ꕥ Capítulo 45 ꕥ
Scarlet Narrando
Eu havia me despedido de Kiara e disse que estaria de volta em casa antes das nove horas da noite. Izzy ficaria com ela e eu disse que qualquer coisa, Izzy poderia me ligar ou ligar para o meu pai.
Pelo menos, foi o que ele me avisou antes de sair também, que qualquer coisa poderia ligar para ele. Eu sei que ele foi se encontrar com a namorada secreta dele e pelo visto... o negócio entre ele e essa mulher está ficando sério já que o meu pai não é de sair muito no sábado, ainda mais para passar praticamente o dia todo fora.
Ele disse que talvez estaria de volta a noite, mas eu duvido muito que ele venha para casa hoje.
Nesse momento estou a caminho da casa de Raquel, estou até mesmo nervosa porque nunca fui a casa dela. Ultimamente, nós duas conversamos bastante pelo celular e eu não perdia a oportunidade para provocar ela e ela mandava eu ficar quieta, inclusive, ela mesma teve a ideia de que poderíamos nos ver na casa dela e que seria melhor.
Ela não quis me dizer o motivo pelo celular mas me disse que eu saberia quando chegasse na casa dela, e agora, aqui estou eu no lado de fora da casa dela. Aguardando a porta ser aberta pois eu já havia tocado a campanhia.
Vi o carro do uber saindo da rua e abracei meu próprio corpo por está sentindo frio. O céu não estava tão nublado assim, mas estava um frio tão grande que mesmo eu estando de casaco agora... não deixo de sentir frio. A casa da Raquel é um casarão, as paredes eram da cor bordô e as portas e janelas na cor branca, quando eu iria tocar a campanhia mais uma vez, a porta foi aberta por uma mulher de cabelos grisalhos e olhos verdes... ela estava sentada em uma cadeira de rodas e eu deduzi que ela era cadeirante.
Ela sorriu ao me ver, o que me deixou um pouco confusa porque eu não a conhecia. Mas mesmo assim retribui o sorriso.
— Ah... Oi. A Raquel está? — Pergunto e por um momento imaginei que havia batido na porta errada.
— Está sim... então, você é a famosa Scarlet Murray? — Ela perguntou afastando a mão da maçaneta da porta.
— Eu não diria famosa, mas sou eu sim. — Digo sorrindo para a senhora que apoia uma mão em uma das rodas da cadeira e me olha de cima a baixo.
— Você é muito bonita em, parece até uma princesa — Ela disse sorrindo e eu ri. — Pode entrar Scarlet.
Ela apoiou suas duas mãos nas rodas da cadeira, girando as rodas para trás, fazendo com que ela se afastasse da porta para que eu entrasse. Agradeci com um aceno de cabeça entrando dentro da casa, e em seguida fechando a porta.
— Quer beber alguma coisa querida? Um suco? Uma água? Um chá? — Ela perguntou gentil e eu estava com sede, mas não queria que ela fizesse muito esforço.
— Não, obrigada.
— Não quer mesmo?
— Não, eu estou de boa. — Digo e ela me olha de cima a baixo mais uma vez.
— Agora eu estou entendendo.
— O que senhora? — Pergunto e a vejo dar um sorriso fechado.
— O motivo para a minha filha ter se interessado por você. Ah se você estivesse aqui para ver o nervosismo dela quando ela queria falar sobre você, ela achava que iria me enganar mas eu a conheço muito bem. — A senhora disse fazendo com que eu ficasse surpresa.
Aah... então essa é a mãe da Raquel, só não sabia que ela era uma senhora fofa e cadeirante. E eu também não sabia, na verdade, não fazia ideia que ela sabia sobre mim e a Raquel.
— A senhora já sabe? — Pergunto cruzando os braços ainda surpresa. — Espera, ela ficou nervosa?
— Minha jovem... eu não nasci ontem — Ela riu. — Eu devo te agradecer Scarlet.
— Pelo o quê?
— Por ter trazido a minha menina de volta, ela passou muitos anos armagurada e até quando conheceu o Peter... você sabe quem é, não é? — A senhora perguntou e eu confirmei com um aceno de cabeça. — Então, ela continuava do mesmo jeito e quando aconteceu o acidente com eles e ele ficou em coma, ela piorou. Mas então, apareceu você e aos poucos ela voltou a ser quem ela era antes... antes da morte de Igor.
— Quem é Igor?
— Era o meu filho — Escutei a voz da Raquel e eu e a mãe dela olhamos na direção das escadas, vendo a mesma descer. Ela segurava uma carta e não demorou para vim até nós. — Estou vendo que já conheceu a minha mãe Julieta, ela costuma falar demais as vezes. — Ela olhou para a mãe dela que deu de ombros.
— Eu costumo falar demais Raquel? Me poupe viu, eu só estava conversando com a garota sobre algumas coisas, nada demais — Disse a senhora que agora eu descobri que se chama Julieta, ela piscou um olho para mim e sorriu. — Nos vemos outra hora Scarlet, gostei de você mas é que agora está passando uma novela tão boa que eu não posso perder mais nenhum segundo dela.
Eu ainda estava surpresa com o que a Julieta havia dito.
A Raquel teve um filho? Jamais saberia se a mãe dela não tivesse me falado.
A mãe dela foi girando as rodas da sua cadeira até chegar em um cômodo que era do outro lado da sala, ela entrou dentro do cômodo e fechou a porta.
— A sua mãe é legal — Digo e olho para a Raquel que parecia pensativa e ainda segurava a carta. — O que houve?
— Hum? — Ela parecia que estava com a mente longe. — Ah não é nada. A minha mãe foi legal com você?
— Foi sim.
— Teve sorte, ela costuma ser chata com as pessoas. — Raquel disse e caminhou na direção das escadas, eu a segui e não sabia se seria uma boa hora para perguntar sobre esse filho dela já que... ela nunca havia me falado sobre ele.
— E você falou para ela sobre a gente?
— Falei e já faz um tempo, não tive como esconder dela. Pelo visto ela memorizou bem quando pediu para que eu descrevesse como você era. — Ela disse subindo as escadas e eu concordei.
— Ah eu gostei dela — Digo rindo e sigo Raquel até outro cômodo, que parecia ser o seu quarto. — Raquel... eu não queria te perguntar sobre isso, mas você teve mesmo um filho? — Pergunto entrando no quarto dela que era simples porém, muito organizado.
Ela parou de caminhar e se sentou na cama grande que havia no centro do quarto. Ela usava um short jeans e uma blusa de alcinha na cor vermelha.
— Sabia que você iria perguntar sobre isso... o que a minha mãe falou para você? — Ela me olhou e eu me sentei do lado dela.
— Não muita coisa — Digo e vejo Raquel soltar um suspiro. — Mas está tudo bem se não quiser falar sobre isso agora, eu irei entender.
— M-mas... eu preciso. Eu descobri ontem mesmo algo que tem a ver com a morte do meu filho e... eu me culpei durante todos esses anos, durante todos esses malditos anos eu me culpei e fiquei pedindo mentalmente para morrer logo. Scarlet eu não tenho ninguém para desabafar o que eu estou sentindo agora, minha mãe sempre acreditou em mim mas como você viu ela já está na idade, ela não pode saber o que eu descobri nessa carta e eu tenho o maior cuidado para que nenhuma notícia a abale. — Vi os olhos de Raquel marejarem e senti meu coração apertar, não gostava de ver as pessoas que eu amo tristes e Raquel era uma dessas pessoas. Eu a puxei para um abraço e ela encostou a sua cabeça no meu ombro.
— Você quer chorar Raquel? — Pergunto passando as mãos nos seus cabelos curtos e ela começou a chorar, ela estava vulnerável. — Chore meu bem, as vezes tudo o que precisamos fazer é chorar, colocar para fora tudo o que estamos sentindo.
Continuei fazendo carinho no cabelo dela e escutando a chorar no meu ombro. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas faria o possível para ajudá-la e vê-la feliz.
Depois de uns minutos ela conseguiu se recompor e eu me afastei um pouco do abraço, enxuguei as lágrimas dela com o meu polegar e dei um selinho nela.
— Você não está sozinha, tá bom? Você agora tem a mim. — Digo e vejo ela da um sorriso fraco.
— Eu não gosto de falar sobre o meu passado... na verdade nunca contei para ninguém sobre ele. Minha mãe biológica não acreditou em mim quando eu contei para ela que o marido dela, o sem noção que era o meu padrasto... havia me beijado a força quando ela não estava em casa. — Raquel disse fungando e eu franzi as sobrancelhas.
Que infeliz.
— Meu Deus Raquel... sua mãe biológica não acreditou em você? — Pergunto e ela nega com a cabeça.
— Não Scarlet. E antes que acontecesse algo pior comigo, e olhe que eu só tinha doze anos ainda, comecei a namorar com um garoto para poder sair da casa onde eu morava com eles. Quando eu contei para a mulher que eu chamava de mãe, ela não aceitou e o marido dela ficou enchendo a cabeça dela, dizendo que eu já não era mais virgem e tudo mais. E eu só esperei completar quinze anos para perder a minha virgindade de vez mesmo, foi então que consegui ser expulsa de casa e fui morar com o garoto que eu não sabia que era um perdido, que usava drogas escondido dos pais e mal ficava em casa. — Ela disse e colocou a carta em cima da cama.
Coitada da minha Raquel...
— Quando eu estava com dezoito anos se não me engano, ele foi embora de casa, me deixando para trás e grávida dele. Se não fosse a mãe dele, a mulher que você teve o prazer de conhecer lá embaixo... eu não sei o que seria de mim Scarlet. Enfim, tive o meu filho e deu tudo certo mas... ele morreu quando ainda iria fazer três anos de idade e a culpa foi minha — Ela disse desviando o olhar de mim. — Certo dia, eu estava saindo de casa para ir a faculdade e antes de mim sair de casa, eu me despedi do meu filho Igor — Ela deu um sorriso fechado. — Eu disse que não iria demorar e que logo logo estaria em casa, ele iria ficar com a avó e... eu lembro de ter saído de casa e de ter fechado a porta. Mas quando eu já estava no lado de fora, dentro do meu carro para ser mais específica, tirando-o da garagem... eu não vi... eu juro que eu não vi e eu tinha certeza que tinha trancado a porta de casa... eu não vi que o meu filho estava atrás do carro... — Raquel parou de falar e colocou as suas mãos no rosto.
Eu coloquei a minha mão na boca, espantada com aquela história toda... Raquel não precisou terminar a frase pois eu já havia deduzido o que aconteceu com o pequeno Igor.
Depois de alguns minutos em silêncio, eu me aproximei mais um pouco dela.
— Eu sinto muito Raquel... — Passei minha mão nas suas costas e ela afastou suas mãos do rosto, as lágrimas ainda escorriam pelas suas bochechas.
Eu não podia entender a dor que ela estava sentindo, mas só de imaginar... é pesado. Ela deve carregar essa culpa até os dias de hoje... agora eu entendo o porquê dela ter dito que sempre se culpou durante todos esses anos.
— Não foi culpa sua.
— Ah foi sim... pelo menos era o que eu pensava, até ler essa maldita carta — Ela olhou para a carta. — Na época as pessoas que me conheciam e conheciam o meu sogro e a minha sogra, me olhavam feio... achavam que eu tinha passado o carro por cima do meu filho porque eu quis. Os únicos que acreditaram em mim, foram os meus próprios sogros que para mim se tornaram uns verdadeiros pais.
Sorri por ela ter pelo menos o apoio de quem ela mais amava. Olhei para a carta e a peguei, estava aberta e eu olhei para a Raquel que ainda estava cabisbaixa.
— Eu posso ler? — Pergunto e Raquel volta a me olhar.
— Está em francês — Ela disse e eu arqueei uma sobrancelha. — Eu nasci na França Scarlet, e quem me mandou essa carta infelizmente vivia por lá também. Mas posso te dizer o que tem escrito aí.
— É bom ou ruim? — Pergunto e Raquel da de ombros.
— Um pouco dos dois. Quem escreveu foi o meu padrasto e ele faleceu está com alguns dias, só que a carta só chegou aqui hoje e assim que eu recebi e vi que era para mim, eu abri é claro para ler. Ele disse que se eu estivesse lendo essa carta, ele já estaria morto — Raquel se deitou na cama e eu peguei o papel dentro da carta que estava bem dobrado. — Ele é, na verdade era porque ele já morreu mesmo, mas ele era tão nojento que teve a audácia de escrever que sempre teve interesse em mim.
Olhei para a carta e a letra no meu ver não era muito boa, mesmo eu não estando entendendo nada do que estava escrito ali. Olhei para a Raquel depois de ter escutado ela falar quem havia escrito essa carta para ela e semicerrei os olhos.
— Esse infeliz ainda teve audácia de te escrever uma carta e dizer que sempre teve interesse em você? Ah se ele estivesse vivo e fosse daqui... ele iria ver. — Digo sentindo raiva e nojo desse homem que nem cheguei a conhecer.
— E ainda tem mais, ele começou a carta me elogiando para depois dizer que eu não prestava. Escreveu aí também algo que eu não sabia... o dia em que aconteceu o acidente com Igor, eu estava na casa dos meus sogros que se tornaram os meus pais. Eles já haviam se mudado para cá, para a Pensilvânia e até então vivíamos bem... até eu e a minha sogra, que eu a considero como mãe e que você a conheceu lá embaixo, nos deparamos com minha mãe biológica em um shopping daqui e ela estava com o infeliz do marido dela. Eu não queria falar com eles mas a minha sogra Julieta era muito gentil na época e como os dois infelizes já tinham nos visto, ela não iria consegui ignorá-los apesar de já saber de tudo o que havia acontecido comigo.
Escutava tudo atentamente e dobrei o papel, colocando-o de volta dentro da carta.
— E nesse mesmo dia, minha mãe biológica disse que era o último dia dela e do marido dela aqui na Pensilvânia. E como ela era intrometida demais, ficou perguntando se eu estava com o garoto que foi o meu namorado lá na França e eu? Como eu estava aprendendo a ser direta e grosseira como o meu sogro — Raquel riu de canto, provavelmente por ter se lembrado do sogro dela. — Eu disse que não e ela perguntou se eu pelo menos tinha tido algum filho ou filha, eu iria mentir mas Julieta nunca foi fã de mentiras e quando minha mãe biológica fez essa pergunta, Julieta me olhou preocupada pois sabia que se dependesse de mim eu teria mentido. Mas não menti... disse que tinha um filho e que se chamava Igor, ela fez questão de levar o macho dela para a casa que eu morava com os meus sogros e o meu filho.
— Sua mãe biológica também não colaborava.
— Não mesmo e... foi nesse dia que eu estava de saída para ir a faculdade e foi a última vez em que vi o meu filho. Eu te disse que havia trancado a porta de casa antes de me despedi do meu filho? — Ela perguntou e eu confirmei sua pergunta com um aceno de cabeça. — Então, eu não estava errada. Mas no dia eu fiquei com muitas dúvidas... foram várias pessoas conhecidas me olhando torto e me culpando, me culpando por ter deixado a porta aberta. Quando na verdade eu havia fechado a porta e ido para garagem, estavam todos entretidos dentro de casa exceto um, o meu padrasto. E quando ninguém estava olhando, ele abriu a porta e o meu filho já estava andando, Igor era curioso mas também inocente... ele sabia que eu quase sempre saia pela aquela porta e eu acredito que a primeira coisa que ele deve ter pensado, foi em ir atrás de mim... mas então, aconteceu o... — Ela parou de falar e eu notei seus olhos marejarem. — Me desculpe Scarlet.
— Não tem que se desculpar de nada Raquel — Me deitei ao lado dela e acariciei o seu rosto. — Você está sendo muito forte por estar conseguindo me contar isso tudo — Digo e a vejo dar um sorriso fraco. — Então quer dizer que foi o infeliz do seu padrasto que abriu a porta para o seu filho sair e ir atrás de você? Jesus... não sou de desejar mal a ninguém, mas tomara que esse seu padrasto esteja queimando no inferno. Ele relatou tudo isso na porcaria dessa carta?
— Sim Scarlet. Eu não tenho nem dúvidas de que ele esteja queimando no inferno sabe, ele não prestava para nada. Mas a verdade é essa, eu sempre fui inocente... e pensar que eu fiquei me culpando durante todos esses anos. — Ela disse enxugando as poucas lágrimas que escorreiam pelo seu rosto.
— Agora você não precisa se culpar mais, você na verdade nunca teve culpa de nada. — Digo e vejo a Raquel da um sorriso fechado.
— Eu nunca tive culpa de nada... foi o que a sua amiga disse também quando descobriu sobre o meu filho e eu tive que contar a ela o que havia acontecido. Depois disso, eu a afastei de mim.
Agora eu entendo o porquê a Belle sempre me disse para não julgar a Raquel.
— É verdade que você e ela já foram bem próximas?
— Sim, Annabelle é aquele tipo de mulher... como posso dizer, muito esperta. Quando ela quer descobri algo ela descobre mesmo. Sobre o Igor ela só bastou ver uma foto dele que antes, eu levava na bolsa mas depois que ela descobriu eu passei a deixar em casa. Ela disse que ele se parecia muito comigo, não teve como ela não suspeitar — Raquel deu de ombros. — Mas mudando de assunto, não te chamei aqui para ficar falando sobre o meu passado. Te chamei aqui para passarmos um tempinho juntas e distrair a mente.
— Só isso? — Pergunto dando um sorriso maliciosa e a puxo para um beijo, um beijo calmo e quente.
Senti uma das mãos de Raquel irem para a minha nuca e a outra foi parar na minha cintura, colando mais ainda o seu corpo no meu.
— R-Raquel — Gemi baixo o nome dela entre o beijo e ela parou de me beijar. — Você sabe que eu sou... enfim, e eu namorei durante um bom tempo. Mas eu era muito medrosa e insegura em relação a perder a virgindade, mas agora com você... eu não tenho medo de me entregar para você, com você... eu não sei explicar, mas me sinto segura sabe?
— Não, eu não sei não. Tire essa ideia da sua cabeça. — Ela disse se afastando de mim e eu a olhei confusa.
— Mas eu só queria que você me fizesse su...
— Nem ouse terminar essa frase. — Ela me olhou e eu me sentei na cama, assim como ela havia voltado a se sentar.
— Você não me quer né? Tudo bem — Solto um suspiro frustrada. — Eu deveria saber que
— Não te querer? Ah você não faz ideia do quanto eu quero você — Ela disse apoiando sua mão na minha perna e subindo para o meu short, mas de modo imediato afastou a sua mão de mim. — Mas eu não posso, não agora.
— E por que não?
— Porque isso já é ir longe demais, já foi longe demais eu ter dito o que realmente sinto por você e também ter te beijado. Isso que você quer e o que eu quero também, é ir mais longe do que já fomos, entendeu? — Ela perguntou e eu arqueei uma sobrancelha. — Certo, terei que explicar de outro modo. Eu ainda sou comprometida, certo?
— Infelizmente.
— E eu já trai o Peter que é o meu noivo que está em coma, certo?
— Certo.
— E você não acha que se formos além de um beijo, as coisas podem piorar?
— Não — Dou de ombros e vejo Raquel revirar os olhos, me aproximo dela e ela praticamente da um pulo da cama. — Raquel!
— Não, não. Fique quietinha aí senhorita Murray, eu não sou de ferro então não me faça ter que descumpri com a minha promessa. — Ela disse e eu cruzei os braços.
— Que promessa?
— De não tocar em você, só poderei fazer isso quando... o Peter acordar e eu poder me separar dele. — Ela disse e eu arregalei os olhos.
— Isso é sério? E se ele acordar quando você tiver com 60 anos e eu com... quantos anos você tem mesmo?
— 40.
— Você tá brincando, não é? — Pergunto e vejo ela ri de canto.
— Sim eu estou, irei fazer 26 anos. — Ela respondeu e eu soltei um suspiro aliviada, mas mesmo assim ainda fiquei preocupada.
— Mas Raquel é sério, e se ele acordar quando você estiver com 40 anos? Vamos tem que esperar isso tudo?
— Você quer se acalmar? Nem eu mesma sei se irei esperar esses anos todos, mas por enquanto... eu prefiro esperar — Ela disse e eu bufei. — Paciência meu bem — Raquel voltou a se sentar na cama e se aproximou de mim. — Paciência. — Ela beijou o topo da minha cabeça.
Deitei minha cabeça no seu ombro e senti uma de suas mãos acariciarem as minhas costas.
— Eu estava tão pensativa em relação a tudo que li naquela carta, que esqueci de te perguntar se você queria beber ou comer alguma coisa.
— Eu quero passar a tarde toda com você e o começo da noite também — Digo e escuto a Raquel ri baixinho. — O que sua mãe acha desse nosso envolvimento?
— Eu não sei, tudo que ela me disse foi para eu me decidir.
— E você? — Pergunto e ela me olha, passando o seu dedo indicador nos meus lábios.
— Já me decidi. — Ela sorriu e selou nossos lábios.
No outro dia...
×Sonho On×
Que lugar estranho... acabei tropeçando em algo e forcei a vista para ver o que estava no chão, só havia uma luz acesa naquele lugar, uma luz meio amarelada.
Não consegui ver no que eu havia tropeçado mas passei a observar o lugar em que eu me encontrava. Se parecia com uma salinha pequena e escura, um porão...
Escutei o som de choro vindo de algum lugar do porão, forcei a vista mais uma vez e acabei avistando uma pessoa sentada no canto da parede e chorando muito.
Resolvi ir até essa pessoa que estava cabisbaixa e chorando.
— Olá? Por que está chorando? — Pergunto me aproximando dessa pessoa e quando essa pessoa ergue a cabeça para me olhar, eu me surpreendo por vê-la ali e naquele estado em que ela se encontrava.
Suas roupas pareciam velhas, seu cabelo estava bagunçado e ela tinha muitas olheiras, como se não dormisse direito a dias.
— Belle? O que houve com você? — Pergunto me abaixando e apoiando a minha mão na perna da minha amiga. — O que está fazendo nesse lugar?
— N-não tive escolha... e-eu vou morrer. — Ela disse com a voz embargada e eu me preocupei.
— Não, você não vai morrer. Vamos eu vou te tirar daqui — Tento ajudar ela a se levantar mas a mesma estava muito fraca, mal conseguindo ficar de pé. — Vamos Belle, força.
Escutei som de passos vindo do andar de cima e Belle arregalou os olhos.
— Me deixe aqui, me deixe aqui! Ela não gosta de você. — Ela disse agora abraçando seus joelhos e com a respiração acelerada.
— Belle...
×Sonho Off×
Acordei praticamente dando um pulo da cama e passei as mãos nos meus cabelos.
Que loucura de sonho foi esse? E ainda mais com a Belle.
Ela estava com tanto medo, dava para ver nos olhos dela. O que será que isso quer dizer?
Peguei o meu celular para olhar a hora e vi que ainda iria dar nove horas da manhã, mas só pode ser brincadeira.
Em pleno domingo eu me acordar a essa hora? Palhaçada.
Tentei voltar a dormir mas não parava de pensar no sonho, mas acho que foi só um pesadelo... depois de mim ter tirado o cobertor do meu corpo, virado para um lado e depois para o outro, desisti de tentar voltar a dormir.
Raramente acordo a esse horário no domingo.
Me levantei da cama e bocejei, que raiva. Provavelmente de noite irei acabar dormindo logo cedo.
Sai do meu quarto e resolvi ir no quarto de Kiara para ver se ela estava acordada ou não, mas eu duvidava muito que ela estivesse acordada. Essa só acorda tarde.
E quando cheguei no quarto dela, eu a vi dormindo tranquilamente, sorri ao vê-la dormindo tão bem em sua cama confortável.
Fechei a porta do quarto dela e iria voltar para o meu quarto quando acabei olhando para o final do corredor. Será que o meu pai ainda está dormindo? Ele também acorda tarde dia de domingo e sim, ele dormiu em casa ontem.
Quando cheguei ontem em casa no horário em que prometi para Kiara, o nosso pai chegou as onze horas da noite. Achei isso um milagre e iria até perguntar se ele tinha desistido da tal mulher com quem ele está saindo, mas para ele ter chegado sorrindo feito um bobo... eu duvido muito que ele tenha desistido dela.
Quando percebi, já estava na frente da porta do quarto dele que estava entreaberta. Estranho, ele sempre tranca essa bendita porta.
Empurrei um pouco a porta para ver se o meu pai estava no quarto e... não, ele não estava. Estranhei mais uma vez e dei de ombros, ele deve estar no banheiro.
Deixei a porta como ela estava antes e caminhei pelo corredor, agora eu iria para o meu quarto... mesmo que eu não consiga dormi, o jeito é ficar mexendo no meu celular enquanto não dá a hora que todos acordam. Irei até mesmo mandar mensagem para a Raquel.
Foi maravilho passar a tarde e o começo da noite com ela, nunca que eu poderia imaginar que ela fosse divertida e cozinhando? Pronto. Ela que cuidava da mãe dela e apenas quando iria trabalhar que mandava uma cuidadora vim cuidar da mãe dela, a mãe dela se juntou até a nós para assisti um filme e assim que o filme acabou, ela saiu em disparada com a sua cadeira de rodas porque havia começado o jornal e segundo a Raquel a mãe dela poderia perder tudo, menos o jornal na televisão.
E foi por causa da mãe dela, que ela decidiu que deveríamos nos encontrar na casa dela mesmo.
Iria entrar no meu quarto quando escutei a voz do meu pai, vindo do andar debaixo e por mais que ele tentasse falar baixo, eu consegui ouvir por simplesmente a casa está bastante silenciosa.
— Não quer beber alguma coisa? — Meu pai perguntou e eu franzi a sobrancelha.
Meu tio Ramiro não é uma hora dessas, ainda mais em um domingo. Aquele ali só acorda no horário da tarde e olhe lá.
— Não, não. Eu vim agora porque quanto mais antes eu contar, melhor.
Essa voz... eu reconheceria em qualquer lugar. Caminhei em passos lentos e senti as batidas do meu coração acelerarem, o que a minha amiga faz aqui em casa e a essa hora?
— Está tensa demais meu anjo, deveria beber alguma coisa.
Meu anjo?
Não, não pode ser o que eu estou pensando.
— Não, eu não quero beber nada...
— Certo, mas tente ficar calma.
A cada passo que eu dava, eu sentia que não iria gostar do que estava preste a ver. E eu estava certa, foi só eu me aproximar dos degraus da escada que vi o meu pai beijando a minha melhor amiga... eu não podia acreditar no que os meus olhos estavam vendo.
Fui descendo as escadas em passos silenciosos e a cada passo eu me sentia... traída. Eu nunca imaginei que a namorada que meu pai mantinha em sigilo era a pessoa em que eu mais confiava, a pessoa para quem eu contava tudo... TUDO!
Parei de caminhar no penúltimo degrau, quando vi eles pararem de se beijar e não tive como disfarçar a raiva que eu estava sentindo naquele momento, tanto do meu pai como dela também.
E assim que eles se afastaram um pouco, notaram que havia mais alguém ali além deles e não demoraram para ambos direcionarem seus olhares para mim.
— De todas as pessoas que eu imaginei que estivesse se envolvendo com o meu pai... jamais se passou pela minha cabeça, que essa pessoa era a minha melhor amiga. — Digo não conseguindo esconder o quanto eu estava angustiada.
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Espero que tenham gostado, votem e comentem...
E agora já era😵
Bjooooooooooos✨
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