💫Eunwoo → Suave como Creme de Avelã |2
CAPÍTULO DOIS
Se o verdadeiro amor é suave
Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor.
1 Coríntios 13:5
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𝖣𝗈𝗋𝖺
"Eu não confio nele, vocês não podem continuar essa amizade. Sou eu ou ele, você escolhe." Apertei os olhos, meus pensamentos pareciam incontroláveis a ponto de eu não conseguir definir o que era real ou não. Me esforcei para continuar acordada e foquei os olhos em você com toda a minha força de vontade, mesmo que a voz dele insistisse em sussurrar palavras estranhas em meus ouvidos.
A quentura do leite esquentava levemente a caneca em minhas mãos, eu espremia os dedos uns nos outros com força enquanto apertava o objeto de louça branca.
"Você é muito infantil, ou muito sonsa, se não consegue enxergar como ele é ruim para você!" A voz repetia, dentro da minha cabeça, como um alarme chato que toca vinte vezes para estragar justo a melhor parte do sonho. Meus dedos começaram a suar e eu tive medo que você notasse, por isso descansei a xícara numa mesinha e enfiei as mãos entre as pernas. Mordi os lábios com força, como se aquela pequena sensação de dor fosse necessária para me afastar dos barulhos que só eu conseguia ouvir.
Você estava de costas para mim, atrás do balcão da cozinha, e eu não sabia o que lhe dizer. Tinha tanta coisa para falar, mas não sabia se conseguiria conter o choro que ameaçava descer só de imaginar explicar o quanto estava me sentindo patética.
Com um pote de cookies fresquinhos, você voltou para a sala. O cheiro quente e doce de baunilha e açúcar destoava do clima frio, úmido e nublado que podia ser visto nas frestas de cada janela ao nosso redor.
Se não estivesse tão acabada, eu teria aproveitado da situação para dizer como era engraçado haverem diversos cookies, do meu sabor preferido, prontinhos e me esperando como se adivinhassem a minha visita.
Eu estava sentada numa poltrona de couro e bem na frente de uma mesinha de centro de vidro, você veio até mim e colocou os cookies na mesa para só depois se sentar no pequeno sofá de dois lugares à frente.
Era como voltar no tempo, você continuava exatamente como me lembrava: bonito, calmo e acolhedor. Gostaria de dizer que eu também era a mesma de quando éramos inseparáveis nos nossos bons tempos, mas não era verdade, eu estava um verdadeiro desastre.
Provavelmente tinha os olhos inchados e o nariz vermelho, mesmo assim você não perguntou o motivo do meu aparecimento repentino quando puxei sua cintura e chorei em seu peito, também não hesitou em me deixar entrar.
Depois de me servir leite morno e aparecer com um pote cheio de cookies — como se soubesse exatamente do que eu estava precisando — você me observava atento, com os olhos bem abertos, vi seus dedos tremerem ao levar a caneca até os lábios. Será que estava tão nervoso quanto eu?
Abri a boca e ameacei falar, mas não tive forças para pronunciar nenhum som. Você me olhou, parecia decepcionado e confuso, como se estivesse procurando pelas explicações que eu ainda não estava pronta para lhe dar. Depois, hesitante, você desceu os olhos até os cookies de gotas de chocolate.
— Quer um? — me perguntou, apertando os olhos.
Aceitei sem falar uma palavra, enfiei o biscoito inteiro na boca na tentativa de disfarçar a vergonha que estava entalada na minha garganta desde que pus os olhos em você. Sentia pena de mim mesma, do que havia me tornado. Como eu poderia explicar o quão piedosa havia se tornado a minha vida?
Você, por outro lado, parecia ótimo. Sua casa era isolada em uma parte deserta de Gyeongju, aquele clima silencioso, confortável e campestre sempre combinou muito com você. A casa não era pequena e nem grande, mas extremamente acolhedora. Para mim, parecia um esconderijo impenetrável para os problemas, o lugar que eu tanto precisava, como uma ilha paradisíaca beirando a utopia, por um momento eu me peguei invejando aquela calmaria porque acreditava que as coisas ruins só aconteciam comigo.
