ꕥ Cap 4 - A História de Trovão ꕥ
Annabelle Narrando
Assim que minha mãe saiu de casa, tranquei a porta da sala e subi as escadas para poder ir para o meu quarto.
O cachorro que fique sozinho na sala.
Aproveitei e tomei um banho relaxante quando cheguei no quarto e também fechei a porta, pensei em lavar os cabelos mas... não, os meus cabelos demoram demais para secar e a água está muito fria também. Desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha de cor branca, saí do banheiro e em seguida fechei a porta do mesmo.
Caminhei até o meu guarda-roupa e procurei por uma roupa confortável. Acho que um vestido está bom demais. Peguei um vestido estampado e um conjunto de sutiã e calcinha, vesti e em seguida passei perfume.
Saí do quarto e desci as escadas chegando novamente na sala de estar, olhei para o cachorro que ainda estava em cima do sofá e agora olhando para a porta. Ele deve estar esperando minha mãe.
— Na verdade eu estava esperando por você, mas não irei até você. Você que venha até mim.
Me assustei ao escutar a voz masculina e sarcástica de novo, olhei em volta conferindo se tinha mais alguém na sala de estar e não tinha. Só tem eu e o... cachorro.
Apressei meus passos na direção dele e me sentei ao lado dele no sofá. E se eu estiver mesmo ouvindo vozes?
Passei minha mão nos pelos do cachorro e até que ele é fofinho, acariciei sua cabeça e ele continuava olhando para a porta.
— Você deve estar se sentindo tão triste, você era apegado demais ao meu avô não é? — Pergunto acariciando a cabeça do cachorro e olho para a porta também. — Eu te entendo.
— Não, você não me entende.
Ouvi a voz ecoando em minha mente e fiquei em alerta, olhei em volta mais uma vez e me aproximei mais do cachorro.
— Você está ouvindo alguma coisa? — Pergunto ainda olhando em volta.
Será que alguém entrou aqui e tá fazendo essa brincadeira comigo?
— Eu não estou ouvindo nada, ah não ser a sua voz. E você?
Parei o carinho que estava fazendo no cachorro e lentamente virei minha cabeça para olhar para ele que já estava me encarando com aqueles olhos castanho-claros.
— Espera um pouco... é você que... — Parei de falar me levantando do sofá assustada e olhando para o cachorro.
— Isso é sério? Eu gostaria que sua mãe ou qualquer outra pessoa pudesse entender e compreender o que eu penso. Não a garota que quer me mandar para o canil, o seu avô apronta cada uma. — O cachorro moveu os lábios dessa vez enquanto as palavras saíam de sua boca e ele abaixou um pouco a cabeça como se estivesse indignado.
Eu? Estou assustada, estou vendo coisas.
Tem um cachorro falando comigo.
— Sim, você está falando com um cachorro e quer parar com esse drama? Nunca viu um cachorro falante?
Levei minha mão a boca e dei três passos para trás.
— Como... isso é impossível. Estou ficando louca — Apressei os passos saíndo da sala de estar e subindo as escadas rapidamente.
Fui para o meu quarto e fechei a porta. Soltei um suspiro aliviada encostando minha testa na madeira da porta de cor branca, eu preciso descansar urgentemente.
Me virei para ir para a minha cama porém, me assustei e acabei encostando minhas costas com força na porta.
— Não adianta fugir de mim. Você entende e compreende tudo que penso e isso, eu não esperava tenho que admitir. — Disse o cachorro agora sentado em cima da minha cama e me olhando. — Meu nome é Trovão.
— Como... como entrou aqui? Sai da minha cabeça. — Digo passando as mãos nos meus cabelos e continuando encostada na porta.
— É inevitável não ler os seus pensamentos Annabelle, até porque ler mentes são uns dos meus poderes... acho que você já percebeu que de cachorro comum eu só tenho a aparência. — Ele disse agora com um certo desprezo na voz. — Culpe o seu avô por isso tudo.
— O que o meu avô tem a ver com isso?
— Tudo. E se sente em algum canto se quiser ouvir a história, nem que seja no chão mas se sente. Você não é um cavalo para passar o dia inteiro em pé e ainda mais encostada nessa porta.
Cachorro estressado.
— Você me respeita garota.
— Quer parar de ler a minha mente? — Pergunto irritada e respiro fundo. Era só o que me faltava, eu estou falando com... um cachorro.
— Já disse que o meu nome é Trovão.
— Tudo bem... Trovão, tudo bem. — Caminho na direção da minha cama e me sento na beirada já que ele estava perto dos meus travesseiros. Isso ainda é tudo muito estranho.
— Para você é, mas não se preocupe. Quando sua mãe chegar eu não estarei mais aqui, irei para o canil mesmo. — Ele disse desviando o olhar de mim e olhando para a janela do meu quarto que estava fechada.
— Tá legal... o que o meu avô tem a ver com... isso? — Pergunto apontando para ele e o mesmo volta a me olhar.
— Seu avô dizia ser um veterinário, mas na verdade o que ninguém sabia e ainda não sabem, mas você irá ficar sabendo e eu espero que saiba guarda segredo. Seu avô era mesmo um cientista maluco. — Ele disse e logo levantou uma de suas patas e coçou atrás de uma das suas orelhas fofas.
— Cientista maluco? Isso é sério? — Pergunto incrédula.
Ah vai eu estou falando com um cachorro, não sei se devo acreditar em tudo que ele diz.
— Quem sabe é você se acredita em mim ou não. Mas eu irei te contar a verdade já que foi você que ele meio que... deixou no lugar dele. Enfim, seu avô me achou na rua quando eu ainda era um filhote, mas eu estava com minha irmã mais velha e por favor não me pergunte sobre ela, eu agradeço. Seu avô então me pegou e pegou minha irmã para criar, ele nos levou para a casa dele e eu e minha irmã pensamos que a casa dele seria nosso novo lar e que finalmente teríamos um humano nos amando e cuidando de nós... mal sabíamos nós que o seu avô tinha outros planos, tanto para mim como para a minha irmã, e para outros cachorros que estavam na casa dele naquele dia. — Ele dizia agora olhando para algum lugar vazio do quarto, o que me deixou um pouco preocupada.
— Confesso que da última vez que visitei meu avô, eu só tinha 10 anos.
— Eu já estava lá. Minha irmã... não. Mas eu não me lembro de ter visto você, ah claro, como eu poderia ter visto se eu estava trancado em um porão junto com outros dez cachorros?
Arregalei os olhos pensando no pior. Meu avô não maltratava animais... não dá para acreditar.
— Não, ele não nos maltratava. Fazia pior... sabe, eu fui o único que ele não chegou a testar nada ou aplicar. Tive sorte e ao mesmo tempo azar. Mas irei te contar a história do começo para você não ficar perdida. Assim que seu avô achou eu e minha irmã nas ruas, ele nos levou para a casa dele, mas não ficamos na casa dele dormindo em cima de algum tapete fofo como muitos cachorros domésticos fazem... seu avô nos levou para o porão da casa dele. Me colocou em uma pequena cela e minha irmã em outra cela ao meu lado. Tinham outros cachorros presos ali e eu notei que muitos estavam tristes e outros doentes, um desses cachorros conversou com a minha irmã, eu não consegui escutar mas me lembro de minha irmã dizendo que seu avô era louco e que ela não iria para a sala azul.
— Sala azul? — Perguntei confusa e ele me olhou.
— Era uma sala não muito grande de porta azul que ficava no final do porão, minha irmã me contou que tínhamos que sair dali pois o homem que havia nos pegado na rua era louco. Eu de primeira não acreditei, não até ver o seu avô pegando um dos cachorros que estava preso e levando-o para dentro da tal sala azul. O cachorro que eu não me lembro da raça, mas acho que era um vira-lata saiu daquela sala azul... morto. — Ele disse se deitando em cima do meu travesseiro e eu levei minha mão direita a boca.
— O que o meu avô fez com ele?
— O que ele fazia em muitos cachorros, experiências que nunca davam certo e algumas injeções e dosagens que ele mesmo comprava e as vezes... inventava, eram tão fortes que acabavam matando. Eu vi muitos cachorros entrarem naquela sala azul e saírem sem vida nos braços do seu próprio avô, ele parecia que não tinha pena e toda vez que saía com algum cachorro morto nos braços, ele saía resmungando e até mesmo xingando, mas ele dizia também que não iria desistir. Eu posso dizer que cresci preso dentro daquela cela, mesmo não me faltando comida ou água, eu sentia que poderia acabar como um dos cachorros que entraram na sala azul e saíram sem vida. Certo dia, chegou a vez que seu avô pegou a minha irmã e eu fiquei desesperado, não queria que ela morresse ali dentro, seja lá o que seu avô fosse fazer com ela... eu não sei o que aconteceu lá dentro. Mas minha irmã conseguiu derrubar aquela porta azul, os cachorros ficaram agitados e latindo sem parar, eu era um deles, minha irmã correu até mim e eu notei que ela parecia tonta, ela tentou abrir a cela em que eu estava preso mas ela parecia fraca demais. Eu vi que uma luz branca estava saíndo do lugar onde ficavam as escadas e deduzi, que a porta de cima estava aberta... era a chance de minha irmã fugir daquele lugar. E foi o que eu mandei ela fazer, ela não quis me deixar ali pois disse que seu avô era horrível e louco, foi então que me virei de costas para ela não me ver chorando e a mandei ir embora enquanto ela podia se não seu avô poderia matá-la. E quando seu avô apareceu cambaleando perto da porta azul, foi que ela, mesmo relutante foi embora. — Ele disse voltando a olhar para um lugar vago do quarto e minha vontade era de se aproximar dele para tentar consolá-lo. — Não precisa. — Respondeu ele provavelmente, escutando os meus pensamentos.
— Precisa sim — Me aproximei dele e fiz carinho na sua cabeça. — Eu... não sei o que dizer. Sinto muito pela sua irmã, por tudo isso que aconteceu a ela e pelo visto... a você também. Mas você sabe se ela está viva?
— Ela está viva, mas não quero mais falar sobre ela. Enquanto a mim, eu cresci naquele porão, vi cachorros entrarem vivos e saírem mortos, e quando tinham 5 cachorros, contando comigo. Foi quando seu avô me escolheu e me levou para a maldita sala azul. Nessa sala haviam muitas coisas que nunca imaginei que teria ali dentro, tinham seringas, tanto grandes como pequenas, duas estantes grandes com vários recipientes grandes e pequenos, alguns de cores estranhas e outros de cores conhecidas por mim... mas era tudo muito estranho ali dentro porque eu me perguntei o que seu avô faria comigo. Me lembro dele me colocar em cima de uma mesa grande e eu fiquei quieto, eu pensava que minha irmã havia morrido então, não me importava se eu morresse naquele momento também. Eu o vi pegar um recipiente de vidro e dentro desse recipiente tinha um líquido azul, ele encheu uma seringa com aquele líquido e caminhou na minha direção. Ele iria aplicar aquilo em mim mas não deu tempo... escutamos algo vindo de cima, um barulho alto, como se estivessem invadindo, foi então que também pensei, e se estavam invadindo? É o único jeito de sair desse lugar e então, eu não quis mais morrer. Eu então lati e pulei da mesa grande em que eu estava, indo parar no chão. Seu avô ficou irritado quando me viu correndo pela aquela sala esquisita, eu queria que ele abrisse a porta mas é claro que ele não iria fazer isso. Ele queria mesmo era me pegar e aplicar aquela seringa em mim, mas eu também estava me irritando e foi então que corri na direção de uma das estantes dele e tentei escalar em uma delas... o que não deu muito certo e a estante acabou virando para frente e comigo. Minha sorte foi que tinha outra mesa por perto então, uma parte da estante ficou encostada nessa mesa, mas os recipientes de vidro e alguns de plástico, que estavam em cima da estante e tinham as experiências e pesquisas do seu avô dentro, caíram da estante e a maioria daqueles líquidos caíram em cima de mim, eu só me lembro de ter escutado os recipientes de vidro se quebrando no chão e alguns líquidos caíram em cima de mim mesmo, me dando um belo de um banho que foi preciso eu chacoalhar para tentar me secar. Mas ao fazer isso eu me senti... estranho, como se uma corrente elétrica tivesse percorrido por todo o meu corpo, eu estava me sentindo estranho e seu avô me encarava surpreso e não parava de dizer "Meu Deus! Funciona".
— As experiências que meu avô fazia então, fizeram isso com você? Tipo, você está falando comigo agora. Essas experiências ao caírem em cima de você, acabaram te dando...
— Poderes? Exatamente. Parece impossível mas na verdade foi possível. Enfim Annabelle, justo nesse dia teve um assalto na casa do seu avô, eu acabei impedindo aquele assalto e colocando os bandidos para correrem. Eu magicamente consegui ler os pensamentos deles e eles planejavam tocar fogo na casa do seu avô depois de roubarem tudo. Esse dia foi horrível, eu iria fugir depois de ter colocado os bandidos para correrem... mas senti tontura e acabei desmaiando. Quando acordei eu estava em cima de uma cama e seu avô ao meu lado, ele me perguntou como eu me sentia e eu disse que um pouco tonto, foi então que ele me olhou surpreso e disse "que incrível". Eu havia de fato, respondido a pergunta dele.
— Não é só incrível, isso é loucura também. — Digo afastando minha mão dos seus pelos. — E se as pessoas descobrem tudo isso em?
— A única pessoa que sabe sobre isso agora é você, espero que seja boa em guardar segredos. Ninguém pode saber disso, nem a sua mãe. — Ele me olhou e eu cocei a nuca. — Depois de me comunicar com seu avô e ter feito um trato para que ele deixasse os outros cachorros lá embaixo irem embora, eu passei a ser o cão de estimação dele e a descobrir mais coisas sobre ele. Tentei perguntar sobre minha irmã mas ele não se lembrava mais dela, claro, fazia tantos anos. Mas ele me ensinou a controlar os poderes que tenho e tudo mais, me disse que há anos ele vinha tentando fazer com que gato ou cachorro pudessem falar de verdade, com gatos ele não conseguiu e com cachorros também não.
— Exceto você, que é um cachorro.
— Exceto eu. E como o seu avô era veterinário também, ele pegava os gatos das ruas para fazer as experiências neles, quando não obteve resultado com os gatos, partiu para os cachorros. Seu avô era louco e um assassino de gatos e cachorros, ele teve sorte de ninguém descobri ou ele poderia estar preso.
-— Eu nunca imaginei que ele seria capaz disso tudo só para... forçar algum animal a ter simplesmente o poder de falar. Isso é terrível. — Digo me lembrando do semblante de meu avô.
Ele não parecia um homem que gostava de fazer esses tipos de coisas.
— Bom, acho melhor eu me adiantar. Não demorará para sua mãe chegar. — Ele se levantou dos meus travesseiros e desceu da minha cama, olhei para ele confusa e o mesmo também me olhou. — Você entende e pode escutar os meus pensamentos.
— Ainda não acredito como isso pode ser possível.
— Seu avô te dava presentes?
— Ele me deu uma caixa de bombons no ano passado, foi a primeira vez que recebi um presente dele.
— Deixa eu advinhar, você comeu os bombons?
— Todos. — Rir de canto e o cachorro me encarou. — O quê? Estavam bons.
