💫Rocky → Depois da Meia Noite |1
CAPÍTULO UM
˙·٠•💜•٠·˙
Eu nunca acreditei em magia. Na verdade, acho que ninguém acreditaria se, por exemplo, falassem que existe uma fábrica de chocolates mágica como a de Willy Wonka por aí até terem a oportunidade de ver com os próprios olhos. Entretanto, há uma primeira vez para tudo, não é mesmo?
A loucura começou hoje, no meu vigésimo segundo aniversário. Em datas como essa eu e meus colegas de dormitório sempre fazíamos coisas simples, como comprar comida gordurosa, bolo e cerveja. Mas esse ano, por algum motivo, eles decidiram que precisava ser especial, diferente. Traduzindo: queriam que eu saísse da fossa conhecendo outras pessoas. Tendo em mente meu péssimo término, prontamente recusei. Eles até foram compreensíveis nas primeiras semanas, contudo posso dizer que já estão de saco cheio do clima depressivo que estou implantando nesse lugar. Ou pelo menos é o que parece.
— Já faz um mês que você fica aí largado no sofá olhando para o teto! — Sungho reclamou — Você ao menos tem tomado banho, Rocky?
— Você devia parar de ficar remoendo o que aconteceu. — Yujun jogou uma almofada em mim.
— É, chega de pensar na Yoojung, pelo amor de Deus... — Donghyun comentou.
— A semana de provas acabou, estamos solteiros. Qual é, vai ser igual aos velhos tempos! — Yunjun complementou.
Depois de muita insistência, e de me prometerem que seria apenas uma festa com amigos próximos e sem segundas intenções, o compromisso foi marcado. Eu estava sem um pingo de vontade de ir, porém algo dentro de mim me deu a sensação de que me arrependeria se não fosse.
Então eu fui.
Conclusão? Eles me enganaram.
Lá estava eu, na casa de alguém que mal conhecia, com uma lata de cerveja na mão, carne na grelha e um sorriso amarelo estampado na cara só para manter a educação. Todo mundo que me conhece sabe como acho desgastante conversar com estranhos, entretanto fui obrigado a cumprimentar cada pessoa que brotava e se juntava àquela festa barulhenta. Não existia zona de conforto para mim naquele lugar, por isso me voluntariei para fazer o churrasco e ficar o mais afastado possível.
— Vai ficar nesse canto a noite inteira, Rocky? — Desajeitadamente, Yujun tocou meu ombro — Daqui a pouco é meia-noite, não estrague a diversão!
— Estou me divertindo muito bem aqui, obrigado.
Yujun fedia a álcool e seu rosto já estava ficando vermelho. Desisti de tomar mais cerveja por causa disso, alguém precisava ficar sóbrio para levar os bêbados dos meus amigos de volta para o dormitório. Desde que chegamos, Yujun, Donghyun e Sungho não pararam de beber por um minuto, só dançavam e flertavam por aí, sempre que a oportunidade aparecia — não precisa de muito para perceber que quem vai sair daqui cheio de contatinho não vai ser eu, né?
— Minhyuk — Haerim chamou. — Por que todos te chamam de Rocky?
Coloquei a mão no peito pelo breve susto, eu mal a escutei se aproximando.
— É porque a natureza dele é dura igual uma pedra! — Sorrindo para a garota, Yujun ajeitou a jaqueta que escorregou pelos seus ombros.
— Hm... — Haerim segurou o riso.
Tentei não rir também, contudo alguns risos escaparam.
— Eles falam que meu gênio é forte. Por isso pedra, rock, Rocky. — Virei a carne na grelha. — Entendeu?
— Ah... — Ela segurou o prato para eu colocar a carne.
— Ele também é a pessoa mais teimosa e cabeça dura que eu já vi! — Yujun começou a rir.
— Ela já entendeu Yujun, não precisa gritar — respondi.
— Tão teimoso que não admite para si mesmo que está solteiro de novo.
— Tem uma tesoura de cortar carne bem aqui do meu lado, você viu né?
Yujun fez corações com os dedos os direcionando para mim.
— Nem vem.
— E você, Haerim — Yujun velozmente mudou a direção de seus corações para a menina —, está namorando alguém?
— Nossa — ela riu.
— Ignore ele, está bêbado.
— Tudo bem — sorriu. — No momento não estou vendo ninguém.
— É mesmo? — Yujun encarou nós dois.
— O que foi? — perguntei.
— Não, é que — apontou para uma direção qualquer — acho que ouvi o Donghyun me chamando lá dentro. — Ele estava pronto para zarpar dali. — A gente se fala depois.
— Espera aí... — o segurei pelo cotovelo e cochichei: — Você não está fazendo o que eu acho que está fazendo, né?
Yujun me lançou uma careta e cochichou de volta:
— Não sei se percebeu, mas desde que a Yoojung terminou com você a Haerim está tentando chamar a sua atenção.
— É exatamente disso que estou falando.
— Qual o problema, você não gosta dela?
— Eu acabei de sair de um relacionamento, o que isso te diz sobre a situação?
— Meu Deus, não é como se eu estivesse te dizendo para namorar ela.
— Mas é isso que você espera que aconteça.
— Não vai te matar conversar com uma garota que não seja a Yoojung, sabia? Vai que vocês dois têm mais em comum do que você imagina?
— Eu não acredito que estamos discutindo sobre isso de novo. Vocês não podem simplesmente me deixar em paz?
— Só estou tentando te ajudar! — Yujun acabou se alterando.
