ꕥ Capítulo 36 ꕥ
Aviso: esse capítulo contém alguns gatilhos.
Annabelle Narrando
Tudo aqui está tão diferente...
Acho que nunca estive aqui antes, se não, eu me lembraria. Olhei para frente e parecia que eu estava no meio da rua, na verdade eu estava mesmo no meio da rua pois um carro veio em alta velocidade. Eu iria correr mas não deu tempo então fechei os olhos com força.
Na certa, eu iria ser atropelada e seria agora.
Não senti nada e quando abri os olhos o carro já havia passado por mim e já se preparava para dobrar em outra rua. Mas ele nem se quer buzinou...
E que cidade é essa? É impressão minha ou essas casas que estou vendo agora aparentam ser antigas?
Fiquei observando tudo ao meu redor até que me assusto assim que vejo uma pessoa que eu não estava esperando ver.
— Ai que susto! — Apoio minha mão direita no peito e vejo a garotinha continuar com sua expressão séria no rosto, mas não demorou para ela dar um sorriso fechado.
— Não tenha medo de mim Annabelle — A garotinha disse descendo da calçada e vindo até mim.
Ela usava um vestido rosa claro e um laço na cor branca em volta da sua cintura. Seus cabelos eram pretos e estavam presos com uma fitinha também da cor rosa claro, apenas duas mechas pequenas de seu cabelo estavam soltas, uma de cada lado do seu rosto... ah seu rosto. Estava do mesmo jeito que eu me lembrava, na verdade ela estava do mesmo jeito quando sonhei com ela da última vez.
Seu rosto estava pálido e com olheiras, a cor de seus olhos eram esverdeados mas me pareciam um pouco cinzentos.
— Você viu a Holly? — Ela perguntou se aproximando de mim e eu neguei com a cabeça. — Mas ela viu você.
— Quem é Holly?
— A minha boneca — Ela sorriu. — Sabe, Holly sempre foi a minha preferida. Eu sempre pedia para mamãe comprar vestidos para ela, eu gostava de vestir a Holly e de cuidar dela. Quando eu iria vestir um vestido, a Holly tinha que vesti um vestido parecido com o meu também.
— E onde está a sua mãe?
— Ah... ela já morreu há muito tempo. Quando se está assim como eu, a pessoa passa a saber de muitas coisas. — Ela disse tranquilamente e logo olhou na direção de uma das casas que estavam ali.
Eu também olhei e até que era uma casa bonita, parecia que estavam dando uma festa lá dentro.
Desviei o olhar da casa para a garota e a mesma já estava olhando para mim, o que me fez sentir um pouco de medo.
— Não tenha medo de mim Annabelle... por que está com medo de mim?
— Eu não sei... você não me parece nada bem. E quem é você e por que está falando essas coisas para mim? — Perguntei e a garotinha abaixou a cabeça.
— Meu nome é Anelise.
Logo ela ergueu a cabeça e voltou a me olhar.
— Anelise... certo — Passei as mãos no rosto e olhei para a garotinha ao meu lado.
— Quero te mostrar uma coisa — Ela disse erguendo o seu braço e eu estranhei, em seguida ela pegou na minha mão e de repente não estávamos mais naquela rua e sim dentro de uma casa com muitas pessoas.
Algumas dançavam, outros bebiam e conversavam. Acabei percebendo que eu não estava sendo vista por ninguém, mas eu conseguia ver tudo ao meu redor e ver o que eles estavam fazendo.
— Vem. — Escutei a voz de Anelise e olhei para o meu lado esquerdo. Lá estava ela e não demorou para que ela caminhasse em uma direção da casa.
Eu a segui e ela passou a caminhar por um corredor que estava um pouco movimentado também. Ela parou de caminhar e olhou para uma das portas do corredor que estava fechada, em seguida ela me olhou e acenou com a cabeça, indicando e me pedindo para que eu entrasse naquele quarto.
Eu não iria entrar mas estava curiosa para saber o que tinha por trás daquela porta.
Eu não precisei abrir a porta porque quando apenas pensei em entrar naquele quarto, eu já estava dentro dele.
O quarto era muito bonito e tinha uma prateleira com muitas bonecas, logo olhei para a garotinha que era idêntica a Anelise e ela estava girando e rindo sozinha, ela estava radiante e feliz... espera, não pode ser.
— Sim, sou eu Annabelle — A Anelise apareceu do meu lado e agora observava a ela mesma se divertindo no seu quarto.
A Anelise contente estava com a mesma roupa que a Anelise fantasma, que está agora ao meu lado e apesar de ser ela mesma... tinha uma grande diferença agora. E eu estava entendendo agora o que ela havia dito que queria me mostrar, ela estava me mostrando o quanto estava feliz naquela noite.
A garota pegou a boneca de pano que agora eu sabia que se chamava Holly, e começou a girar junto com ela também. Logo ela parou de girar e olhou na direção da porta do quarto quando escutou três batidas na mesma, ela foi até a porta do quarto e abriu porém, foi justamente nessa hora que Anelise nos levou para outro cômodo da casa.
Eu iria questionar o porquê ela havia feito isso mas me assustei com o que acabei vendo na sala de estar. Estava tudo tão tranquilo e animado por aqui, agora as pessoas pareciam estar passando mal, outras até começaram a cair no chão e o corpo dessas pessoas que caíram no chão, estavam entrando em convulsão e não demorou para que uma espuma branca começasse a sair da boca desses que estavam convulsionando no chão.
A cena era forte demais para mim e eu quis fechar os olhos para não ver tudo aquilo, mas não consegui. Logo escutei tiros, saíram dois homens vestidos de preto de outro cômodo da casa e eles saíram atirando naqueles que estavam passando mal, esses homens vestidos de preto passaram por mim e Anelise.
Aquilo tudo estava parecendo um filme de terror ao me ver. Anelise foi caminhando na direção da entrada que dava para o corredor e eu a segui, estava assustada com o que havia acontecido naquela sala de estar e quando olhei para frente a Anelise contente havia aparecido na sala de estar segurando sua boneca de pano, ela ficou assustada vendo todos aqueles corpos na sala de estar e também o sangue de alguns que já jorrava no chão.
Tão assustada que acabou deixando a boneca de pano cair justamente perto do corpo de uma mulher que havia sido baleada no rosto e no pescoço, o sangue dessa mulher já formava uma pequena poça de sangue no chão onde a boneca havia caído.
Percebi que a própria Anelise fantasma ficou observando a versão dela assustada.
— É melhor proteger os seus ouvidos agora. — Anelise disse e eu só vim entender quando vi a garota gritar.
Um grito tão alto que vi a própria Anelise fantasma fazer uma careta e fechar os olhos, como se estivesse se repreendendo por ter gritado daquele jeito.
Infelizmente não deu tempo para mim proteger os meus ouvidos e depois disso passei a escutar mais tiros vindo do andar de cima daquela casa.
A Anelise que antes estava contente agora estava assustada e saiu correndo na direção das escadas, algumas pessoas também desceram correndo pelas escadas, empurrando a pobre garota.
Essas pessoas correram na direção da porta, tentaram abri-lá mas a porta parecia estar trancada.
— E está. — Anelise disse como se tivesse lido a minha mente.
— Eu não quero mais ver isso — Digo e Anelise me ignorou pois nos levou para um corredor, mas não se parecia com o corredor por qual havíamos caminhando e sim outro corredor mas que com certeza, ainda era dentro daquela casa.
Nesse corredor, três pessoas já estavam caídas no chão e mortas, com os olhos arregalados e cada um tinham um corte grande no pescoço. Como se alguém tivesse passado uma faca...
Logo vi Anelise correndo assustada e passando por mim, ela viu aqueles corpos no chão e acabou se assustando ainda mais. Mesmo assim ela continuou correndo pelo corredor, estava assustada mas parecia estar procurando por alguém... logo dois homens apareceram no final do corredor, segurando um homem que parecia suplicar para que eles não o matassem.
Anelise paralisou no meio do corredor e aqueles dois homens logo a olharam, um deles lançou um sorriso perverso para ela e o mesmo homem que lançou esse sorriso, em um movimento rápido ele passou o canivete no pescoço do pobre homem que antes suplicava para que eles não o matassem. Fiquei horrorizada por ter visto e por ter visto Anelise correr assustada daquele corredor após ter visto essa cena, e os dois homens vestidos de preto logo deixaram o corpo do pobre homem que suplicou para não morrer, cair no chão e foram atrás de Anelise.
Eu quis ir atrás para tentar impedir isso pois previa o que poderiam fazer com ela, mas eu não consegui sair do lugar em que eu estava. E a garota mal conseguiu descer as escadas, eles a alcançaram e cada um agarrou o braço dela para que ela não conseguisse escapar deles. Ela chorava e pedia para eles a soltarem, escutei um barulho vindo do final do corredor e era uma mulher que parecia estar passando mal.
E ela estava, tanto que tentava se apoiar nas paredes mas acabou derrubando um vaso que estava em cima de uma pilastra de tamanho médio no corredor.
Assim que aqueles dois homens a viram, vinheram trazendo Anelise com eles que tentava se soltar deles, mas sem sucesso.
O homem que segurava o canivete não demorou para passar o mesmo no pescoço daquela pobre mulher, e ao fazer isso as gotas de sangue que estavam no canivete caíram no vestido de Anelise. A garota já chorava tendo noção de qual seria o seu destino... não, não pode ser esse.
Eu mais uma vez tentei sair do lugar em que eu estava mas não deu em nada. Olhei para a garotinha que estava ao meu lado e me fazendo ver tudo aquilo... estava entendendo agora o porquê ela havia me trazido para cá. Ela queria me mostrar o que aconteceu com ela...
Um daqueles homens abriram a porta de um dos quartos daquele corredor e logo entraram dentro do quarto com Anelise, a garota gritou alto quando a porta foi fechada com força e naquele momento tive uma rápida visão de um deles pegando uma corda de dentro da gaveta de um guarda-roupa e em seguida a amarrando no teto, a garota chorava muito e gritava por socorro e o homem que estava segurando ela, acertou um soco forte no rosto dela. A próxima visão que tive depois dessa foi da corda sendo colocada em seu pescoço e depois do seus pézinhos se mexendo quando já não havia mais chão para ela pisar.
Rapidamente, do mesmo modo que essa visão veio, rapidamente ela foi embora e eu levei minha mão direita a boca e olhei para a Anelise fantasma ao meu lado. A mesma parecia que havia se assustado e respirava com a boca aberta, ela havia ficado assustada ao ver a forma como havia sido morta.
Que crueldade que fizeram com ela meu Deus...
Ela abaixou a cabeça e não demorou para estarmos em outro cômodo daquela casa... se parecia com um sotão. Ainda estava aterrorizada por ter visto a forma como Anelise havia falecido e não demorou para que dois homens vestidos de preto entrassem no sotão e corressem na direção de uma mesa grande, onde haviam duas maletas na cor preta.
Não eram os mesmos homens que haviam feito aquela crueldade com Anelise e com as outras pessoas, eram outros. O que me fez pensar que não só tinha eles dentro daquela casa cometendo aquilo tudo.
Os dois homens que agora estavam no sotão e próximo a mesa ficaram animados ao ver as duas maletas e em seguida as abriram, tinha muito dinheiro dentro daquelas maletas. Eu e Anelise observávamos tudo em um canto do sotão e eu vi quando um daqueles homens pegou a arma que estava no cós de sua calça e em seguida disparou no outro homem que estava ao seu lado que já se preparava para ir embora com a maleta. Me assustei com aquele disparo que foi feito e vi o homem ficar contente.
O homem sorriu vitorioso pegando as duas maletas de dinheiro só para ele e eu percebi que Anelise não olhava mais para aquele homem e sim na direção da entrada do sotão.
Também olhei na mesma direção que a garotinha e vi a silhueta de uma mulher, estava escuro no corredor lá fora, o que dificultou para mim visualizar o rosto daquela mulher, só consegui ver a roupa que ela estava usando.
Ela usava um vestido preto colado ao corpo, um colar e também um chapéu da mesma cor do vestido... não consegui ver o seu rosto mas vi quando ela de repente mirou a arma na direção daquele homem que já se preparava para ir embora com as duas maletas de dinheiro.
O homem percebeu que estava sendo vigiado mas já era tarde demais, pois a mulher logo fez o disparo. Fazendo com que a bala atingisse bem no meio da cabeça dele e tanto seu corpo como as maletas de dinheiro, cairam no chão.
Forço um pouco a vista tentando visualizar pelo menos o rosto daquela mulher, mas não consegui.
Acordei assustada e dando praticamente um pulo da cama, minha respiração estava acelerada assim como as batidas do meu coração. Senti até mesmo que estava suando um pouco.
— Belle você está bem? Meu Deus... estava tendo um pesadelo? — Escutei a voz de minha mãe e percebi que ela estava ao lado da minha cama e com sua mão em meu ombro.
Olhei para ela e a mesma estava me olhando preocupada. Percebi que meu quarto estava mais claro e arregalei os olhos.
— Meu Deus! Já amanheceu... — Digo e minha mãe se senta perto de mim. — Eu já estou atrasada para ir a escola não é?
— Nem tanto. Tem certeza que quer ir a escola hoje? — Ela perguntou e eu passei as mãos no rosto.
— Sim...
— Estava tendo um pesadelo?
— Estava... mas não me lembro como era, mas não foi nada bom.
Sim, eu menti.
Não quis contar para a minha mãe com o que eu havia sonhado, ela poderia me chamar de louca ou dizer que eu fiquei pensando demais na boneca que vi ontem que acabei até mesmo sonhando.
Mas para ser sincera... esse sonho pareceu tão real, tão real que me arrepio só em lembrar como as coisas aconteceram. Menti dizendo que não me lembrava como era o sonho quando na verdade me lembro de cada detalhe, de cada fala, de cada pessoa que vi morrer e principalmente da garotinha...
O que não entendo é porque ela quis me mostrar tudo isso. Por que eu? E aquela boneca...
— Vou fazer o café, você vai querer? — Minha mãe perguntou e eu neguei com a cabeça. — Tudo bem, vou te esperar lá embaixo. Irei sair mais tarde e não sei que horas irei voltar, provavelmente quando você chegar em casa eu posso não estar aqui então não estranhe. Mas qualquer coisa pode me telefonar.
— Eu irei para a casa de Scarlet depois da escola, mas não vou demorar muito por lá — Digo e ela assente mas antes que a mesma saísse do meu quarto, eu a chamo. — Mãe, para onde vai mais tarde?
— Sair com as minhas colegas... beber um pouco.
— Mãe... não exagere nessas coisas — Solto um suspiro pesado e me levanto da cama. — Se embebedar não vai fazer com que se esqueça do Trovão, sabe disso.
Eu sabia que minha mãe também estava sofrendo com a perda do Trovão, mas encher a cara não iria adiantar nada.
Ela apenas assentiu mais uma vez com um aceno de cabeça e saiu do meu quarto.
Se Trovão estivesse aqui... ele já estaria me ajudando com esse sonho que tive. Eu não vou conseguir guardar esse sonho comigo por muito tempo, preciso contar para alguém, uma pessoa de confiança... e já sei até mesmo quem será essa pessoa.
Murray High School
12:07PM
— Deixe-me ver se entendi bem. Você teve um sonho com uma garotinha que nunca chegou a conhecer e também nunca a viu na vida, e você quer me contar tudo se não irá ficar louca, é isso? — Scarlet perguntou entendendo o que eu havia dito a ela, e por esse sonho me deixar um pouco assustada e nervosa eu acabei falando rápido demais, fazendo com que ela não entendesse muita coisa.
Mas consegui me acalmar e explicar tudo com calma para ela. Só estávamos nós duas sentadas em uma mesa no canto do refeitório e afastada de todos.
— É isso.
Scarlet bebeu um pouco do seu suco e logo me olhou confusa. Tive uma surpresa quando a vi hoje, seus cabelos não estavam mais pintados de vermelho, seus cabelos agora estavam ruivos e ela combinou muito com esse novo estilo de cabelo.
Quase não a reconheci quando a vi, mas ela ainda continuava linda. Segundo ela, ela sentiu vontade de mudar o cabelo e então mudou.
— Certo. Mas o que ainda não estou entendendo é o motivo para você não querer me contar agora, é tão ruim assim? — Ela perguntou e eu confirmei com um aceno de cabeça.
— Scarlet quando o Trovão estava... vivo. Eu contava para ele todos os sonhos e pesadelos esquisitos que eu tinha, porque alguns... me intrigavam e ainda me intrigam. E Trovão me ajudava a decifrar alguns deles, e eu já tive dois sonhos com essa garotinha que nunca vi na vida... tive outros sonhos estranhos também com a minha irmã.
— Com a sua irmã? A que infelizmente tirou a própria vida?
— Estou vendo que vou tem que contar não só sobre os dois sonhos que tive com a garotinha, irei também te contar outros sonhos que já tive, que foram com a minha irmã. Mas você não poderá contar para ninguém, terá que ficar entre nós duas — Digo e Scarlet assente bebendo mais um pouco do seu suco. — Acho que minha irmã não cometeu suicídio Scarlet, ela pode ter sido... assassinada — Digo em um tom de voz baixo com medo que alguém escutasse.
Scarlet se engasgou com o suco e eu me levantei um pouco para dar tapinhas nas suas costas. Assim que ela se recuperou, me olhou assustada.
— Meu Deus... mas como... não entendo Belle — Ela disse e entrelaçou suas mãos uma na outra em cima da mesa. — Por que acha isso?
— Porque
— Boa tarde garotas. — Alice disse aparecendo perto da nossa mesa e ao lado dela estava Abigail e Samara.
Lancei um olhar para Scarlet de "eu avisei que aqui não é um bom lugar para conversarmos a vontade" e ela revirou os olhos.
— Aqui está — Alice entregou um convite para mim e outro para Scarlet. — Farei uma festa do pijama para comemorar o meu aniversário que ocorrerá na primeira semana do mês que vem e gostaria muito que vocês duas comparecessem.
— Eu agradeço pelo convite... mas não posso garantir que irei comparecer Alice. — Digo e Alice apoia sua mão no meu ombro.
— Tá tudo bem Belle, fiquei sabendo sobre o seu cachorro. Meus pêsames. — Ela disse e eu agradeci com um aceno de cabeça. — E você Scarlet?
— A resposta de Belle é a mesma que a minha.
Alice compreendeu e logo se retirou com Abigail, mas Samara ficou no mesmo lugar e olhando para a Scarlet.
— Você está tão linda. — Samara disse olhando para Scarlet que agradeceu a ela pelo elogio. Alice logo pegou no braço de Samara e saiu arrastando a amiga.
Rir de canto da cena e olhei para Scarlet.
— Olha só você, conquistando corações.
— Ah não.
— Ah sim — Digo e vejo a mesma encarar as suas unhas pintadas de vermelho.
— Também tenho que te contar uma coisa, mas não são sonhos. — Ela disse e eu apoiei meu cotovelo em cima da mesa e em seguida o meu queixo na palma da minha mão direita. — É sobre eu e a Raquel.
— O que aconteceu com "a furacão"? — Pergunto prendendo o riso e Scarlet me encara. — Não era você que ficava chamando ela assim?
— Era, mas... vou falar o nome dela mesmo, mas ainda assim ela é uma furacão — Scarlet disse e eu dei um sorriso fechado. — Mas não vou contar aqui, é melhor quando chegarmos na minha casa.
Passamos um tempo jogando conversa fora quando o sinal tocou e precisamos nos despedir, cada uma foi para a sua sala e no meio do caminho encontrei Logan, que disse apenas um "Oi Annabelle" para mim e eu também disse apenas um "Oi Logan" para ele. Eu já tinha visto ele quando cheguei mas não nos falamos, nem quando estávamos na sala.
Senti que ele não queria mais ser meu amigo e escolheu se afastar. Por mim tudo bem, se ele quer que sejamos apenas colegas, então seremos.
As horas se passaram rápido e em algumas aulas eu consegui me concentrar, posso dizer até que fazer algumas atividades me fizeram parar de pensar um pouco em Trovão. Quando as aulas acabaram eu me encontrei com Scarlet na porta da sala dela e não demoramos para sair da escola, ela chamou um uber que por sorte já estava do outro lado da rua, então ele chegou em dois minutos, onde nós duas já estávamos esperando por ele.
O trânsito estava tranquilo e eu e Scarlet não falamos nada durante o percurso, ela encostou sua cabeça no meu ombro e eu encostei minha cabeça na dela. Fomos assim o caminho todo.
Quando chegamos em sua casa, eu a segui até o seu quarto e coloquei minha bolsa em cima da sua cama. Ela me disse que iria tomar banho e que eu poderia falar com Kiara.
Sim, conversamos sobre Kiara na escola e Scarlet me contou que não teve coragem de dar a notícia da morte do Trovão para ela e eu disse que ela poderia deixar essa situação comigo, pois Kiara precisava saber.
Deixei Scarlet sozinha em seu quarto e caminhei pelo corredor vazio, fui até o quarto de Kiara e a porta estava fechada. Logo a abri e avistei a ruivinha sentada na cama e a tv estava ligada.
Entrei dentro do quarto e a garota pareceu ficar em alerta, ela ergueu um pouco a cabeça e cruzou os braços. Vi ela franzi suas sobrancelhas e em seguida virar um pouco o rosto na direção em que eu estava.
— É você Belle?
— Sim, sou eu... como advinhou? — Pergunto surpresa me aproximando dela e me sentando ao seu lado.
— Seu perfume... conheço o cheiro do seu perfume. — Ela disse dando um sorriso fechado e eu a abracei de lado, ela retribuiu o meu abraço.
Beijei o topo da sua cabeça e passei a mão nos seus cabelos ruivos.
— Belle... sinto que aconteceu alguma coisa, minha irmã está estranha já faz alguns dias e quando pergunto o que ela tem, ela me diz que são coisas da escola mas para mim é outra coisa também. — Kiara disse e quando se afastou do meu braço, ela ergueu um pouco suas mãos e passou a tocar no meu rosto.
Observei seus olhinhos azuis e curiosos... deixei ela tocar no meu rosto e ela parecia querer me decifrar apenas tocando no meu rosto com as suas mãozinhas.
Kiara é uma garota muito especial e eu não digo isso somente por ela ter deficiência visual, ela realmente é uma garota incrível e esperta, ela sente e enxerga o mundo de uma maneira diferente de mim e de todos.
— Belle... você está triste? — Ela perguntou franzindo as sobrancelhas mais uma vez e afastando suas mãos delicadas do meu rosto. — Sinto que você está triste, preocupada com algo... o que houve?
Como eu disse, ela sente e enxerga o mundo de uma maneira diferente. Kiara apesar de só ter oito anos e não poder ver assim como eu, ela consegue senti tudo com facilidade... não tem como não se encantar por ela.
— Kiki eu vou te contar o que houve. — Digo e vejo ela mover o braço direito, tentando procurar o controle da tv em cima da cama. Estava perto do travesseiro dela e assim que ela o encontrou, deslizou seu dedo para um dos botões do controle, abaixando um pouco o volume da tv.
Ela deixou o controle perto do travesseiro novamente e tocou na minha perna.
— Belle antes que me conte o que houve, o Trovão não veio com você não é? Você pode trazer ele qualquer dia desses? Eu me diverti muito com ele no dia do aniversário da minha irmã. Quando eu comer pipocas irei sempre me lembrar dele. — Ela disse com um sorriso no rosto e eu senti meus olhos marejarem.
— Por quê? — Perguntei.
— Porque ele gostou muito das pipocas que Izzy ficou trazendo para mim.
Dei um sorriso fechado ao me lembrar de Trovão e tentei segurar as lágrimas. Respirei fundo e olhei para o teto do quarto de Kiara.
— Belle? Está tudo bem?
— Kiki eu quero te contar uma história. — Digo voltando meu olhar para ela que continuava com um semblante feliz.
— Ah sério? Pode contar Belle, a da chapeuzinho você não terminou de contar.
— Eu irei pensar em um desfecho para a história da chapeuzinho e então, terminarei de te contar. Mas a história que irei te contar agora não será sobre a chapeuzinho.
— Não? E sobre o que será? — Ela perguntou só agora afastando sua mão da minha perna e eu desviei o olhar dela e passei a olhar para o chão.
— Sobre uma garota e... um cachorro.
— Depois dessa história você vai me contar o que houve para você estar triste? — Ela perguntou e eu olhei para ela.
— Creio que não irei precisar te contar o que houve assim que você terminar de escutar a história — Digo e Kiara pareceu ficar um pouco pensativa mas ficou em silêncio, aguardando que eu começasse a contar a história. — Então... era uma vez uma garota que não tinha amigos, ela se sentia sozinha e estava cansada de todo ano ter sempre a mesma rotina. Certo dia, ela chegou em casa e encontrou um cachorro em cima de um dos sofás na sua sala de estar, ela não tinha nenhum animal de estimação e não pretendia ter, mas esse cachorro... chegou para mudar tudo.
Sim, a garota da história sou eu e o cachorro era o Trovão. Eu estava contando como eu me sentia antes de conhecer o Trovão e também comecei a contar como eu o conheci para a Kiara.
Contei tudo sobre nós dois para Kiara mas não disse que a garota da história era eu ou que o cachorro era o Trovão, não nomeei os personagens, apenas contei a história deles.
Teve momentos que Kiara ficou surpresa quando contei que o cachorro tinha poderes e teve momentos que Kiara riu com as falas que o cachorro tinha. Ela estava gostando da história... mas a história não tinha um final feliz.
— Ele levou a garota para um lugar calmo e tranquilo?
— Sim...
— Que incrível! Com um cachorro desses eu não iria querer sair de perto dele. — Ela riu e eu dei um sorriso fechado mesmo que ela não pudesse ver.
Eu realmente não queria sair de perto dele e quando ficava afastada dele por algumas horas, já sentia falta.
Continuei contando a história quando infelizmente tive que contar o seu final. Kiara franziu as sobrancelhas quando contei o final, parecia não querer acreditar que o desfecho da história era o que eu havia acabado de dizer.
— Não gosto dessa história... — Ela disse e eu vi seu semblante ficar um pouco triste.
Logo peguei nas suas mãos e soltei um suspiro pesado, não iria conseguir segurar o choro por muito tempo.
Contei para ela como eram o nome da garota e o nome do cachorro... foi quando Kiara provavelmente ligou os pontos em sua mente e entendeu tudo. Vi seus olhinhos marejarem e ela ficou negando-se a acreditar.
— Ele se foi Kiki... o Trovão se foi. — Digo já sentindo as lágrimas descerem por minhas bochechas.
— N-não, não Belle... — A garota quis se afastar de mim mas eu rapidamente a puxei para um abraço forte. — P-por que?... ele não era pra ter partido.
Ela chorava com o rosto encostado no meu ombro. Ela estava em negação assim como eu também havia ficado, ainda é difícil para mim acreditar que isso aconteceu mesmo.
Eu e Kiara choramos ali lamentando a morte de Trovão até que a mesma se afastou do meu abraço e se deitou em sua cama, ela abraçou o próprio corpo e agora soluçava por ter chorado muito.
— M-me deixe sozinha Belle... eu quero ficar sozinha.
— Eu não vou deixar você sozinha. — Digo apoiando minha mão na sua perna e escuto passos no corredor. Olho na direção da porta do quarto de Kiara e vejo Scarlet.
A mesma entra no quarto e quando olha para a sua irmãzinha que agora estava chorando, ela respira fundo e abaixa um pouco a cabeça. Ela soube naquele exato momento que eu já havia dito a verdade para a Kiara.
— Temos que ser fortes minha irmã... — Scarlet se aproximou da cama e tocou no rosto de Kiara. — Ele não gostaria de nos ver tristes como estamos agora. Ele virou uma estrelinha mas irá continuar vivo em nossas memórias e nos nossos corações.
Isso era verdade.
Scarlet me olhou e pegou na minha mão.
— Vamos sempre nos lembrar dos momentos em que fomos felizes com ele e o quanto ele nos fez sorrir — Digo apertando a mão da minha amiga e ela da um sorriso fechado. — É impossível não se entristecer com a morte do Trovão, foi o meu único e verdadeiro amigo... — Enxuguei minhas lágrimas e vi Scarlet fazer o mesmo com as lágrimas que escorerram pelo seu rosto. — Mas eu sei que ele realmente não iria gostar de nos ver tristes... e é por ele, pelo amor que sinto por ele, que estou tentando ser forte a cada dia que se passa porque saudades... eu sempre sentirei quando me lembrar dele, assim como vocês que chegaram a se aproximar dele.
Eu e Scarlet ficamos algum tempo com Kiara, até Izyy apareceu na porta do quarto perguntando o que havia acontecido mas Scarlet fez um sinal com as mãos, indicando que falaria com ela depois. Izzy assentiu e então disse que iria voltar para a cozinha.
Kiara acabou adormecendo e fiquei triste ao ver que ela dormiu com o semblante triste. Toquei no seu rosto e Scarlet enxugou as bochechas da irmã que estavam molhadas graças as lágrimas.
— Ontem eu, meu pai e ela fomos para uma sorveteria e chegamos um pouco tarde. Hoje ela acordou o mesmo horário que eu e não conseguiu dormir mais... — Scarlet afastou as mãos do rosto de Kiara. — Ela está cansada.
— Quando ela acordar diga a ela que não fique pensando muito na morte do Trovão, ele não gostaria de vê-la assim. — Digo e Scarlet assentiu.
— Ele não gostaria de ver nenhuma de nós assim... precisamos ser fortes Belle — Scarlet pegou um edredom de cor rosa que estava perto do travesseiro e em seguida cobriu Kiara e se afastou. — Vamos deixá-la descansar.
Olhei preocupada para a ruivinha e soltei um suspiro pesado.
— Eu vou cuidar dela Belle, Izzy daqui a pouco terá que ir para casa e meu pai irá sair também. Vai para um jantar de um colega dele.. — Ela disse e eu me levantei da cama de Kiara.
Me lembrei que Dominic havia me falado ontem também, sobre esse jantar de um colega dele.
— Também tenho que ir para casa, mas antes quero te contar sobre os sonhos que tive e também sobre outras coisas — Digo saindo do quarto de Kiara e Scarlet me segue, mas deixa a porta do quarto aberta.
Fomos para o corredor e Scarlet passou a mão nos seus cabelos agora ruivos e se encostou na parede. Eu olhei para os lados e Scarlet me assegurou de que eu poderia falar a vontade que não seríamos interrompidas.
Comecei a contar primeiramente sobre os sonhos que tive com Annabel, na verdade a maioria foram pesadelos. Até mesmo a própria Scarlet estranhou esses sonhos, depois de mim contar alguns deles... contei também sobre a morte de Annabel.
O que deixou minha amiga surpresa quando eu disse que duvidava as vezes de que minha irmã havia tirado a própria vida, mas eu não sabia quem teria tido a coragem de tirar a vida da minha irmã. Scarlet ficou mais surpresa ainda quando eu disse para ela quais foram as últimas palavras de Annabel e como foram os meus últimos momentos com ela no dia em que ela faleceu.
Depois disso contei também sobre o pesadelo que tive quando meu irmão Jeffrey faleceu, pesadelo em que a garotinha apareceu pela primeira vez e com aquela boneca de pano estranha.
Para resumir, eu contei tudo para Scarlet. Contei até mesmo que o Trovão queria investigar sobre mas eu não deixei... enfim, e por último o sonho que tive hoje de madrugada com a garotinha.
— Belle... isso tudo é muito... nossa — Ela disse se desencostando da parede depois de ter escutado tudo que eu tinha para dizer para ela. — Se sua irmã foi mesmo assassinada... você não acha que alguns desses sonhos são na verdade avisos?
— Mas avisos de que Scarlet? Ela nem mesmo diz quem pode ter sido. Não sei se só tenho esses sonhos malucos porque fico pensando as vezes sobre... eu não sei mesmo.
— Quando começou a ter esses sonhos? Ano passado? — Ela perguntou e foi quando parei para pensar.
— Não, ano passado eu não tive sonhos assim... eu não sonhava com Annabel há muitos anos. Mas esse ano, é com o que mais ando sonhando ultimamente. — Digo e Scarlet me arrasta para o quarto dela e caminha na direção da janela.
— O que me intriga foi o que sua irmã disse para você antes de morrer. Por que ela pediu para você ter cuidado com a sua mãe?
— E você acha que eu sei? Minha mãe não é perigosa, você a conhece. Misteriosa sim mas perigosa? Não.
— É tudo muito estranho, sua irmã ter dito isso e depois ter falecido... você já
— Eu já sei o que você está pensando e assim como eu neguei para o Trovão irei negar para você, a minha mãe não teve nada a ver com a morte da Annabel. Era filha dela, minha mãe pode ter seus defeitos mas ela amava demais a Annabel, coisas que eu adoraria escutar vindo dela, ela dizia com muito prazer para a Annabel, ela dizia que a amava e muito mais — Digo e me sento na cama de Scarlet respirando fundo.
— Tudo isso é muito estranho Belle e eu acho que esses seus sonhos e também pesadelos, são avisos. Você já quis investigar sobre? — Scarlet perguntou e eu olhei para ela, em seguida neguei com a cabeça. — Tem medo?
— Tenho.
— Quer ajuda para começar?
— Como? Não Scarlet! Não quero que você tente investigar nada e por favor, não conte para ninguém o que acabei de te dizer. É sério, ninguém pode saber... eu estou confiando tudo isso a você.
— Tudo bem, não vou tentar investigar nada. Mas você deveria fazer algumas perguntinhas a sua mãe — Ela disse e quando eu iria responder, ela me interrompeu. — Mesmo que dê em alguma discussão.
Ela se sentou perto de mim e eu encarei o chão.
— Você sabe que pode confiar em mim, assim como eu confio em você também. — Scarlet tocou nos meus cabelos e eu assenti com um aceno de cabeça. — Em relação a garotinha você pode não ter conhecido ela, mas quem sabe ela não conheceu alguém da sua família? Seria o único motivo para ela aparecer nos seus sonhos.
— Eu não sei... se eu sonhar com ela de novo irei ficar louca.
— Não vai não, estou aqui para tentar te ajudar e para você poder desabafar todos os seus sonhos — Ela disse me fazendo rir de canto. — Não se preocupa muito com isso não, você vai descobrir o que realmente aconteceu com a sua irmã. Mesmo não tendo coragem agora, mas eu sinto que você vai acabar descobrindo tudo, basta você querer.
Isso era verdade... bastava eu querer descobrir.
Agradeci a Scarlet e ficamos conversando mais um pouco. Ela me contou sobre ela e a Raquel e até mesmo confessou que estava confusa, não sabia o que sentia em relação a Raquel mas eu sabia, só de olhar em seus olhos e prestar atenção nas suas palavras.
Era exatamente como eu me sentia em relação ao Dominic, mas então vinha aquele pensamento... você não pode querer o que você não pode ter.
Tanto a minha situação como a dela é complicada, eu apenas disse para ela que se fosse para algo acontecer ou não acontecer, que deixasse o próprio tempo dizer.
Quando deu seis e meia da noite, eu chamei um uber para poder ir para casa. Me despedi de Scarlet e de Kiara que ainda estava dormindo.
No caminho para casa o motorista foi escutando uma música tão triste, mais tão triste que parecia que ele estava mais triste do que eu que havia perdido o Trovão recentemente.
Cheguei em casa um pouco cansada e ainda me vinha na mente toda vez que eu abria a porta, a imagem de Trovão deitado em cima de um dos sofás... ah que saudades Trovão.
Meus olhos encheram de lágrimas e eu fechei a porta. A casa estava silenciosa e deduzi que minha mãe provavelmente já havia saído, assim como ela me disse hoje de manhã, que eu poderia chegar em casa e não encontrá-la aqui.
Subi as escadas e me aproximei da porta do meu quarto, abri a porta e a luz estava apagada mas assim que avistei uma silhueta de uma pessoa perto da janela do meu quarto, me assustei dando um pequeno pulo para trás.
— AI QUE SUSTO! — Digo com a voz um pouco alterada e apoiando minha mão no peito.
A pessoa estava de costas e usava um sobretudo preto e também um chapéu preto. Me arrepiei só de analisar as vestes dessa pessoa que ainda estava de costas para mim e perto da janela do meu quarto.
— Quem é você e como conseguiu entrar no meu quarto? — Pergunto temendo um pouco mas preparada para qualquer coisa.
Se fosse um ladrão eu sairia correndo para poder ligar para polícia. Mas se fosse um ladrão... já teria aberto a janela e fugido.
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Espero que tenham gostado, votem e comentem...
Irei tentar posta o próximo
cap ainda nessa semana.
Bjooooooooos✨
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