ꕥ Capítulo 10 ꕥ
Annabelle Narrando
Conversei com Kiara e expliquei para ela que eu teria que ir embora antes das oito horas da noite, mas que antes de me ir embora eu iria me despedir dela. Ela sorriu quando eu disse isso para ela, que antes de ir eu iria me despedir dela.
Eu e Scarlet deixamos Kiara e Dominic a sós e Scarlet me arrastou para o quarto dela. Assim que entramos no quarto dela, a luz estava apagada, mas não demorou muito para que a minha amiga acendesse a luz.
— Bem melhor. Você dorme de luz apagada? — Scarlet me perguntou e eu confirmei com um aceno de cabeça.
— Durmo, você não?
— Eu não, Deus que me livre. — Ela riu e eu a olhei desentendida.
— Você dorme de luz acesa então? — Pergunto desconfiando que ela tinha medo de escuro.
— Sim, eu durmo de luz acesa e não é porque tenho medo de escuro, nada disso. — Ela explicou se sentando em cima da sua cama.
O quarto de Scarlet tinha uma decoração linda, os tons de vermelho claro e escuro combinavam com a cor branca das paredes. A cama dela ficava no centro do quarto, tinha uma janela perto do criado-mudo e o tapete era de cor vermelha, só que em um tom escuro. O closet dela ficava do lado esquerdo do quarto, creio eu que cabe até um carro lá dentro. E do lado direito tinha uma porta da cor branca, acredito que seja a porta para o banheiro.
— Abre essa janela. — Ela apontou para a janela e eu caminhei na direção da mesma, abri a janela e olhei para a rua lá fora que não tinha muita movimentação.
— Você disse que dorme de luz acesa, isso é sério? — Pergunto ainda incrédula. — Você tem medo de escuro? Pode dizer a verdade, eu não vou rir.
Vou tentar.
— Não tenho medo de escuro, eu só não gosto de dormir no escuro. Olha, a última vez que eu dormi no escuro, uma barata resolveu passear no meu pescoço e quando eu senti que tinha algo andando no meu pescoço enquanto eu dormia, eu dei um tapa bem forte e nossa... quase que eu quebro o meu próprio pescoço nesse dia, foi horrível. — Ela disse abraçando o próprio corpo e eu comecei a rir.
— Quase quebra o pescoço? Exagerada. — Rir e ela me encarou.
— É sério Belle, desde esse dia nunca mais dormir de luz apagada. Só durmo de luz acesa é mais tranquilo. — Ela deu de ombros.
— Bom, eu não consigo dormir de luz acesa. Eu penso que ainda está de dia, por isso só durmo de luz apagada. — Iria me afastar da janela quando uma ave derrepente apareceu na janela e eu me assustei, junto com Scarlet.
— Ai meu Deus! Um corvo! — Ela disse alterando a voz e se levantando da cama. — Espera, desde quando tem corvos por aqui?
— E não tem suas malucas. — Escutei aquela voz ecoando em minha cabeça, a voz que agora já se tornara familiar para mim e não acreditei que poderia ser ele mesmo. Assim como eu, Scarlet também havia escutado aquela voz irônica na cabeça pois, ela agora observava o corvo atentamente.
Logo o corvo voou para dentro do quarto, pousando em cima da cama de Scarlet.
Vi a fumaça na cor cinza envolver a ave e magicamente a fumaça foi desaparecendo, assim como o corvo, que agora havia se transformado em um cachorro... é ele mesmo, Trovão. O mesmo inclinou um pouco a cabeça para o lado esquerdo e nos olhou.
— Vão ficar aí paradas o dia todo? — Ele perguntou e eu me aproximei dele para ir abraçá-lo.
Que saudades desse cachorro palhaço, e eu só fiquei algumas horas longe dele. Ainda abraçada a ele, passei a mão nos seus pelos e quando me afastei, o mesmo já estava me olhando.
— Sentiu mesmo saudades de mim? Estou surpreso.
