💫Eunwoo → Suave como Creme de Avelã |1
˙·٠• Dedicatória •٠·˙
Àquele que rompeu todas as barreiras por me amar: obrigada por nunca desistir de mim. Mesmo que eu não mereça, sei que permanecerá ao meu lado durante todos os dias da minha vida, ainda que os montes se movam e as colinas desapareçam.
Esta história também é dedicada àquele que me ajudou a descobrir e encarar com outros olhos as minhas feridas e mágoas que eu nem sabia existirem, que se abriu de corpo e alma e me mostrou na prática que vale a pena amar e se arriscar por amor. Obrigada por me ajudar tanto, nunca irei me esquecer, amarei você para sempre.
˙·٠•💜•٠·˙
CAPÍTULO UM
Por que você se contenta com a solidão?
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.
1 Coríntios 13:4
▬▬▬▬ 🧁 ▬▬▬▬
𝖤𝗎𝗇𝗐𝗈𝗈
Sol quente e cupcake.
O céu estava tão azul quanto o chantili fofinho em formato de morrinhos circulares e diminutos acima do pequeno cupcake de tutti-frutti que eu tinha em uma de minhas mãos. Espalmei a outra mão ao longo do avental cor de caramelo em volta da minha cintura e suspirei, sentindo o ar pesado sair de meus pulmões.
Era mais um dia monótono. Cansativo.
Triste como todos os outros.
Porque era mais um dia sem você.
Alcancei o chaveiro e destranquei as portas de entrada, escancarei os dois lados de suas extremidades de vidro temperado incolor e rodei a plaquinha em frente à rua que, aos poucos, perdia o cinza e ia tomando mais vivacidade e movimento. "Aberto" dizia o pequeno letreiro colado à porta de entrada.
Naquela manhã eu estava abrindo minha confeitaria e o cupkake de tutti-frutti acabara de sair do forno, com ele me veio uma lembrança ensolarada. A lembrança de um dia em que eu tinha um sorriso tão largo que poderia rasgar meu rosto em duas metades e, despreocupado, soltava gargalhadas sinceras. Ria alto e despreocupado, bem diferente do silêncio apático que tomou forma e se moldou à minha vida nos últimos tempos: como um gigantesco bolo ornamentado em formato de torre que, apesar de bonito, está prestes a desmoronar.
Entretanto, minha lembrança era indiferente à minha tristeza vazia, sua cor era azul e amarelo vibrante, tinha branco vívido também, uma cor quase ofuscante, como aquele riso exagerado que escapou de meus lábios assim que lhe avistei no horizonte. Tentei controlá-lo, mas foi em vão. Claro, como não estaria sorrindo? Eu estava olhando para você.
O sol refletia em sua pele de um jeito tão bonito que meu coração disparava a cada passo que dava em sua direção. Tinha as duas mãos ocupadas por dois cupcakes: de framboesa e baunilha.
Você escolheu o de framboesa e isso me fez automaticamente perceber que a cobertura rosada era a combinação perfeita para as duas maçãs coradas em suas bochechas. Tão bonita e radiante, essa era você em todas as minhas memórias.
Retribuiu-me um sorriso meigo que fez meu peito esquentar, eu ainda não entendia o porquê daquela sensação de formigamento nos dedos assim que sua mão levemente encostou na minha para pegar seu cupcake.
Sentei ao seu lado do banco como se estivesse flutuando ou perdesse a noção das coisas ao meu redor. Você pendurou a máquina de fotografia em seu pescoço e depois deu uma mordida no doce de framboesa.
— É uma delícia! — você gritou empolgada, deixando um pequeno gemido escapar, ainda saboreando o doce.
Eu era muito tímido, então tive que desviar o olhar porque ver você sorrindo daquele jeito e lambendo os lábios me deixava com borboletas no estômago e eu não sabia como lidar com tudo aquilo.
Olhei para meu cupcake de baunilha, antes de mordê-lo com tudo.
Você soltou uma risada alta e se esticou em minha direção com a máquina fotográfica em uma das mãos, eu só notei que você havia tirado uma foto quando ouvi o disparo da câmera.
— Está tão adorável com esse bigode de baunilha, Eunwoo... — disse você, com a voz manhosa e as palavras emendadas umas nas outras, encarando a foto que havia acabado de tirar. Meu coração derreteu como mousse fora da geladeira. — Tão fofo!
Foi como sentir um choque na espinha, aquela foi a primeira vez que meu corpo gelou ao ouvir um elogio seu. É verdade que há algum tempo eu já vinha me sentindo um pouco estranho ao seu lado, com uma mistura nervosismo e empolgação no peito, mas você não pareceu notar.
Seus cabelos ondulados voaram à frente do seu rosto quando me aproximei para tentar roubar a câmera de suas mãos.
— Apaga, eu devo estar ridículo na foto — mandei, mas quem disse que você me obedeceu?
Você esticou ainda mais o corpo para longe de mim e suspendeu a máquina em apenas uma das mãos.
— Não seja chato, tá uma gracinha! — protestou, enquanto eu me retorcia para alcançar sua mão.
Quando seu hálito quente bateu em meu queixo, percebi que estávamos muito próximos. Congelei, você era ainda mais bonita assim: tão de perto.
Tudo bem, assumo que eu já sabia que estava apaixonado por você, só não queria confessar. Apaixonado pela minha melhor amiga, quão clichê isso poderia soar? Não era um problema que eu estivesse apaixonado, se eu não contasse para ninguém poderia guardar aquele sentimento só para mim e não precisaria me afastar de você. Estava tudo bem para mim, tudo bem se não gostasse de mim da mesma forma.
Porém, naquele dia ensolarado, você complicou tudo quando me beijou. Enquanto eu estava pateticamente congelado na sua frente, você desceu os olhos até minha boca e largou a câmera para enroscar seus dedos em meu cabelo.
Você chegou perto e, sério, eu quase morri quando lambeu o início dos meus lábios antes de encostar os seus nos meus. Doce, extremamente doce, era o seu sabor. Descobri que framboesa e baunilha era uma combinação perfeita para se contrair diabetes instantaneamente, a textura macia da sua boca não colaborou com a festa de batimentos cardíacos que estourou em meu peito.
Você me beijou, será que sentia o peito apertado e os dedos suados também?
Foi um beijo longo, eu sobrevivi por um milagre dos céus, porque meu coração já estava pedindo arrego de tanta adrenalina percorrendo meu corpo.
Abri os olhos e encontrei você me encarando com as pálpebras semicerradas, mas aquele sabor açucarado durou muito pouco. Dois segundos depois a sua expressão se transformou em espanto, você parecia terrivelmente arrependida.
— Me desculpa, Eunwoo...
Estava pedindo desculpa? Me beijar foi um erro para você?
Meu pobre coração, antes tão feliz, se estilhaçou e meu peito doeu como se eu pudesse encolher até meu corpo inteiro sumir. Eu queria desaparecer ou ser desintegrado em um monte de pequenas moléculas.
Como um momento tão doce ficou totalmente amargo?
— Isso não vai acontecer de novo, foi culpa minha! — você explicou. A cada palavra que dizia o sabor se tornava ainda mais desagradável. — Podemos fingir que isso nunca aconteceu? — sugeriu.
Eu queria gritar um "não" bem alto para que todos ao redor na pracinha pudessem me ouvir.
Foi tão ruim assim?
— É claro! — respondi, com um nó na garganta, mas me esforcei para parecer firme.
— Que ótimo! Eu não quero que isso mude o que temos, porque somos amigos, não somos?
— Somos amigos.
Amigos. Eu havia prometido a mim mesmo que me contentaria com sua amizade, mas sentir o sabor de seu beijo foi como perceber que eu não conseguiria ficar ao seu lado apenas como um amigo.
Não dava para desfazer, não conseguia fingir que não aconteceu.
Cupcakes sempre me deixavam vergonhosamente emocionado e traziam à tona sentimentos quentes demais, sequei uma lágrima perdida que escorreu por minha bochecha antes de guardar o cupcake que estava em minhas mãos na vitrine do balcão principal.
Poucos segundos depois, percebi que não estava sozinho. Uma garotinha me observava atenta e vidrada, como se pudesse adivinhar meus pensamentos. Seus dois olhinhos arregalados mediam meus comportamentos, mas forcei um sorriso em sua direção e perguntei o que ela estava procurando.
— Quero um cupcake azul! — ela respondeu.
Depois que comprou, saiu saltitando pela avenida ensolarada até sumir de vista. Malditos cupcakes! Eu estava com os olhos lacrimejando, mas lutava contra a vontade de chorar.
É, faz muito tempo que não vejo você, faz ainda mais tempo que as coisas mudaram entre nós. Mas ficar sem você faz até o açúcar ser ensosso, o brilho do sol parecer triste e o pior é que essas malditas lembranças ainda são muito vívidas para mim.
Morrer aos poucos é a pior forma de levar a vida, mas é assim que me sinto todos os dias, desde que vi o sol quente brilhando nos seus cabelos ondulados e provei a mistura de baunilha e framboesa em seus lábios.
Porque, sem você, meus dias perderam todo o sabor.
▬▬ 🧁 ▬▬
𝖣𝗈𝗋𝖺
"No que você está pensando agora?" Eu conseguia escutar aquela voz rouca e prepotente se repetindo dentro da minha cabeça inúmeras vezes, como um disco arranhado. Seu sorriso frio no canto dos lábios parecia uma imagem gravada em minha memória, ou aquele seu olhar latente que me observava do topo da cabeça até os pés e urrava de prazer sempre que me admirava desnuda de alma e corpo, vulnerável. Vinha sempre com aquela pergunta na ponta da língua: no que eu estava pensando? Naqueles longos minutos, essa era uma questão que nem eu saberia responder.
"Eu estou cuidando de você, seja menos ingrata!" A voz gritava, meus neurônios estavam a ponto de explodir. Minha testa queimava e eu não conseguia abrir meus olhos direito. Imagens turvas e escuras pairavam em minha frente, andavam de um lado para outro e se multiplicavam rapidamente. Uma sombra se tornou duas, três e quatro. Os borrões começaram a se unir, mas eu não conseguia identificar nenhuma imagem direito porque minha visão parecia ter me abandonado quando meus joelhos despencaram no chão.
De repente, uma das figuras chegou mais perto de mim, foi quando senti um forte aperto bem no final da barriga. Uma dor cortante como um chute no estômago, foi assim que percebi que não estava sonhando. Primeiro veio o frio na barriga, depois a vontade de vomitar.
Minhas roupas foram arremessadas por todos os lados e espalhadas pelo piso gelado e reluzente do hotel. Eu ainda podia sentir minha bochecha latejar e pegar fogo, cinco dedos estavam saltados e pintados de vermelho no lado em que meu rosto fora atingido.
Não conseguia respirar.
Cerrei os dentes, endureci o maxilar, estava no limite do precipício.
Abria os olhos, mas nada parecia nítido ou real. Uma onda de sombras e vultos bailavam e flutuavam diante de mim, eu já estava ficando tonta.
— Quem você acha que é? — Eu estava prestes a desmaiar, meu corpo permanecia jogado no chão, inanimado, como um saco de batatas. — Eu sabia desde o início que era uma interesseira. Nunca gostei de você!
A senhora de saltos finos de cor marfim continuava gritando e apontando em minha direção, naquele momento eu adoraria fingir que ela não falava comigo ou sair dizendo para todo mundo que tudo não passava de um engano. Mas, a quem eu estava querendo enganar? Eu recordava bem do tom agudo daquela voz prepotente desde que tive que encontrá-la numa reunião familiar, tudo por causa dele. Queria nunca tê-lo conhecido.
Com a bochecha apoiada no chão de mármore amarelado, chegou num momento em que eu não tinha forças nem para manter minha cabeça erguida, doía esticar as pernas ou tentar reagir.
— Você não vai conseguir o que quer, tá me ouvindo? — gritava, insistentemente. — Vou fazer da sua vida um inferno, não vai tirar nada do meu filho!
Ela tentou chutar meu corpo encolhido mais uma vez enquanto dizia, mas, no momento exato, alguns seguranças seguraram sua cintura e arrastaram-na para longe.
— Saia daqui! Suma de nossas vidas! — ela continuava a berrar, o coque que existia em seus cabelos tingidos de amarelo estava quase que completamente desmanchado. Mesmo ouvindo os gritos, eu não conseguia sentir meu corpo, muito menos me mexer.
Era um cenário de caos.
Após alguns minutos, um dos seguranças tentou estender a mão para me ajudar a levantar. Recusei a ajuda, ergui o corpo com meu último resquício de força e dignidade, ainda cambaleante, e tropiquei até catar todas as mudas de roupas que estavam espalhadas e, em seguida, enfiá-las no que havia restado da minha maleta amassada.
Soluços altos escaparam de minha garganta, eles dilaceravam tudo pelo caminho até sair. Quando tremores fizeram meu peito balançar e lágrimas escorreram por meu rosto, eu não sabia dizer se estava chorando de vergonha ou medo.
Havia passado os últimos meses enfiada naquele quarto de hotel, sem saber que rumo tomar na minha vida. A verdade é que eu esperava que os problemas desaparecessem, como num passe de mágica, se eu me mantivesse escondida só por mais um tempinho.
Fugindo, era incapaz de enfrentar.
Foi quando a realidade invadiu minha porta, pisou nas minhas coisas, esmagou meu corpo e estapeou meu rosto com tanta força que me dei conta de que estava sem saída. Ainda não acreditava no que estava acontecendo, como se tudo fosse um pesadelo assombroso que a qualquer momento deveria acabar.
Abracei o resto dos meus pertences como se fossem meu único elo com o real, controlei o choro para pelo menos não fazer escândalos antes de partir.
Sabe, não era essa a ideia de "até que a morte os separe" que eu tinha em mente quando disse "sim". Ainda doía pensar em como tudo acabou, a sensação era como sentir o corpo despencando do Monte Halla.
Eu o amava, pelo menos acreditava que o que tínhamos era amor.
Amor? Para mim o amor parecia uma completa piada, uma mentira, no momento em que, descalça, torci o tornozelo antes de chegar até a beirada do elevador e clicar no botão para descer.
Atrás de mim, funcionários socorriam e abanavam a mulher que me agrediu e expulsou do quarto aos gritos e tapas. Era impressionante como ela tinha vocação para se fazer de vítima e, pelo visto, isso nunca mudaria.
Entrei no elevador já destruída, mas, como se não fosse o bastante, antes que as portas fechassem um calçado pontudo foi lançado em minha direção e quase acertou a lateral de uma das minhas pernas.
— Nunca mais volte a Seul! — Não era um pedido, era uma ameaça.
As portas prateadas fecharam quando ecoou último grito da minha ex-sogra, que olhava para mim enquanto enchia os pulmões de ar com agonia, como se pudesse infartar a qualquer momento.
A musiquinha de fundo no ambiente tinha um ritmo clássico que destoava do meu estado deplorável, mas, foi dentro daquele elevador espelhado que finalmente descobri que estava totalmente por minha conta. Sem amor e, também, sem um teto.
Meu reflexo era como uma sombra borrada, miserável. Com o corpo inteiro tremendo pelos soluços incontroláveis, escorei as costas no espelho gelado e respirei fundo.
Não tinha aonde ir.
Estava atordoada, arrasada.
E sozinha.
▬▬ 🧁 ▬▬
𝖤𝗎𝗇𝗐𝗈𝗈
Gelado como sorvete, mas quente e sufocante como marshmallows torrando na beirada da fogueira. Mais uma vez, eu estava torturando a mim mesmo com tantas recordações de você explodindo em meus pensamentos.
Já era noite e minha cabeça doía só de lembrar. Era como se diversos martelos e pregos brincassem de sufocar minhas têmporas, meus olhos pesavam toneladas e parecia que minhas forças haviam abandonado meu corpo. Fraco e no fundo do poço, era assim que me sentia todas as vezes que revivia aquele dia cheio de luzes coloridas e sorrisos amarelados.
Assustadoramente vivas, aquelas imagens passavam como uma retrospectiva do desastre ou como um aviso de minha covardia. Lembranças cruéis que nunca fui capaz de me esquecer.
Tudo acontecia entre as grossas paredes brancas, mas eu não esperava encontrar tantas pessoas ali. Consegui reconhecer apenas alguns rostos entre muitos flashes de câmeras, parecia um encontro de celebridades. Semblantes felizes e olhares animados desfilavam por entre meus olhos e me faziam questionar se, entre todos eles, eu era o único infeliz.
No fundo, eu queria acreditar que tudo aquilo não passava de uma mentira, de um pesadelo ou de uma piada de mau gosto. Confesso que fiquei nervoso durante todo o caminho, mas andei na direção do altar e parei num cantinho entre duas paredes que davam perto de duas janelas de vidro colorido. Quando entrei, uma música melancólica tocava, o som agudo do violino parecia remeter a todos os meus erros — como se lesse meus pensamentos e os escancarasse aos quatro cantos —, todos os meus arrependimentos, tudo o que fiz e, o mais importante, o que não fiz. Minhas mãos tremiam e suavam, mas quem não ficaria nervoso estando na minha pele?
Descobri da pior forma que realmente acontecia como costumavam dizer, sempre atrasava. Após passar mais de uma hora do combinado, eu já não suportava mais olhar para a cara dele. Tudo bem, já sabia que não podia reclamar muito, mas, tinha que ser ele?
A música melancólica parou de repente e deu vez à clássica música de entrada, tudo o que estava em volta de mim, congelou. Não conseguia ouvir nada além dos batimentos do meu coração, cada batida não doía menos que um soco no peito e se intensificava cada passo calmo que você dava.
O vestido branco encrustado de pérolas reluzentes lhe deixava ainda mais bela, seus olhos castanhos brilhavam como cristais. Em seu pescoço, havia uma corrente prateada com uma lágrima de rubi no pingente que, estranhamente, combinava com a cor dos seus olhos; em suas orelhas, um simples par de brincos completava o conjunto de adereços. Mas, o que mais chamava atenção era o batom vermelho que acentuava o contorno doce dos seus lábios.
O semblante feliz em você não me confortou naquele dia. A música alegre e o clima espontâneo só me quebraram ainda mais. Estilhaçado. O "sim" que você disse no altar doeu como um tiro no coração.
Eu havia desistido de nós depois daquele beijo com sabor de baunilha e framboesa, como um covarde. Contudo, ainda assim, assistir ao seu casamento como um derrotado infeliz foi como o início dos meus piores dias.
Amargo como fel, doloroso como uma faca encravada no meio do peito. Sempre que lembro, tenho uma tremenda vontade de voltar no tempo para testar a sorte e, quem sabe com um pouco de coragem, eu talvez conseguisse incendiar todo o altar ou sequestrar a noiva. Pensava que fazer alguma coisa — mesmo que louca — era melhor que não fazer nada. Mas só me restou a solitária vontade de mudar o passado, um arrependimento corrosivo que no fim não valia de nada, porque, a não ser que o misterioso raio de um acelerador de partículas me atingisse, eu sei, isso nunca aconteceria.
Fui interrompido dos meus devaneios e trazido de volta à realidade pelo soar da campainha. Foram duas badaladas trêmulas e depois veio o silêncio. Pisquei os dois olhos com força para ter certeza de que não estava sonhando. Já era tarde, quem poderia ser?
Antes de atender, aproveitei que já estava de luvas nas mãos para retirar a fornada de cookies com gotas de chocolate ao leite que assavam no forno e, pelo cheiro que invadia todo o ambiente da casa, àquela altura já deveriam estar no ponto.
Era seu biscoito favorito, eu sempre o fazia nos dias em que sentia muito a sua falta.
Desenrolei o avental e tirei as luvas, demorei alguns segundos para atender, mas o toque da campainha não voltou a se repetir. Por algum motivo meu coração ficou acelerado e eu quase corri como um doido na direção da porta, acho que sentir a sua falta estava me deixando desesperado e carente até demais.
Nem conferi nas câmeras quem poderia ser, mas assim que abri a porta senti um frio tomando conta do meu corpo como se fosse atingido por uma tempestade congelante.
Com uma pequena maleta nas mãos, com os dedos espremidos e apertados uns nos outros e um olhar perdido e solitário, estava você, parada bem na minha frente.
Não conseguia acreditar, eu estava alucinando ou você realmente voltou para mim?
Depois do frio, uma chama acendeu em meu peito e meu corpo começou a esquentar. Era mesmo você. Assim que percebi, eu queria gritar e dizer o quanto havia sentido a sua falta, mas não falei.
— Dora, o que está...
Tentei completar a pergunta, mas assim que abri a boca você veio até mim e me abraçou com força, rodeando meu corpo com suas mãos. Quando dei por mim a sua cabeça já estava apoiada em meu peito, com seu corpo pequeno colado ao meu, alisei suas costas quando percebi que os tremores do seu corpo eram soluços de choro.
Soltava algumas lamúrias enquanto se desmanchava em lágrimas, parecia ter se segurado por muito tempo.
Você estava muito triste, arrasada.
▬▬▬▬ 🧁 ▬▬▬▬
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro