Capítulo 35
Astral Pollux entra na refinaria levitando enquanto seus sensores esquadrinham o local. Em razão da explosão, o display de seu capacete às vezes falha, tremendo a projeção externa e dificultando um pouco o rastreio de seu alvo. Ao se aproximar do centro do complexo industrial, ele percebe várias pegadas seguindo em direção a um pavilhão e, um pouco mais afastada, um outro par delas, saindo do pavilhão e correndo para o outro lado.
- Você acha que pode se esconder de mim, Dalmas? - Um sorriso sarcástico surge por debaixo do capacete. - Você não é assim tão especial, sabe? Queremos apenas o alienígena, é apenas com ele que nos importamos. Você é apenas um refugo.
Nesse momento, uma bala atinge a cabeça da armadura. Sem causar nenhum dano, além de chamuscar um pouco a pintura. Astral Pollux se vira em direção à origem do disparo, no alto de uma torre, mas, além de uma recente leitura térmica, indicando que alguém esteve ali, ele não acha nenhum sinal de seu alvo. Com um único míssil disparado, ele explode e derruba a torre toda.
"- Verme."
Dalmas, que momentos antes da explosão tinha saltado da torre para o telhado de uma construção, se desloca rapidamente pelo topo do edifício. Após deslizar por uma escada, do tipo marinheiro, ele alcança um conjunto de grossas tubulações que seguem para a área de armazenamento. Usando os tubos como passarela, o pirata alcança um enorme reservatório em forma de esfera. De costas para o tanque, Dalmas rapidamente espia por cima de seu ombro, tentando localizar o seu inimigo mas, para sua surpresa, Astral Pollux já não se encontrava mais no pátio.
- Merda. Como um traje daqueles consegue ser tão sorrateiro?! - O somali toca o aço de seu fuzil, tentando absorvê-lo. A massa tecno-orgânica timidamente recobre alguns centímetros da superfície, mas em seguida se retrai e retorna para o corpo de seu hospedeiro. - Não está pronto ainda, parceiro? Ok, vou conseguir mais um tempo para você.
- Transportador, qual a sua posição? - Pergunta Astral Pollux, que agora se encontra levitando na altura de um gigantesca grua.
- Estamos a três minutos de distância, Jake. Aguente firme. - O forte sotaque britânico, ao alcançar os ouvidos de Jake, arranca uma careta do mesmo. "Malditos ingleses."
Nesse momento os sensores de Astral Pollux detectam uma leitura muito mais clara do rastro de calor deixado por Dalmas.
- Você sabia que quanto mais você corre, maior é a quantidade de calor emitida pelo seu corpo, Dalmas? - Agora, claramente enxergando o pirata se esgueirar pelas sombras da refinaria, mesmo com um pavilhão inteiro entre os dois. - Bingo!
O sistema de mira do traje fixa o africano como alvo enquanto os dois lançadores de foguetes dos ombros são retraídos e se acoplam às costas da Unidade. O peito da armadura se abre, revelando um canhão de partículas, já carregado, pronto para o disparo.
Uma esfera de energia começa a ser acumulada no interior do canhão, liberando uma grande quantidade de energia luminosa, jogando novas sombras na refinaria. Após atingir a quantidade de força suficiente, o canhão libera toda aquela energia na forma de um feixe de luz super concentrado na direção do pirata, que escalava uma nova torre, a fim de se posicionar em um ponto mais alto.
No exato momento do tiro, Armacell atinge a lateral de Astral Pollux, em um mergulho descendente dos céus. O feixe de luz disparado de forma contínua acaba sendo desviado alguns metros acima da cabeça de Dalmas e, literalmente, desintegra a base da torre da qual o somalis escalava.
Sem ter nenhuma opção, o mercenário se joga da torre, evitando assim ser esmagado por toneladas de aço. O pirata despenca seis metros antes de se chocar contra o lado superior de um container que abrigava o gerador da estação. Dalmas aterrissa com suas costas contra a superfície metálica e, antes que pudesse reclamar de qualquer dor, ele rola para a direita, desviando de alguns destroços e caindo por mais 3 metros no chão.
O ar de seus pulmões é violentamente expulso e o gigante africano permanece alguns instantes imóvel no chão de areia, enquanto luta para voltar a respirar.
No subsolo da refinaria, o grupo remanescente de sobreviventes corre por uma série de túneis e passagens, até alcançar um grande aposento parcialmente submerso. A temperatura sob as areias de Gobi eram bem mais baixas, e a umidade, muito maior.
- Aqui deve ser a unidade de tratamento de água da refinaria. Se permanecermos aqui, acredito que estaremos seguros. - O agente da Libra, após avaliar a sala com sua lanterna, se senta nos degraus da escada e afrouxa um pouco os cadarços de seu coturno. - Vamos aguardar aqui pelos reforços.
- O quê? Vamos apenas sentar e esperar enquanto Dalmas luta sozinho?
- Ele não está sozinho, Dra. Barnett. Caso você não tenha notado, outro alienígena apareceu. Além do que, não posso enfrentar Unidades Táticas de Combate apenas com esse rifle.
- Sim, Armacell finalmente despertou. - Suspira Erika, enquanto limpa o suor que escorre por sua têmpora com as costas da mão.
- Armacell? Você está falando do meteoro de onde todo o temblórium é extraído? Não me diga que... - A engenheira assistente leva alguns poucos instantes para juntar todas as peças do quebra cabeça.
- Jan, e quem mais seria? Por alguma razão, a chegada de Berserker atraiu a atenção dele. - Erika se levanta do degrau que estava sentada e bate a areia da calça. - De qualquer maneira, não vou ficar sentada aguardando o resgate.
- Onde você vai, Erika? Não faça nada estupido! - Janet grita enquanto sua amiga some no túnel, correndo de volta para a superfície.
- Não se preocupe! Eu tenho um plano! - A voz da Dra. Barnett quase não é ouvida em meio ao eco do corredor. "Só que não."
A engenheira refaz todo o percurso subterrâneo e em minutos alcança o pavilhão onde vira Dalmas pela última vez. A refinaria se encontra incrivelmente silenciosa, bem diferente do que se esperava.
Esgueirando-se por trás de equipamentos e prédios antigos, Erika vai seguindo os sons de batalha até o outro lado do complexo. Quando alcança o local do combate, a doutora ainda tem tempo de testemunhar Dalmas sendo arremessado de uma torre que desabava, enquanto Astral Pollux e Armacell sumiam de seu campo de visão, engalfinhando-se em uma luta corpo a corpo.
Erika Barnett sabia que o nível de poder dos alienígenas era medido a partir da quantidade de temblórium presente em seu corpo. Berserker havia chegado na Terra com uma pureza de pouco mais de 80%. Mas ao longo do tempo, foi empobrecendo e, hoje, não contaria com mais de 10% do metal em seu exoesqueleto. Armacell, se suas suspeitas se confirmassem, era a origem de todo o metal extraído nesses últimos quinze anos, também não estaria em tão melhores condições. Ela não saberia o que aconteceria com ela e os outros e, até com o mundo, se os dois alienígenas saíssem dessa guerra vitoriosos. O que ela sabia, porém, é que no momento, suas vidas dependem daqueles exploradores espaciais. Por isso, decidiu ajudá-los.
Erika deixa o seu esconderijo e enquanto corre em direção aos destroços do C-390, ainda consegue ver a aproximação de um grande helicóptero içando um tanque de guerra através de cabos de aço. A nave passa a alguns metros do chão, levantando areia e a jogando contra o rosto da engenheira.
Sem se deixar ser impedida, Erika continua sua corrida até alcançar a carcaça do avião. No cofre da aeronave esta a única coisa que poderia ajudar os dois alienígenas nessa luta, assim como o seu grupo de sobreviventes.
Do outro lado da refinaria, Astral Pollux e Armacell continuam sua trajetória após a investida do alienígena. Toda construção, equipamento ou qualquer obstáculo que se opõe ao deslocamento dos dois é atravessado e destruído. A armadura de Jake acaba sendo usada como um escudo, recebendo a maioria do impacto e termina o movimento em pior estado.
- Armacell... - A voz sai abafada da boca de Jake, quase como um sussurro.
- E você é o Astral Pollux. Seria coincidência eu ter sido atacado por Star Castor horas atrás? - O alien se aproxima do traje semi esmagado de Jake, erguendo e jogando o chassi calcinado de um antigo trator que se colocava em seu caminho sem nenhum esforço. - Seu irmão gêmeo não quis me dizer quem são vocês, mas você me parece ser mais sensato que ele. Ou estou enganado?
- Você está errado! Todos vocês estão. Mas vou lhe conceder o prazer de saber quem somos. Assim, quando você retornar para o seu planeta, saberá a quem a Terra pertence! - Astral Pollux se põe de pé, em uma posição de combate. Sobre o ombro de Armacell, ele consegue ver a silhueta de uma helicóptero se aproximando, transportando pendurado o que parece ser, para os desavisados, um gigantesco tanque de guerra. - Nós somos a Máscara de Ferro!
Um forte vendaval começa a afligir Astral Pollux e Armacell, que surpreso, se vira para cima e testemunha um grande helicóptero cargueiro, modelo Sikorsk CH 54 Tarhe, se posicionando sobre o campo de batalha e lançando um igualmente grande tanque de guerra sobre os dois combatentes.
O tanque possui dois canhões de 150mm, além de dois lançadores de foguetes e uma metralhadora equipada com o sistema de disparos acelerados eletromagneticamente. O mais impressionante, porém, é que, segundos após ser solto pelo helicóptero, as placas de aço do veículo começam a se movimentar sincronizadamente, assim como as suas esteiras e sua torre de armas, abrindo-se em uma espécie de berço, ou casulo. Astral Pollux aproveita o momento de distração de seu adversário e salta em direção ao tanque em queda. Através de um preciso sistema de GPS, Jake se posiciona bem abaixo do carro blindado, ainda em queda livre. As peças do veículo voltam a se mover e se conectam ao traje, fechando-se ao seu redor, transformando Astral Pollux e o tanque blindado em uma única e gigantesca armadura.
Após o fim da transformação, Astral Pollux aterrissa no solo arenoso, bem em frente à Armacell, com o dobro de sua altura original e pesando três vezes mais, uma cratera se forma no local da aterrissagem.
- Mas que diabos...?
- Você não é o único com surpresas, Armacell. Nunca subestime a obstinação da Máscara de Ferro!
Astral Pollux ergue seu braço que, imediatamente se alonga por 3 metros, em direção ao seu oponente, através de pistões hidráulicos retráteis, e atinge o alienígena no peito com a força de algumas toneladas, antes que ele possa reagir
Armacell é arremessado para cima e percorre o ar por algumas dezenas de metros antes de cair sobre o telhado de uma das construções. Com a força do golpe, as telhas de zinco cedem e ele acaba caindo no interior do prédio. Sem perder tempo, Astral Pollux dispara alguns mísseis na direção do prédio e o explode por completo.
Do meio da fumaça e do fogo, Armacell surge, com sua armadura coberta por fuligem mas sem nenhum dano maior, aparentemente. Ele parte em uma investida rasante e desfere um poderoso soco no peito de Astral Pollux. Uma onda de choque se propaga em todas as direções com a potência do golpe. O gigante de aço recua dois passos para trás, mas nada mais.
- Ô-ou. - Terry só tem tempo de lamentar.
