ꕥ Capítulo 3 ꕥ
Annabelle Narrando
Me levantei um pouco tarde da cama hoje, daqui a uma hora será o enterro do meu avô e eu... não vou. Não gosto de enterros e até me desculpei com minha mãe, como ela já me conhece e me entende, disse que eu poderia ficar em casa mas eu não quis. Ficar em casa só fará com que eu queira voltar a dormir e então... não terei disposição para fazer minhas tarefas hoje a noite. Particulamente eu odeio ficar com preguiça.
Nesse momento estou a caminho da escola com minha mãe, ela está dirigindo e eu no banco da frente observando através da janela do carro, as casas por qual passávamos. Minha mãe sempre me leva para a escola de carro, agora quando eu largo, eu tenho que ir para casa sozinha mesmo.
— Vou deixar a floricultura fechada hoje e talvez eu abra amanhã. — Ela disse sem desviar o olhar do trânsito — Depois do enterro do seu avô, terei que ir na casa dele para ver o que ele deixou. Tenho que resolver o que fazer com as coisas dele e se não me engano... ele tem um gato de estimação.
— Coloca na adoação. — Digo desviando o olhar da vista e olhando para minha mãe.
Ela sempre me dizia que gostaria de ter um animal de estimação em casa porém, quem vai cuidar dele? Animal de estimação é responsabilidade, minha mãe e eu bem dizer só ficamos em casa a noite, mesmo assim minha mãe as vezes sai a noite, então... toda a responsabilidade iria ficar para mim e eu não quero.
— Eu não sei se ele tem mesmo, irei ver quando chegar lá.
Demoramos mais alguns minutos no trânsito até que chegamos na frente da Murray High School. Me despedi de minha mãe dando um abraço forte na mesma, ela vai ficar bem... assim eu espero, por mais que o momento seja difícil.
Entrei na escola e pelo visto o sinal ainda não havia tocado já que a maioria dos alunos estavam fora das salas e cochichando pelos corredores.
Mais um dia.
Fui para o pátio e me sentei em um banco afastado de todos, observei os "grupinhos" que estavam no pátio e todos pareciam estar fofocando sobre algo.
Eu iria pegar um dos livros na minha bolsa que eu havia comprado, mas ainda não havia lido. Iria fazer isso mas avistei uma pessoa entrando no pátio... ela era um pouco baixa e parecia que estava de mau humor, digo isso porque ela estava com a famosa cara de mau humor. Deve ser novata já que nunca a vi por aqui.
E mesmo ela estando de mau humor, ela tem uma beleza... inexplicável. Seus cabelos eram vermelhos e ela usava uma calça jeans na cor preta junto com a farda, que era branca e tinha o pequeno símbolo de uma coroa vermelha(o símbolo da escola) no peito esquerdo, embaixo o nome "MHS". Eu gosto da farda dessa escola, só não gosto muito da saia e é por isso que venho de calça já que é permitido.
Desviei o olhar da garota para o meu livro e quando eu iria começar a lê-lo, alguém o tirou rapidamente das minhas mãos. Encarei a pessoa e vi que se tratava de Alice e suas duas amigas, elas me amam demais para não dizer ao contrário.
— O que está lendo Feiannabelle?
— Por que vocês não me deixam em paz? Vão crescer, estão no ensino médio mas parece que não se desapegaram do fundamental. — Digo encarando as três que logo começaram a rir e Alice deixou meu livro cair de propósito no chão.
Eu até enfrentaria ela, mas são três contra uma então... é melhor deixar para lá.
— A cada dia você está mais feia Annabelle, aposto que ninguém te quer. Se você andasse com a gente iria aprender a se vestir melhor. — Dessa vez foi Abigail que disse e as outras duas riram.
Me levantei do banco e me abaixei para pegar o meu livro.
— Deixem ela em paz. — Escuto uma voz desconhecida por mim e me levanto segurando o meu livro. Atrás das três amigas inseparáveis, a garota novata que eu estava observando a alguns minutos atrás.
— Quem é você intrometida? — Alice perguntou se aproximando da garota que não deu nenhum passo para trás e continuou-a encarando.