— Fala sério, não sou a Belle mas imagino que não tem como não sentir falta de você. E que show foi esse? Então, a ave que você gosta de se transformar é em um corvo? — Perguntou Scarlet ainda surpresa e se aproximando de Trovão para passar a mão nos seus pelos macios
— Sim. — Ele disse e desviou o olhar de Scarlet e voltou a me olhar. — Vi e ouvi tudo o que vocês duas conversaram, sei sobre Kiara, sei sobre a avó dela e tudo mais. Eu só não vim antes porque eu estava com a sua mãe Belle, ela fechou a floricultura a alguns minutos atrás, sim ela fechou mais cedo porque uma colega dela ligou para ela a chamando para sair e ela foi, elegante até demais e arrisco dizer que hoje ela não voltará para casa. — Ele disse fazendo eu e Scarlet rir.
— Espera, você ouviu? Mas eu não consegui te ouvir dizendo alguma coisa... — Digo confusa e ele se deita na cama de Scarlet.
— Você não pode me ouvir quando estou longe de você Belle, só quando estou por perto. Agora eu posso te ouvir mesmo você estando longe, posso ouvir Scarlet ou qualquer outra pessoa, expliquei isso ontem... ou vocês não estão lembradas? — Perguntou olhando para mim e para Scarlet e confesso que eu havia esquecido por um momento, já Scarlet coçou a nuca, com certeza acabou de lembrar agora. — Vocês duas são umas figuras mesmo. Vou explicar de novo, mesmo eu estando longe de vocês, eu consigo e posso escutar o que vocês pensam ou falam, eu também consigo e posso ver o que vocês estão fazendo ou onde estão. Mas é claro que eu não ando espionando vocês toda hora, eu tenho mais o que fazer.
— Esse Trovão não tem jeito mesmo. — Scarlet disse rindo e eu também rir.
Acabei me lembrando de algo que Scarlet havia me contado no carro, e já que Trovão está aqui, ela terá que contar para nós dois.
— Ei, e o sonho estranho e engraçado que você teve? — Pergunto para ela que para de rir e me olha confusa.
— Sonho? Que sonho?
— Você falou quando estávamos dentro do carro que tinha tido um sonho estranho e ao mesmo tempo engraçado.
— Eu disse isso? No carro?
— Ela está esquecida mas eu também escutei ela falando isso para você. — Disse Trovão.
— Aaah! O sonho. — Ela riu batendo na própria testa com a mão direita. — Como pude me esquecer? Meu Deus! — Ela continuou rindo mas logo se controlou. — Era assim, estava em um parque de diversões eu, você e mais três pessoas que eu nunca vi na vida. Só me lembro que a gente se divertiu muito até que teve um problema, ou melhor, um gorila bem grande. Ele aparecia do nada no parque de diversões e as pessoas saíam correndo desesperadas, até as três pessoas que estavam com a gente conseguiam correr, mas a gente não. Nós duas ficávamos para trás e pior, o gorila conseguia pegar nós duas e pense na loucura. — Ela disse e eu fiquei imaginando tudo isso acontecendo e acabei rindo. — Mas ele me soltava e ficava só com você na palma da mão dele, o gorila era grande demais, era maior que a roda gigante.
— E o que aconteceu depois? —Perguntou Trovão enquanto eu enxugava as pequenas lágrimas que tinham saído do canto de meus olhos, rir tanto que acabei chorando.
— Não me diga que o gorila se apaixonou por mim. — Digo e dessa vez foi Scarlet que gargalhou.
— Não, ele só te levou embora. É tudo que eu lembro. — Deu de ombros. — Mas assim que eu acordei desse sonho, eu comecei a rir sozinha em cima da cama. Sonho louco kkkkk e você sonhou com alguma coisa?
— Não, não que eu me lembre. — Digo cruzando os braços e tentando lembrar se eu havia sonhado com algo.
— E qual foi o último sonho que você teve?
Não foi bem um sonho, foi mais um pesadelo e com a minha irmã.
— É melhor deixar em off, foi um pesadelo que eu não quero lembrar. — Explico e minha amiga assente.
— Uh! Sua mãe está chamando um táxi agora para ir para casa. — Trovão disse encarando o piso do quarto de Scarlet. — Sua mãe não está se sentindo muito bem, é melhor eu voltar para casa. — Ele desceu da cama e me olhou.
— Ela não está se sentindo bem? Com o que ela está? — Pergunto preocupada.
— Eu diria que dor de cabeça, mas arrisco dizer que ela também está preocupada com algo já que quando saiu de casa ela estava ótima. Enfim, é melhor eu voltar — Ele desviou o olhar de mim e olhou para Scarlet. — Até outro dia, tempestade.
— Vai ficar me chamando assim mesmo? — Ela perguntou arqueando uma sobrancelha.
— Vou. — Depois dele dizer isso, a fumaça cinza voltou a envolvê-lo, o cobrindo por completo e quando a fumaça desapareceu, meu cachorro também desapareceu junto com a fumaça. Ele havia se teletransportado.
— Acho que é melhor eu ir também Scarlet, preciso saber como está minha mãe e Trovão não é médico. Para ela, ele é apenas um cachorro comum.
— Claro. Nos falamos depois pelo whats, quer que eu chame um Uber para você? — Ela perguntou e eu assenti.
— Sim, mas antes de me ir, irei me despedir de Kiara.
Dominic Narrando
Depois que minha filha saiu com a amiga dela do quarto, aproveitei para conversar a sós com minha filha mais nova, a quem eu só tinha contato pelo celular mas raramente nós nos falávamos. Contei para Kiara que eu consegui trazer alguns pertences dela para cá como as roupas, alguns brinquedos e também alguns livros infantis em braille, o que me surpreendeu um pouco por saber que ela sabe ler.
— Sua vó fez exames com você, não fez? — Pergunto analisando o semblante de Kiara que parecia exausta.
— Fez papai, mas não deu em muita coisa se é o que quer saber. Não tem cura... mas está tudo bem. — Ela disse olhando para a frente e eu passei a mão nas costas dela. — Onde estão as minhas coisas?
— Estão lá embaixo querida, depois irei pedir para a empregada trazer para cá. Você só vai ficar nesse quarto por enquanto, por mim você dormiria com Scarlet mas
— Eu não quero. — Disse Kiara.
Solto um suspiro pesado e olho para Kiara, não vai ser fácil tentar convencer ela a dormir com Scarlet mas irei tentar.
— Você conhecia a casa em que morava com a sua avó, sabia andar sozinha pela casa, não é isso? — Pergunto me lembrando de que ela havia me dito isso, quando estávamos no avião.
— Sim. E quero aprender a andar sozinha nessa casa também... é de primeiro andar não é? Já que subimos escadas quando chegamos aqui.
— Sim Kiara, é de primeiro andar. Mas não quero que você fique andando sozinha pela casa, tudo pode acontecer... mas mesmo assim irei fazer uma "tour" com você pela casa. — Digo e vejo a mesma dar um sorriso fechado.
— Obrigado papai.
— Seria bom você dormir com Scarlet, só durante alguns dias. Até que seu quarto fique pronto e não vai demorar para ficar pronto, vai ser ao lado do quarto de sua irmã. — Explico vendo a mesma respirar fundo. — Você dormia sozinha na casa em que morava com a sua avó?
— Não, eu dormia com ela.
— E por que quer dormir sozinha filha? — Pergunto vendo ela entrelaçar suas mãos uma na outra.
— Não gosto de incomodar ninguém, não quero incomodar Scarlet. — Ela disse e eu parei um pouco para pensar sobre ela.
Kiara é tão séria e ao mesmo tempo meiga, ela se importa demais com a opinião das pessoas e se a aproximação dela irá incomodar alguém. Por isso, irei me esforçar para cuidar muito bem dela e fazê-la se sentir em casa porque minha casa, também é a casa dela agora.
— Saiba que você não está incomodando ninguém aqui. Scarlet irá amar você fazendo companhia a ela, agora que sua irmã tem um parafuso a menos, entende o que eu quero dizer? — Pergunto.
— Que ela é ciumenta? — Ela perguntou e eu rir de canto.
