ꕥ Capítulo 5 ꕥ
Annabelle Narrando
Não sei exatamente o que estou procurando, mas andar no corredor de madrugada nunca foi uma boa ideia. Caminhei em passos lentos até a porta de um quarto que me pareceu familiar, me aproximei da porta e a mesma se abriu sozinha.
Forcei um pouco a vista e não acreditei no que meus olhos estavam vendo.
— Annabel? — Entrei dentro do quarto e caminhei na direção de minha irmã que estava perto da janela, de costas para mim. Ela parecia observar algo lá embaixo. — Anna?
Ela me olhou e deu um sorriso fraco, seu rosto estava pálido e seus cabelos estavam soltos, ela vestia um top preto e uma calça legging da mesma cor do top. A mesma roupa em que a vi vestida pela última vez há alguns anos atrás.
— Belle... — Ela colocou as mãos nos meus ombros e eu senti vontade de chorar por vê-la ali na minha frente. — Precisa ficar atenta, ela está próxima.
— Atenta ao que minha irmã? Quem está próxima? — Pergunto confusa e a mesma olha assustada na direção da porta que eu deixei aberta.
— Ela já está aqui. — Notei que minha irmã parecia assustada, muito assustada. Ela logo me empurrou e eu bati com as costas na parede. — Vá embora Belle, ela vai querer matar você também.
Me afastei da parede e olhei na direção da porta, vendo no corredor um pouco escuro, a silhueta de uma mulher que caminhava em passos lentos e não demoraria para que ela chegasse aqui nesse quarto.
Acordei assustada praticamente dando um pulo da cama e eu estava com a respiração acelerada, fechei os olhos e apoiei minhas mãos no rosto, mais que pesadelo.
Afastei minhas mãos do rosto e peguei meu celular que estava perto do travesseiro, olhei a hora e já eram 04:26 da madrugada. Liguei a lanterna do celular e olhei para o Trovão que estava dormindo perto dos meus pés, conversamos tanto ontem quando minha mãe saiu para ir resolver as coisas do meu avô.
Contei tudo para ele sobre mim, mas não consegui fazer ele me contar sobre a irmã dele. Mas creio que ainda irei descobrir através dele mesmo, o que rolou.
— Trovão? — Chamo por ele vendo o mesmo dormir tranquilo em cima do meu edredom. É melhor eu não acordá-lo, ele deve está cansado.
— Eu estou acordado desde que você praticamente pulou da cama assustada. — Ele disse ainda de olhos fechados e eu rir de canto. — O que houve?
— Eu tive um sonho... minha irmã estava nesse sonho. Foi tudo tão estranho, estávamos na casa em que morávamos em New Orleans.
— Você sonha com a sua irmã com frequência? — Ele perguntou ainda de olhos fechados e eu soltei um suspiro.
— Na verdade não, faz anos que não sonho com ela. A última vez em que sonhei com ela, foi dois dias depois da morte dela e não foi um sonho bom. Me lembro porque tive que ir dormir com minha mãe... e esse sonho de agora também não foi bom. Ela me pedia para ficar atenta e que... ela está próxima.
Trovão abriu os olhos e levantou o cabeça para me olhar.
— Ela se referia a ela mesma?
— Não, se referia a outra pessoa. E no final do sonho eu via a silhueta de uma mulher no escuro do corredor, não estava tão escuro, por isso eu conseguia ver e...
— E então acordou assustada. Annabelle, começo a suspeitar que sua irmã não cometeu suicídio.
— Mas ela se suicidou mesmo Trovão. Eu te contei ontem a história toda, eu e meu irmão saímos naquela tarde e minha mãe também saiu, ela foi fazer compras e todos nós demoramos fora de casa e Annabel ficou sozinha. — Digo e vejo Trovão abrir a boca, como se estivesse ainda com sono.
— E eu estou com sono. Mas ainda suspeito que sua irmã não tenha tirado a própria vida, por que ela faria isso?
— Eu não sei. Eu te disse que minha mãe não gosta de falar sobre isso.
— Yandra... tão simpática e ao mesmo tempo misteriosa, eu não te disse isso antes mas acho que sua mãe esconde algo.
— Se ela esconde, eu jamais irei saber. — Dei de ombros e voltei a me deitar na cama já que eu estava sentada. — Mas Annabel ficou sozinha em casa naquela tarde.
— E se tivesse mais alguém naquela casa além de Annabel? — Perguntou Trovão e eu pensei por um momento se isso poderia ser possível, mas não.
— Não Trovão... alguns vizinhos relataram que viram minha irmã pulando do primeiro andar da casa, da janela do quarto dela para ser mais específica. Eles chegaram a ir até ela e ela ainda estava viva quando caiu no chão, ligaram para a ambulância mas demoraram demais e minha irmã... não resistiu.
— Volto a repetir que sinto muito pela perda. Mas você acabou de sonhar com ela, ela te mandando ficar atenta, é a única coisa que está fazendo sentido até agora. Você me contou ontem o que nunca contou para ninguém, que sua irmã antes de morrer pediu para você ter cuidado com a sua
— Por favor não. — Interrompi ele. — Eu prefiro esquecer esse "aviso", fiquei anos me atormentando com isso e quando preferi esquecer foi melhor para mim e eu, prefiro acreditar que minha irmã nunca me disse isso.
— Porque o que ela te disse, não faz sentido para você.
— Sim, não faz sentido. Minha mãe é minha amiga, cuidou de mim a vida toda, por que eu deveria ter cuidado com ela? Que eu saiba ela não anda envolvida em nada. — Digo soltando um suspiro e fecho os olhos.
— Não sei nada sobre Yandra, mas se você sonhou com sua irmã te mandando ficar atenta então, fique atenta... seja lá ao que for. Agora volte a dormir, você tem escola e ainda irá demorar para chegar em casa. — Ele resmungou e eu rir de canto.
— Não vou demorar tanto, só vou passar um pouco a tarde e a noite na casa da minha velha amiga e depois, voltarei para casa.
No outro dia...
12:17PM
O intervalo, é sempre tão agitado. Estou sentada em uma mesa esperando pela Scarlet que até agora não veio, eu estava lendo o livro Mitologia Nórdica porém, desisti de ler aqui pois as pessoas a minha volta estão fazendo muito barulho e é impossível eu me concentrar.
Com os cotovelos apoiados em cima da mesa e o queixo na palma da minha mão direita, avistei Scarlet entrando no refeitório e ela parecia brava.
— E ela está brava. Ela está se controlando para não voltar na sala de aula e xingar a professora dela.
Escutei aquela voz, agora se tornando familiar para mim e olhei em volta. Mas como...
— Eu estou invisível querida, você não irá me ver. Mas irá me escutar, fiquei entediado na sua casa e resolvi sair, aproveitei e vim aqui na sua escola para ver como ela é. E olha... nada mal.
— Trovão, mas que ideia é essa de vim na minha escola? Volte para casa. — Digo em meus pensamentos e o escuto rir baixo.
Ainda mais essa, além de eu ter que lidar com os meus pensamentos, terei que lidar com o meu cachorro invadindo eles.
— Ei! Eu não estou invadindo.
Percebi Scarlet se aproximar da mesa e respirei fundo.
— Não apronta Trovão, não apronta. — Aviso e dessa vez não escuto mais a voz dele em minha cabeça, ótimo.
— Scarlet. Você demorou. — Digo vendo ela se senta em uma cadeira e cruzar os braços, ela estava séria e não demorou para explicar o motivo do seu estresse.
— Eu odeio aquela mulher.
— Que mulher?
— Aquela senhora furacão. — Ela disse e eu tive que prender o riso, já sabia de quem ela estava falando.
— O que ela te fez?
— O que ela me fez? Me fez raiva, que mulherzinha viu? — Ela disse irritada e eu cocei a nuca. — Ela é muito metida e ignorante, uma verdadeira cavala. Um garoto só fez uma pergunta e ela só faltou matar ele com o olhar.
— Essa mulher é fogo. — Escutei a voz de Trovão e mandei o mesmo ficar quieto.
