ꕥ Capítulo 28 ꕥ
Annabelle Narrando
Hoje minha mãe acordou digamos que, melhor que ontem. Saiu do quarto e fez o café da manhã para nós duas, decidiu até mesmo dar um banho em Trovão que não queria mas ele não tem o que querer não é mesmo?
Agora ele está limpinho e andando na praça comigo e com Scarlet. Mamãe disse que seria uma boa ideia passear um pouco com Trovão, eu a chamei para nos acompanhar mas ela não quis. Preferiu ficar em casa... eu queria tanto perguntar o porquê ela escondia coisas de mim, como por exemplo o diário de Annabel.
Eu disse que não queria saber os motivos mas a verdade é que eu quero, mas sinto que os motivos... não são tão bons assim, não sei.
Scarlet me ligou ontem a noite e disse que viria para a minha casa, queria passar o domingo comigo e disse que queria me contar uma coisa. Como eu decidi passear com Trovão em uma praça um pouco perto de onde moro, a chamei para vir junto conosco e aqui estamos, caminhando e jogando conversa fora.
— Então sua mãe amanheceu melhor que ontem? — Scarlet perguntou.
— Sim, ela está aos poucos se recuperando.
— Isso é bom.
Eu queria contar a minha amiga o que estava acontecendo, sobre descobrir que minha mãe esconde coisas de mim e também falaria sobre o diário de Annabel. Mas é informação demais e não sei se deveria mesmo falar para ela...
— Tudo tem seu tempo Belle. — Escutei a voz de Trovão em minha cabeça, o mesmo caminhava ao meu lado.
— Sim é bom... mas o que você gostaria de me contar? Quando você me ligou ontem eu notei que sua voz estava um pouco embargada. O que houve? — Pergunto e ela para de caminhar e olha na direção de um banco branco que estava vazio e não tinha ninguém por perto.
As pessoas estavam mais do outro lado da praça. Alguns fazendo caminhada e outros somente passeando.
— É melhor nós nos sentarmos naquele banco. — Ela disse e nós fomos até o banco branco.
Nos sentamos e Trovão se deitou na grama, perto do banco em que nos sentamos.
— Eu sabia que isso iria acontecer. — Trovão disse e eu olhei para Scarlet que passou as mãos no rosto.
— Ah Trovão não me diga uma coisa dessas. — Ela disse logo afastando as mãos do rosto e me olhando.
— Scarlet você quer me dizer logo o que o Trovão já sabe e eu ainda não sei?
— Eu... eu beijei a Raquel. — Ela disse me fazendo erguer as sobrancelhas e em seguida a rir.
— Foi mais um sonho?
— Não, foi real, aconteceu de verdade e foi na minha casa, dentro da piscina. — Ela disse e coçou a nuca. — Eu não sei o que deu em mim, eu não queria ter feito isso mas na hora eu quis fazer você entende?
Parei de rir e apoiei minha mão direita na testa.
— Meu Deus Scarlet! Você... você beijou a Raquel, eu estou abismada. Conte-me como tudo aconteceu porque não estou entendendo, como ela foi parar na sua casa e na piscina com você? — Pergunto e Scarlet começa a contar como tudo aconteceu.
O que me deixava cada vez mais surpresa e ao mesmo tempo rindo da situação, com todo respeito é claro.
— E eu ainda a vi ontem a tarde, ela falou com meu pai e meu pai me disse que ela foi embora. A parti de amanhã entrará outra professora no lugar dela, uma substituta.
— Como? Ela foi embora? Mentira.
— Verdade, não perguntei o motivo para o meu pai porque eu não quis saber. Ele perguntou se eu estava contente com isso e se eu queria que ela tivesse pedido demissão... e eu disse que sim. — Ela disse desviando o olhar de mim e eu a olhei incrédula.
— Você disse que sim? Scarlet qual é o seu problema?
— Ah vai eu iria dizer o que? Que não? — Ela disse irônica e voltou a me olhar com seus olhos castanhos. — Belle... eu nem deveria ter feito isso, foi tão...
— Tão o quê? — Pergunto e vejo suas bochechas ficarem vermelhas. — Você gostou! Tá escrito na sua cara e não adianta negar.
— Ela gostou e não foi pouco, mas prefere acreditar que não gostou.
Olhei para o Trovão que ergueu um pouco a cabeça e olhou para Scarlet. Ele falou tanto para Scarlet como para mim escutar.
— Está bem, posso até ter gostado mas e daí? Não vai dar em nada, se vocês não se lembram ela está comprometida e esse noivo dela até a data de hoje está em coma. Ela ficou tão triste quando disse que nunca tinha traido ele que eu me senti culpada porque fui eu que iniciei o que não era para ter iniciado. — Ela disse me fazendo lembrar de quando bebi muito e acabei falando o que não devia para o pai dela. — Não sei se você está me entendendo Belle, mas isso foi realmente errado.
— Pode ter sido errado mas você não é a única culpada Scarlet, como a própria Raquel disse, ela correspondeu... o que me intriga um pouco.
— Eu te disse uma vez não foi Scarlet? Belle estava de prova quando eu disse que você e a Raquel iriam se matar ou se apaixonar... vocês começaram com a primeira opção mas estão partindo agora para a segunda.
— Opa! Calma aí, eu não estou apaixonada por essa mulher e nem ela por mim. Só foi um beijo e nada demais. — Scarlet deu de ombros e para o desprazer da minha amiga tive que concordar com Trovão.
— Tenho que concordar com Trovão amiga, vocês passaram tanto tempo implicando uma com a outra que...
— Não termine essa frase. Vocês estão enganados, eu só beijei por beijar e isso acontece. — Ela deu de ombros e eu rir de canto.
— Ah é mesmo? Vou saber agora se você beijou só por beijar. O que sentiu? O que sentiu quando a beijou e principalmente quando ela correspondeu ao seu beijo? — Pergunto vendo a mesma morder o lábio inferior.
— Não senti nada.
— Deixe de mentir Scarlet.
— Por que vou responder a isso? Como eu disse, não vai dar em nada. É capaz de nós nunca mais nos vermos e vai ser melhor assim. — Scarlet disse encarando suas unhas.
— Então isso quer dizer que você sentiu alguma coisa, só não quer dizer em voz alta estou certa? — Pergunto e ela me encara, iria insisti até que ela confessasse e ela sabia disso.
— Certíssima, satisfeita?
— Sim, mas... e agora?
— Agora vamos fingir que isso nunca aconteceu e tudo vai voltar como era antes. — Ela disse e eu fiz um sinal de negação com a cabeça. — Meu Deus... agora que vim perceber, eu beijei uma mulher mais velha que eu?
— Bem vinda ao clube de beijar pessoas mais velhas. — Digo e em seguida me arrependo por ter dito isso e me adianto para me corrigir. — Lembra do Chevalier? Foi o primeiro homem mais velho que eu beijei, na verdade, ele que me beijou.
— Lembro dele. Só teve ele mesmo na sua lista? Não teve mais nenhum outro homem?
— Tem Dominic Murray, o seu pai. — Escutei a voz de Trovão na minha cabeça e quando olho na direção em que ele estava, ele não estava mais e sim um pouco distante e caminhando até uma árvore.
— Belle? — Scarlet me chamou e eu olhei para ela. — Teve ou não teve outro homem?
— Não teve.
Eu odiava mentir e ainda mais para Scarlet. Ela acabou de me contar sobre o que rolou entre ela e Raquel, ela confia muito em mim para ter me contado isso já eu... estou mentindo.
— Quem sabe na minha festa alguns dos colegas de meu pai lhe interessem? Porque você é linda Belle e sabe disso.
Como vou me interessar por algum colega de seu pai se eu estou interessada mesmo é no seu próprio pai?
— É, quem sabe eu me interesse por algum. — Dou de ombros e ela dar um sorriso malicioso.
— Acrescentei mais algumas pessoas na lista de convidados como a Alice e as amigas dela, já que estamos nos dando bem resolvi convidá-las também e também convidei Logan. — Ela disse e eu olhei na direção em que Trovão poderia estar.
Ele ainda estava lá e deitado na grama, provavelmente não queria participar desse assunto de agora e nem me provocar com as perguntas que Scarlet me fez a alguns minutos atrás.