— Humilhem ela de novo, e eu faço questão de te mostrar quem eu sou. — Ela disse em um tom de voz sério e quem acabou recuando foi Alice.
— Você pensa que é quem para falar com a minha amiga desse jeito? — Se manifestou Samara se aproximando da garota que logo a encarou e também se aproximou mais dela.
— EI VOCÊS AI! Não escutaram o sinal tocar? – Um dos faxineiros da escola disse com a voz alterada e todas nós olhamos para ele que estava em um canto afastado do pátio.
Só agora percebi que só tinha nós cinco no pátio, estava impressionada demais por aquela garota de cabelos vermelhos estar me defendendo. As três amigas inseparáveis logo foram embora, mas Alice se virou para olhar para a garota que havia me defendido e essa garota deu o dedo do meio para ela.
Guardei meu livro na bolsa e a coloquei nas costas, eu tinha que ir para a aula agora. Mas antes que eu pudesse dar um passo à frente, a garota dos cabelos vermelhos me parou e me analisou. Em seguida, ela sorriu e isso me deixou confusa.
— Você está tão diferente... quase não a reconheci. Você está mais alta que eu. — Ela riu de canto.
— Perdão, eu te conheço?
— Você não se lembra de mim? Sério? Eu mudei tanto assim? Ah vai eu não mudei tanto, só pintei o meu cabelo. — Ela disse dando de ombros e eu continuei olhando para ela... eu não a conheço, se não, eu me lembraria.
— Você deve está me confundindo com outra pessoa não? Olha, agora eu tenho aula mas obrigada por ter me defendido. Não precisava de verdade, mas obrigada.
— Eu não estou confundindo nada, eu sei que é você Belle. E só para mim ter mais certeza... — Ela tirou os óculos do meu rosto e olhou nos meus olhos — Eu reconheceria esses olhos azuis em qualquer lugar — Ela sorriu e colocou novamente os óculos no meu rosto. — Qual é? Você não se lembra mesmo de mim?
— Infelizmente... não.
Eu já deveria estar indo para a sala mas aquela garota estava dizendo que me conhecia, e eu não me lembro dela.
— Ok, vou tenta refrescar a sua memória. Afinal, não nos vemos já faz anos. — Ela disse cruzando os braços e rindo de canto — Não sabe o quanto estou feliz de saber que você estuda aqui, pelo menos você. Agora vou direto ao assunto anterior, lembra de uma garotinha que iria parar direto na diretoria ou na enfermaria? E foi na enfermaria que ela acabou conhecendo outra garotinha de seis anos que havia se machucado porque havia corrido muito? As duas ficaram conversando quando tiveram seu curativos feitos, e quando as duas saíram da enfermaria, outra criança chamou a nova amiga da garotinha rebelde de feia e ridícula, a garotinha ficou quieta? Não, foi em cima da garota que havia chamado sua nova amiga de feia e ridícula.
Foi como se eu tivesse voltado no tempo quando escutei as palavras daquela garota, tudo isso se passou em New Orleans... e então eu me lembrei, foi a primeira amiga que tive de verdade. Aquela garotinha sim gostou de mim e não me julgava. Olhei para a garota à minha frente e abri um pouco a boca.
— Scarlet? Scarlet é você?
— A primeira e única. — Ela disse com um sorriso nos lábios e eu logo a abracei. — Quem diria que iríamos nos encontrar de novo não? — Ela perguntou e eu senti a mesma retribui o meu abraço.
— Quem diria mesmo... mas espera, o que você faz aqui? — Pergunto me afastando do abraço e olho para ela.
— Longa história, no intervalo te conto tudo. E você o que faz aqui? Pensei que estivesse morando em New Orleans ainda. Como está a sua família? Sua irmã? Lembro que ela iria te buscar todos os dias na escola. Você já deve ser tia não é?
Solto um suspiro pesado e ela nota que eu fico triste.
— Isso é uma longa história também. Minha irmã morreu Scarlet, ela... se suicidou. — Digo e vejo a mesma arregalar os olhos.
— Meu Deus Belle! Ela estava com depressão?