— Scarlet a senhora Blunk é assim mesmo, foi alguma pergunta idiota?
— Nem tanto, o garoto só perguntou porquê ela está sempre de mau humor. — Minha amiga riu e eu fiz um sinal de negação com a cabeça. — Foi então que a resposta ignorante dela veio.
— Essa senhora Blunk deve ser mesmo o próprio furacão. Ela é sua professora também?
— Não mais, só foi no ano passado. — Respondo em meus pensamentos.
— Ah fizeram uma pergunta dessas também Scarlet, ela odeia esse tipo de perguntas. — Digo e ela me olha arqueando uma sobrancelha.
— Como sabe disso?
— Sabe, teve uma aluna nessa escola que já chegou a se aproximar dela, da senhora Blunk. Elas viraram amigas e gostavam de conversar sobre muitas coisas, mas essa amizade durou pouco porque a senhora Blunk não quis mais ser amiga dessa aluna, segundo a senhora Blunk, ela prefere não ter amigos e se sente melhor sozinha.
— Uau! Coitada dessa aluna, ela ainda estuda por aqui? — Perguntou ela olhando em volta e eu rir de canto.
— Está falando com ela. — Digo e ela me olha surpresa. — Não vai sair contando para ninguém, por favor.
— Não vou. Você? Nossa — Ela riu. — Como conseguia ser amiga daquela mulher? Ela é terrível.
— Bom, comigo ela não era tão terrível assim. Ela tem um lado bom Scarlet, mas para conhecer esse lado dela... é difícil. Mas você se estressou porque ela respondeu com ignorância a pergunta do garoto ou foi outra coisa?
— Foi outra coisa.
— Pare de ler a mente dela Trovão. Mais que coisa... — Repreendo ele na minha mente e coço a nuca ainda olhando para a Scarlet.
— Quando o garoto fez a pergunta a ela, eu fui a única que rir disso mas foi baixo. Depois que ela respondeu ele, ela deixou ele lá sentadinho na cadeira dele e jogou a bomba em mim, me mandou sair da sala e ir para a diretoria, ela disse que não me queria na aula dela e eu fui para a diretoria é claro. — Ela disse dando de ombros.
— Sua amiga é debochada, gostei dela.
— Nossa, mas ela não mandou o garoto sair da sala também? — Pergunto e Scarlet nega com um aceno de cabeça.
Estranho, Raquel não é assim.
— Ela cismou com a sua amiga porque sabe que Scarlet é...
— É o que?
— Você não sabe?
— Não sei de quê? Ora, vamos Trovão me conte. — Peço mas não escuto mais a voz dele, mais que cachorro viu.
— Mas não importa mais, já foi. E então, tudo certo para hoje? — Scarlet perguntou e eu assenti.
— Sim, tudo certo.
— Eu quero ir também, seja uma boa dona e leve o seu cachorro com você. — Escuto a voz irônica dele na minha mente e passo a encarar a mesa a minha frente.
— Agora você fala. Não.
— Annabelle, você vai me levar com você. Estarei lá fora esperando quando suas aulas terminarem, agora eu vou embora... vou ver a sua mãe.
— E você sabe que horas terminam as minhas aulas?
— Por que eu não iria saber? Até as quatro da tarde. Deve ser triste estudar integral não é?
— Nem tanto.
Não escutei mais a voz de Trovão, o que significa que o mesmo já deve ter ido embora. Olho para Scarlet que estava analisando a capa do meu livro.
— É... Scarlet, eu posso levar o meu cachorro para a sua casa? — Pergunto, vendo a mesma desviar o olhar do livro e me olhar.
— Ele é dócil?
Ele não me mordeu quando cheguei em casa ontem.
— Sim, ele era do meu avô e agora passou a ser meu. Mas ele irá se comportar eu prometo, qualquer sujeira que ele fizer eu estarei limpando.
— Sendo assim, então pode. — Ela sorriu.
Ficamos conversando mais um pouco e decidimos ir para a fila, estávamos com fome e quando compramos nosso almoço, voltamos para a mesa e almoçamos tranquilamente, falando de vários assuntos aleatórios enquanto comíamos.
