Capítulo 36
Centímetros antes que a lâmina ultra sônica de Astrall Pollux decapitasse Armacell, o explorador espacial consegue segurar a investida com ambas as mãos, lutando para afastar a arma de seu corpo, enquanto faíscas brotam do contato de suas mãos com a lâmina vibratória.
- Onde está o seu senso de humor agora, Armacell? Parece que todas as suas piadas se esgotaram. - Jake apenas usa o peso de sua Unidade para forçar a lâmina em direção ao alienígena.
As palavras deixam a boca de Terry de forma pausada. - Que rude! Não te ensinaram bons modos lá na creche da Máscara de Ferro? -. O esforço para evitar ser atingido pelo seu adversário é muito grande. - As palavras podem doer mais que ações, mas não é o caso aqui. Sua lâmina está acabando com as minhas mãos.
Nesse momento, aproveitando-se que Jake apoiava todo o peso da Unidade em seu braço, Armacell consegue desviar o braço da Unidade para a sua lateral e, com a ajuda dos propulsores, se afasta de Astral Pollux. A lâmina e todo o braço da armadura de Jake acabam cravando-se no solo, dando alguns segundos preciosos para o alien se recompor.
Enquanto recupera o fôlego, os sensores espaciais de Armacell analisam toda a armadura à sua frente.
"Composição de titânio, platina, nanotubos de carbono e cerâmicas espaciais. Todas as armas com sistemas de mira e disparo independentes e um gerador Corr de terceira geração... Esse cara possui o que há de mais moderno. Sua armadura não possui nenhuma falha ou ponto fraco aparente. Como irei derrotar esse gorila?"
***
Erika finalmente alcança os destroços do avião cargueiro. Ela entra pela abertura na fuselagem deixada pela explosão e rapidamente localiza uma caixa de transporte preta, virada no canto. A jovem vai até ela com um sorriso de alívio no rosto, afinal, as chances daquela caixa ter caído do avião durante o pouso eram muito grandes. Mas com a mesma espontaneidade que o sorriso apareceu, ele desaparece. O display, onde o código de segurança é digitado e a palma da mão deve ser colocada, está quebrado.
- Merda! - Erika procura ao seu redor por algo que possa usar para abrir a caixa, mas nada parece ser forte o suficiente, visto que, aquele caixote fora projetado para ser largado de um avião em pleno voo para as tropas em terra, sem que seu conteúdo sofresse quaisquer danos.
Frustrada, a engenheira se encosta na fuselagem e escorrega seu corpo até se sentar sobre seus pés. Enquanto avaliava o ferimento em sua mão, algo em sua visão periférica chama a sua atenção. Era um lançador de granadas, do tipo ICS 190 GLM. Erika leva alguns segundos para tomar a decisão. Ela pega o lançador de granadas e se posiciona a alguns metros de distância da caixa. Seu dedo é pressionado contra o gatilho até que o projétil explosivo é expelido pela arma.
A força de projeção é grande e faz com que Erika caia para trás. A granada passa por cima da caixa, com mais de um metro de distância e acaba indo explodir dentro da cabine do avião.
- Eita! Vamos com calma, queridona - Erika rapidamente se levanta e se posiciona novamente, dessa vez com os pés melhores prostrados e corrigindo sua mira.
O fogo da explosão, ao entrar em contato com o combustível que vazava do tanque, inicia um incêndio, que rapidamente se alastra por toda a carcaça da aeronave e ao redor.
- Vamos lá, vamos lá. - Erika tenta controlar o seu instinto de sair correndo dali e se concentra em seu próximo disparo.
Novamente o gatilho é pressionado e uma segunda granada é expelida pelo cano da arma. Dessa vez o tiro acerta a caixa em cheio.
- Na mosca! - Dra. Barnett deixa de lado o lançador de granada e se aproxima de seu alvo. Para sua surpresa e admiração, a caixa ainda se encontra inteira, tendo sofrido menos dano do que ela imaginou. A face que recebera o disparo, entretanto, apresenta um grande amassado, com tamanho suficiente para que ela possa enfiar a mão em seu interior. Após tatear o fundo da caixa por alguns instantes um suspiro de alívio é exalado. Tinha achado o único e minúsculo objeto lá de dentro.
Com o anel de temblórium de Dalmas em mãos, Erika deixa os destroços sendo consumidos pelas chamas para trás e corre de volta para as ruínas da refinaria.
A doutora percorre a distância entre os destroços do avião e o local onde vira Dalmas cair em 5 minutos. Contornando um almoxarifado por trás, para não ser atingida pelo fogo cruzado entre Armacell e Astral Pollux, ela se ajoelha esbaforida ao lado do corpo desacordado do pirata.
- Dalmas, levanta-se. Dalmas! - Ao perceber que apenas suas palavras não seriam fortes o suficientes para despertá-lo, ela procura por algo ao redor que pudesse ajudá-la. E ela acha.
Engatinhando pelo solo rochoso, Erika chega até um canto onde um velho barril destampado e parcialmente cheio de água se encontra abandonado. Com mais dificuldade do que imaginara, ela arrasta o barril e o vira sobre Dalmas.
- Argh!!! - O somali se ergue surpreso e sem saber direito onde estava. - Você está maluca, mulher?! - Enquanto grita, ele cospe parte da água que escorreu para sua boca. - Você nunca ouviu falar em dengue e malária não?
Tardiamente Erika percebe que a água contida naquele barril continha um aspecto e um cheiro nada agradáveis.
- Desculpe! Mas eu precisava acordar você! Tome. - Com a mão espalmada, Erika entrega o anel de metal espacial para o seu dono. - Você sabe o que precisa ser feito.
***
- Até quando você vai dançar ao meu redor, ao invés de lutar? - A voz de Jake começa a se alterar novamente. Mesmo com seu poder de fogo superior, Armacell ainda era muito mais rápido e, com isso, conseguira evitar todos os ataques de Astral Pollux. Até agora.
O alienígena continua usando a sua estratégia de esquivar-se por dentre os emaranhados de tubulações e labirintos de construção da refinaria, voando habilmente entre os obstáculos.
- Eu tenho o dia todo. E você?
- Muito bem. Se não posso destruí-lo, vou destruir a refinaria inteira. - Dito isso, as duas metralhadoras acopladas nos ombros de Astral Pollux se retraem e se deslocam para as suas costas, enquanto um compartimento interno se abre no ombro esquerdo da armadura e lança um pequeno míssil em direção ao céu.
O foguete sobe oitocentos metros e então se fragmenta, liberando dezenas de pequenas ogivas que começam a cair desordenadamente sobre a fábrica, como uma chuva de fogo e destruição.
- Ferrou! - Armacell só tem tempo de acionar o seu escudo gravitacional, conforme a chuva de fogo vai trazendo a refinaria inteira abaixo.
Nenhum centímetro de solo é poupado pelas ogivas. Dezenas de explosões consomem as ruínas em segundos, atingindo praticamente toda a sua extensão e mergulhando a antiga refinaria em uma tempestade de chamas.
O seu escudo o protege pelo tempo que resiste, mas o poder de destruição de Astral Pollux acaba por consumir a esfera gravitacional e algumas explosões, por fim, o atingem. Armacell desaba no solo arenoso.
O alienígena tenta se pôr de pé, mas não consegue. Ao baixar sua cabeça, Armacell nota que um pedaço de aço retorcido cravara-se em seu abdômen. Apoiado em um joelho, ele nada pode fazer enquanto observa Astral Pollux se aproximando em meio às chamas, fuligem e destroços incandescentes intacto.
- O que achou dessa arma? Foi minha ideia. - Jake para em frente ao seu adversário, enquanto sua arma de aceleração magnética trava a mira na cabeça do explorador espacial.
- Gostei muito. Encontro na Amazon? - No interior de Armacell, Terry apresenta diversas lesões internas. Falar e respirar eram duas das coisas que mais lhe causavam dor. Havia descoberto da pior maneira que parte do dano recebido pelo alienígena era absorvido pelo seu corpo.
- Você lutou com honra. É um grande guerreiro. - Astral Pollux se prepara para o golpe derradeiro, quando uma sombra surge acima do monstro de aço.
- Pena que eu não possa dizer o mesmo de você! - Berserker surge por entre as grossas colunas negras de fumaça que sobem aos céus atacando Astral Pollux com seus dois tentáculos retráteis.
Com seus dois braços, Jake bloqueia a investida dos membros articulados de Berserker, mas tardiamente percebe que eles eram apenas uma distração. O verdadeiro ataque vem na forma de um golpe descendente da lâmina de plasma contido do alienígena, mirando justamente no rifle de aceleração magnética em seu ombro.
A arma é decepada do ombro e cai no chão emitindo um baque seco.
- A próxima coisa a cair será a sua cabeça. - Berserker recua alguns metros, se colocando em posição de combate.
- Filho da mãe. Achei que já tinha cuidado de você. - Astral Pollux mira todas as suas armas restantes sobre o segundo alienígena.
- Não me subestime. É necessário muito mais do que uma torre de destilação para me matar.
- Veremos! - Os lançadores de foguete de Astral Pollux se movem novamente para os ombros da armadura e uma saraiva de doze mísseis são disparados contra Berserker.
Antes que os seis mísseis disparados pelo lançador de foguetes do ombro esquerdo fossem disparados, entretanto, Armacell pula em suas costas e, segurando-se pelo pescoço da armadura, consegue arrancar o dispositivo, usando sua lâmina de plasma.
Astral Pollux se sacode, tentando livrar-se da pegada de Armacell, em vão. Seus braços também não alcançam o alienígena que mais uma vez aciona a sua lâmina e enterra o punho na armadura de Jake, bem entre duas placas de proteção, formando uma fenda na blindagem. Com as mãos, Armacell consegue espaçar as placas o suficiente para disparar seu feixe de partículas diretamente no interior do inimigo.
Dentro da armadura Jake urra de dor e raiva.
- Chegando! - Berserker que havia decolado e manobrava pelo céu, a fim de desfazer-se dos mísseis teleguiados que o perseguem, muda de direção e passa a investir na direção de Armacell e Astral Pollux.
Terry percebe a estratégia de Dalmas e salta das costas de Jake. O pirata, estando a poucos metros de alcançar Astral Pollux, remete em alta velocidade e despista os mísseis, que não conseguem corrigir sua trajetória a tempo e acabam atingindo o seu próprio lançador.
Os dois alienígenas permanecem levitando ao redor do local da explosão, enquanto aguardam os ventos dissiparem a fumaça oriunda da explosão.
- A blindagem dele é muito resistente. Talvez nem os mísseis sejam o suficiente para o derrubarmos.
- É. Eu sei. - Berserker olha em volta, à procura de algo. - Talvez precisemos atingi-lo com um pouco mais de força.
- Atingi-lo com um pouco mais de força? - Terry, incrédulo, desabafa com seu aliado. - E o que você tem na mente? Jogar a lua nele?
- Não. Estou me referindo àquilo. - Dalmas aponta em direção ao acelerador magnético que fora arrancado do ombro de Astral Pollux.
Conforme a poeira se dissipa, Astral Pollux pode ser avistado, exatamente no mesmo lugar, porém com severos danos ao longo de toda a sua armadura. Das armas restaram apenas os dois canhões de 120 mm. De todas as juntas da armadura, curto circuitos brotam, indicando a precariedade de todos os seus sistemas. A Unidade mau consegue se mover e, toda vez que uma tentativa é feita, uma cascata de faísca e pequenos arcos voltaicos saltam no ar.
- Vamos acabar com ele. - Armacell inicia seu voo de descida.
- Estou em melhores condições. Vou distraí-lo e você pega o acelerador. - Os dois alienígenas iniciam sua investida final, voando em direção ao solo.
- Vou acabar com vocês! - Jake mira os dois potentes canhões de seu traje contra Berserker e Armacell, descarregando toda sua fúria contra os dois.
Dalmas toma a frente e se coloca como escudo para Terry. Os tiros explodem muito próximos aos dois, que agilmente conseguem evitar a maioria dos projéteis.
Sentindo que o momento era oportuno, Berserker se deixa atingir por um dos disparos. A ação é suficiente para desviar a atenção de Jake e assim Armacell sai do campo de visão e da linha de tiros de Astral Pollux. Em um rasante, Terry pega o acelerador do chão e, ainda durante o rasante, ele se vira e aponta a arma para Jake. Conforme a mira é ajustada, a massa tecno-orgânica de Armacell começa a fluir e a recobrir a arma, transformando-a em um canhão alienígena, com um poder de fogo e alcance quatro vezes mais poderoso do que o original.
- Hasta la vista, trouxa.
O canhão libera um raio de energia com um metro de largura que se expande na forma de um cone desintegrando tudo o que toca. Destroços e metal retorcido que se encontravam no caminho são reduzidos a pó em um milésimo de segundo. Jake, no interior da Astral Pollux nada pode fazer conforme aquele montante de energia vai consumindo tudo ao seu redor, a não ser cerrar os olhos e admitir sua derrota. "- Vitória ou oblívio". O lema da Máscara de Ferro é entoado uma última vez por Jake antes de morrer.
O traje, juntamente de seu piloto, são obliterados e desaparecem no ar.
Conforme o canhão vai descarregando o seu raio, ele vai diminuindo de espessura e vai ficando mais fraco, até simplesmente se esgotar. O estrago já estava feito. Metade da antiga refinaria - ou o que sobrara dela durante o combate -, simplesmente sumiu no ar. Uma marca negra, de areia queimada na forma de leque, é tudo que restara onde a fábrica uma vez fora instalada.
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