💫Jinjin → O Equilíbrio entre a Dor e a Felicidade |1
Aviso de Gatilho
Esta história aborda alguns temas sensíveis. Se ao decorrer da leitura você se sentir desconfortável, por favor pare de ler. Sua saúde mental vem sempre em primeiro lugar
Atenciosamente, equipe
Fanfics Union
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ESPERANÇA
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O café da manhã parecia sem gosto e frio. Pela janela do quarto, a luz do sol entrava timidamente e Jinjin tentava capturá-la com seus dedos longos e finos. Os fanhos raios amarelos iluminavam teatralmente os cabelos lilás azulados do garoto coreano, enquanto este divagava em pensamentos distantes. O caderno aberto sobre a mesa de estudos denunciava o possível motivo da sua viagem interna: Urano e Netuno figuravam em belos desenhos feitos há não muito tempo, com caneta de tinta azul. Jinjin estava em seu próprio mundinho, dentro de seu livro recém escrito sobre um planeta distante. As coisas costumam ser mais fáceis numa realidade em que não é preciso tomar remédios para estar bem.
— Acordou mesmo ou esqueceu de trazer a alma de volta para o corpo?
Assustou-se com o brusco aparecimento, mas limitou-se a dar ao pai um "bom dia" desinteressado e distante. O homem continuou:
— Não esquece de tomar os remédios no horário certo, fico preocupado de você ter crises na rua e não ter ninguém para ajudar.
— Uhum.
— Esquece esse caderno e presta atenção nas aulas, eu entendo que com as mudanças recentes você esteja chateado, mas suas notas não podem baixar drasticamente.
— Eu tenho consciência de tudo isso e já tomei o remédio da manhã— Jinjin respondeu, rudemente.
O celular do garoto tocou em seguida: era sua mãe. Tudo de que não precisava naquele momento era daqueles sermões matinais do pai e das ligações inconvenientes da mulher tentando reaproximação. Ele desligou.
— Era sua mãe?
— Vamos ter essa conversa de novo? Não vou atender e não vou falar com ela, goste você ou não.
— Independente do que aconteceu entre nós, ela continua sendo sua mãe e sempre cuidou muito bem de você.
— Olha só, eu sinceramente não me importo. Ela te traiu e te fez sofrer e eu não quero contato com ela, é muito simples. Isso destruiu nossa família e destruiu você.
— Eu já te falei que isso foi entre mim e ela. É a sua mãe e mesmo tendo feito o que fez, ainda se importa com você. E eu fico surpreso que você se preocupe comigo. Parece tão frio e distante às vezes. Isso me preocupa também.
A resposta demorou muito a ser dada. Talvez Jinjin odiasse a mãe, sentia isso vez ou outra, mas nunca deixava o pensamento criar raízes, afinal ela era mãe de todo jeito, e não se pode pensar isso de uma mãe.
Ele respirou profundamente e apertou seu punho embaixo da mesa. Sua perna direita começou a balançar em movimentos frenéticos enquanto seu olhar foi voluntariamente desviado da imagem alta e imponente de seu pai, para a conversa aberta em seu WhatsApp. Ela demorava muito para respondê-lo.
— Estou falando com você.
— Eu já falei que não quero ter essa conversa. Por favor, me dá licença.
— Olha a grosseria, não sou parceiro seu. Sou seu pai e quero que você se torne um adulto maduro e sem esse tanto de ódio no coração.
— E se eu quiser ser assim?
— Então vai morrer sozinho.
Olhou mais uma vez para o celular e não sentiu nenhuma vibração, a confirmação de leitura não estava azul, a mensagem nem mesmo foi entregue. Ela estava sem internet? Ela o bloqueou? Ele falou alguma coisa errada? Só queria saber se ela iria à escola. De supetão, o celular foi retirado da sua frente.
— Olha garoto, tira a cara desse telefone e presta bem atenção: se não quiser ser amigo da sua mãe, beleza, eu não gasto mais a minha energia com isso, mas você vai fazer contato e vai pedir desculpas por estar fazendo ela sofrer.
— Só que ela também nos fez sofrer.
A respiração de Jinjin ficou pesada e seu punho cerrou-se ainda mais. Seu pai olhou rapidamente o celular, antes do filho tomar-lhe da mão com rebeldia.
— Para de ler meu celular.
— Que bom que está se interessando por outra pessoa. Depois que aquela outra garota te rejeitou você se enclausurou no seu livro. Fico orgulhoso em saber que você tem um novo hobbie, mas precisa pensar em outras coisas também.
— Só pare de ler meu celular.
Suas bochechas ficaram rosadas diante da constatação de seu pai. Já tinha pensado outras vezes se também não gostava dele. Mas talvez o problema fosse só com a mãe, o pai conseguia ser agradável quando queria.
— Cuidado para não assustar a menina com esse papo de amor verdadeiro que você coloca em seus escritos — o pai dele riu.
— Acho muito improvável a Rebecca aceitar meu pedido para sair.
— Olha só, é a primeira vez nesse diálogo que você me responde decentemente. Fico feliz com a sua nova tentativa, só faltou pedir para morrer da outra vez. Essas coisas acontecem com todo mundo, cuidado para não acabar morrendo sozinho.