As horas se passaram e o sinal tocou, me despedi de Scarlet e fui para a minha sala.
As horas foram se passando e as aulas também. Minha última aula foi de biologia, gosto muito de biologia, na verdade gosto de todas as matérias que estou estudando no momento.
Nesse momento estou analisando uma questão do livro que o professor mandou e disse que quem soubesse a resposta, que respondesse em voz alta que ele daria um ponto. Eu sei a resposta, mas estou esperando alguém levantar a mão para responder primeiro que eu... mas isso quase nunca acontece, eu sempre acabo respondendo primeiro e nem é porque eu quero, é porque o professor manda.
— Já faz vinte minutos que mandei vocês analisarem a questão duzentos e quinze no livro e ninguém ainda sabe a resposta?
Ele perguntou calmo e percebi que ele estava andando pela sala, desviei o olhar do livro e olhei para o professor que já estava me olhando. Ele vai mandar eu responder.
— Senhorita Vandervoort?
É quase sempre assim.
— Bom professor Boyd, a água ao ser eliminada para o ambiente no processo de transpiração, causa uma diferença de pressão osmótica que é transferida desde as folhas até a raiz e provoca o movimento da água no interior do xilema e, a figura ilustrada nessa questão duzentos e quinze, mostra como ocorre o movimento da seiva xilêmica em uma planta e, na minha opinião o que garante o transporte dessa seiva é a transpiração, então a alternativa é a letra C. — Digo ajustando os meus óculos no rosto enquanto explicava o porquê eu achava que era a letra C, na verdade não acho não, tenho certeza.
Não é uma questão difícil pelo amor de Deus, prefiro pensar que os meus "colegas" de classe não respondem em voz alta porque tem vergonha ou algo do tipo.
— Correto senhorita Vandervoort. — Ele sorriu para mim e escutamos o sinal tocar.
Guardei as minhas coisas e logo sai da sala de aula, iria me encontrar com Scarlet lá fora mesmo. Passei pela multidão de alunos e agradeci mentalmente quando cheguei no lado de fora.
Avisei a minha mãe que poderia chegar um pouco tarde em casa mas não depois das oito da noite. Nesse momento estou esperando Scarlet sai da escola e até agora não a vi, ela ainda deve estar organizando as coisas dela.
— Na verdade ela já está descendo as escadas lá dentro, ela estava na diretoria falando com o diretor.
Escutei a voz de Trovão e quando olho em volta quase dou um pequeno pulo para trás, quase. Ele já estava ao meu lado e sentado em cima da grama verdinha.
— Há quanto tempo está aqui?
— Há alguns minutos atrás, vim caminhando como se fosse um cachorro de rua mesmo. — Ele respondeu e eu me curvei um pouco para fazer carinho na sua cabeça. — Carinho demais não, por favor.
— Qual é? Você é fofinho e eu não resisto — Digo baixinho para que apenas ele me escutasse. — Vou tem que comprar uma coleira para você, vai que te levam para o canil pensando que você é cachorro de rua?
— Levam nada. Olha, sua amiga está vindo.
Me levantei e me virei para olhar para os portões da escola, de onde saíam ainda alguns alunos e Scarlet estava no meio deles. Ela me viu e apressou os passos na minha direção.
— E minha ideia de ir dirigindo e nos levar até a minha casa já era. — Ela bufou e eu rir. — Eu moro um pouco longe daqui, iria nos levar mas... meu pai super chato e insuportável não deixou então, ele é que vai nos levar. Ele não confia em mim para ir dirigindo no carro dele.
— Você sabe dirigir? Uau.
Enquanto isso, o meu carro são as minhas pernas.
— Sei, você não? Qualquer dia te ensino, é fácil. — Ela cruzou os braços e olhou para trás. — Mais que demora dele também, ele não vai fechar a escola hoje que eu saiba.
— Seu pai trabalha na escola? — Pergunto confusa e ela volta a me olhar, morde o lábio inferior e solta um suspiro.
— Eu deveria ter te contado isso bem antes, mas é que
Ela foi interrompida pela voz rouca do homem que eu conhecia muito bem, não só a voz, como o cheiro do perfume que ele usa também.