— Para ser sincera, eu não sei. Mas a morte dela foi um dos motivos para eu e minha família se mudarmos de New Orleans.
— Eu sinto muito Belle. — Ela disse apoiando sua mão no meu ombro. — Você não foi a única que perdeu alguém em New Orleans, foi lá que vi minha mãe viva pela última vez.
— Sua mãe morreu? — Pergunto surpresa e ela confirma minha pergunta com um aceno de cabeça. — Meu Deus Scarlet! Eu sinto muito, de verdade... nossa não dá para acreditar. Podemos falar sobre isso no intervalo? É melhor nós irmos para as nossas salas. — Digo me lembrando que estávamos conversando ali e já fazia um bom tempo.
— Você não muda, sempre gostou de estudar... mas escuta, você não era para estar fazendo alguma faculdade?
— É uma longa história que será resumida no intervalo, eu prometo. — Digo e a mesma assente e sorrir. — Estou feliz em te ver de novo Scarlet.
— Digo o mesmo, nos vemos no intervalo então.
Me afasto dela para ir para dentro da escola mas percebo que ela não vem atrás de mim, olhei para trás e vi a mesma encarando o chão.
— Você não vai para aula? — Pergunto e ela me olha.
— Vou na segunda aula, vou falar com o diretor daqui a pouco mas estou respirando fundo primeiro. Quase arrumo uma briga com aquelas garotas e aquele faxineiro viu tudo então...
Eu sabia que brigas eram proibídas na MHS, mas elas não chegaram a brigar então porquê Scarlet iria falar com o diretor? Ela deve saber que ele é lindo e quer dar uma conferida, deve ser isso.
— Tá bom então, nos vemos no intervalo.
— No refeitório. — Ela alterou a voz e eu assenti com a cabeça.
No refeitório.
Fui para a sala de aula e tive sorte que meu professor de física é tranquilo e me deixou entrar, mesmo estando atrasada.
As horas foram se passando e eu tive quatro aulas até agora, confesso que hoje eu estava um pouco distraída... pensando em minha mãe, pensando em Scarlet.
Incrível como Scarlet mudou. Eu não a reconheci, mas bastou ela me lembrar do nosso passado e eu acabei me lembrando dela. Ela está tão linda, já deve ter namorado e tudo... lembro de quando conversávamos, ela era bem danadinha. Se alguém a irritasse ela não pensava duas vezes, iria para cima de quem tinha a irritado e a briga começava.
Sofri na época em que ela foi me defender e acabou levando uma suspensão porque bateu demais na menina e ainda chegou a "enfiar" um lápis na barriga dessa menina. A menina havia me empurrado da cadeira na sala de aula e quando Scarlet ficou sabendo, ela tomou minhas dores e foi afrontar a menina. As duas acabaram levando suspensão e eu fiquei sozinha no intervalo por um semana.
11:59AM
Agora é hora do intervalo e eu já estava no refeitório procurando por Scarlet, até que a encontrei sentada em uma mesa sozinha e fui até ela.
— Eu de novo. — Digo me aproximando da mesa e me sento em uma das cadeiras perto dela.
— Ainda bem. Eu já iria atrás de você. — Ela riu e logo soltou um suspiro — Eu não deveria estar aqui, mas meu pai me colocou aqui como um castigo.
— Como um castigo?
— Sim, eu estava estudando em outra escola onde eu tinha o meu próprio "grupinho", inclusive meu namorado faz parte desse grupinho. Só que nessa escola não era permitido brigas, caso tivesse, o causador da briga vulgo o aluno é expulso. Eu fui expulsa porque não aguentei ver uma garota dando em cima do meu namorado, ela já vinha me provocando porém eu sempre fiquei quieta... prometi a mim mesma quando tinha treze anos que não iria mais arrumar confusão ou brigar com alguém.
— E você acabou quebrando a promessa. — Digo e a mesma assente. — Você ainda não deixou de ser esquentada.
— Eu não sou esquentada. — Ela riu e eu arqueei uma sobrancelha, a mesma parou de rir e coçou a nuca — Tudo bem, talvez eu seja um pouco mas é só um pouco.
— E quando você foi expulsa?