— Belle... você sabe que sou sincera com você.
— Hum... o que foi agora?
— Meu pai, acho que ele está se envolvendo com outra mulher. — Ela foi direta e isso me pegou de surpresa.
— Por que acha isso?
— Por que acho isso? Belle ele dispensou a Poliana, tem noção? A Poliana — Ela deu enfâse ao nome da Poliana e confesso que fiquei feliz por dentro em saber que Dominic dispensou aquela mulher. — Tem outra Belle, eu tenho certeza e eu vou descobrir quem é.
Mas minha alegria foi por água a baixo com as palavras de Scarlet. Engoli seco e cocei a nuca.
— Scarlet... você não acha que pode ser, não sei, coisa da sua cabeça? Seu pai pode estar querendo só... ficar sozinho?
— Você acha? Eu não sei Belle... para mim já tem outra na jogada. Eu nem a conheço, mas já a detesto. — Ela disse ficando séria e eu senti meu coração acelerar. — Mas você pode estar certa, vai ver ele quer ficar sozinho por enquanto.
— E se seu pai estiver mesmo se envolvendo com outra mulher, você vai odiá-la? — Pergunto e Scarlet respira fundo.
— Talvez sim, talvez não. O que eu disse para Kiara irei dizer para você também, eu teria que ver a mulher com quem meu pai pretende se envolver e ai sim, eu poderia dizer se iria ou não iria com a cara dela e também se é uma boa pessoa entende?
— Acho que sim e também acho que você não deveria ficar pensando muito nisso. — Digo e ela me olha. — Você não sabe mesmo se tem outra no caminho dele então... não fique pensando nisso, pela sua cara você não gosta nem de imaginar que possa haver outra na vida do seu pai.
— Não gosto mesmo Belle mas vou seguir o seu conselho, não vou pensar demais nisso. — Ela disse e logo encostou a cabeça no meu ombro. — Pode ser só coisa da minha cabeça.
A vontade que tive de dar na minha própria cara foi grande, mentir as vezes é tão... ruim.
— E traz consequências depois. — Escutei a voz de Trovão na minha cabeça e olhei na direção em que ele estava.
O mesmo agora estava vindo na direção em que eu e Scarlet estamos e não demorou para que ele se deitasse perto dos meus pés.
— Ah Belle se eu não tivesse você para desabafar o que penso as vezes e o que faço... eu teria que desabafar com as paredes. — Ela disse rindo e me fazendo rir também. — Acho que o que vou dizer agora, você depois irá perguntar se eu estou doente.
— Por quê? — Pergunto confusa e ela afasta a sua cabeça do meu ombro para me olhar e pegar na minha mão.
— Amo a sua amizade Belle, de verdade e também amo você.
Ao escutar as palavras de Scarlet senti vontade de chorar mas rapidamente olhei para o céu e em seguida voltei meu olhar para ela, que estranhou a minha reação e provavelmente notou que meus olhos estavam marejados.
— Conte para ela o porquê dessa sua reação, ela vai entender. — Escutei a voz do meu cachorro e enxuguei rapidamente uma lágrima que escorreu pelo meu rosto.
— Ei! Por que está chorando? — Scarlet perguntou preocupada e eu afastei minha mão da dela.
— É que... é que escutar que você ama minha amizade e que também me ama... me comoveu um pouco. — Rir de canto e enxuguei mais umas lágrimas. — Me comoveu porque apesar de te conhecer desde que éramos crianças e só nos reencontrarmos esse ano, já estando jovens, você diz isso.
— Digo e se quiser repito, mas não acho que esteja chorando por causa disso... é outra coisa. — Ela me olhou desconfiada e eu respirei fundo.
— Minha mãe. Durante todos esses anos nunca me disse o que você acabou de me dizer. — Confesso e vejo Scarlet me olhar confusa.
— Nem por mensagem? Meu pai também não gosta muito de dizer isso, mas ele já disse que me amava muito por mensagem, fez até textinho. — Ela riu. — Não parece que Dominic Murray faria esse tipo de coisa, mas ele fez para mim. A tia Yandra não...?
Neguei com a cabeça.
— Isso dói porque ela que é minha mãe, nunca me disse isso e você que só me reencontrou esse ano, foi capaz de dizer, diferente dela. — Digo passando a mão nos meus cabelos, os colocando para trás. — Mas está tudo bem, não se preocupe. Já estou acostumada com isso dela, eu só não consegui segurar o choro na sua frente.
— Está tudo bem? Belle não está não. Para mim, sua mãe dizia que te amava o tempo todo e que tem orgulho de você. Ela não diz isso?
— Scarlet — Desvio o olhar dela e olho para o Trovão que estava com a cabeça encostada em meu pé e deitado com seu corpo no grama. — Raramente eu recebo um afeto de minha mãe, essa é a verdade. É mais fácil eu dar o primeiro passo mas... não é sempre que estou disposta a fazer. Parei quando percebi que não iria conseguir nada com isso, as vezes não me sinto... não me sinto amada por ela ou por qualquer outra pessoa.
— Belle — Scarlet me abraçou de lado. — Não se sinta mal por isso, imagino que deve ser horrível isso que você está sentindo e que você sente falta de ter... infelizmente não sei o que dizer em relação a isso, mas eu quero te dizer que pode contar comigo para o que for. — Eu retribui o abraço dela e deitei minha cabeça no seu ombro. — E mais uma coisa, você não está sozinha, sinta-se amada por mim porque eu gosto de você mesmo, amo você, Trovão também ama você e provavelmente você irá conhecer mais pessoas que irão te admirar e te amar muito.
Me afastei do abraço de Scarlet já me sentindo um pouco melhor com as palavras dela. Me assustei quando Trovão pulou em meu colo e eu olhei para os seus olhos castanhos claro.
— Scarlet está certa. Você não está sozinha e nós te amamos.
Minha amiga sorriu e eu também. Provavelmente Trovão havia permitido que ela escutasse o que ele havia dito em sua mente.
— Também amo vocês. — Digo e logo os abracei ali mesmo.
Passei mais alguns minutos na praça com Scarlet e Trovão. Passeamos, paramos para comer alguma coisa, eu e Scarlet fofocamos sobre algumas pessoas da escola e não demorou para que resolvêssemos voltar para a minha casa.
Chegando na minha casa, minha mãe estava sentada no sofá e mexendo em seu celular. Assim que ela nos viu entrando, sorriu para nós e perguntou como foi, Scarlet respondeu por mim dizendo que tudo ocorreu bem e Trovão caminhou na direção de minha mãe, subindo em cima do sofá e lambendo o seu rosto. Minha mãe passou as mãos nos pelos de Trovão, fazendo carinho no mesmo e eu olhei para Scarlet que havia pegado o seu celular do bolso de seu short para chamar o uber.
Me despedi dela quando a mesma disse que precisávamos marcar um dia para assistirmos algum filme juntas. Minha ouvindo a nossa conversa, disse que se eu quisesse, poderia ir para a casa de Scarlet hoje mesmo. Estranhei e tive que perguntar se ela iria ficar bem sozinha, ela disse que sim e com a companhia de Trovão ela não se sentiria tão só.
E lá se foi a ideia de carregar o meu cachorro comigo, ele teria que ficar com ela. Scarlet disse que era melhor eu ir com ela agora, para almoçarmos na sua casa e eu me despedi de minha mãe e de meu cachorro quando o uber chegou.
11:13AM
E aqui estou eu na mansão dos Murray, mais uma vez. Assim que entrei na casa fui perguntando por Kiara e Scarlet disse que ela provavelmente já estava dormindo e que ela provavelmente já tinha almoçado também.
— Ela almoça primeiro que todos nós aqui, sempre às dez e quarenta. Segundo ela, era o horário em que ela e a avó dela almoçavam então, desde que ela contou isso para o nosso pai, meu pai sempre a avisa quando é dez e quarenta para que ela possa almoçar. Mesmo ela não sabendo que horas são, mas parece que ela sente fome exatamente nesse horário. — Scarlet disse me fazendo dar um sorriso fechado. — Agora quando ela termina de almoçar ela descansa um pouquinho e vai para o quarto e implora para deixar ela ir sozinha mas é ela indo na frente e meu pai logo atrás, sempre a observando para que ela não se machuque.