— Vamos? Eu ainda terei que voltar para resolver mais algumas coisas. — Ele disse se aproximando de Scarlet que revirou os olhos.
— Pai qual é? Daqui a pouco você está fazendo as malas e vindo morar nessa maldita escola. — Ela disse impaciente e foi quando eu me surpreendi.
Dominic Murray, o diretor bonitão que tantas garotas suspiram de amor por ele... é o pai da Scarlet? Ele é o pai da minha velha amiga de infância?
Agora tudo faz sentido, o porquê ela não queria estar estudando aqui e porque odeia o nome da escola, é claro, ela é a filha do diretor e o seu sobrenome também é Murray. Tudo se encaixa agora.
— Isso é que é notícia chocante. Adorei!
Encarei o Trovão que permanecia ao meu lado e olhando para Scarlet e o senhor Murray.
— Você já sabia disso? — Pergunto desconfiada em meus pensamentos e Trovão me olha.
— É claro, mas eu não quis te dizer porque você me contou ontem que sente uma pequena atração pelo diretor da sua escola, não é? Annabelle kkkk não pode sentir mais atração por Dominic Murray meu bem, ele é pai da Scarlet.
Filho da
— Essa é Annabelle pai, eu te falei dela ontem. Nos conhecemos em New Orleans há muitos anos atrás.
Desviei o olhar de Trovão voltando a olhar para a minha amiga e... para o pai dela. Ele me olhou e foi então que senti meu coração acelerar.
— Annabelle se controle. Aposto que se eu estivesse na China agora, iria escutar de lá mesmo, o seu coração batendo descontroladamente. — Ele disse com ironia e eu respirei fundo para não respondê-lo.
— Annabelle, creio que já nos vimos não? — Dominic perguntou arqueando uma sobrancelha e eu mexi no haste dos meus óculos, não posso ficar nervosa.
— S-sim. No ano retrasado quando eu... entrei no banheiro masculino sem querer. — Digo e vejo o mesmo fazer um meneio de cabeça como se tivesse acabado de lembrar.
— E ele lembrou. Só não te expulsou naquele dia porque já tinha ouvido falar de você, você é uma aluna dedicada e comportada demais segundo os seus professores.
— Trovão pare de ler a mente dele. — O repreendo na mente por ele provavelmente ter lido os pensamentos do senhor Murray.
— Meu Deus! Você entrou no banheiro masculino? Me explica essa história direito. — Scarlet disse se aproximando de mim. — Então não vamos precisar de apresentações não é? Porque vocês dois já se conhecem, pelo menos isso. — Ela riu.
O senhor Murray foi caminhando na frente e eu atrás com Scarlet e Trovão.
— Seu cachorro é tão lindo e tão fofo. — Ela disse se curvando para passar a mãos nos pelos de Trovão.
— Sou mesmo.
Rir de canto ao escutar a voz de Trovão na minha cabeça e nós três nos aproximamos do carro do senhor Murray. Ele foi o primeiro a entrar no carro e não falou mais nada desde que nos falamos há alguns minutos atrás, Scarlet foi no banco de trás comigo e Trovão estava agora deitado no meu colo.
O caminho inteiro fui conversando com Scarlet e falando sobre como eu tinha ido parar no banheiro masculino, claro que omiti algumas coisas mas ela acabou rindo de tudo no final. Quando eu percebia que ela estava distraída no celular, eu olhava discretamente para o senhor Murray que estava concentrado no trânsito... como ele pode ser tão bonito?
— Ele está pensando em voltar logo para a escola. Está cansado e não ver a hora de poder tomar um banho quando chegar em casa e dormir.
— Trovão... não quero que me diga o que ele está pensando, por favor. — Peço desviando o olhar do senhor Murray e olho a vista através da janela do carro.
— Irei tentar, mas você consegue compreender os meus pensamentos e para eu não te dizer o que ele está pensando... eu teria que ficar longe de você para isso. — Ele explicou e eu passei a mão nos pelos dele. — Sinto muito por isso.
— Não, está tudo bem, sério mesmo. Eu entendo que você não tem culpa.