Jinjin sentiu sua garganta apertar e um calafrio percorrer sua espinha. Ele a queria mais do que qualquer outra coisa. Observou-a durante muito tempo na biblioteca. Seus cabelos muito cacheados caindo pesadamente até o meio das costas eram dignos de uma princesa que nem a protagonista de seu livro. Mas Rebecca conseguia ser mais bela do que qualquer descrição que pudesse ser feita em qualquer uma de suas histórias.
— Ainda estou aqui e continuo falando com você.
— Não brinca!
— Sem sarcasmos a essa hora. Enviou seu livro para a semana da biblioteca? Não me ligo nessas coisas de outros planetas, estrelas e busca de amor verdadeiro, mas você é bom no que faz.
— Enviei, mas não alimento esperanças. E...
De repente percebeu que até isso o lembrava de Rebecca, ela era estagiária na biblioteca da escola.
— E? Eu tô esperando você terminar de falar.
— Não tô a fim de falar dessas coisas com você. Mas tenho medo de dar tudo errado mais uma vez.
— No seu lugar eu também teria, você é meu filho, mas é meio estranho. Mas não esquenta com isso, é só um não, com o tempo doerá menos.
— Por que ainda te faço perguntas?
— Porque sou seu pai e, goste você ou não, minhas opiniões ainda são importantes para ti, mesmo de forma inconsciente. Agora termina logo de comer e se arruma para a escola.
— Ok, agora tchau.
— E não se esqueça de falar com sua mãe. Escritor apaixonado deixa tudo para depois.
Enquanto se trocava, Jinjin se perguntava se realmente morreria sozinho. Estava a quilômetros de distância da sua terra natal, no Brasil ele destoava completamente da multidão. Dificilmente seria querido e olhado com amor. Encolheu o rosto ao pensar sobre isso, ao mesmo tempo que necessitava desse amor, sentia nojo. Era estranho procurar afeto e amor e, ao mesmo tempo, sentir repulsa por ele, como se não fosse o seu direito ou como se as garotas fossem mesquinhas o suficiente para não ficarem com ele por tais motivos. Afastou o pensamento. Da parede do quarto dele, sua protagonista fitava-o seriamente, como se ouvisse o que ele acabara de pensar. Ela era a própria imagem e semelhança de Rebecca, a garota mesquinha que agora o ignorava.
Estar interessado em alguém ajuda não só a esquecer a tragédia que foi o encontro anterior bem como deixar de lado a existência de sua mãe. Estava certo de que iria fingir que o pai não falou nada sobre ela. Não queria contato e nem fazer as pazes, até porque ela havia começado tudo, e para Jinjin não tinha mais volta.
Para se entorpecer, gostava de navegar por planetas em seus sonhos, buscando Rebecca em meio aos anéis de fumaça. Nunca queria acordar nesses momentos, eles eram apenas seus e dela, um segredo que só encontrava sentido enquanto dormia. Três dias antes ao falar com ela pela primeira vez na biblioteca sentiu como se estivesse abrindo a porta de uma nova realidade, sem bater e sem ser anunciado, o sabor doce e sereno do reencontro. Um reencontro de almas.
Talvez ela fosse apenas mais uma metida e xenofóbica que pisaria com prazer em seu coração frágil. Todavia Jinjin não se importava, só se mantinha olhando o celular esperando algum sinal enquanto calçava displicentemente seus sapatos. Ela iria devorá-lo e consumi-lo como todas as outras faziam, e iria pisotear todos os seus sentimentos, era sempre assim com ele. Talvez ela quisesse um esportista mau, quebradores da lei, cobiçados por toda a escola, altos, brancos, loiros, morenos, os olhos, ah meu Deus, os olhos azuis e verdes. Estremeceu à sombra desses pensamentos e rapidamente mudou o foco para os livros que estavam sendo colocados em sua mochila.
No celular, apenas uma cacetada de ligações perdidas de sua mãe que continuariam mofando, nenhum sinal de Rebecca. Sentiu raiva. Ele já amava com tanta força mesmo sabendo que tudo poderia dar errado como sempre dava. Por que a revolta? Por que o sabor agridoce da sombra de expectativas quebradas? Não fazia sentido. Nada fazia sentido. Mas aí, sentiu uma leve vibração vinda do seu bolso.
Nesse momento suas pernas estremeceram como se estivessem expostas a uma rajada de vento frio do inverno coreano; suas mãos derreteram de suor e quase fizeram o celular escapar para o chão. O quarto girou e girou e girou como se estivesse se desconectando da realidade e entrando em um mundo paralelo, em uma dobra desconhecida no espaço-tempo. Lembrou-se do seu livro e se viu procurando por ela em meio a bilhões de galáxias e nebulosas, havia uma porta flutuando em meio a gravidade zero: atrás dela estava a sua felicidade. Não precisava bater nem anunciar a sua chegada, apenas adentrar o recinto e receber de braços abertos o amor de sua vida. Esquecera até mesmo dos remédios que deveria ter tomado.
Era chegada a hora, o momento de experimentar o afeto de que tanto precisava, aquele que nem mesmo a sua mãe fora capaz de lhe dar. Uma nova pessoa o esperava para enfrentar aquele universo hostil, juntos. Respirou fundo enquanto fitava por mais um momento a constelação de Órion na tela de bloqueio do seu celular. Desbloqueou como quem abre o baú de um tesouro perdido, e finalmente encontrou o "bom dia" e uma confirmação.
O dia seguinte seria de muita felicidade.
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