— Ele colocou alguma coisa no bombom porque sabia que iria morrer ainda esse ano, ele estava doente e muito velho mesmo. Ele era louco, mas burro não. Agora entendo o papo de "Trovão você nunca estará sozinho, terá alguém com quem conversar e esse alguém irá te entender." — Ele disse tentando imitar a voz de meu avô e eu rir.
— Você até que é engraçado.
— E você não se parece com a boneca do filme de terror. Agora se levante e fique ao meu lado. — Ele disse sério e eu arqueei uma sobrancelha. — Vamos logo garota, não tenho a tarde toda.
— Para quê? — Pergunto me levantando da cama e ficando ao lado dele.
— Você pergunta demais, mas eu irei te responder. Irei te mostrar os poderes que eu tenho.
— São muitos? Tipo o super homem? Você voa? Tem visão raios-x? — Pergunto ainda rindo por dentro daquilo tudo, parecia até pegadinha.
— Se fosse pegadinha as câmeras já teriam aparecido. Agora concentre-se, pense em um lugar que você gostaria de ir.
Um lugar... meu sonho é visitar Paris, tirar foto perto da torre Eiffel.
— Já pensei. Mas porque me pediu para pensar em um lug...
— É melhor parar de falar e ficar quieta, se não você sentirá dor de cabeça. — Ele me interrompeu e eu o olhei confusa.
— Como?
Logo uma fumaça na cor cinza começou a nos envolver e eu fiquei assustada vendo aquilo tudo, iria dar dois passos para trás porém a fumaça cinza tomou conta até mesmo da minha vista.
Derrepente, eu já não estava mais no meu quarto, não sei aonde eu estava mas de uma coisa eu tive certeza... não estou mais no meu quarto e acho que nem na Pensilvânia. Senti o vento frio vindo ao meu encontro e abracei o meu próprio corpo, com um pouco de calma pude perceber que estou em um lugar muito alto e consigo ver a cidade iluminada lá embaixo... é tudo tão lindo. Apesar de aqui estar de noite, consigo ver as casas iluminadas lá embaixo.
Com certeza, não estamos mais na Pensilvânia.
— E você está certa Annabelle. Não estamos mais na Pensilvânia, estamos em Paris e no topo da torre Eiffel. — Dei um pequeno pulo para trás quando escutei a voz do cachorro, o mesmo estava ao meu lado e observando também a cidade lá embaixo.
Senti um pouco de dor de cabeça e apoiei minha mão direita na testa.
— Eu avisei.
— Você... você nos trouxe aqui? Você é louco? — Perguntei rindo mas era de desespero, podemos cair daqui se não tomarmos cuidado.
— Não vamos cair daqui, pois não vamos demorar aqui. — Ele disse lendo minha mente, o que me irritou um pouco. — Você que pensou em vim para cá e aqui estamos.
Caminhei um pouco para o meu lado esquerdo e... meu Deus é muito alto. Voltei para perto de Trovão ainda abraçando o meu próprio corpo.
— É muito alto, cruzes. Você nos trouxe aqui então... um dos seus poderes é poder viajar para qualquer país? — Perguntei vendo o mesmo se sentar.
— Quase isso.
Minha sorte é não ter medo de altura.
Pensei mais um pouco até que entendi que tipo de poder poderia ser esse, a fumaça cinza nos envolvendo no meu quarto e, nós dois aparecendo aqui logo em seguida.
— Teletransporte?
— Isso mesmo. Eu não conseguia antes, confesso que foi difícil para me aprender... foram meses tentando e praticando até que, consegui.
— Ok, um dos seus poderes é o teletransporte. Quais são os outros?
— Consigo ler mentes/pensamentos como você já sabe. Achava divertido no começo, mas depois passei a me irritar comigo mesmo por ler a mente das pessoas e sempre querer escutar o que estão pensando.
— Isso tudo ainda é muita loucura. Ainda não acredito que estou aqui... na cidade luz. — Digo admirando a vista lá embaixo iluminada, imagina a torre Eiffel então? Eu poderia ficar horas lá embaixo admirando-a, mas na verdade estou em cima dela, nunca imaginei que isso seria possível e ainda mais para mim.
— Você poderia ser presidente Annabelle se quisesse, você é esperta.
— Eu não, meu sonho não é esse. — Rir e cocei a nuca.
— Você não sabe ainda o que quer da vida, não é?
— Parece que não sou a única esperta aqui. — Olhei para ele que agora parecia sério e o vi fechar os olhos. Fiquei confusa porém, a fumaça cinza, antes era clara e agora percebi seu tom um pouco mais escuro, nos envolveu mais uma vez, nos levando de volta para o meu quarto.
Cambaleei um pouco para trás e apoiei minha mão na minha pequena estante de livros, vi o cachorro no chão e ele logo subiu em cima de um puff de cor roxa que estava perto da janela do meu quarto.
— Sua mãe chegará daqui a pouco. Não podíamos demorar mais lá, Yandra mudou de ideia e vai me levar para o canil daqui a pouco se conseguir chegar cedo aqui, ela está muito cansada e não conseguirá dirigir a noite e com sono então, duvido muito. — Ele disse me fazendo ficar surpresa e eu caminhei na direção dele.
— Como sabe tudo isso? Que poderes são esses?
— Posso escutar os sons de longe e também ver as coisas de longe. — Ele olhava para a rua através da janela, a rua estava deserta e eu cruzei os braços.
— Já se foram quatro poderes, você tem mais algum?
— Mais dois, meus poderes são seis no total. Posso me transformar em alguns animais, gosto de me transformar em uma ave... é legal voar e o outro poder é a invisibilidade. — Arregalei os olhos mais surpresa do que antes, esse cachorro só tem a aparência de um cachorro comum. — Ainda bem que você já está percebendo isso.
— Você pode se transformar em alguns animais? Tipo... um leão? — Pergunto olhando para ele e ele me olha.
— Nunca me transformei em um leão. Como eu disse, gosto de me transformar em uma ave.
— E você fica invisível mesmo? Cara isso ainda é muita loucura para mim. — Passo a mão nos meus cabelos que estavam amarrados em um rabo de cavalo.
Vejo o cachorro descer do puff e o mesmo volta a me olhar.
— É uma pena que não estou afim de demonstrar todos os meus poderes para você, mas estou te contando os que tenho e que são esses.
— E o de falar? Assim... como você está falando comigo e mexendo a boca, você consegue se comunicar com qualquer pessoa do mesmo jeito que está se comunicando comigo agora?
— Consigo, mas eu não quero e nem vou me comunicar com ninguém, exceto você. Só estou falando com você porque seu avô bem dizer te deixou no lugar dele, e você entende os meus pensamentos então, para não ficar louca ou algo do tipo eu tive que contar tudo isso para você. Apesar de ser loucura, é tudo verdade e acho bom você abrir a porta do seu quarto, sua mãe não é do tipo que gosta de esperar.
— E ela não é mesmo.
Caminho na direção da porta do quarto e a abro, Trovão saiu caminhando na frente e eu logo atrás.
— Você vai ficar bem no canil? — Pergunto descendo as escadas e vendo ele fazer o mesmo com suas quatro patas.
— Vou, deve ser melhor que a casa do seu avô.
— Você não gostava de morar com ele né?
— Desde que isso aconteceu comigo e ele não pode fazer nada para mudar isso, não. Eu daria tudo para ser um cachorro normal... pelo menos, não sou imortal, quando chegar a hora de me partir eu ficarei feliz. — Ele disse terminando de descer as escadas e caminhou na direção de um dos sofás da sala.
Quis pergunta sobre a irmã dele mas desisti, lembrei que ele não queria me falar sobre ela. O que me faz ficar curiosa, o que será que aconteceu entre os dois?
— Sua mãe já está na rua, foi bom conversa com você Annabelle.
Eu também gostei de conversar com um cachorro falante, é loucura... mas eu gostei. Fazia tanto tempo que eu não conversava com alguém assim, principalmente quando fico sozinha em casa.
— Você sempre foi solitária? — Ele perguntou sentado no sofá e me olhando.
— Não. Acontece que... ah minha vida mudou tanto, nem sempre fui solitária.
Eu tinha a companhia de minha irmã e quando não era ela, era do meu irmão e todos os dois... já não estão mais aqui comigo. Apesar de meu irmão poder estar vivo, mas do que adianta? Não daria para mim ir até a Califórnia ir visitá-lo na prisão.
— O que aconteceu com a sua irmã?
— Ela se suicidou.
— Sinto muito. Como tudo aconteceu? — Ele perguntou curioso e quando eu iria explicar, escutei a porta da sala sendo destrancada.
A porta se abriu e eu vi minha mãe que parecia cansada, com olheiras e eu sei que ela não conseguiu dormir direito a noite.
— Voltei Belle, não vou conseguir levar Trovão a noite para o canil então vim agora para pegá-lo e levá-lo. Não vou estar com disposição de noite quando chegar em casa, eu só vou querer tomar um banho e dormir.
— E comer também, não vai ficar sem comer. — Acrescento e ela sorri fraco, ela não quis comer ontem de noite e nem hoje de manhã, só a vi beber um copo de suco hoje de manhã.
— Prepare um chá para ela, ela irá precisar.
Escutei a voz do Trovão na minha cabeça e desviei o olhar de minha mãe para olhar para ele, o mesmo desceu do sofá e caminhou na direção de minha mãe.
— Você é um cachorro esperto. — Ela se curvou um pouco para acariciar a cabeça dele e eu vi que na sua mão esquerda tinha uma coleira. — Vamos.
Ela iria colocar a coleira nele e eu mordi o interior da minha bochecha.
— Não mãe.
Apressei meus passos na direção deles e peguei o cachorro nos braços.
— Não garota, nem pense nisso.
— Cala a boca, eu sei o que eu tô fazendo. — Disse em meus pensamentos para que ele me escutasse.
— Eu pensei muito e... decidi que quero ficar com ele. — Digo e minha mãe me olha surpresa.
— Mas você disse que não queria se responsabilizar por ele.
— Mas eu vou, eu mudei de ideia. — Digo determinada e vi minha mãe dar um sorriso fechado e olhar para o Trovão.
— Não posso deixar que você volte a ser preso de novo, o canil não é um lugar muito bom acredite. — Digo em meus pensamentos pois sabia que Trovão iria me ouvir.
— Eu sei disso, mas é melhor eu ir para lá do que você ficar comigo. — Ele disse e eu me segurei para não revirar os olhos. — Você vai acabar se apegando a mim e eu a você, acredite. Deixe sua mãe me levar que é melhor.
— Eu vou ficar com ele mãe, vou cuidar dele, levar para passear, dar comida e água, banho, eu irei me responsabilizar por ele.
— Você que lute então quando eu estiver lendo os seus pensamentos, irei saber quando você estará triste ou feliz. Irei saber das pessoas que você gosta e das pessoas que você não gosta. É arriscado eu saber até os seus segredos.
— Não me importo.
— Está dizendo isso agora.
— Bom, já que você vai se responsabilizar por ele... bem vindo a família Vandervoort, Trovão. — Minha mãe disse se aproximando para acariciar os pelos de Trovão e eu sorri.
— Annabelle... você mora sozinha com Yandra? — Escuto a voz dele, agora calma, em minha mente.
— Sim, e agora você se juntou a nós.
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Espero que vocês tenham gostado, votem e comentem...
O que acharam do Trovão? Nota-se que ele é um cachorro especial né?! KAKAKKAKAKA
Bjoooooooooos ✨
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