Demoramos alguns minutos no trânsito até que chegamos na casa, ou melhor, na mansão dos Murray. Tinha os portões grandes e brancos, iria dar cinco horas da tarde e Scarlet se apressou em sair do carro, eu também sai segurando Trovão nos braços.
— Você pesa viu?
— Você que lute.
Esse cachorro é a desgraça mesmo. Vi Scarlet falando com o senhor Murray e ela logo se afastou do carro dele e caminhou na minha direção.
— Ele mandou nós tomarmos cuidado, como se fôssemos tocar fogo na minha própria casa. — Ela riu e a vi tirando as chaves do bolso de sua calça, ela colocou a chave na fechadura do portão e logo os abriu.
Entramos e quando ela fechou os portões, eu coloquei Trovão no chão e admirei a frente da casa. Havia um pequeno jardim na frente organizado e tinha uma árvore do lado esquerdo, um pouco grande, apesar de simples a árvore é linda. A mansão tinha as paredes na cor cinza e as portas e janelas da cor branca, avistei também um cercado de uma varanda e toda vez que vejo uma varanda... me lembro de minha irmã.
Senti algo fofo no meu pé direito e quando olho para baixo, vejo a pata de Trovão apoiada no meu pé e sorrio para ele.
— Vamos? Para mim não importa a hora, eu nado a qualquer hora. Olha só rimou! — Ela riu e eu também, fazendo com que eu esquecesse um pouco sobre minha irmã.
Segui a maluca da minha amiga que já foi entrando na mansão e eu também entrei com Trovão que não saía do meu lado. Scarlet fez questão de ir mostrando sua casa para mim e eu admirava tudo que via, o quarto dela é o tamanho da sala e da cozinha da minha casa.
Estamos no quarto dela agora e a mesma saiu do banheiro já vestida em um bíquini de cor vermelha, ela logo me olhou e coçou a nuca.
— Tá com fome?
— Não. Você vai nadar a essa hora? — Pergunto já que tinha olhado a hora no meu celular a alguns segundos atrás, já estava anoitecendo.
— E tem hora para nadar? Qualquer hora é perfeita. — Ela riu. — Vamos, não precisa se molhar também, você pode ficar na borda da piscina e a gente pode ficar conversando enquanto eu tento relaxar.
— Por mim tudo bem.
Saímos do quarto dela e descemos as escadas, Trovão nos acompanhou e fomos para a área da piscina. Tudo era muito lindo e organizado, tinham três espreguiçadeiras e um ombrelone branco de madeira, e a piscina a nossa frente, ficava quase perto do pequeno jardim lá na frente.
Scarlet mergulhou na piscina e eu um pouco relutante, mas me sentei na borda. Não sei qual era o lado fundo ou raso daquela piscina mas não me importa, não irei entrar mesmo. Avistei Trovão subindo em cima de uma espreguiçadeira e se deitando em cima da mesma, mais é folgado.
— Sou mesmo, perca seu tempo com a bunda sentada na borda de uma piscina enquanto eu... não irei perder meu tempo deitado nessa espreguiçadeira.
Folgado.
Desviei o olhar dele e passei a observar minha amiga nadando, as luzes aqui fora já estão acesas. Scarlet é louca, a água deve estar fria e ela não está nem aí, está só nadando e parece que ama nadar pelo visto.
Ela voltou para a superficíe e se aproximou da borda da piscina, do lado em que estou sentada.
— Você deveria entrar também.
— Estou melhor aqui mesmo. — Digo e ela faz um sinal de negação com a cabeça e apoia os braços na borda da piscina.
— Me desculpe por não ter te contado que o insuportável lá é meu pai.
— Por que não me contou? — Pergunto realmente confusa e a vejo morder o lábio inferior. Já estou percebendo que ela tem mania de fazer isso quando está prestes a confessar algo.
— Porque eu pensei que você iria querer se afastar de mim, sei lá. Ele é o diretor daquela escola e praticamente todas as garotas ficam paquerando ele, confesso que não gosto mas também não posso sair vendando os olhos de todas elas. — Ela rir e eu também. — Sério, meu pai tem mais de 60 anos.
— Sério? — Pergunto arregalando os olhos e Scarlet gargalha.
— Não, estou brincando. Na verdade... não sei a idade dele, toda vez esqueço. Enfim, pensei que você não iria querer mais falar comigo por causa disso e também, pensei que você não iria querer mais falar comigo porque eu, querendo ou não querendo sou o tipo popular, só por ser filha dele e eu sei que você não gosta de andar com gente que é assim. — Ela desabafou e eu toquei na mão dela que estava molhada.
— Scarlet quantas vezes terei que dizer que você é diferente?
— Umas mil vezes talvez. — Ela disse rindo e eu também rir.
— Não me importo que você seja filha do senhor Murray e não me importo que você seja considerada a popular, você ainda é minha amiga, é a mesma Scarlet que conheci há alguns anos atrás. Você não é como as outras que são metidas e gostam de anunciar que são, vamos dizer que ricas, você é você mesmo e sabe disso. — Digo e vejo a mesma dar um sorriso fechado.
— Sinceramente, prefiro você como minha amiga do que as outras que já fiz amizade. São todas interesseiras, já você... não. É como eu disse uma vez e volto a repetir, você é única.
— Somos únicas. — Digo e ela concorda, escutamos um celular tocando e Scarlet logo arregalou os olhos.
— Meu Deus! Meu namorado, eu não falei com ele o dia todo — Ela se apressou e saiu da piscina. O celular dela estava em uma das espreguiçadeiras, eu iria me levantar porém ela mandou eu ficar esperando por ela ali mesmo, ela disse que voltava já, só iria atender a ligação do namorado dela lá dentro e eu quis dar essa privacidade a ela.
— Esse namorado dela... não a ama.
Aproveitei que Scarlet estava lá dentro e chamei Trovão com o dedo indicador e o mesmo virou o rosto para o outro lado.
— Qual é Trovão?
— Não estou afim de me levantar daqui. Você escutou o que eu disse? O namorado de Scarlet não a ama, consigo ouvir daqui ele gemendo e não é de dor... agora ele parou porque Scarlet atendeu a ligação dele agora, mas ele está se segurando para não gemer.
Minha amiga está sendo traída e não sabe? Meu Deus!
— Tem uma garota cantando no microfone do namorado da Scarlet, se é que você me entende. Que imagem horrível, não quero mais ver isso. — Ele resmungou e eu soube que ele estava usando seus poderes de audição e de visão.
— Eu não sei como irei explicar isso para ela, mas eu vou. Ela não pode continuar em um relacionamento assim. — Me revolto e me levanto da borda da piscina onde eu estava sentada porém, onde eu coloquei meu pé esquerdo, estava molhado e quando eu tentei dar um passo a frente, acabei escorregando e caindo dentro da piscina. — TROVÃO SOCORRO! — Grito.
Só me faltava essa, estou me afogando na piscina e não consigo sentir nem o chão, essa parte em que caí é muito funda.
— Meu Deus Annabelle! Você não sabe nadar? Ah é claro que não sabe... e agora? — Percebi o tom de voz do meu cachorro desesperado e eu consegui vê-lo se aproximar da borda da piscina.
Eu estava engolindo tanta água e me debatendo que não conseguia nem falar nada direito.
— Chama a Scarlet... por favor.
Consegui ver Trovão correndo para dentro da casa e latindo. Eu não vou aguentar isso... nem na ponta dos pés, não consigo alcançar o piso da piscina.
Passei a mover os braços freneticamente tentando me manter na superfície da piscina mas de nada estava adiantando, eu estou com medo... meu Deus... eu vou morrer afogada?
Sinto como se as águas da piscina fizessem questão de me empurrar logo de uma vez para o fundo, a água invadia minha boca e adentrava o meu nariz... eu vou morrer.
Sinto que as batidas do meu coração estão ficando fracas... estou ficando sem ar... nunca pensei que iria me juntar a minha irmã agora, mais cedo do que eu pensava.
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Espero que tenham gostado, votem e comentem...
Bjoooooooooooooos ✨
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