Olhava ao redor e, por mais que tentasse desviar, tudo o que eu via era você, na decoração simples de cada encanto de sua casa: nos tapetes felpudos, cor de carvalho profundo, no relógio de parede compacto e moderno, no teto de madeira ou na lareira que existia no canto da sala, tudo era muito a sua cara. Você sempre foi cheio de si, sempre foi determinado e sólido. Não hesitava e nunca perdia a essência. Você era real além da conta e saber disso doía muito, pois eu sentia que estava desaparecendo como poeira estelar.
Pela segunda vez, tentei abrir a boca, mas depois de alguns segundos cerrei os dentes com força. O silêncio entre nós gritava, porém, você continuava calmo demais. Observei quando comeu dois biscoitos, um atrás do outro, e assoprei o leite que já estava quase frio, grudei os olhos no líquido branco para não ter mais que olhar em sua direção.
Me perguntava como que havia chegado num estado tão deplorável, mas a pergunta batia entre as paredes do meu ser e reverberava oca, vazia. Minha mente era um grande embaraço, uma mistura de dor e incredulidade.
Será que tudo começou a ruir quando nos afastamos? Só sabia que foi depois daquele beijo na pracinha que as coisas esfriaram entre nós, nossa amizade deixou de ser a mesma e, pouco tempo depois, conheci ele.
No início, achei que ele fosse meu verdadeiro amor.
Ele, era um daqueles caras descolados que todo dia aparecia no prédio da Universidade de Seul num carro esportivo de luxo diferente. Do tipo que roubava os olhares de todos e não se esforçava para tirar boas notas porque o dinheiro da família comprava a pontuação que ele nunca chegou a ter. Eu não sabia nada de carros caros, mas me deixei levar na primeira vez que atravessei a porta e me sentei no seu banco de couro amendoado, tinha um cheiro amadeirado luxuoso que me viciou em pouco tempo. Logo em nossa primeira viagem, ele me agarrou e me fez sentir aquela adrenalina de centenas de quilômetros por hora que parecia ser tudo o que eu precisava e escorria como areia entre os meus dedos. Deixei que ele tomasse o volante inteiro só para si e me guiasse nas estradas por afora, que me levasse onde bem-quisesse e fizesse de mim o que gostasse, parecia confortável e conveniente demais, mas só parecia. Uma nova ilusão.
Diferente da nossa relação passiva, Eunwoo, com ele eu me sentia numa corrida. Estava sempre me esforçando para entrar em seu ritmo, vestir as roupas que ele gostava ou gastar meu tempo nas festas que ele tanto frequentava. Não importava se eu estava curtindo ou não, porque aquela aura independente e imprevisível que ele exalava parecia suficiente para me manter entretida e estar ao seu lado me tornava mais importante do que nunca fui. Ao lado dele, eu achava que estava no auge da minha popularidade, no auge da minha carreira, só não percebi que, aos poucos, eu estava me esvaziando cada vez mais de mim.
Pensando bem, tenho certeza de que foi assim que cheguei ao fim do poço.
Nessa época, você estava distante de mim. Eu quase não me importei, estava ocupada demais me enchendo dele e de suas vontades, me entorpecendo com a insegurança de um dia ser a mulher mais amada do mundo e, no outro, ser apenas uma das tantas outras na vida do cara mais descolado do campus. Era viciante e perigoso, como andar numa montanha-russa, cheia de altos e baixos.
Quem diria que aquela loucura acabaria no altar?
Meu casamento era como um surto coletivo na minha cabeça, por mais que pensasse eu não sabia dizer o porquê havia enfiado minha vida em tanta confusão. A família dele sempre foi desagradável comigo e nunca fez questão de esconder isso, para eles eu nunca passei de uma interesseira, eu só fazia vista grossa porque acreditava ser esse o meu papel como esposa. Nada mudou, mesmo casada eu nunca me senti única, como se estivesse dividindo espaço com outras milhões de coisas e pessoas, mas ele sempre me dizia que tudo não passava de paranoia da minha cabeça.
Ele era muito rico, então, depois de casados, disse que era uma vergonha que sua esposa precisasse trabalhar, que se vestisse como uma qualquer ou aparecesse nas manchetes das revistas. Eu abri mão de muita coisa por causa dele, até da minha profissão, pensava que aquilo devia ser o tão famoso "sacrifício de amor".