Do ombro direito de Astral Pollux, surge uma metralhadora, com poder de fogo suficiente para abater um avião a quilômetros de altura, que começa a disparar contra o alien. Em uma manobra de puros reflexos, Armacell salta alguns metros para trás, enquanto as primeiras balas disparadas acabam se perdendo na areia. Rapidamente, o sistema de miras da armadura localiza e trava o alvo sobre alienígena, que ainda está no ar.
As balas passam raspando o exoesqueleto do alien, que termina sua esquiva em forma de arco e aterrissa de seu salto a aproximadamente vinte metros de distância. Assim que toca o chão, Armacell já se lança em um movimento rasante lateral, para evitar o resto das balas cuspidas pela metralhadora antiaérea.
Sempre um milésimo de segundo à frente, Armacell consegue evitar todos os tiros daquela arma. Ao perceber que a metralhadora iniciara seu processo de recarga, o alien decide que é hora de contra-atacar. Assumindo sua posição de ataque, ele dispara seu feixe de partículas contra a Astral Pollux. O raio percorre a distância entre os dois em pouquíssimo tempo, mas é prontamente amparado por apenas uma mão do gigante de ferro.
Por entre os dedos da armadura de Jake, alguns feixes menores do raio continuam a sua trajetória e atingem alguns tanques antigos de armazenamento, que explodem imediatamente e dão início a um incêndio em parte da refinaria.
- Nós estudamos todas as batalhas documentadas de Berserker, inclusive aquela em que ele tem a brilhante ideia de usar o material resistente à calor do satélite para resistir aos ataques das Unidades de Libra. - O tom confiante na voz de Jake só não é mais perturbador do que o seu olhar, por debaixo do capacete da mega armadura. - E é por isso que também aplicamos o mesmo material do CICLOPE em nossa blindagem.
- Uau, vocês pensaram em tudo! São bons mesmos. - O deboche e o sarcasmo na voz de Terry só consegue deixar Jake mais irritado. - Já pensaram em se unir ao time dos mocinhos?
- E que time seria esse? Libra? - A cada palavra, Astral Pollux avança mais um passo em direção à Armacell, que continua o ataque com seu feixe de partículas. - A Libra é apenas uma mancha na história da humanidade. Uma mancha que a Máscara de Ferro se encarregará de eliminar. A Terra precisa de uma liderança de verdade e absoluta, que não tenha medo de tomar as medidas necessárias para garantir a sobrevivência e a continuidade da humanidade.
- Talvez eu não seja a melhor pessoa para você discutir essas questões filosóficas e existenciais. - Nesse momento Armacell concentra mais o seu ataque sobre o seu oponente, aumentando consideravelmente o poder de seu raio. Astral Pollux é obrigado a cruzar os dois braços à frente do peito para bloquear a ofensiva. - Nunca tive muita paciência para lidar com fanáticos políticos e religiosos.
- Você é um cego que não enxerga as verdades por trás desse véu de mentiras tecido por governantes e líderes mesquinhos que pensam apenas em si mesmos! - Finalmente Astral Pollux alcança Armacell e com sua mão estendida o agarra pela cabeça, começando a sacudi-lo, para em seguida jogá-lo contra o solo.
Por debaixo do exoesqueleto, Terry sente o impacto do golpe. Um filete de sangue começa a escorrer pela lateral de sua boca. Enquanto é pisoteado por seu adversário e é cada vez mais soterrado, Terrence busca em suas memórias qualquer informação a respeito dos projetos das Unidades de Combate padrão de Libra que possam lhe trazer alguma pista de como vencer Astral Pollux.
Vendo que Armacell já não apresentava mais sinal de resistência, Jake interrompe os pisões e ativa uma lâmina ultra sônica de seu antebraço direito.
- Viemos aqui atrás de um alienígena, e agora vamos voltar com dois. - Jake já dava a sua vitória como certa. - Sua cabeça vai ficar muito bem ornamento a sede da Máscara de Ferro.
Em um golpe descendente, Astral Pollux mira o pescoço deseu adversário.
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