— Sozinha? — Perguntei um pouco preocupada e Scarlet se aproximou do sofá e se sentou.
— Acredite ou não, ela agora aprendeu e sabe andar pela casa sozinha. É incrível Belle porque ela as vezes anda como se pudesse enxergar mesmo, só vendo para acreditar.
— Ela aprendeu? Aprendeu sozinha? Estou surpresa com isso. — Digo me sentando no outro sofá e encostando minhas costas no mesmo. — E você acha que agora ela está dormindo?
— Já passou das onze horas da manhã, ela sempre dorme esse horário aos domingos também e ainda fica brava quando a acordam. Se deixar ela acorda três horas da tarde, mas eu sempre a acordo antes disso se não, ela demora para dormir a noite. — Scarlet explicou e eu assenti. — Enfim, já que estamos aqui... podemos resolver qual filme iremos assistir hoje a tarde. Um de terror e
— Não, terror não. Não gosto — Digo e Scarlet começa a rir. — Assisti um filme de terror uma única vez na vida, depois desse filme? Nunca mais assisti nenhum filme de terror. Prefiro filmes de fantasia, fantasia com romance, ação, lutas olha tudo, exceto terror.
— Belle, eu só assisto filmes de suspense e de terror. Raramente assisto um filme de fantasia. — Ela disse e fiz um sinal de negação com a cabeça. — Já sei, vamos fazer um trato. Vamos assistir dois filmes se der, mas eu irei assistir qualquer filme que você quiser assistir, seja de fantasia, romance o que for... eu assisto. Mas se eu assisti, você terá que assistir um de terror também.
— Que trato em. — Rir disso e cruzei os braços. — E qual filme de terror você gostaria que eu assistisse com você?
— Caso 39. — Ela disse e eu não vi nada de terror no nome do filme. — É tranquilo, não faz medo. Já estou escolhendo esse porque não faz medo.
— E como é?
Scarlet se levantou do sofá e começou a falar sobre o filme.
— É sobre uma assistente social que quer tirar uma garotinha de dez anos de dentro de uma casa, essa garotinha mora com os pais e eles são muito abusivos com ela. — Ela disse caminhando pela sala e se aproximou de um pequeno móvel que ficava no canto da sala, logo fechou uma pequena gaveta que estava aberta. — Como eu disse, é tranquilo e não faz medo.
— Ah sendo assim... então vamos assistir esse. — Digo e vejo minha amiga sorrir e ficar animada.
— Esqueceu de mencionar que a garotinha de dez anos não é o que parece ser? — Escutei a voz de Dominic e logo olhei na direção das escadas.
Ele usava uma regata da cor cinza e uma calça preta, seus cabelos estavam molhados e parecia até que ele havia acabado de sair do banho.
— Pai! Não era para ela saber disso se não, ela não assiste.
Só então parei de admirar Dominic e me recordei do que ele havia falado e logo encarei Scarlet.
— Espera um pouco, como assim a garotinha não é o que parece ser? — Pergunto e Scarlet morde o lábio inferior. — Scarlet!
— Está bem, a garotinha é meio... perturbada.
— Meio? — Dominic terminou de descer as escadas e riu de canto. — É aquela típica história de uma criança endemoníada.
Foi minha vez de rir e de olhar para Scarlet.
— Não faz medo não é? Claro... um filme tranquilo no seu ver porque no meu não é.
— Tudo bem, tudo bem. Vou pensar em outro que seja mais tranquilo no seu ver. — Ela disse indo para a cozinha e eu me apressei em se levantar do sofá para ir atrás dela.
— Você irá passar o dia aqui? — Ele perguntou antes que eu saísse da sala de estar.
Me virei para olhar para ele que caminhou na minha direção.
— Acho que sim, mas talvez eu vou embora antes do final da tarde mesmo. — Digo e ele se aproxima de mim e apenas me olha nos olhos.
Deus... só o senhor sabe a vontade que tenho de beijá-lo agora.
— Belle! — Escutei Scarlet me chamando da cozinha e desviei meu olhar do de Dominic rapidamente para olhar na direção da cozinha.
Ela não estava na entrada, significava que ela ainda estava dentro da cozinha fazendo alguma coisa.
— Nos vemos depois. — Dominic sussurrou na minha orelha e eu senti minha pele se arrepiar. Ele provavelmente percebeu e riu de canto se afastando de mim e caminhando na direção do seu escritório que ficava do outro lado da sala.
Fui para a cozinha e Scarlet estava procurando algo no armário e a maioria das portas do mesmo estavam abertas.
— Não tem pipoca de microondas, o que vamos comer quando formos assistir mais tarde? — Ela perguntou fechando as portas do armário que ela havia aberto.
— Eu como qualquer coisa. — Dei de ombros e me aproximei do balcão, onde tinha uma fruteira no centro com maçãs, uvas e laranjas.
— Eu também mas eu estou desejando comer pipoca de microondas. — Ela disse indo até a geladeira e a abrindo. — Não tem mais suco de laranja, terei que fazer para nós duas.
— Eu faço. — Digo pegando as laranjas da fruteira e Scarlet fecha a geladeira para me olhar.
— Isso, faça. Eu irei comprar a pipoca.
— Então eu vou com você.
— Não precisa Belle, o mercadinho é do outro lado da rua. Vai ser rápido, vou comprar outras coisinhas também para a gente comer e também para Kiara quando ela acordar. Enquanto isso você faz o suco de laranja e vai escolhendo o filme que você quer para podermos assistir e por favor, de romance não.
Ela queria me deixar ali sozinha e ir sozinha comprar a pipoca?
— Scarlet eu vou com você, na volta eu faço o suco de laranja. — Digo me afastando do balcão e Scarlet nega com a cabeça.
— Não mulher, agilize fazendo o suco agora porque eu estou com fome e quando eu voltar, só quero colocar meu almoço para poder comer em paz. Você não? — Ela perguntou e eu tive que concordar com ela, também estava com fome.
— Sim mas
— Eu volto já. — Ela disse saindo da cozinha e eu fui atrás dela.
Eu sei muito bem o que significa esse "eu volto já" parece uma eternidade.
— Vai querer alguma coisa? Um chocolate? Algum doce? — Ela perguntou tirando a carteira do bolso dela e em seguida a abriu para contar o dinheiro que tinha dentro.
— Não, não precisa.
— O dinheiro está certo, vai sobrar troco. — Ela riu e logo me olhou. — Vai querer um energético? — Ela perguntou e eu a olhei incrédula.
— Scarlet você se oriente para não ficar viciada nessas coisas. — Aviso e ela começa a rir.
— Tá bom mamãe, não vou comprar isso. Vou comprar duas latinhas de refrigerante tá bom? — Ela perguntou irônica e eu revirei os olhos. — Que nada Belle, vou comprar um energético para mim mas eu vou beber lá na hora. Meu pai infartaria se me visse bebendo aqui dentro de casa enfim, volto daqui a pouco e coloque gelo no suco.
Ela logo saiu de casa e eu voltei para a cozinha. Torcia para que o Dominic não saísse nem tão cedo do escritório dele, fiz o suco de laranja normalmente e acrescentei alguns cubos de gelo dentro da jarra de suco.
Estava geladíssimo e parecia bom... mas é claro que está bom, fui eu quem fiz.
Peguei a jarra de suco com cuidado por ser de vidro e caminhei na direção da geladeira, abri a geladeira e guardei a jarra de suco. Fechei a geladeira e me assustei ao escutar o som da água da torneira da pia escorrendo, me virei para ver quem havia ligado a torneira e lá estava ele.
— Para onde ela foi? — Ele perguntou provavelmente se referindo a Scarlet e eu me aproximei do balcão.
— Comprar pipoca, disse que não demorava e que o mercadinho era do outro lado da rua. — Digo e o observo lavar as mãos, havia uma xícara agora em cima da pia que antes não estava ali, acho que ele estava com aquela xícara de café.
O mesmo lavou a xícara e em seguida a colocou no escorredor de pratos e copos. Pediu para que eu desse o pano de prato a ele que eu nem tinha percebido mas eu havia pegado antes quando fiz o suco de laranja e o deixei no meu ombro direito, esquecendo de colocá-lo onde o mesmo estava antes.
Peguei o pano de prato e dei a volta no balcão para entregar o pano de prato a ele e quando estiquei o braço para entregar o pano de prato, Dominic pegou o pano de prato com a mão direita e com a mão esquerda pegou no meu pulso, me puxando para perto dele.
— Dominic... você não está sabendo se controlar.
— E você está? — Ele perguntou próximo ao meu rosto e eu olhei para os seus lábios bem desenhados e umideci os meus.
— Não... — Ele largou o pano de prato em cima do balcão e me beijou. Um beijo que me fez estremecer em seus braços, logo senti sua língua quente por toda a minha boca e o gosto de café estava presente.
Foi então que confirmei que ele havia bebido café mesmo. Levei minhas mãos para os seus cabelos negros e úmidos e os puxei levemente, senti as mãos dele percorrerem pelo meu corpo e pararem na minha cintura as apertando com um pouco de força, me trazendo para mais perto dele e assim tornando o beijo mais intenso do que já estava.
Uma de suas mãos foram parar na minha nuca, puxando de leve os fios dos meus cabelos e eu gemi baixinho entre o beijo. Precisamos parar por falta de ar e ele mordeu meu lábio inferior, eu fiz o mesmo com o dele, lentamente, assim finalizando o beijo. Continuei de olhos fechados apenas ouvindo a respiração ofegante dele e ele ouvindo a minha.
— Não posso passar disso. — Ele sussurrou e eu abri os olhos e vi que ele mantinha os olhos fechados.
— Por quê? — Perguntei um pouco ousada.
Acho que não era eu quem havia feito a pergunta e sim o fogo que estava sendo despertado dentro de mim por esse homem, o homem que eu não deveria nem estar beijando.
— Porque você já está se tornando um vício para mim. — Ele disse abrindo os olhos e passou seu dedo indicador nos meus lábios. — Te beijar já está se tornando um vício para mim, tanto que estou com vontade de te beijar de novo mas não é uma boa ideia. Scarlet estará de volta daqui a alguns minutos.
— Está ficando viciado nos meus beijos? — Pergunto um pouco surpresa com isso e ele assente. — E eu estou ficando viciada nos seus... até onde isso vai Dominic?
— Se depender de nós dois, longe... muito longe. — Ele levou suas duas mãos para a minha bunda e a apertou com um pouco de força. — Não sei ao certo quando comecei a te desejar, mas... eu queria fazer tantas coisas contigo — Suas mãos foram subindo e adentrando minha blusa, acariciando minhas costas. — Beijar outras partes do seu corpo além de sua boca... partes proibidas para mim, infelizmente não posso. — Ele retirou suas mãos de dentro da minha blusa e eu fiquei frustrada por ele ter retirado as mãos dele de lá.
Em seguida o mesmo se afastou um pouco de mim, como se tivesse voltado para a realidade e eu também.
E que triste realidade.
Eu queria tanto ultrapassar os limites agora, não sei o que está acontecendo comigo para eu querer e desejar tanto isso. Maldita hora em que Dominic Murray me beijou e acendeu um fogo que estava apagado há um bom tempo.
— E se fizéssemos somente uma vez? — Pergunto repentinamente me encostando no balcão e olho para ele. — Uma única vez? — Pergunto e ele riu de canto sabendo ao que eu me referia.
— Não.
— Não?
— Não iria ser só uma vez. — Ele se aproximou de mim mais uma vez. — Eu não iria consegui parar, então a resposta para a sua pequena proposta é não.
Ele se afastou novamente de mim e foi até o armário, pegou um copo de vidro e em seguida uma jarra de água na geladeira.
— Me desculpe, eu não sei nem mais o que estou falando. — Digo apoiando o meu braço no grande balcão e olho para a fruteira que estava perto de mim.
— Te desculpar por você estar dizendo o que realmente quer? Você não é a única que quer isso Annabelle. Ambos sabemos que se acontecer não vamos conseguir parar, o que é mais perigoso ainda e sabemos o porquê. — Ele disse colocando a água da jarra dentro do copo de vidro.
O mesmo iria beber a água mas logo voltou a colocar o copo em cima do balcão e colocou a mão no peito.
Estranhei a expressão preocupada em seu rosto e o movimento que ele havia acabado de fazer, fora a palidez repentina. Rapidamente fui até ele e apoiei minha mão no seu ombro, fazendo com que ele me olhasse.
— Ei! Você está bem? — Pergunto preocupada. — Ficou pálido derrepente.
— E-estou bem eu só... não sei, acabei de sentir um aperto no peito. — Ele massageou o peito e soltou um suspiro. — Uma sensação estranha, um mal pressentimento.
Scarlet Narrando
Terminei de comprar a pipoca e mais algumas coisas para que eu e Belle pudéssemos comer enquanto assistíamos ao filme, também comprei algumas guloseimas que Kiara gosta, caso ela queira comer alguma, quando acordar.
Iria comprar energético para mim mas tinha acabado e só chegaria amanhã. Quando sai do mercadinho a rua estava deserta, quando vim estava um pouco movimentada e agora já não estava mais.
Sai segurando as sacolas com a mão direita e caminhei normalmente. Haviam alguns carros estacionados na rua e também havia um carro da cor vinho, era lindo... mas me fez lembrar de uma pessoa que eu não gostaria de ter lembrado.
De repente senti uma sensação estranha, como se estivesse sendo vigiada. Olhei para trás mas não havia ninguém na rua caminhando além de mim, dei de ombros e fiquei pensando na Raquel... será que vamos nos odiar com mais força quando ela voltar? Seria hilário. Rir ao imaginar isso e avistei um homem do outro lado saindo de casa com duas sacolas de lixo.
Como a rua não estava movimentada nem por carros decidi atravessar normalmente, foi quando escutei o homem que havia saído da casa dele para jogar o lixo gritar "Cuidado!" e eu olhei rapidamente para o meu lado esquerdo vendo um carro preto que apareceu rapidamente na rua e vinha ao meu encontro com grande velocidade.
Pulei e rolei rapidamente no chão ainda segurando as sacolas e fui parar perto da calçada, senti uma dor terrível quando meu braço bateu no batente da calçada. Larguei as sacolas no chão e fui socorrida pelo homem que estava ali por perto.
Por pouco não fui atropelada.
Olhei para a rua e o carro já estava no final da mesma em alta velocidade, indo embora, como se não tivesse acabado de aparecer ali.
— Senhorita você está bem? Meu Deus... você está bem? — O homem tentou me ajudar a se levantar mas minhas pernas fraquejaram e eu acabei me sentando no chão de novo, estava nervosa e com o lado do braço dolorido. — Vou te ajudar a se levantar.
E assim ele fez, consegui me equilibrar e o homem mais uma vez perguntou se eu estava bem.
— Quer que eu a leve para o hospital? Se sente bem mesmo?
— Não, não... — Consegui falar apesar da minha respiração ofegante e as batidas do meu coração aceleradas. — Eu estou bem não se preocupe, não preciso que me leve ao hospital — Olho para o homem que estava me ajudando a se manter de pé. — Obrigado, obrigado por ter... salvado a minha vida.
Não sei o que teria acontecido se esse homem não tivesse gritado a tempo.
— Não precisa me agradecer senhorita. — Ele se afastou um pouco de mim e pegou as sacolas que eu havia largado no chão, em seguida entregou para mim e eu as peguei. — Eu só acho que a pessoa que estava dentro daquele carro tinha intenção de atropelar a senhorita, pra mim não pareceu acidente.
Eu já estava nervosa e o homem me dizendo isso só me fez ficar pensativa e mais nervosa ainda.
— A pessoa que estava dentro daquele carro queria matá-la, não duvido disso.
Meu Deus... tentaram me matar e ainda mais atropelada.
— A senhorita tem muitos inimigos?
— Quem é que não tem inimigos? — Pergunto irônica por simplesmente ainda estar nervosa e o homem provavelmente percebeu isso. — Perdão, estou nervosa com esse acontecimento.
— Tudo bem. Mas eu acho que quem estava naquele carro... queria matá-la.
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Espero que tenham gostado, votem e comentem...
Eita que Scarlet quase... 👀
Bjoooooooooooos ✨
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