Fui me reduzindo para caber em seu mundinho glamouroso, para morar no peito dele, fui reduzindo até sumir. Tão pequenina que ainda não me sentia mais eu. Como estar flutuando fora do meu próprio corpo, como se fosse uma estranha dentro de mim mesma. Como uma lagarta que não sabia se era uma borboleta ou uma mariposa, mas a verdade difícil de engolir é que eu tinha muito medo de descobrir o resultado de tanto tempo enfurnada no meu casulo.
E se minha metamorfose não desse em nada? Será que eu continuaria sendo uma lagarta para o resto da vida? Pelo menos, uma lagarta de verdade tinha seu casulo para chamar de lar. Já eu, estava sem nada: descoberta e ao relento, era assim que me sentia.
No pior momento da minha vida, me lembrei de você e pensei em voltar. Me sentia uma completa egoísta por aparecer do nada e sem dar nenhuma explicação, mas você foi a única pessoa que passou pela minha cabeça e pensei que, talvez, poderia abrir a porta para mim. No fundo, mesmo vazia, eu nunca me esqueci de você.
Você parecia uma borboleta, Eunwoo. Uma linda borboleta que sabia exatamente onde pousar, que estava cumprindo seu papel no avanço da sociedade. Pensar nisso doía pra caramba! Será que eu era a única perdida? Eu queria ser como você.
— Não quer mais biscoito? — você perguntou, estendendo a vasilha de cookies na minha direção.
Minha cabeça explodia, eu sentia que não tinha o direito de fazer aquilo, como se fosse uma aproveitadora que retorna só quando precisa de ajuda. Mas eu estava desamparada e sem alternativas, por isso, deixei escapar aquela frase que estava lutando para sair desde que peguei o táxi e mandei que me trouxesse até sua casa:
— Eu... posso ficar aqui?
Meus dedos quase poderiam pular para fora do tanto que eu os apertava, nervosa. Você quase entalou com minha pergunta, deu umas tossidas frenéticas antes de me olhar abismado. Eu estava esperando pelo pior, mas mesmo assim perguntei. Abaixei a cabeça e encolhi as pálpebras, pensando no papelão ridículo que estava prestando na sua frente. Claro que você devia ter sua vida e seus problemas para lidar, claro que minha presença era só um inconveniente.
— É só por uns dias, até eu alugar um cantinho em que possa dormir...
— Você pode ficar.
Então foi minha vez de ficar surpresa. Arregalei os olhos como duas bolas de pingue-pongue e entortei o rosto em sua direção, pois não esperava uma resposta tão confiante sair de seus lábios. Minha boca se abriu instintivamente, espantada, como se não acreditasse no que acabara de ouvir.
— Quero que fique aqui comigo, Dora.
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𝖤𝗎𝗇𝗐𝗈𝗈
Você voltou. Você voltou. Você voltou!
Meu coração pulava como se acontecesse uma festa em meu peito, mas outra parte de mim se sentia culpada por estar tão animado ainda que você parecesse tão triste. Era como um sonho, por isso, às vezes me beliscava só para conferir se ainda estava acordado.
Você comeu alguns cookies e pediu para passar alguns dias comigo. Eu estava me controlando para não fazer nenhuma besteira, mesmo que minha vontade fosse de confessar os sentimentos que tanto guardei a respeito de você. Queria confessar meu amor, queria dizer que pensei em você todos os dias ao longo dos últimos anos que permanecemos distantes, mas não podia me precipitar.
Assistimos a um filme juntos. Nem me pergunte sobre o que falava porque minha mente não conseguia focar em nada que não incluísse seu rosto redondinho e bonito ou os cachos de tom amendoado escuro que desciam por seu pescoço e pendiam pouco acima de seus seios. Você estava mais tranquila quando bocejou no meio do filme, era fofa até com sono.
Seus olhos sonolentos foram os responsáveis por me lembrar que só tinha um quarto na casa e ele estava uma completa bagunça! Saí dando a desculpa de que ia procurar novos lençóis para forrar a cama quando, na verdade, fui empurrar todo o lixo e a bagunça do quarto para o closet.
Após julgar que tudo parecia mais apresentável, voltei para sala onde você estava. Devo ter demorado tempo demais no quarto, porque quando cheguei você estava deitada no sofá, abraçando uma das grandes almofadas e dormindo. Ainda que o sofá fosse bem pequeno, ele tinha o tamanho ideal para comportar seu corpo encolhido.
Sem pensar duas vezes, me aproximei de você.
Com os olhos fechados e a respiração desregulada, você parecia um anjinho sonolento, muito longe da imagem arrasada que bateu em minha porta mais cedo. Todavia, seus olhos ainda tinham as bolsas d'águas meio inchadas devido ao choro e as maçãs do seu rosto estavam mais vermelhas que o habitual, mas nada disso lhe deixou menos adorável.
Sentei no chão, bem ao seu lado, e inclinei meu rosto próximo ao seu. Tirei alguns fios de cabelo que tapavam a sua face com cuidado e me permiti contemplá-la até que ficasse satisfeito.
Eu ainda não acreditava que você tinha voltado e — mesmo que uma parte minha estivesse morrendo de curiosidade mais um misto de receio para saber o motivo que lhe deixou tão abalada e atordoada, antes de voltar — meu peito pulsava de alegria com a ideia de poder pelo menos lhe contar toda a verdade. Não esperava que me retribuísse e provavelmente eu estava sendo bem egoísta ao decidir contar agora, é só que guardar meus sentimentos por você por tanto tempo parecia um líquido corrosivo no meio das minhas entranhas.
Estava disposto a ser paciente, mas não hesitaria dessa vez.
Levei uma das minhas mãos até sua cabeça e levemente acariciei os fios de seus cabelos, era bom demais sentir o calor que emanava de você, era bom demais tê-la ao meu lado para que eu finalmente pudesse cuidá-la de pertinho, como sempre sonhei.
Foi com esse pensamento que, mesmo com você adormecida na minha frente, pela primeira vez permiti escapar a confissão mais sofrida dos meus lábios:
— Amo você, Dora. Eu sempre amei.
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𝖣𝗈𝗋𝖺
"A culpa é sua! A culpa é sua!" A voz berrava tão alto que meus ouvidos começaram a derreter como cubos de gelo. Uma dor ensurdecedora, logo se tornou um zumbido extremamente agudo e incessante, como um apito infinito. Andei para um lado e para o outro, gritei, mas não pude ser ouvida, não conseguia ouvir a minha própria voz porque o apito estava sempre falando mais alto do que eu, até que chegou num momento em que me acostumei com o zumbido e ele passou a me acompanhar em tudo o que eu fazia, seguindo meus passos.
No início, eu até tentei correr, mas, quando dei por mim, já estava parada diante daquele corredor salmão, com três quadros enfileirados em cada lado e uma grande porta à minha frente. A porta não falava, mas seu silêncio não foi capaz de ocultar o alvoroço que acontecia por trás de si. Barulhos distantes chamaram a minha atenção. Risadas repetidas e gritinhos eufóricos ecoavam atrás da porta. Pisei fundo e corri na direção dos sons, era como se eu fosse capaz de prever as próximas cenas como alguém que assiste a um único filme repetidas vezes.
Girei a maçaneta com força até demais e notei que era uma voz feminina que ecoava em casa, na nossa casa. Mesmo que, no fundo, eu já soubesse a verdade, demorei para assimilar quando finalmente o peguei no flagra no meio de uma traição.
"Cuida da sua vida! É por isso que ninguém suporta você!" Quando virou em minha direção, tinha o semblante de nojo e suas pálpebras contraídas me encaravam como se declarassem a mim como a inteira culpada daquela patética situação.
Não pareceu nem um pouco arrependido, o nariz permaneceu empinado e pontudo quando gritou em minha direção com a voz carregada de ódio e disse que eu estava tão fria e sem graça que precisou procurar a quentura de outros corpos para se aquecer. "Você não me merece, não merece amor!" Na verdade, em questão de segundos ele conseguiu colocar a responsabilidade toda em mim, e o pior foi que eu acreditei. Suas palavras cortavam como facas amoladas, esquartejando meu coração e destroçando o que havia sobrado da pouca esperança que eu ainda guardara.
Foi assim que o casamento mais tosco do mundo acabou, sim, era o meu casamento. Após ele me impedir de continuar lutando por nós dois. Porque eu havia me tornado uma criatura tão idiota e minúscula que nem me foi concedido o direito de pôr um fim naquilo que, àquela altura, eu já nem sabia definir o que era. Me sentindo traída, com o total de zero dignidade no estoque, eu tentei engolir meu orgulho e pedir para voltar, mas, em menos de dois dias, o inferno já havia sido armado contra mim e só restou a opção de me esconder.
Uma facada doeria muito menos. Após ser abandonada pela família que eu achei que tinha, a qual andei desperdiçando meu tempo durante tantos e tantos anos confusos, comecei a duvidar do amor porque ele parecia muito distante de mim.
Imagens avulsas começaram a correr diante de meus olhos, como uma retrospectiva de todos os momentos que me negligenciei e deixei que ele pisasse em meu corpo vulnerável, foram tantas vezes que comecei a chorar e, aos soluços e agouros, a escuridão me devorou.
Começou como uma alça grossa que se prendeu em meus pés, como uma corda de palha que pinicava e feria. A alça se enroscou em meus calcanhares com força, como duas tornozeleiras de ferro, espremeu-os até quando bem-quis e, só então, puxou-me consigo até o breu. O breu era parecido com uma cratera bem funda no solo, como se fosse efeito de um impacto extraterrestre, era larga e muito fácil de entrar, mas impossível de sair. Como se toda a gravidade da Terra se concentrasse naquele buraco no chão, tinha uma força de atração terrível, de forma que parecia inevitável a minha queda.
Como era muito tarde para gritar ou correr, logo percebi que meu corpo estava caindo, desamparado.
No escuro silencioso, o único barulho que podia ser ouvido era a voz latente do medo que me perseguia como se fosse a minha sombra. A grande cratera pareceu se comprimir até começar a raspar a minha pele. Eu ainda estava caindo, mas agora também estava extremamente dolorida. Quando minhas lágrimas finalmente desceram, não conseguia distinguir se os gritos agudos que ouvi eram o som do meu próprio medo ou eram a dor das minhas feridas. Pensei que fosse uma mistura dos dois.
Como um poço sem fundo, eu continuava caindo eternamente, mas chegou num momento em que acreditei que estava perto do fim. Imaginei que a mim estivesse destinado o mais trágico final de cinema e uma morte dolorosa e confusa. Solitária, como uma maçã podre e desamparada ao despencar de uma bela árvore, imaginei que seria esmagada com o impacto da minha queda, mas, antes de encostar no chão, acordei suspirando pesado.
Minha respiração era profunda como se o ar que entrava em minhas narinas se perdesse no caminho até meus pulmões, ou como se acabasse todo o gás oxigênio do mundo. Demorei alguns segundos para entender que aquilo não passou de um pesadelo, muito vívido por sinal. As memórias, dos piores momentos da minha vida, ainda passavam em minha mente e se misturavam num emaranhado até formar uma nuvem escura, como aquelas que anunciam uma forte chuva. Meu peito doía e estava apertado, meu corpo estava dolorido como se tivesse acabado de lutar numa guerra e, por isso, passei alguns segundos só respirando e encarando o teto de madeira até finalmente reconhecer o lugar estranho e descobrir, por fim, que havia dormido no sofá da casa do Eunwoo.
Virei o rosto e mais um aperto no peito veio com tudo, quando vi uma figura ao meu lado, mas se dissipou ao descobrir que eram os traços finos e angelicais do seu rosto. Você estava dormindo e tinha o corpo sentado, com a cabeça apoiada no braço do sofá e bem ao meu lado. Estirei as mãos para alcançar seus cabelos escuros e afaguei-os com as pontas dos dedos.
Você era tão sereno, diferente do meu peito ofegante que subia e descia.
Naquele momento, me senti como uma formiguinha em meio a uma tonelada de açúcar. Porque você sempre parecia exceder tudo o que eu precisava ou merecia.
Quando o pesadelo pareceu mais distante e meus batimentos pareciam ter encontrado um ritmo que não me provocaria nenhum ataque fulminante, a sensação que inundou meu corpo ao observá-lo dormindo tão de pertinho foi doce e quentinha como o leite morno e os biscoitos de mais cedo. Aconchegante e firme como uma rocha sólida no meio do oceano: o único ponto seguro em meio a um mar de incertezas em minha vida, porque olhar para você me fez sentir um conforto gostoso no coração, pois era consolador saber que não estava mais sozinha.
Ter batido à porta e ela tê-la se aberto para mim, fez ressurgir em meu peito um sentimento familiar, mas que há muito tempo eu não sentia.
Tinha gosto de framboesa e baunilha e a razão era: você.
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