— Ela é ciumenta também, mas ela também é doidinha. — Digo e vejo Kiara rir. A garota se parece demais com a mãe dela, mas pelo menos os olhos dela são iguais aos meus e o sorriso também.
— Entendi. Se por ela estiver tudo bem, eu durmo com ela.
— Ótimo querida.
— Papai... você trouxe todos os meus livros? — Ela perguntou afastando suas mãos uma da outra.
— Sim. Quem te ensinou a ler?
— Minha avó, quando eu tinha 5 anos ela me ensinou o alfabeto em braille, os números, as pontuações... depois me ensinou a ler também. Comprou livros em braille para me ler, o primeiro livro que li foi o da chapeuzinho vermelho... me apaixonei por livros desde então. — Ela explicou e eu sorri ao saber que minha pequena se interessava por livros.
Na idade dela eu não podia nem ir a escola por motivos... é melhor deixar para lá. Não gosto de relembrar o que passei na infância ou na adolescência, não foi nada bom.
— Papai? Eu disse algo que o deixou pensativo? — Ela perguntou se virando um pouco para o lado em que eu estava, ela esticou seu braço, conseguindo assim tocar no meu rosto.
Sua mão pousou no lado direito do meu rosto e eu analisei seu rostinho confuso e curioso.
— Ficou pensativo por um momento... está cansado não é? Consigo sentir que você está. — Ela disse passando a mão no meu rosto. — Vá descansar papai.
— E você está certa querida. Estou cansado mas não vou descansar agora, só mais tarde. — Pego na mão dela e acaricio as costas de sua mão com o polegar. — Você precisa comer alguma coisa mocinha, nem que seja uma fruta.
Ela fez uma cara emburrada e eu rir.
— Não adianta fazer essa cara.
— Papai, cadê a Belle? — Ela perguntou me deixando confuso por um momento até que me lembrei a quem ela se referia.
— Annabelle? Amiga de sua irmã?
— Sim, sim. Eu gostei dela, ela me disse uma coisa que ninguém nunca me disse... nem mesmo a minha avó. — Ela disse e eu pensei por um momento na loira que usava óculos.
Annabelle é inteligente e pelo visto, sabe lidar com crianças já que Kiara não é tão fácil assim de lidar. Mas minha filha gostou dela.
— O que ela te disse? — Pergunto curioso e vejo Kiara sorrir.
— Ah não papai, não vou dizer. Mas as palavras dela... me fizeram sorrir hoje. — Ela disse com um sorriso que me pareceu sincero, mas logo sua expressão mudou para uma preocupada. — Ela já foi embora?
— Eu não sei, ainda vão dar sete horas. — Digo olhando a hora no meu relógio de pulso.
— Leva ela para casa papai.
Olhei confuso para Kiara e neguei com a cabeça mesmo que ela não pudesse ver. Por que eu levaria Annabelle para casa?
— Ela mora perto?
— Hum... acho que não. — Respondo. — E acho que ela irá de uber.
— É perigoso ir de uber sozinha. Tinha uma garota que morava perto de mim e da minha avó, essa garota morava com a tia. E minha avó me contou que essa garota entrou em um uber e nunca mais voltou para casa... depois ela foi encontrada sem vida em um lugar muito distante de onde nós morávamos e descobriram que quem a matou foi o motorista do uber. Não deixe Belle ir de uber, leve ela para casa, pelo menos hoje... está de dia ou de noite? — Ela me perguntou e realmente parecia preocupada com Annabelle.
Por um lado Kiara está certa, uber nem sempre é tão seguro. Na verdade, homens.
Não são todos os homens que respeitam as mulheres e esse tipo de falta de respeito, infelizmente já presenciei muito.
— Está de noite. — Digo olhando agora na direção da janela, vendo que já havia anoitecido. — Tudo bem, eu irei levar Annabelle para casa em segurança. — Volto meu olhar para minha filha que estava sorrindo.
Sinto meu celular vibrando no bolso da minha calça e logo pego-o. Vejo quem me ligava e reviro os olhos, meu irmão não cansa de encher o meu saco.
— Seu tio Ramiro está me ligando, irei atender a ligação mas não perto de você. Seu tio fala... besteiras demais se é que me entende. — Explico vendo ela bocejar, ela provavelmente está com sono mas antes de dormir ela terá que comer alguma coisa.
— Tá bom papai, eu vou ficar bem.
— Não se levante da cama. — Aviso me levantando da cama dela e logo saio do quarto para atender a ligação de Ramiro.
Annabelle Narrando
Quando sai do quarto de Scarlet junto com ela, vimos Dominic saíndo do quarto em que Kiara está. Ele apressou os passos pelo corredor e dobrou a esquerda, Scarlet havia me apresentado a casa dela mas eu não me lembro de tudo.
— Se ele foi para a varanda é porque alguém importante está ligando para ele.
Isso, para onde ele foi é onde fica a varanda.
— É, vou me despedir de Kiara.
Caminhei na direção do quarto em que Kiara está e Scarlet me acompanhou. Entramos no quarto e vimos Kiara sentada na cama, a mesma não parecia mais tão abatida porém, quando escutou os meus passos e o de Scarlet entrando no quarto, ela ficou em alerta e ergueu a cabeça.
— Quem está aí?
— Somos nós, eu e Belle. — Scarlet respondeu se aproximando dela e se sentou ao lado da mesma. — Já que nosso pai estava aqui com você, você sabe quem ligou para ele? — Perguntou minha amiga e eu também me sentei do outro lado de Kiara.
A garota ergueu o braço esquerdo, conseguindo tocar no meu braço.
— É você Belle? — Perguntou ela com um sorriso no rosto.
— Sou eu sim. — Disse surpresa e olhei para Scarlet que estava surpresa também.
— O cheiro do seu perfume Belle... consegui reconhecer. — Ela disse e logo ergueu o braço direito, tocando agora na barriga de Scarlet que riu.
— Aí não meu bem, eu tenho cocégas na barriga e não é pouco. — Ela disse rindo o que fez Kiara rir também. — Mas me responde, você sabe quem ligou para o nosso pai?
— Ele disse que era o tio Ramiro. — A garota respondeu e na hora, o sorriso de Scarlet desapareceu.
— Eu disse que era alguém importante não foi Belle? Retiro o que eu disse. — Ela disse séria e vi a expressão confusa no rosto de Kiara.
— Sua irmã pelo visto não gosta do tio Ramiro. — Sussurro no ouvido da garota ao meu lado que parece me entender.
— Por que ela não gosta do tio Ramiro? — Perguntou Kiara e Scarlet me olhou.
— Advinhou rápido. — Ela disse e eu rir.
— Você parou de rir na hora que ouviu o nome do seu tio.
— Ah claro, me desculpem. Ah Belle e eu esqueci de te contar sobre ele, assim eu não odeio ele. Mas eu não gosto quando ele liga para o meu pai, apesar dos dois serem irmãos... o tio Ramiro é muito baladeiro e gosta de arrastar meu pai para esse caminho. Pior, ele gosta de arrastar Poliana para o meu pai. — Ela disse ficando um pouco alterada.
— Poliana? — Pergunto confusa.
— Uma mulher que é louca pelo meu pai, se fosse por ela eles já estariam casados. E de verdade ela gosta dele, não é só interesse no dinheiro ou algo do tipo, ela gosta realmente dele mas é muito insistente e chiclete, pense em uma mulher insuportável e ridícula, é essa Poliana.
Já não gosto dela.
— Já não gosto dela. — Disse Kiara e eu rir pois foi a mesma coisa que pensei.
— Você não gosta dela? Eu a odeio. Pior é que nosso pai já saiu com ela, com certeza a Poliana e ele tiveram alguma coisa mas como meu pai é muito sério e não quer entrar em um relacionamento sério com ninguém... enfim, o que eu acho bom não vou mentir. — Ela riu. — Mas eu não suporto essa mulher, ela é amiga do tio Ramiro e quando conheceu o irmão dele vulgo o Dominic... já era.
— Pelo menos seu pai não quer nada sério com ela. — Dou de ombros e Scarlet concorda com um aceno de cabeça.
— Mas as vezes ele sai a noite Belle, eu não duvido que seja com essa piranha. Imagina só ter aquele vadia como madrasta? Eu saio de casa e levo a Kiara comigo. — Ela disse se revoltando e eu a repreendi com o olhar, não pela decisão que ela poderia tomar e sim pelas palavras que ela usou para xingar a mulher. Meu Deus, Kiara é uma criança para estar ouvindo esses palavreados.
— O que é piranha? E o que é vadia? — Perguntou a garota e eu passei a mão nos cabelos dela.
— Nada meu bem, quando você crescer mais um pouco a Scarlet te explica. — Encaro minha amiga que coça a nuca.
— Ah sim.
— Mais de verdade, não suporto essa mulher. E não duvido que o tio Ramiro esteja planejando alguma coisa. — Ela disse desconfiada e percebi Kiara se abanando com a mão direita.
— Deixa isso para lá Scarlet, se seu pai quiser se envolver com essa mulher... deixa, ele é livre. — Digo mas me controlando para não surtar do mesmo jeito que minha amiga estava surtando.— Está com calor Kiara? — Pergunto e logo passo as mãos nos cabelos da garota, e os subo um pouco para o topo da cabeça, faço um coque frouxo e vejo a garota sorrir mais uma vez.
— Obrigada Belle.
— Vim me despedir de você Kiki, posso te chamar assim? Não sou boa em dar apelidos mas conheço uma pessoa que é ótima em escolher apelidos.
Na verdade um cachorro.
— Já vai embora? — Ela perguntou e vi a expressão preocupada no seu rosto e arrisco dizer que, triste também.
— Sim Kiki. Mas qualquer dia desses eu venho aqui te ver, para a gente conversar, fazer alguma coisa. Eu, você e Scarlet... o que acha?
— Já quero esse dia. — Scarlet se pronunciou e agradeci mentalmente por ela ter parado de falar do pai dela.
— Acho ótimo Belle.
Beijo o topo da cabeça de Kiara e me afasto, me levantando da cama dela. Olho para Scarlet que me encarava e eu revirei os olhos.
— Você não é criança para ganhar um beijo no topo da cabeça. — Digo e Scarlet rir. — Ela queria que eu fizesse a mesma coisa que fiz em você Kiki. — Explico e a garota gargalha.
Scarlet se levanta da cama e bate no lado esquerdo da minha cabeça, mas não demora muito para ela me abraçar.
— Chamo o uber agora? — Ela perguntou e eu assenti.
— Uber não! — Kiara alterou a voz e eu e Scarlet nos afastamos do abraço para olhar para a garota. — O papai disse que vai levar você Belle.
Ele vai?
— Ele vai? — Perguntou Scarlet.
— Sim, eu vou. — Escutamos a voz rouca de Dominic e vimos o mesmo entrando no quarto. Ele mexia no celular enquanto caminhava... que homem, meu Jesus.
— Pelo menos, você não vai pagar nada Belle. — Scarlet riu enquanto eu não conseguia nem me mexer direito.
Eu preferia ir em um uber. Só de pensar que ficarei no carro sozinha e com o Dominic? Isso não ajuda, mesmo eu indo no banco de trás sei que não vai resolver muita coisa.
— Vai agora? — Ele perguntou desviando o olhar do celular para me olhar.
— Sim.
— Bom, então vamos. Scarlet cuide de Kiara, eu não vou demorar. — Ele disse guardando o celular no bolso da calça.
— Odiaria se você dissesse que iria demorar. — Disse Scarlet.
— Por quê? — Ele perguntou confuso olhando para a filha e Scarlet logo cruzou os braços.
— Não sei, talvez porque o senhor poderia se encontrar com a P.O.L.I.A.N. — Resolvi interromper Scarlet que estava soletrando o nome da tal da Poliana.
— É melhor irmos logo Dominic, minha mãe já deve estar em casa e eu... também já deveria estar. — Digo e percebi que pai e filha se encaravam.