— Me ajudar? — ri brevemente. — Vocês só queriam sair para se divertir e me usaram de desculpa. Olha, o trouxa que levou um pé na bunda está fazendo aniversário, vamos fazer uma média e fingir que a gente se importa.
— Agora você está sendo idiota. — Yujun puxou o braço se livrando da minha mão que segurava seu cotovelo.
— Vai dizer que estou mentindo? Olha em volta, a metade dessas pessoas eu nem sei quem é! Vocês só ficaram com pena de me largar sozinho no meu aniversário e inventaram essa festa ridícula!
— Vamos tentar manter a calma... — Haerim cogitou se aproximar, contudo, recuou assim que olhou para mim.
— Você também. — Me virei a ela. — Pare de ser legal comigo só porque eu levei um fora, é irritante. Nunca, nem uma vez sequer, você quis conversar comigo antes. Agora, de repente, eu fiquei interessante?
— Qual é o seu problema?! — Yujun me empurrou.
Antes que algo mais pudesse acontecer entre mim e Yujun, Haerim alcançou a jarra de água na mesa ao lado e jogou todo o líquido na minha cara. Sua feição demonstrava bem a raiva que estava sentindo naquele instante, enquanto seus olhos não escondiam ter ficado magoada com o que eu disse. Então ela se virou e foi embora.
Tomei alguns segundos para processar o que estava acontecendo, e só então percebi haver um grupo de pessoas nos rodeando e murmurando. A quanto tempo estavam ali? Provavelmente o suficiente para presenciar o caos que comecei.
— Quem sabe assim esfrie a cabeça. — Yujun também se afastou, evidentemente desapontado.
Nem deu tempo de imaginar que não poderia ficar pior, visto que assim que as pessoas foram se afastando, vi Yoojung. Estava me encarando com um olhar que até agora não sei dizer se era de pena ou desaprovação. Mas era como se suas pupilas vissem através da minha alma. Seu atual namorado também estava lá, ele a pegou pela mão para saírem dali.
Vergonha, era o que eu estava sentindo naquele momento. Eu precisava ficar sozinho, por isso fui caminhar na praia em frente à casa onde a festa estava acontecendo. Estava escuro e mesmo que minha cabeça estivesse a mil, o som do mar até me acalmou um pouco.
— Seria bem mais fácil se eu morresse agora. — Balancei a cabeça.
— Cuidado com o que deseja.
Uma voz no meio da escuridão me arrancou um calafrio. Apurei a vista tentando encontrar quem havia falado. Direita, esquerda, frente, atrás. Não tinha ninguém.
— Quem está aí? — perguntei.
E então, logo atrás de mim, o velho senhor voltou a falar:
— Se você prestar mais atenção ao seu redor, talvez encontre o que procura.
Me virei rapidamente e lá estava ele: um idoso com um jarro de vidro cheio de conchas. Quase morri do coração, o que me levou a morder o lábio para não gritar um palavrão.
— Senhor, já não é muito tarde para você ficar aqui? É perigoso.
— Vim te fazer companhia para que não faça besteiras.
Senti um frio na barriga, daqueles que te fazem querer sair correndo.
— Está tudo bem, eu já estava voltando, o senhor pode ir para casa — recuei em dois passos.
— Você está fugindo de novo.
— O quê?
— Eu já lhe disse, se prestar mais atenção vai encontrar o que está procurando. — Abriu seu jarro de vidro e me entregou uma pequena concha azul.
— Por que está me dando isso?
— Todos merecem uma segunda chance. — Apertou minhas mãos. — Mas tome cuidado, você já desejou algo muito perigoso agora pouco. Seja mais prudente.
Ele se afastou um pouco e fechou seu jarro de vidro que, graças à luz da lua, notei ter uma etiqueta com algo escrito:
MEMENTOS
— Espere um momento. — Fiz uma careta. — Quem é o senhor? Por que está me dizendo essas coisas?
— Não se esqueça de ser claro quando for pedir o que quer, ou ela não irá te entender. — Ele se apressou em caminhar na direção oposta.
— Ela quem? Ei, espere!
Neste instante escutei um sussurro vindo da concha, quase como se tivesse chamado meu nome. Pelo susto a joguei no chão, porém o silêncio retornou imediatamente. Quando voltei a encarar o horizonte, o idoso havia desaparecido, parecia até que se desfez no ar, pois nem suas pegadas na areia estavam lá.
— Mas que droga está acontecendo aqui...?
O homem sumiu e junto suas pegadas, mas a concha ainda estava aqui, isso confirmava que minha mente não estava me pregando peças. Peguei a concha novamente apenas por curiosidade e a iluminei com a lanterna do meu celular.
Em poucos segundos escutei uma tempestade se aproximando.
— Melhor eu voltar antes que comece a chover... — com pressa, tentei verificar cada pedacinho daquela concha. — Não parece ter nada especial, diferente do que aquele velho fez parecer — suspirei. — O que eu desejo, é? Talvez voltar para antes da meia-noite e não ser um escroto.
Assim que ri, senti uma dor aguda após cortar a ponta do dedo na concha.
— Ótimo, agora mais essa.
Num piscar de olhos a tempestade já estava em cima de mim. Rapidamente um tornado começou a se formar bem ao meu redor. Tentei correr, mas já era tarde demais, eu estava sendo carregado para longe com a ventania. Só me restou fechar os olhos e gritar pela minha vida.
O ar começou a faltar e senti ser meu fim.
Até que parou de girar e eu caí.
No momento em que meus pés estavam firmes no chão, puxei o ar com força. E quando abri os olhos, mal pude acreditar no que vi.
˙·٠•💜•٠·˙
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro