolo para a minha mãe, quase não sobrava nada.
Senti um cheiro um pouco forte de cigarro e franzi as sobrancelhas, odeio esse cheiro.
Olhei na direção da cozinha e o cheiro parecia vim de lá, caminhei até a entrada da cozinha e vi a minha mãe encostada no balcão, olhando para um lugar vago da cozinha e... fumando?
— Mamãe?
Ela afastou o cigarro dos lábios e soltou a fumaça do cigarro pela boca. Ela me olhou e confesso que naquele momento eu não reconheci a minha mãe, desde quando ela fumava?
— Como foi a festa do pijama? — Ela perguntou tranquila e eu olhei para ela incrédula.
— Ocorreu tudo bem. Mãe, desde quando você fuma? O cigarro é prejudicial a saúde. — Digo lamentando por vê-la fumando pela primeira vez.
Ela deu um sorriso fechado e veio até mim.
— A mamãe sabe o que faz meu bem, não se preocupe comigo — Ela disse enrolando uma mecha do meu cabelo no seu dedo indicador. — Se não se importa irei dar uma volta.
Ela deixou que o cigarro caísse no chão e em seguida pisou em cima com a sua sandália, apagando o cigarro. Ela se curvou um pouco para pegá-lo e não demorou para jogá-lo em uma lixeira da cozinha.
A cozinha só cheirava a cigarro e eu corri na direção da janela, a abri para que o vento frio de lá de fora pudesse entrar um pouco na cozinha para diminuir aquele cheiro horrível.
— Para onde vai? — Pergunto alterando um pouco a voz, vendo que a minha mãe já havia saído da cozinha.
Vou para a sala e ela já estava próxima a porta, ela parou de caminhar e me olhou por cima do ombro. Não sei se estou ficando louca, mas a minha mãe está... estranha.
— Dar uma volta.
Ela abriu a porta e saiu de casa.
Tá legal... isso foi estranho. Minha mãe agora resolveu começar a fumar também? Era só o que estava faltando.
Ela disse que iria dar uma volta, a oportunidade é agora para eu segui-la e saber para onde ela vai.
Iria me preparar para ir atrás dela quando senti o meu celular vibrar no bolso do meu short. Peguei o meu celular para ver quem me ligava e vi que era o Dominic.
Olhei para a porta e depois voltei meu olhar para o celular... a senhora escapou hoje mãe, mas quando você for dar outra volta, eu irei também.
Atendi a ligação do Dominic e me sentei no braço do sofá.
Ligação On✨
— Já está com saudades? — Pergunto e escuto ele ri do outro lado da linha.
— Você não?
— Ah Dominic... você deveria deletar o meu número do seu celular.
— Deveria, mas não vou. Está livre hoje? — Ele perguntou e eu sorri, eu parecia uma maluca que não podia escutar a voz dele que já ficava feliz.
— Infelizmente não, tenho alguns afazeres de casa e também da escola para fazer.
— E no sábado você estará livre?
— Acho que sim, está com tantas saudades assim de mim? — Pergunto provocando ele.
— Você nem imagina... temos que terminar aquela conversa, não é mesmo? — Ele perguntou e eu ri.
— Claro, só a conversa não é?
— Se você não me seduzir então sim, será só a conversa — Ele disse me fazendo rir mais uma vez.
Eu seduzir ele? É mais fácil ser o contrário.
— Te vejo no sábado? Às duas horas da tarde, naquela praça em que te encontrei sozinha?
— Estarei lá. — Digo já imaginando como seria passar o meu sábado à tarde com o Dominic.
— Preciso desligar agora, tchau.
Tchau e... eu amo você...
Espera mais que loucura é essa? Isso eu não posso dizer nem em sonho.
— Tchau.
Ligação Off✨
Ele encerrou a ligação e eu coloquei o meu celular ao lado da minha bolsa. Escutei batidas na porta e fui até a mesma.
Essa volta da minha mãe foi rápida pelo visto. Abri a porta e arqueei uma sobrancelha.
— Scarlet?
— Belle amiga, eu precisava vim aqui e agora — Ela entrou dentro da minha casa e eu fechei a porta. — Eu fui para casa mas deixei apenas a minha bolsa lá, o uber que eu pedi foi com duas paradas e claro que a última parada teria que ser aqui. Vim te contar pessoalmente o que houve para mim estar assim como eu estou agora.
— Está radiante. — Digo observando ela e ela riu.
Fui me sentar no sofá e ela ficou em pé.
— Conta logo. Deixa eu advinhar, a Samara te deixou em paz?
— Quem dera, mas foi outra coisa. Eu e a Raquel... — Scarlet mordeu o lábio inferior e só ai entendi o porquê ela estava radiante. — Eu e ela nos beijamos de novo Belle, só que dessa vez foi ela que me beijou.
A Raquel tomou a iniciativa? Isso é que é surpresa.
— Estou surpresa, sério? Como foi? — Pergunto vendo a felicidade de Scarlet e ela se senta ao meu lado, começando a contar tudo o que aconteceu entre ela e a Raquel de madrugada.
O que me fez ficar feliz por ela e pela Raquel também por estar descobrindo o que estão sentindo uma pela outra, só que tinha um porém, a Raquel era comprometida. Mas foi como Scarlet disse, Raquel teria que tomar uma decisão mais cedo ou mais tarde em relação a isso.
— Ah eu precisava muito te contar sobre isso, me sinto até mais calma. — Ela disse com um sorriso largo e eu analisei o semblante da minha amiga.
Ela está começando a se apaixonar pela Raquel e não percebeu isso ainda.
— Sabe que sempre que quiser desabafar ou contar algo, eu estarei aqui.
— É por isso que gosto da nossa amizade, pois não escondemos nada uma da outra. — Scarlet disse e isso me fez se sentir uma pessoa horrível.
Sério, que tipo de amiga eu sou? Scarlet é uma pessoa incrível, divertida, determinada... eu não mereço a amizade dela. Ela me conta tudo e eu também passei a contar até os meus problemas pessoais para ela, a única coisa que escondo dela é o meu envolvimento com o pai dela...
Eu sou uma pessoa horrível por estar escondendo isso dela, a minha consciência até mesmo pesa quando eu a vejo e me lembro das coisas que já fiz com o Dominic, o pai dela.
— Belle?
— Oi? — Pergunto voltando a prestar atenção nela que agora me olhava preocupada.
— O que houve? Estava feliz agora pouco e agora parece aflita.
— Scarlet... — Solto um suspiro pesado e desvio o olhar dela. — Eu sei que não escondemos nada uma da outra, mas eu... eu tenho um segredo que você ainda não sabe.
— Tem? — Ela perguntou e eu voltei a olhar para ela.
Senti meus olhos marejarem e Scarlet apoiou sua mão no meu ombro.
— Opa, não chore Belle — Ela se aproximou mais de mim e me abraçou, não consegui segurar as lágrimas e chorei no ombro dela. — Não sei que segredo é esse que você ainda não me contou, mas se você não me contou é porque não está preparada ainda e está tudo bem.
— N-não... não está tudo bem. — Me afasto do abraço dela e ela enxuga com o polegar as minhas lágrimas. — Você nunca vai me perdoar.
— Do que você está falando? — Scarlet perguntou e eu desviei mais uma vez o olhar dela. — Ei? Belle, seja lá o que for não precisa me contar agora.
— Mas e-eu preciso... — Volto a olhar para os seus olhos castanhos claro. — Eu não vou consegui continuar escondendo isso de você... — Enxugo as minhas lágrimas e percebo que Scarlet me olhava mais preocupada que antes.
— Belle me escuta, eu estou vendo que você não vai consegui me contar o que está querendo me contar e está tudo bem. Dê tempo ao tempo, eu não vou tentar descobri ou forçar você a me contar nada.
Fiquei quieta e respirei fundo, eu tinha que contar para ela... eu não vou consegui continuar mentindo para ela.
— Quando eu te contar esse segredo... as coisas não serão mais as mesmas entre nós duas — Sou sincera e Scarlet passa a mão nas minhas costas. — Mas eu não vou consegui esconder esse segredo de você por muito tempo Scarlet, na verdade eu não estou aguentando mais esconder isso de você... — Meus olhos enchem de lágrimas novamente.
E eu realmente não irei consegui continuar mentindo para ela... sei que tenho que dizer a verdade para ela, mas sei que quando ela souber, eu a perderei.
Perderei a única amiga que tenho.
— Belle se acalme, poxa eu quero te ajudar mas você está se martirizando demais com isso. Eu sou sua melhor amiga e fico triste em te ver assim e não poder fazer nada. — Scarlet disse e eu senti as lágrimas rolarem pelas minha bochechas.
Peguei nas mãos dela e Scarlet ainda me olhava apreensiva.
— Não vai querer ser a minha amiga depois do que irei te dizer...
— Seja lá o que for, você sempre continuará sendo a minha amiga. — Ela disse e foi então que percebi que ela não tinha nenhuma suspeita de que eu me envolvi com o pai dela, o que me machucou e me corroeu ainda mais por dentro.
— Scarlet eu me env...
— Voltei — Minha mãe disse entrando dentro de casa e eu e Scarlet logo olhamos na direção da porta.
Minha mãe olhou para nós e sorriu para Scarlet.
— Ora ora, há quanto tempo não te vejo Scarlet? Já faz meses não é? — Minha mãe deixou a porta entreaberta e foi até a minha amiga, que afastou as suas mãos das minhas para cumprimentar a minha mãe.
— Já faz meses mesmo. Como vai senhora Vandervoort? — Scarlet perguntou e minha mãe fez um sinal de negação com a cabeça.
— Ah não, senhora não. Eu já te disse que pode me chamar pelo meu nome que não tem problema.
— Tudo bem, como vai Yandra? — Scarlet perguntou e minha mãe riu.
— Bem melhor agora, quer comer alguma coisa?
— Ah não, na verdade, eu só vim devolver algo que a Belle havia esquecido na minha bolsa — Scarlet mentiu e eu dei um sorriso fraco. — Irei chamar um uber para poder ir para casa.
— Entendi.
Minha mãe olhou para mim e eu senti um calafrio percorrer pelo meu corpo, mas o ignorei, estava muito vulnerável e prestes a contar toda a verdade para a Scarlet.
— Se não se importam irei para o meu quarto, foi bom te ver de novo Scarlet.
— Igualmente Yandra. — Minha amiga sorriu e minha mãe não demorou para se retirar da sala.
Escutei os passos dela no andar de cima e também a porta do seu quarto sendo fechada. Soltei um suspiro e me levantei do sofá, assim como Scarlet que já estava mexendo no seu celular e provavelmente já havia chamado um carro para ela.
— Já está a caminho.
— Hum... — Cruzo os braços e acompanho ela até a porta.
Ela bloquea o celular e me olha ainda preocupada.
— Você não tá bem Belle, e eu estou me sentindo uma péssima amiga por não ter percebido isso antes. Há quanto tempo está se sentindo assim? — Ela perguntou e eu neguei com a cabeça.
A péssima amiga dessa história, sou eu.
— Eu estou bem Scarlet, é sério.
— É para eu fingir que acredito? — Ela perguntou irônica e eu dei de ombros. — Saiba que se precisar de qualquer coisa pode me ligar está bem?
Confirmei a pergunta dela com um aceno de cabeça e a mesma me abraçou.
— Vai ficar tudo bem. — Scarlet sussurrou no meu ouvido enquanto passava a mão nas minhas costas.
Respirei fundo e encostei meu queixo no ombro dela.
— Não quero perder você... — Sussurro no ouvido dela e nos afastamos.
— E não vai — Ela deu um sorriso fechado para mim e olhou para o celular. — O carro já está na rua, tchau amiga.
Eu não mereço ser a sua amiga... não mereço ser amiga de ninguém.
— Tchau.
Ramiro Narrando
11:23PM
Hoje eu irei beber até o dia amanhecer.
Foi o que eu disse para o meu irmão mas ele apenas me orientou e disse que se eu precisasse de alguma coisa, era para mim ligar para ele. Hoje não é um dia muito bom para mim, foi nessa data de hoje que... perdi a pessoa que eu mais amava na minha vida.
Decidi ir para um bar fora do meu bairro, fui para um que as pessoas falavam muito bem dele. E como já estou aqui, posso dizer que é um bar bem sofisticado e organizado, é a primeira vez que venho aqui e... só pretendo sair de manhã.
Pedi para o barman me trazer mais uma dose de Whisky, seria a minha segunda dose e enquanto eu aguardava ele preparar a bebida, olhei para a hora no relógio do meu pulso e já eram onze e vinte e cinco da noite.
De repente, uma mulher loira se aproximou de mim.
— Oi gato, está sozinho? — Ela perguntou próxima ao meu ouvido.
— Estou e quero continuar sozinho.
— Mas eu posso te fazer companhia... — A mulher disse se afastando um pouco de mim e passando a mão nos meus braços.
— Não, obrigado.
— Mas
— Você é surda mulher? Ele quer ficar sozinho. — Escutei a voz de outra mulher e essa voz... esteve presente até mesmo nos meus últimos pesadelos, incluindo o de ontem.
A mulher se afastou de mim e eu continuei olhando para o balcão.
— Ora, ora... se não é o playboyzinho. — Ela disse agora ao meu lado.
Olhei para ela que estava com os seus cabelos azulados presos em um rabo de cavalo e com duas pequenas mechas azuladas, uma de cada lado do seu rosto. Ela vestia um vestido preto de manga longa e saltos da mesma cor do vestido.
— Da última vez em que te vi, eu te disse que você teria sérios problemas se ficasse frente a frente comigo novamente. — Zípora disse me encarando.
— Vai me bater de novo? — Pergunto desviando o olhar dela e percebendo que a minha bebida já havia sido colocada perto de mim.
— Acredite, vontade não me falta de fazer isso mas não, não irei te bater. — Ela disse e sentou no banco que ficava ao lado do meu.
Bebi a minha bebida de uma vez, sentindo o líquido descer rasgando pela minha garganta. É disso que eu preciso... para fazer com que esse dia termine o mais rápido possível.
— Mais uma, por favor. — Pedi para o barman e notei que seu olhar estava direcionado a Zípora.
O barman pegou o meu copo agora vazio e foi preparar mais uma dose.
— Para você estar querendo se embebedar, o seu dia não foi lá um dos melhores.
— O que você quer? — Pergunto voltando meu olhar para ela e a mesma ri de canto.
— A pergunta é, o que você quer?
— Olha eu quero ficar sozinho, e se você não me deixar sozinho eu serei obrigado a chamar o gerente. — Digo e ela riu mais uma vez.
— Está falando com ela.
— Você é gerente daqui? — Pergunto arqueando uma sobrancelha.
— Na verdade eu era gerente daqui, agora eu sou a dona — Ela disse me fazendo ficar surpreso e agora entendendo o motivo para o barman ter olhado para ela daquele jeito. — Então, se você tem algum problema comigo... terá que falar comigo. E se não quiser ficar aqui, a saída fica logo ali — Ela lançou um olhar na direção da saída e eu bufei.
O barmam me entregou a outra dose de Whisky que eu pedi e percebi que Zípora não havia saído ainda de perto de mim.
— Você quer que eu vá embora? — Pergunto.
— Adoraria.
— Uma pena, porque eu não vou — Digo e pego o copo, bebendo a minha bebida de uma vez. — E antes que você saia eu... eu
— Estou esperando você pedir playboyzinho. — Ela disse como se soubesse o que eu estava pensando.
— Você é muito convencida — Digo encarando ela que da de ombros. — Mesmo que você não aceite, eu só queria pedir desculpas pela maneira que te tratei naquele dia, e por ter te chamado de... você sabe o que. Infelizmente, costumo ser um idiota na maioria das vezes.
— Você é um idiota, playboyzinho.
— Quer parar de me chamar assim? — Pergunto impaciente e vejo ela dar um sorriso fechado e negar com a cabeça.
— É sempre assim?
— O quê? — Pergunto e ela apoia o cotovelo em cima do balcão.
— Você faz merda e depois percebe que errou feio?
— Sim... — Solto um suspiro.
— E você já parou para pensar que essa pessoa que você é agora, não é a mesma pessoa que você já foi há dez anos atrás? — Ela perguntou e eu voltei a encarar o balcão a minha frente.
— Sim... espera, por que eu estou falando com você? — Perguntei percebendo que pela primeira vez estávamos tendo uma conversa sem discutir.
— Vejamos, porque você precisa colocar para fora tudo o que está sentindo aí no fundo mas prefere guardar para sí e sofrer calado. Eu não te julgo playboyzinho, na verdade eu te entendo e é por isso que irei deixar você sozinho. — Ela disse se levantando do banco.
Tomara que eu não me arrependa do que irei fazer agora.
Peguei no pulso dela, a impedindo de ir e vi ela fechar os olhos.
— Fique... por favor — Soltei o pulso dela delicadamente e percebi que ela continuava de olhos fechados. — Eu não deveria me preocupar com você, mas você está se sentindo bem?
— Estou. — Ela abriu os olhos e voltou a me olhar.
— Ótimo, se quiser beber alguma coisa é melhor pedir agora porque irei te contar o motivo para eu querer me embebedar hoje.
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Espero que tenham gostado, votem e comentem...
Bjooooooos✨
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