Annabelle Narrando

Cheguei em casa e assim que abri a porta, não tinha ninguém na sala de estar. Mas as coisas ainda estavam no mesmo lugar... até mesmo a bolsa da Ivana que ainda estava em cima do sofá e... ai meu Deus!

Fechei a porta com cuidado para não fazer barulho e caminhei até o sofá, onde estava a bolsa da Ivana e perto da bolsa estava a boneca. Senti as batidas do meu coração dispararem e não demorei para pegar a boneca.

— Eu não quis me desfazer dela — Me assustei ao escutar a voz da Ivana e olhei na direção da entrada da cozinha, que era onde ela estava. — Minha amiga de infância amava muito essa boneca, se ela usava um vestido rosa a boneca tinha que usar um vestido rosa também.

Meu Deus... Anelise foi amiga da Ivana? Parece até piada uma mulher como ela ter realmente tido uma amiga.

— Vasti... mandou matá-la? — Pergunto deixando a boneca em cima do sofá, não gostava muito de tocar nela porque sentia uma sensação estranha.

— Mandou.

Ivana veio até mim e agora ela estava de cabelos soltos, franzi as sobrancelhas me recordando do motivo para ter voltado logo e a encarei.

— Cadê a Yandra?

— Lá em cima, esperando para se despedi de você — Ivana disse fazendo cara de nojo. — Agilize porque não temos o dia todo, já vai dar uma hora da tarde.

Assenti e para mim... a despedida mais sofrida seria a de Yandra. Poxa foi ela quem me criou, me roubou porque minha mãe biológica é louca e infelizmente ficou assim com o passar de tempo... não sei. Mas a Yandra quis me proteger antes mesmo de mim ter nascido.

Foi errado o que ela fez? Um pouco, não se rouba um filho de uma mãe não é mesmo? Mas no meu caso... se Yandra não fizesse isso, eu com certeza teria convivido com Ivana, do mesmo jeito que Vasti a criou, ela teria me criado também da mesma forma. Não sei o que seria de mim se isso tivesse mesmo acontecido, mas graças a Yandra isso não aconteceu.

Tive sorte, ou pelo menos... achei que tinha tido já que Ivana sempre esteve no nosso pé e pelo que entendi ela não descansou até achar o meu paradeiro.

Cheguei no quarto de Yandra já que não a vi no corredor e coloquei a mão na boca por ter me assustado com a cena que vi. Corri na direção da cama, onde Yandra estava deitada um pouco desajeitada e toquei no rosto dela.

— M-mãe? Mãe por favor... — Sussurrei aproximando meu rosto do peito dela para escutar se seu coração estava batendo e estava, soltei um suspiro aliviada mas ela estava desacordada... Ivana.

— É, eu deveria ter avisado que ela estava desacordada. — Escutei a voz dela vindo da porta do quarto e fechei os olhos enquanto apertava Yandra em meus braços.

— Qual é o seu problema? Você já vai me ter só para você, já fiz o que você pediu e não contei nada para ninguém. No mínimo você deveria deixar eu me despedir da minha mãe. — Abri os olhos para encará-la e ela entrou no quarto, com as mãos para trás e caminhando em passos lentos, até ficar perto de mim.

— Eu já disse que eu sou a sua verdadeira mãe, Yandra nem deveria ser considerada como uma.

— Mas para mim ela é e eu não quero saber se você não gosta como eu a chamo, você deveria ter cumprido com a sua palavra e me deixar se despedi dela. — Digo alterando a voz até que sinto um pano úmido ser pressionado no meu nariz, cobrindo também a minha boca.

Tento me soltar dos braços de Ivana que me agarravam por trás para que eu não conseguisse me mexer.

— Mas eu cumpri, deixei você se despedi dela mas claro que eu não permitiria deixar vocês duas conversando a sós. E eu pensando que Yandra seria a única que me irritaria hoje, mas você Belle? Você conseguiu me irritar também — Ela dizia pressionando o pano úmido com força no meu rosto enquanto ela falava e e eu estava ficando sem forças para me soltar dos braços dela. — Bons sonhos minha querida filha.

Foi a última coisa que eu ouvi vindo de Ivana e minha vista escureceu completamente.

Quando acordei, eu não estava mais no quarto da minha mãe e tenho certeza que eu não estava nem mesmo no bairro que eu morava. Tinha dúvidas se eu poderia estar em algum lugar escuro da Pensilvânia e talvez... talvez eu estivesse.

Meus olhos doeram um pouco quando tentei forçar a vista para ver o que tinha no lugar que eu me encontrava agora.
Se parecia com um porão escuro mas que tinha um pouco de iluminação fraca graças a uma luz amarelada, mexi os braços e foi quando senti algo apertando os meus pulsos... ótimo, eu estou presa.

Olhei por trás do meu ombro e senti uma tábua grande atrás das minhas costas, eu não duvido que tem uma corda amarrada a essa tábua e também aos meus pulsos para que eu não consiga sair daqui. Pior que essas cordas estão bem apertadas e quando eu tentei mexer os meus braços, meus pulsos doeram muito.

Resmunguei de dor e tentei me levantar do chão empoeirado que eu estava, mas não consegui. Estava fraca e minhas pernas estavam bambas... por quanto tempo eu fiquei desacordada?

— Acordou meu amor! — Escutei a voz de Ivana vindo de algum lugar daquele porão, até que ela saiu da escuridão, aparecendo agora na minha frente.  — Pensei que só acordaria amanhã.

— P-por que me trouxe pra cá? O que pretende fazer comigo? — Pergunto semicerrando os olhos e ela ri com ironia.

— Ora, aqui vai ser a sua nova casa. Vamos viver aqui até... até você me aceitar como mãe e não me olhar como está me olhando agora, faz parecer que eu sou uma psicopata mas eu não sou Belle. Eu jamais faria algo com você.

— É mesmo? E por que eu estou presa agora? — Pergunto tentando mexer meus braços e resmungo por ter sentido dor, as cordas estavam muito apertadas. — Ai!

— Não se mexa minha querida, só vai apertar mais — Ivana avisou e em seguida sorriu. — Nem acredito que finalmente estou com você aqui, meu sonho se tornou realidade.

O sonho dela então sempre foi me ter aprisionada?

— Eu deixaria você dormi lá em cima, em um dos quarto dessa casa mas... você foi desobediente, dizendo que Yandra sempre seria a sua mãe credo. Isso me magoou Belle, então você ficará aqui de castigo até aprender se comportar e ser uma boa filha. — Ivana se aproximou de mim e pegou uma mecha loira do meu cabelo.

Eu balancei a cabeça não querendo que ela encostasse em mim, e ela pareceu entender já que se afastou.

— Como eu disse, você foi e está sendo desobediente. Uma menina má, eu diria — Ivana riu e deu as costas. — Descanse minha filha, agora está bem tarde e eu não sei você, mas eu estou com muito sono então... tenha uma boa noite.

Isso quer dizer que já deve estar de noite, ou de madrugada... meu Deus!
Como será que deve estar minha mãe? Ela vai ficar preocupada ou deve estar preocupada porque não estou mais naquela casa e provavelmente já deve ter deduzido que me perdeu para Ivana.

Eu adoraria tocar no assunto mas Ivana já me aprisionou aqui, o que não é nada bom e nem confortável. Ela surtaria se eu perguntasse por Yandra então, decidi não perguntar.

— Não tem como eu dormi assim, as cordas estão muito apertadas — Reclamo e respiro fundo para não chorar na frente dela, não queria demonstrar fraqueza. — Você não poderia... desmanchar um pouco? Só para eu consegui dormir... mamãe. — Pedi um pouco manhosa para ver se eu conseguia convencê-la.

Mas não deu muito certo já que escutei ela ri baixo e voltar a me olhar.

— E dar a chance de você poder escapar de mim? Você não me engana Belle e eu não sou idiota — Ivana cruzou os braços. — Eu sei que você vai tentar escapar se eu te desamarrar então, é melhor você ir dormi logo se não, eu mesma irei garanti que você vai dormi. — Ela avisou em um tom de voz que me deu arrepios e eu engoli seco.

Fechei os olhos e escutei os passos dela se distanciarem de mim, depois escutei como se ela estivesse subindo os degraus de uma escada e em seguida o som de uma porta sendo fechada com força, e depois trancada.

Senti as lágrimas descerem pelo meu rosto e fiquei pensando em como minha mãe Yandra, poderia estar... eu sei que agora ela é minha tia mas acho que não vou consegui chamá-la de tia nem tão cedo, como eu disse, para mim ela sempre será a minha mãe.

Demorei para consegui dormi mas acabei dormindo.

— Você tem que sair daqui — Escutei uma voz feminina de longe mas a ignorei, continuando de olhos fechados. — Annabelle ela vai surtar, ela vai surtar porque você não a ama de verdade... ela no fundo sabe que você tem medo dela mas ela não se importa.

Senti que estava sendo observada e abri os olhos aos poucos, me surpreendi ao ver a garotinha de olhos verdes mas que ainda pareciam um pouco cinzentos, mas não deixavam de ser verdes.
Ela estava me olhando e passou as mãos no seu vestido.

— Você tem que sair daqui.

— Anelise? Você é um fantasma mesmo ou... isso é um sonho? — Pergunto e ela se aproxima de mim.

— E isso importa agora? O que importa agora é a sua vida. — A garotinha disse agora colocando as mãos na cintura e olhou para o teto.

— V-você e Ivana... já foram amigas. Eu sei de tudo agora.

— Sim, sabe... mas a Ivana que eu conheci e foi minha amiga, deixou de existi quando matou a mulher que planejou a minha morte. Ivana não deveria ter se igualado a ela, mas agora já é tarde demais, não tem como mudar os crimes que ela já cometeu... — A garotinha desviou o olhar do teto e voltou a me olhar. — Você não está sozinha Belle, mas já te aviso que Ivana não é confiável e a qualquer momento ela pode até mesmo surtar e tentar matar você, você tem que ser corajosa para enfrentá-la... mas não sozinha.

— O que quer dizer com isso?

— Yandra, você e ela terão que enfrentar a Ivana.

— Como? Eu nem sei onde estou, nem sei se Yandra está bem... — Digo cabisbaixa.

— Vai dar tudo certo Belle, eu acredito em você e em Yandra e sei que serão capazes de dar um fim nisso tudo.

Ergui a cabeça para olhar para a garotinha e ela deu um sorriso fechado.

— Por que ainda está aqui?

— Ivana não me deixa ir Belle, é por isso que acredito em você e em Yandra para dar um fim a esse pesadelo. Não vai ser fácil... mas vocês vão consegui.

Anelise foi dando alguns passos para trás e eu forcei a vista tentando ver para qual parte do porão ela estava indo mas então, acordei de vez sentindo meus cabelos sendo puxados.

— Ai! Meu cabelo! — Reclamei abrindo os olhos e vendo Ivana na minha frente, segurando os meus cabelos de um jeito desajeitado e tentando fazer um coque e depois de muita dor da minha parte porque ela estava sendo um pouco agressiva, ela conseguiu fazer um coque em meus cabelos.

— Perfeito. Bom dia flor do dia, está com fome? — Ivana perguntou com seu tom de voz sarcástico e se afastando de mim.

Eu senti o cheiro de comida e isso fez minha barriga doer por eu estar com muita fome.

— Por quanto tempo pretende me deixar aqui? — Pergunto já deduzindo que era outro dia por ela ter me desejado um bom dia, mas que de bom não tem nada.

Até mesmo a minha voz havia saído baixa, só mostrando que eu estava fraca e com fome.

— Ah Belle você está falando tão baixo, fale mais alto querida. Mas agora abra a boca.

Sabe se lá o que ela iria me fazer comer, eu não deveria comer.

— Não... eu não quero. — Virei o rosto mas Ivana segurou o meu rosto, virando o mesmo para ela e apertando as minhas bochechas para eu abri a boca.

— Abre a boca Belle! — Rapidamente ela enfiou uma colher com algo que deduzi ser sopa, infelizmente tive que engoli e minha barriga roncou... a sopa estava aguada mas meu estômago queria mais. — E aí? Quer mais?

Minha vontade era de mandar ela tomar naquele canto mas antes que eu falasse qualquer coisa, ela enfiou mais uma colherada de sopa na minha boca.

Ela continuou me dando aquela sopa aguada até acabar, suspirei porque minha barriga parou de doer. Pelo menos isso...

— Pronto meu bem, agora que te alimentei eu tenho que sair para comprar umas coisinhas — Ivana tocou no meu rosto e em seguida se levantou, já que antes ela estava agachada. — Mas eu não irei demorar, só vou comprar alguns alimentos para nos manter vivas já que estamos afastadas da cidade e das pessoas.

Isso só pode ser brincadeira.

Ela beijou o topo da minha cabeça e disse que me amava e que maneira estranha de demonstrar que me ama, me deixando presa aqui embaixo. Ela foi embora e eu escutei de longe um som de carro dando partida, seja lá aonde eu estou... essa casa deve ser no meio do nada.

Agora que eu estava ali, completamente sozinha e praticamente no escuro... as lágrimas ameaçaram em escorrer pelo meu rosto e eu permiti. Chorei pensando em tudo o que aconteceu ontem e no que está acontecendo hoje, o que será de mim daqui a alguns dias?

Não sei se vou suportar tudo isso por muito tempo, até agora não confrontei Ivana e nem pretendo fazer isso. Sei que pode ser pior para mim e ela pode me colocar em uma situação pior do que já estou agora.

Se tivesse uma arma ao meu lado agora eu não pensaria duas vezes...

Encostei minha cabeça na tábua de madeira atrás de mim e iria fechar os olhos, mas escutei uma voz familiar fazendo com que eu ficasse de olhos abertos e incrédula.

— Eu não permitiria que fizesse isso com você mesma.

Só pode ser brincadeira, só estou... a mais ou menos um dia aqui dentro e já estou ficando louca como a Ivana.

— Louca você sempre foi Belle, mas não como a Ivana — Escutei mais uma vez aquela voz familiar e olhei na direção que pensei de onde a voz estava vindo. De um canto escuro do porão que eu não conseguia ver o que tinha por lá, mas pelo lugar estar muito silencioso, consegui escutar os passos lentos e logo o dono daquela voz tão familiar saiu da escuridão. Seus olhos caramelos se encontraram com os meus e as manchinhas amarronzadas perto do seu focinho estavam do mesmo jeito como eu me lembrava de ter visto pela última vez. — Olá Belle.

É o... Trovão?

— Trovão... é você mesmo? Eu não estou delirando? — Pergunto com minha voz embargada e ele inclina um pouco a cabeça para o lado esquerdo.

— Delirando? Que delirando o que Belle, agora se não saírmos daqui ai vamos delirar de verdade. — Ele veio caminhando até mim e abanando o rabo.

Ele foi para trás de mim e eu ainda estava me perguntando como diabos ele estava vivo??

Eu o vi morto em cima da minha cama, eu peguei ele nos braços e... e eu chorei porque ele não estava mais respirando e... eu vi que ele estava morto. E joguei as cinzas dele no mar... como isso era possível?

— Primeiro, o cachorro que estava morto na sua cama não era eu — Trovão disse e eu senti ele morder as cordas, tentando desmanchá-las mas meus pulsos doeram. — Hum... ela apertou muito.

— O que você vai — Parei de falar quando consegui ver por cima do meu ombro, a famosa fumaça cinza que sempre aparecia quando Trovão se transformava em alguma coisa ou se teletransportava e espera aí... como assim não era ele morto na minha cama?

Rapidamente as cordas foram cortadas e meus pulsos estavam livres. Foi um grande alívio para mim, toquei nos meus pulsos que estavam vermelhos e quando me virei para olhar para trás, me assustei ao ver um leão. Acabei até mesmo gritando graças ao susto e ele logo pulou em cima de mim, me derrubando no chão com todo aquele peso e confesso que quase fui esmagada.

Quase... mas o meu cachorro soube voltar a sua forma normal e começou a lamber o meu rosto enquanto abanava o rabo contente. Eu o abracei, começando a chorar por pensar que jamais voltaria a vê-lo e comecei a acariciar uma parte dos seus pelos marrons e depois acariciei o seu pescoço onde os pelos eram brancos e fofos.

— E-eu pensei que... que estivesse morto e me deixado sozinha — Digo com a voz chorosa e me levantando do chão, fiquei de pé com ele nos meus braços. — Eu senti tanta saudade.

— E você acha que eu não senti também? É tão bom receber esse carinho todo de volta. — Ele encostou sua cabeça no meu peito e eu enxuguei minhas lágrimas.

— Eu deveria te matar de vez agora Trovão, seu infeliz... você tem noção de quantos dias eu fiquei chorando seu desgraçado? Eu olhava para o lado da minha cama em que você dormia e ficava pensando em você — Dou um tapa leve na cabeça dele e o coloco no chão. — Eu até guardei a sua coleira e fiquei um bom tempo levando ela para qualquer lugar que eu fosse e todo dia quando eu entrava no meu quarto eu me lembrava de você e das nossas conversas.

— Belle.

— E eu ficava chorando no banho porque eu sabia que quando eu saísse do banheiro, você não estaria em cima da minha cama. — Digo indignada olhando para ele que agora me encarava.

— Belle.

— E teve dias que eu precisava conversa com alguém mas eu queria que esse alguém fosse você, mas você não estava mais lá e

— BELLE! — Trovão alterou a voz e caminhou até a tábua de madeira. — Se sente que eu irei te contar tudo e eu tenho que agilizar se não, não teremos tempo e Ivana não mentiu quando disse que não iria demorar.

— Espera, você já sab

— Sei sei, agora se sente por favor. — Trovão me interrompeu e lançou um olhar para o chão e eu voltei a me sentar.

— Mas eu tenho que sair daqui, não deveríamos estar perdendo tempo e

— Belle, você não vai consegui sair daqui sozinha então me escuta. Lembra quando eu te pedi para vigiar a Yandra? — Olhei para ele e confirmei sua pergunta com um aceno de cabeça.

— Sim e até me arrependo disso, me desculpe Trovão. — Digo cabisbaixa.

— Agora já foi, mas você se lembra e é o que importa. Então... até ai eu te obedeci porém, naquele dia que o Jeffrey queria te levar a todo custo embora com ele, você saiu correndo e eu também. Depois que eu, você e Yandra voltamos para casa e encontramos ele morto e enforcado, eu senti o cheiro de outra pessoa na casa, uma pessoa que esteve na casa depois que eu e você saímos e essa pessoa se passou pela Yandra e Jeffrey acreditou. Ivana já estava te observando Belle e nem você e nem Yandra imaginavam isso, nem mesmo eu. Mas eu não demorei para descobri sobre a Ivana porque sem você saber, depois que Jeffrey foi sepultado eu comecei a investigar Yandra até que um dia... não me lembro exatamente qual foi o dia, mas foi depois da morte de Jeffrey... a Ivana resolveu finalmente dar as caras, mas foi quando você e Yandra não estavam em casa, mas eu estava e a primeira vez que ela me viu ela quis me chutar, você acredita? Eu tive que correr para debaixo da cama porque como você sabe, tive que agir como um cachorro comum agiria ou seja, lati para um estranho e depois correr? Ela ainda foi me procurar mas eu usei um dos meus poderes para ficar invísivel e ela desistiu de me procurar, foi então que fiquei observando o que ela iria fazer e ela começou a tirar fotos de cada peça de roupa da Yandra, depois foi ao seu quarto e ficou analisando se seria uma boa ideia colocar câmeras ali para vigiar você.

— Meu Deus! Desde do tempo que Jeffrey morreu ela já tava fazendo isso tudo? — Pergunto cruzando os braços e Trovão se deita no chão.

— Isso tudo e muito mais. Antes dela colocar o plano dela em ação, que seria se passar por Yandra só para poder se aproximar de você, ela teria que me eliminar primeiro porque você estranharia é claro se eu ficasse latindo para ela sendo que na sua cabeça aquela seria a Yandra, mas na verdade não era. Mas sério, imagina a minha surpresa quando vi a Ivana pela primeira vez, o cheiro e o jeito completamente diferentes do de Yandra — Trovão disse e ergueu um de suas patas traseiras para coçar atrás de sua orelha. — Enfim, mas a verdade é que Ivana queria me eliminar antes mesmo de matar o Jeffrey envenenado.

— Ela queria eliminar você primeiro porque eu

— Sim, porque você me ama, é claro. Quem é que não me ama? — Ele perguntou convencido e eu revirei os olhos.

É, esse é o Trovão mesmo e não teria como ter uma cópia dele.

— Mas foi depois da morte de Jeffrey que comecei a criar um plano, eu dei até um código para a Zípora ficar atenta mas a Zípora... você sabe, é a Zípora. Só se interessou quando eu morri de mentirinha mas é claro que nem você, nem ela e nem ninguém sabiam disso ainda. Mas o código que eu dei para a Zípora e que provavelmente ela não falou muito dele para você, mas eu irei falar agora, foi o código EVSMPM e eu criei esse código quando ainda era um filhote e eu Zípora ainda morávamos na rua. Uma vez nós vimos um rato se fingindo de morto para poder deixar um outro rato que deveria ser parente dele, entra rapidamente pelo bueiro da rua e aquilo me pareceu uma ideia legal caso eu tivesse que fazer algo parecido no futuro para proteger a Zípora então eu disse para a Zípora que seria legal usar um código como EVSMPM que significaria Eu Vou Simular Minha Própria Morte. Entendeu?

— Você é um danado mesmo. Criou esse bendito código quando ainda era um filhote, como acha que a Zípora se recordaria disso de cara? — Pergunto e conhecendo ele, se ele pudesse revirar os olhos ele teria feito isso agora.

— De cara eu sabia que ela não recordaria mais uma hora ou outra eu sabia que ela se lembraria que eu já falei desse código com ela, mesmo tendo sido só uma vez. Mas ela ainda teve dificuldades para se lembrar, teve que ter uma ajudinha do Ramiro. — Ele disse fazendo com que eu ficasse surpresa.

— Do Ramiro? Eles não se... odiavam?

— Odeiam nada, mas depois fofocamos sobre isso Belle. Agora escuta, se Ivana me matasse eu não sei nem o que seria de você agora... quando planejei em simular minha própria morte eu encontrei um cachorro parecido comigo. Ele não era daqui e nem me lembro em que cidade eu o vi, mas o que importa é que eu o encontrei e o coitado estava muito doente Belle e eu conversei com ele e ele disse que queria ter um enterro, os donos dele o abandonaram na rua por ele estar doente.

— Que crueldade...

— Eu diria que é um pouco da realidade, infelizmente. Tem humanos que não tem empatia e nem compaixão, foi então que fiz um acordo com esse cachorro e quando eu tive aquela última conversa com você naquele lugar em que te levei... eu sabia que você iria sofrer com a minha partida, mesmo que não fosse a minha partida mesmo, mas você acreditaria que era. Assim como a minha irmã, Yandra, Scarlet... a única que descobriu que eu estava vivo mesmo, foi Kiara. Quando você contou para ela, ela ficou muito angustiada e eu não queria que ela ficasse pensando em mim vinte e quatro horas por dia, ela merecia saber a verdade? É claro. Mas por ela ser uma criança eu não queria trazer todo esse sofrimento para ela, então no mesmo dia em que você contou para ela que eu havia partido, eu fui visitá-la e contei a verdade, mandei ela guardar segredo.

— Espera aí, Kiara soube que você estava vivo e eu que sofri mais do que qualquer um pensando que você estava morto só estou sabendo disso tudo agora? — Encarei ele e ele virou o rosto. — E você contou sobre a Ivana para a Kiara?

— Não Belle, não sou maluco a esse ponto. Kiara só soube que eu estava vivo e que eu simulei minha própria morte porque tinha que salvar você de algo que estava por vim e que em breve eu voltaria para eu e ela comermos pipoca, foi tudo o que eu disse para a Kiara. E você não poderia saber dos meus planos Belle ou Ivana veria você através das câmeras falando sozinha e diria que você é mais louca do que ela, sendo que mal saberia ela que você poderia estar falando comigo.

Ainda tinha essa.

— Pois é, tinha essa e ainda tem é mais. Eu nunca deixei você sozinha por muito tempo Belle, vi quando você já não aguentava mais esconder de Scarlet que estava se envolvendo e se apaixonando pelo Dominic... eu queria tanto ter te ajudado mas não podia. Pelo menos Zípora pensou em você quando descobriu o código e foi conversar com você, mesmo assim... eu não sai do seu lado naquela noite e também não vai ser agora que eu irei sair.

Dei um sorriso fraco e eu o peguei nos braços, abraçando ele mais uma vez e ele tentou se soltar de mim.

— Ah qual é Belle? Me deixe no chão, você me segurando desse jeito fico parecendo que ainda sou um filhote.

— Não reclame, considere isso como castigo por ter me feito chorar por um cachorro que não era você — Puxei uma de suas orelhas fofas devagar. — Zípora me ajudou de qualquer forma, agora quero saber sobre essa história de que vocês dois tem um poder que evitam usar por ser perigoso e trazer consequências. Zípora me contou o dela, e o seu qual é?

— Viagem no tempo, foi assim que consegui descobri tudo sobre Ivana. Mas na verdade eu viajei no tempo para ver o que havia acontecido com a Yandra e acabei descobrindo a Ivana no meio de tudo então... já pode imaginar como foi — Trovão pareceu resmungar. — E sim, é um poder perigoso e que usei pela segunda vez só para ver o que aconteceu com Yandra no passado e o que aconteceu também com a Annabel. Infelizmente esse poder traz consequências porque ainda tenho medo dele, mesmo sabendo que se eu deixar de ter medo, não terão mais consequências. Mas de qualquer jeito... tem um problema. Por exemplo, se eu quiser viajar no tempo agora Belle e eu quiser ver qualquer dia do seu passado como por exemplo a sua infância, eu verei... mas quando eu me cansar disso e tentar voltar para o tempo atual como o de agora, eu não consigo, acabo infelizmente indo para o seu futuro. Isso acontece provavelmente porque não tenho ainda um certo controle... que vida cheia de lutas.

Trovão as vezes parecia gente velha falando, o que eu achava engraçado mas sabia que ele não achava graça nenhuma.

— Então, deixa eu ver se entendi. Você pode viajar no tempo sendo que pode haver consequências porque você ainda teme esse poder porém, mesmo quando você deixar de temer a esse poder, haverá um problema. E o problema é que você acaba vendo além do que queria ver porque ainda não tem controle? — Pergunto o soltando mas ele continua deitado em meu colo e me olha.

— Isso. E eu vou ser sincero com você Belle, o que eu vou te dizer agora eu não disse nem a Zípora. A primeira vez que usei esse poder foi para ver o que havia acontecido com a Zípora depois que ela conseguiu fugir das mãos do seu avô... e eu vi, mas quando quis voltar para o nosso tempo real... foi quando perdi o controle e acabei viajando para o futuro e acabei vendo o que irá acontecer com a minha irmã.

— Espera, como assim viu o que irá acontecer com ela? Ainda não aconteceu o que você viu? — Franzi as sobrancelhas e ele desviou o olhar de mim.

— Não, não aconteceu ainda. E acho que vai demorar se depender dela — Ele saiu das minhas pernas e vi ele fechar os olhos. — Ivana está voltando para casa, decidiu que é melhor comprar tudo que precisa para não sair mais dessa casa e ficar de olho em você. Perfeito! — Ele disse contente com isso e eu o olhei incrédula.

— Como assim perfeito? Isso significa que ela vai ficar 24 horas por dia me atormentando aqui embaixo. — Passei as mãos nos meus cabelos e Trovão abriu os olhos, voltando a me olhar.

— Não sei se Ivana te contou Belle, mas o seu pai era médico.

— Isso ela contou.

— Ela contou também que ele acabou descobrindo que ela tem um certo tipo de loucura obsessiva? Na verdade, acho que ela tem um problema sério de saúde psiquiátrica, não entendo muito disso para ser sincero mas... acho que isso leva a Ivana a ter um tipo de obsessão louca por uma pessoa, sabe? Ela é capaz de matar só para ter essa pessoa só para ela. Ela era assim com o seu pai mas ele a amava, mas acho que ele tinha medo dela. Ele provavelmente não a deixou porque tinha medo do que ela poderia fazer com a família dele, se ele teve sorte de ter sido assassinado? Eu diria que não, de qualquer jeito a Ivana acabou ficando pior do que já era e quem se tornou a nova obsessão dela foi você Belle. Nem mesmo o tal do Max conseguiu escapar das maldades da Ivana.

— Isso é sério Trovão... eu estou com medo, não sei nem mais o que pensar. Ela disse que eu só poderia amar ela e mais ninguém, ela matou a Annabel só porque a Annabel disse que me amava... — Paro de falar e respiro fundo.

— E porque a Annabel queria fugir com você também, isso fez a Ivana perder o controle. Quando ela bota uma coisa na cabeça e pensa "eu vou fazer isso" ela realmente faz Belle, por isso tenha cuidado com ela.

— Como vou sair daqui Trovão? — Sou direta e ele apoia a sua pata fofa na minha perna, estava com saudades desse ato dele.

— Te prometo que até amanhã você e Yandra estarão livres da Ivana... pelo menos, é tudo que eu lembro. — Trovão disse desviando o olhar de mim e eu fiquei confusa, até que entendi o que ele quis dizer.

— Trovão... você quando viu o passado tanto da Yandra como da Ivana, acabou vendo o futuro delas também? O que acontece? — Pergunto preocupada, principalmente com a Yandra.

— Eu não posso te dizer Belle, me desculpe. Mas a Yandra tem que estar aqui com você — Ele voltou a me olhar e eu arqueei uma sobrancelha. — Eu não simulei minha própria morte atoa Belle, Ivana não é a única que tem planos. Durante todo esse tempo que você e nem ninguém sabia que eu estava vivo, eu andei planejando alguns planos na minha cabeça e tenho logo três planos, mas vai depender muito de você e de Yandra para dar certo. O plano A já deu errado, eu pediria ajuda a Scarlet mas ela está... com outros problemas.

— Outros problemas?

— Raquel, o noivo da Raquel resolveu acordar e não demorou para pedi-la em casamento. Nesse momento Scarlet deve estar abalada, ela ajudaria no nosso plano mas... não vou envolvê-la nisso, o plano B é com a Yandra, vou trazê-la para cá. — Trovão afastou sua pata da minha perna e eu arregalei os olhos.

— Ai meu Deus coitada da Scarlet... e que papo é esse de trazer a minha mãe para cá Trovão? — Iria me levantar do chão quando Trovão latiu.

— Não levante, volte para a mesma posição que você estava antes. Não temos muito tempo e o tempo que vamos ter... é quando a Ivana sair de novo dessa casa.

— O que você vai fazer? E qual é o terceiro plano? É um plano C?

— Sim, o plano C é correr. — Ele disse pegando a corda grossa com os dentes, em seguida se aproximou de mim.

— Você está brincando, não é? — Pergunto irônica e coloco meus braços para trás, tentando dar outro nó com a corda nos meus pulsos, só que um nó fraco. — Como se correr fosse nos ajudar a sair dessa.

— Para a sua sorte eu estou mesmo brincando, mas não vou deixar você saber do plano C porque o plano B já deixará você preocupada. — Trovão foi para trás da tábua e eu senti quando ele pegou uma parte da corda e puxou com os seus dentes, a apertando mais.

— Aii! Qual é? Meus pulsos já estão doendo muito. — Reclamo.

— Tem que deixar do mesmo jeito que Ivana deixou, ela não pode desconfiar nem que eu estou vivo. Agora tenho que ir, consigo escutar o som do carro dela e ela já está chegando... — Trovão se afastou um pouco de mim e me analisou. — É, está do mesmo jeito quando cheguei aqui. Agora vou falar com a Yandra e estarei de volta em... dez ou vinte minutos? Se a Yandra não desmaiar, em menos de dez minutos eu estarei aqui com ela.

— Trovão o que voc

— Vou me revelar para ela, é o único jeito. — Ele disse me interrompendo e abanando o rabo como se estivesse feliz com isso, eu só soube arregalar os olhos.

— Meu Jesus! O coração da minha mãe não vai aguentar isso tudo não. É demais para ela!

— Belle? É demais para mim! Eu fiz tantos planos que você não queira nem saber e eu não descanso direito desde o dia em que comecei a investigar a Yandra, mesmo simulando minha própria morte eu não tive descanso, eu tive que teletransportar um cachorro de rua para o seu quarto, eu tive que ficar atento a cada investida da Ivana, tive que ficar de olho na Yandra que foi manipulada a beber e bebeu mais do que você possa imaginar, tive que ficar de olho em você também porque até quando o Dominic estava te consolando na praça por causa da... abre as aspas, a minha morte né, a Ivana estava vigiando vocês e já estava planejando fazer algo contra o Dominic. Depois você foi dizer para a Kiara que eu tinha morrido, a Kiara acordou de madrugada e ficou pensando na minha morte e se eu não fosse visitá-la logo o dia raiava e ela ainda estaria acordada, ela só dormiu mesmo quando soube que eu estava vivo e também porque falei com ela, ela me abraçou ainda e eu disse que em breve estaria ao lado dela de novo para comermos pipoca e escutarmos músicas. A Ivana pensou em fazer mal até para Kiara mas quando viu que ela era uma criança, desistiu. Ainda tive que ficar de olho na Scarlet porque a Ivana quis tentar fazer algo com ela de novo e acredite... Ivana só não prosseguiu com esse plano porque sabia que Scarlet iria te odiar quando descobrisse que você estava se envolvendo com o Dominic, por isso ela se aquietou. Ainda teve a minha irmã para incluir nisso tudo porque a Ivana ameaçou a Zípora e eu temia que ela pudesse mudar de ideia e tentar fazer algum mal a Zípora mas ela não fez, ainda bem. Mas a todo momento eu tinha que tá lendo a mente da Ivana, a sua, a da Yandra e eu só faltei ficar maluco porque quando a Ivana pensava em você e a Yandra pensava em você também... poxa ficava difícil para mim mas eu ainda estou aqui, fora que tive que viajar no tempo e se a Ivana não estivesse saindo de dentro do carro dela agora eu ainda iria continuar falando para você entender que sim, é demais para mim mas eu ainda estou aqui.

Está ai uma coisa que nunca imaginei ver ou ouvir, o meu cachorro desabafando o que estava sentindo e que já estava cansado disso tudo... é tudo culpa minha.

— Se repeti isso de novo na sua mente eu juro que deixo você aqui mesmo. — Trovão disse sério e eu encarei ele.

— Deixa mesmo?

— Não, sua palhaça. Eu fiz tudo isso por você Belle... e não é agora que vou desistir de ajudar a salvar você.

Ele fechou os olhos e a fumaça cinza logo o rodeoou, tomando conta de todo o seu corpo e rapidamente a fumaça foi se esvaindo, o levando embora e eu só conseguia sorri. Eu ainda não estava acreditando que ele estava vivo.

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Bjoooooooos✨