Scarlet desviou o olhar dele e olhou para mim. Nos despedimos e eu mais uma vez me despedi de Kiara, também aproveitei e peguei minha bolsa que eu havia deixado no chão, perto da cama em que Kiara está. Logo sai do quarto junto com Dominic, o mesmo foi caminhando na frente e eu logo atrás dele.
Fora da mansão dos Murray, eu abri a porta do banco de trás do carro de Dominic e logo me sentei no banco de couro preto. Fechei a porta do banco de trás e Dominic também entrou dentro do carro, se sentando no banco do motorista.
Ele fechou a porta do banco da frente e não demorou para dar partida.
— Aonde você mora Annabelle? — Ele perguntou e eu abracei a minha bolsa, do nada me deu sono agora.
— Rua não diga o nome, sabe onde é? — Pergunto olhando para ele enquanto o mesmo dirigia.
— Acho que sim. Fica perto da MHS?
— Um pouco. — Respondo deitando a cabeça em cima da minha bolsa e fecho os olhos, mas não fiquei de olhos fechados por muito tempo.
— Você conversa muito com a minha filha não é? — Ele perguntou e eu ergui a cabeça para olhar para ele.
— Somos amigas, claro que conversamos muito.
— Então deve saber quem é Poliana, ela com certeza já te falou sobre.
Falou e não foi pouco.
— Com todo respeito, eu "sei" quem é essa mulher mas não quero me intrometer nesse assunto. — Digo séria e realmente eu não queria me intrometer.
— Está certa. Eu só não quero que... que minha filha pense que essa mulher será madrasta dela. — Ele disse mantendo a atenção no trânsito e eu resolvi arriscar em uma pergunta.
— Mas você não se envolve com essa mulher? — Pergunto vendo o mesmo me olhar através do retrovisor, senti minha pele se arrepiar ao receber o olhar dele.
— Para ser sincero já me envolvi sim, mas não me envolvo mais. Estou ficando velho e não quero me relacionar ou me envolver com ninguém, compreende?
— Compreendo. Mas o senh... você não parece que está ficando velho ou que é velho. — Sou sincera e vejo o mesmo rir de canto.
— Não? E quanto anos você acha que eu tenho Annabelle? — Ele perguntou dobrando em uma rua e eu pensei por um momento. Lembro que Scarlet me contou uma vez que ele tinha mais de 60 anos mas ela estava só brincando.
— Scarlet já brincou dizendo que você tinha mais de 60 anos. — Digo prendendo o riso e vejo ele fazer um sinal de negação com a cabeça.
— Tinha que ser minha filha. Mas eu não tenho mais de 60 anos.
— 28?
— Meu Deus! Não, quem dera. — Ele riu enquanto dirigia.
Pensei mais um pouco em quantos anos Dominic poderia ter.
— 40? — Ele me olhou através do retrovisor e negou com a cabeça.
— Menos que isso.
— 37? — Chutei e percebi ele dar um sorriso fechado, acertei.
— Também não, menos que 37.
— Nossa, tá difícil em. — Digo apoiando minhas mãos em cima da minha bolsa. — 30?
— Não. — Ele riu de canto e eu encarei ele. — Mais que 30.
— 34?
— 33. — Ele respondeu e eu fiquei surpresa. — Não esperava por essa não é?
— Não mesmo. Com todo respeito, pensei que você tinha 30 anos. — Sou sincera mais uma vez.
— Como eu disse, estou ficando velho.
Um velho que muitas mulheres querem, incluindo eu mesma.
— Ah mais você não é velho, pelo menos eu não acho. — Digo.
— Vou acreditar em você. Sei que é falta de respeito perguntar a idade de uma mulher, mas e você? É mais velha ou mais nova que Scarlet? — Ele perguntou, me fazendo mexer na haste dos meus óculos.
— Sou mais velha que ela, faço 20 anos em novembro. — Digo e vejo ele me olhar surpreso através do retrovisor do carro.
— Está brincando não é?
— Não, é sério. — Rir.
Ele pensa que é só ele que está ficando velho. Esse Dominic...
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Espero que tenham gostado, votem e comentem...
Bjoooooooooos ✨
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