— Esse ano mesmo, há uma semana atrás. E meu pai me matriculou aqui porque eu disse a ele que não queria estudar aqui. — Ela revirou os olhos e eu achei engraçado. — E a parti de hoje eu não irei avançar em cima do pescoço de ninguém. Vou mudar o meu comportamento e ser uma pessoa mais calma. — Ela disse apoiando as mãos em cima da mesa e parecia confiante.
— Isso é bom Scarlet. Agora eu não entendi uma coisa, você disse que seu pai te matriculou aqui como um castigo então, você não gosta dessa escola. O que tem contra essa escola?
— Tudo. Começando pelo nome.
— Mas o que tem o nome? — Pergunto confusa e a mesma rir de canto.
— Vamos mudar de assunto, depois falo mais sobre isso. Agora me conta o que houve, como sua vida mudou... completamente.
Começo a contar para ela o que havia acontecido na minha vida há alguns anos atrás e atualmente também. Contei sobre Annabel, sobre minha mãe, meu irmão que havia sido preso. Os momentos difícies que passei com minha mãe, os dois namorados que eu já tive mas um deles conseguiu me magoar de uma forma que... eu fico triste só de lembrar.
Ela pareceu surpresa quando terminei de contar tudo que me lembrava para ela.
— Eu ainda não consigo acreditar que a sua irmã... nossa, isso é triste demais. Você se lembra o que vocês duas conversaram antes dela morrer?
Fiquei pensando durante alguns minutos e sinceramente eu não me lembro de muita coisa, mas me lembro de minha irmã dizendo que eu tinha que ter cuidado com a... mamãe. Mas mamãe não me parece uma pessoa perigosa, ela é minha amiga e confidente, não entendo porque Anna me falou isso na época. O tempo foi se passando e eu preferi esquecer isso pois não fazia e não faz o menor sentido.
— Eu lembro de ter dito que a amava, e ela também disse que me amava. — Digo me lembrando da última vez que vi minha irmã viva e a abracei.
Tiro os óculos e passo a mão no meu rosto, senti vontade de chorar naquele momento mas mantive a calma. Anna faz tanta falta...
— Não vou mais tocar no assunto da sua irmã, isso ainda mexe com você não é? — Ela perguntou e eu assenti.
Coloquei os óculos novamente no rosto e Scarlet me olhou.
— O que foi?
— Desde quando usa óculos? Quando estudávamos juntas você não usava.
— Passei a usar com onze anos, estava tendo dificuldades para enxergar as letras no quadro da sala de aula, até para ler um livro eu não enxergava e ainda não enxergo muito bem as letras e se eu forçar a vista, minha cabeça dói. Com a ajuda dos óculos eu consigo enxergar as letras de longe e ler as pequenas letrinhas nos livros também. — Explico e ela apoia o queixo na palma de sua mão e o cotovelo em cima da mesa.
— Então você precisa mais dos óculos quando é para fazer alguma leitura certo? Consegue enxergar sem eles?
— Certo e sim, eu consigo enxergar sem os óculos. Mas me acostumei com ele no rosto então... só tiro quando chego em casa, quando vou dormir ou tomar banho.
— Interessante. — Ela dá um sorriso fechado. — Como poderam te magoar Belle? Sinceramente esses garotos que você namorou são uns imbecis. O seu primeiro namorado, você me disse que tudo passou de uma aposta dele com os amigos dele para que ele saísse com você e conseguisse te beijar, certo?
— Sim e ele conseguiu o que queria, todos riram de mim me dizendo que jamais alguém se apaixonaria por mim de verdade porque eu sou...
— Opa, não ouse completar essa frase Annabelle. — Ela disse me interrompendo e pegou nas minha mãos — Você é linda meu bem, é única, inteligente, você tem muita coisa que a maioria das garotas não tem.
— Feiura?
— Inteligência, e você não é feia, você é linda do jeitinho que você é. Dizem isso só porque você não se arruma, queria ver se você se arrumasse só para fechar com a cara de muitas pessoas por aqui. — Ela disse com um sorriso nos lábios e me analisando, logo neguei com a cabeça.
— Estou melhor assim, mesmo me arrumando continuo a mesma coisa. Vamos mudar de assunto, por favor? — Pergunto já querendo sair daquele assunto de beleza, uma coisa que eu não tenho.
— Vamos. Sinto muito pelo seu irmão também Belle, e por você ter sofrido nas mãos do seu último namorado.
Alberto foi meu último namorado e terminamos há dois anos atrás. Ele dizia que me amava e eu acreditava, eu também o amei... o amei tanto que me entreguei para ele, foi bom? Foi. Mas com o passar dos meses de namoro com ele, ele passou a se mostrar um garoto ignorante e ao mesmo tempo controlador. Quando eu queria contar a ele sobre como tinha sido o meu dia por exemplo, ele apertava o meu braço e mandava eu calar a boca porque não queria escuta a minha voz ou perder a paciência comigo.
Eu não entendia muito bem no começo sobre isso, mas com o tempo entendi que eu vivia em um relacionamento tóxico e não sabia. Sem falar que ele era muito ciumento e que quando eu quis terminar com ele... ele não gostou.
A gente namorou durante um ano e dois meses, e foi nesse segundo mês que pedi para terminar. Ele não quis e disse que não iria terminar comigo, eu não sabia o que fazer na hora mas acabei contando tudo para a minha mãe, ela não sabia de nada disso que ele fazia comigo. Na frente dela, éramos um casal super apaixonado, na verdade na frente das pessoas. Mas só eu sei pelo que eu passei.
Não sei como mas depois da conversa com minha mãe, não demorou nem dois dias e Alberto aceitou terminar comigo.
O que deu nele? Eu não sei, mas agradeci a Deus por ter me livrado dele. Só soube depois de alguns meses que ele havia ido embora da cidade.
— Como você já falou sobre você, agora é a minha vez. Quando eu fiquei sabendo que você saiu da escola em que estudávamos juntas eu fiquei tão triste, mas consegui me recuperar dessa tristeza com o tempo. Quando eu fiz cinco anos naquele mesmo ano, minha mãe teve que fazer uma viagem para a Roma só que o avião que ela entrou... caiu e morreram todos os passageiros, incluindo ela. A última vez em que a vi, foi no aeroporto quando estávamos nos despedindo dela, eu e meu pai sofremos tanto com a perda dela... foi difícil Belle. — Ela disse encarando a mesa e eu passei a mão nas suas costas, encorajando ela a continuar a história.
— Eu te entendo Scarlet, entendo como é perder a pessoa que você ama.
— Eu estava no primeiro ano do fundamental, mas a morte da minha mãe me abalou muito e eu acabei repetindo de ano.
— Quantos anos você tem agora?
— 17 anos. Farei 18 anos em setembro e para ser sincera... não vejo a hora de dar uma festa. — Ela deu um sorriso fechado e me olhou — E você já está velha.
— Não estou tão velha assim, farei 20 anos em novembro.
— É... não está tão velha assim. Continuando a triste história da minha vida, quando eu fiz sete anos o meu pai acabou saíndo de New Orleans para vim morar aqui na Pensilvânia, e foi quando ele acabou tendo um caso de uma noite com uma prostituta. Eu a vi uma vez, pensei até que ela iria morar com a gente, mas graças a Deus que isso não aconteceu.
— Seu pai depois da morte de sua mãe, não arrumou mais ninguém?
— Credo, não. Nenhuma mulher vai substituir o lugar da minha mãe, e se aparecer alguma mulher na vida do meu pai... não vai presta. — Ela disse séria e eu rir.
— Você é ciumenta não é?
— Nem tanto. Meu pai se envolvendo com essa prostituta teve um problema, ou melhor teve um bebê, sim, essa mulher engravidou do meu pai. Eu tenho uma irmã agora por parte de pai — Ela disse me fazendo olhar para ela surpresa — E não para por aí. A prostituta não quis cuidar da filha dela e abandonou a criança com a mãe dela, a vó da criança no caso. Desde então a avó dessa minha irmã entra em contato com o meu pai, meu pai todo mês deposita o dinheiro na conta da avó da minha irmã, elas moram no Texas. Você acredita que eu nunca a vi? A minha irmã.
— Nem por foto?
— Nem por foto, nem por chamada de vídeo. Meu pai que ás vezes conversa com ela pelo celular mas segundo ele, ela não gosta de falar muito e também ele já viu foto dela... ela é ruiva e é bonita também, se parece com a mãe dela. Ela deve ter sete ou oito anos atualmente, eu não sei, eu não sei nem o nome dela para falar a verdade. — Ela riu e eu fiquei pensando em como poderia ser essa irmã dela, ela deve ser linda. — Saíndo um pouco desse assunto, eu comecei a namorar com 15 anos e estou até hoje com o mesmo garoto.
— Vocês devem se amar muito, estou certa?
— Está sim. Agora que irá ficar complicado para eu e ele nos vermos, estudando em escolas diferentes... uma tragédia. — Ela desviou o olhar da mesa e ergueu um pouco a cabeça, olhando em uma direção e parecia estar encarando alguém.
Quando olho na mesma direção em que ela estava olhando, vejo a professora Blunk que estava em pé perto da entrada do refeitório e mexendo no celular.
— Essa é a professora Blunk. Como dizem os garotos, ela é a professora mais linda dessa escola e o resto são só bonitas.
— Ela tem cara de metida isso sim. Não gostei dela. — Scarlet disse desviando o olhar da professora Blunk e olhando para mim.
— Ela é professora de física, foi minha professora no ano passado. — Digo olhando agora para ela e vejo a mesma bufar — Você é do...
— Infelizmente, adoraria ser da mesma série que a sua e estudar na mesma sala que você só para não olhar para a cara daquela metida ali, e de outros metidos e metidas que tem por aqui.
— Raquel Blunk não é metida, só tem a aparência. Ela é rígida, mas metida... não.
— Para mim continua sendo metida. Enfim, quando você vai na minha casa?
— Quando eu vou na sua casa? — Pergunto confusa e ela começa a rir.
— Me desculpe, eu sou direta demais e isso ainda vai me prejudicar algum dia, eu acho. Amanhã, na hora da saída você pode ir na minha casa? A gente pode conversa melhor, comer alguma coisa e até mesmo... tomar um banho de piscina.
— Pode ser, mas o seu pai não vai se incomodar não?
— Ele não vai estar em casa, ainda bem. Vai ser demais, vamos apostar quem nada mais rápido também? — Ela perguntou e foi inevitável eu não balançar a cabeça rapidamente negando a sua pergunta.
— Eu não sei nadar.
— Oras, eu te ensino.
— Não precisa.
Eu tenho medo só de imaginar a profundida de uma piscina. Uma vez quase me afoguei na praia e foi horrível não sentir mais a areia nos pés... somente a água, era como se eu estivesse afundando cada vez mais quando mexia os braços e as pernas, sem poder respirar direito e engolindo água direto... foi terrível. Minha sorte foi ter sido salva por um salva-vidas se não, eu acho que teria morrido afogada naquele mar.
Eu e Scarlet ficamos conversando mais um pouco e descobrindo mais algumas coisas uma da outra, não compramos nada para lanchar ou almoçar, apenas ficamos conversando até que o sinal tocou e tivemos que nos despedir.
Posso dizer que minha manhã e tarde foi tranquila, e com a companhia de Scarlet então... só melhorou um pouco o meu dia sem graça. As aulas também foram tranquilas e os professores passaram uma tonelada de atividades, farei todas hoje mesmo pois não gosto de deixar acumular.
[...]
Estou indo para casa agora e me perguntei em meus pensamentos, será que minha mãe já está em casa?
Deve ter sido tão difícil ela ver o meu avô sendo enterrado. Ela já perdeu a mãe, e agora foi o pai.
Olhei para os lados para ver se vinha algum carro e não, nenhum automóvel a vista, aproveitei e apressei os passos atravessando a rua. Cheguei na rua em que eu moro e caminhei pela calçada, observando algumas árvores que tinha na frente de algumas casas.
Cheguei perto da porta da minha casa e destranquei a porta com a chave, que estava dentro da minha bolsa. Entrei dentro de casa e logo fechei a porta.
Me virei para ir até o sofá mas parei de caminhar assim que vi um cachorro em cima de um dos sofás.
Ele parecia triste porém, não demorou para que ele erguesse a cabeça e me olhasse.
— Como... como foi que você entrou aqui? — Pergunto olhando confusa para o cachorro e o mesmo agora, parecia me encarar.
— Que pergunta besta garota. Pela janela do seu quarto é que não foi.
Escutei uma voz masculina e sarcástica ecoando na minha mente e cambaleei para trás, encostando minhas costas na porta. Fechei os olhos apoiando minha mão na testa.
O que foi isso?
Abri os olhos e voltei meu olhar para o cachorro que continuava me encarando, seus olhos eram castanho-claros e uma parte de seu pelo era branco, enquanto a outra era marrom e se misturava com outro tom de marrom claro.
— Mãe?
— Filha você chegou! — Ela disse descendo as escadas e caminhou na minha direção — O que foi? Está se sentindo bem?
Olho para ela e depois para o cachorro, a mesma entende e coça a nuca.
— Querida, esse é Trovão. Ele era do seu avô e eu não quis deixá-lo sozinho naquela casa grande filha então, eu o trouxe para cá... nós podemos ficar
— Não. — Interrompi ela que logo fez um sinal de negação com a cabeça. — Mãe não vamos ter tempo para criar um cachorro, eu não vou me responsabilizar por ele não. Ele só sabe comer, dormir e fazer as necessidades dele. — Digo e a mesma rir de canto.
— Tem razão Belle... não sei onde eu estava com a cabeça.
— No pescoço.
Escutei aquela voz novamente na minha mente e olhei em volta da sala de estar. Só tinha minha mãe além de mim... estou lendo livros demais, estou até escutando vozes.
— Querida? Você está bem mesmo? — Ela perguntou me olhando desconfiada.
— Sim mãe eu estou, é só uma dorzinha de cabeça, mas já vai passar. O que a senhora estava dizendo?
— Irei levar o cachorro para o canil quando eu chegar. Eu ainda não resolvi tudo sobre a mobília do seu avô, mas eu pretendo vendê-la... eu irei agora e irei deixar o Trovão aqui com você. — Ela disse me fazendo a olhar incrédula. — Não faça essa cara, ele é um cachorro dócil e calmo. Sei que ele vai se comportar, não é Trovão?
Ela foi até o cachorro e acariciou os pelos dele. Trovão... que nome ridículo, quem dá um nome desses para um cachorro?
Revirei os olhos e caminhei até o outro sofá, deixando minha bolsa em cima do mesmo.
— O seu nome é igual ao de uma boneca de um filme de terror, quem é você para dizer que meu nome é rídiculo?
Dessa vez eu dei um pequeno pulo para trás pois me assustei com a voz irônica e agora um pouco alterada, mais uma vez ecoando na minha mente. Apoiei minhas mãos na cabeça e percebi que minha mãe me olhava confusa, ela estava fazendo carinho no cachorro que estava de olhos fechados, com certeza aproveitando o carinho que recebia.
— Filha o que deu em você? Parece assustada.
O cachorro abriu os olhos e me olhou.
— Mãe eu...
Eu estou ouvindo vozes... estou ficando louca, olhei para o cachorro que agora me encarava.
— Belle você vai sobreviver. Não vou demorar muito, prometo que quando eu chegar eu levarei o Trovão para o canil. Agora eu tenho que ir filha, se alimente direito e cuide da casa, e do cachorro também. — Ela disse se afastando dele e se aproximando de mim, beijou a minha testa e quando ela iria sair de casa, eu a chamei.
— Mãe, a senhora já escutou vozes?
— Vozes? — Ela perguntou com um sorriso irônico nos lábios — Não, não que eu me lembre, ainda bem.
Cruzei os braços e encarei a cerâmica branca da sala.
— Eu tenho que ir querida, qualquer coisa me ligue.
××××××××××××××××××××××××××××××××××
Espero que tenham gostado votem e comentem...
E lá vai foto de um novo personagem...
×Trovão×
Bjoooooooooooos ✨
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