Capítulo 21
Oceano Pacífico
Dalmas segue em sua investida hipersônica contra a frota de Libra. Em questão de segundos ele a terá alcançado. Inesperadamente seu visor emite um alerta de colisão.
- O quê? Dois objetos em minha direção? Eles estão disparando torpedos em mim?
Seu sistema de mira tenta travar nos dois projéteis abaixo da linha da água, mas o tempo não é suficiente. Surgindo por entre as ondas do oceano, duas Unidades Táticas de Combate voam em sua direção. Cada uma delas avançando sobre si com o braço que segura um escudo posicionado à frente do corpo, atingindo-o com A arma, até então, exclusiva para defesa. Berserker é arremessado para longe com a força da investida das duas Unidades, girando no ar até que seus propulsores auxiliares consigam estabilizá-lo.
As duas armaduras pairam sobre a água, dando a impressão que estão caminhando sobre elas. Ligeiramente diferente daquela que o capturou, meses atrás, esses trajes apresentam um pintura exclusiva da marinha, no estilo camuflado em tons de azul e cinza. Cada uma porta um rifle de repetição em uma mão e um escudo na outra. Sobre os ombros, uma metralhadora giratória calibre 30 e um lançador de granadas de impacto.
- Atento, H.K. Hayabusa, aqui é Cavaleiro 1, confirmando contato com o alvo. Repito, confirmando contato com o alvo. E ele é bem feio, por sinal.
- Positivo, Cavaleiro 1. Leve-o para longe daqui. Ele não pode alcançar o REGULUS. - Quem confirma a ordem é o rádio operador da fragata de guerra H.K. Hayabusa.
- Você ouviu, Cavaleiro 2. Vamos chutar a bunda desse E.T! - O tenente coronel Brian Ortega e o sargento Derek Johansson são os dois fuzileiros navais mais experientes no uso das Unidades Táticas de Combate Avançado.
Logo que Dalmas para de girar e se prepara para contra atacar, ambos os soldados disparam seus lançadores de granada contra ele que, para evitar o ataque, sobe para uma maior altitude. Os disparos explodem perigosamente próximos ao seu redor, mas nenhum ataque o acerta em cheio
Vendo que seus tiros lentos de granadas explosivas não derrotariam o inimigo, ambas as Unidades decidem optar por um ataque com suas metralhadoras de ombro enquanto sobem de altitude numa caçada, seguindo o invasor com alguns metros de distância. Berserker se vê obrigado a realizar várias manobras evasivas para despistar os dois fuzileiros, mas ao contrário dos caças, a manobrabilidade dos trajes é muito mais precisa, com um tempo de resposta bem menor.
Ao alcançar as nuvens, Dalmas ativa o seu modo de camuflagem, mesclando-se em meio às formações gasosas. Em seguida, os dois soldados alcançam a mesma altitude.
- Cavaleiro 1, você o está vendo? - Ambos permanecem flutuando, um de costas para o outro, enquanto seus scanners tentam rastrear o inimigo.
- Negativo. Mas ele está aqui. Não baixe sua guarda. - As armas dos ombros dos fuzileiros continuam a procura de seu alvo, esquadrinhando cada centímetro à sua frente.
Subitamente um tentáculo metálico e retrátil é lançado contra a dupla. Parte por seus próprios reflexos e parte pelo sistema eletrônico de defesa das Unidades, Cavaleiro 1 consegue erguer o seu braço que carrega o escudo acoplado e bloqueia a ofensiva.
A ponta do arpão perfura o escudo de seu alvo, detendo-se a centímetros do visor do tenente Ortega. Antes mesmo que pudessem se organizar, o tentáculo é retraído, retornando para as costas da armadura de Dalmas que, ao mesmo tempo em que salta em direção ao Cavaleiro 1, ativa sua lâmina de plasma projetada sob o seu punho direito.
Novamente sua investida é amparada pelo escudo do fuzileiro. A adaga incandescente abre uma fenda em sua superfície, deixando sinais de metal derretido nas bordas do rasgo.
Essa sequência de ataques mal sucedidos dá tempo para que o sargento Johansson saia de trás de seu parceiro, se posicionando logo acima e dispare contra o alienígena. A bala com ponta de urânio enfraquecido atinge em cheio o peito de Berserker, tirando-o de cima de seu colega. O segundo e o terceiro disparo também o acertam, causando um dano considerável em seu exoesqueleto.
- Esses filhos da puta até que são bons! - O mercenário pode sentir o gosto de sangue em sua boca, proveniente dos tiros recebidos no peito. Mas nem a dor ou a desvantagem numérica são suficientes para fazê-lo recuar.
- É agora. Vamos acabar com ele!
Quando se preparava para se juntar ao seu parceiro na ofensiva contra o alien, porém, o segundo tentáculo de Dalmas, que percorrera uma trajetória por fora do campo de visão dos fuzileiros se enrosca no pé do Cavaleiro 2 o sacudindo no ar, apenas para em seguida usá-lo como um mangual para atingir o seu companheiro.
A força do choque entre as duas Unidades é grande. Ambos os combatentes começam a despencar em altíssima velocidade. Com o forte impacto do golpe, suas Unidades reiniciaram, desligando assim todos os sistemas, inclusive o de voo.
Enquanto seus oponentes estão indefesos, Dalmas dispara o seu raio de partículas da testa. Dessa vez o feixe é mais grosso, partindo na forma de um cone. Os alvos, ainda em queda livre são atingidos milésimos de segundos após o disparo. As Unidades começam a derreter e são jogadas com uma força e velocidade ainda maior contra a superfície do oceano.
- Atento Cavaleiro 1? Cavaleiro 2? Na escuta?
Na Ponte de Comando da fragata Hayabusa, assim como no porta aviões, que compartilha do mesmo canal de comunicação, o silêncio e a apreensão tomam conta de todos.
- Almirante Turner, perdemos o sinal das duas Unidades.
- E quanto ao inimigo? Algum sinal dele? - O líder da embarcação se debruça sobre o painel, esmurrando a estrutura metálica onde as imagens do combate são transmitidas pelo CICLOPE.
- Hay... usa? - A estática impede uma maior compreensão da mensagem. Mas o som inconfundível da voz metálica projetada pela Unidade Tática é um alento para todos os presentes na Ponte.
- Hayabusa? Cavaleiro 1 reportando. Nossas Unidades estão destruídas. Temos energia, entretanto, para mais um disparo. Podemos pegar o filho da mãe desprevenido.
- Negativo Cavaleiros 1 e 2. Usem as suas reservas para saírem daí.
- O quê? Mas quem está falando? - O Almirante Turner não reconhece a origem da transmissão e tampouco a voz de quem emitiu a ordem.
- Aqui é o AES REGULUS. Por favor, identifique-se.
- Anthony Kincaid. Comandante do satélite CICLOPE. Retire seus homens do local. Estamos enviando reforços para vocês.
- Senhor? - O rádio operador procura pela confirmação do Almirante que, após pensar um pouco, apenas balança sua cabeça positivamente.
- Atento Cavaleiros 1 e 2, vocês devem se retirar do combate e voltar à Hayabusa, imediatamente. Repito, voltem imediatamente!
Os dois fuzileiros de guerra se entreolham, ainda embaixo d'água com suas Unidades Táticas parcialmente destruídas e, sem pensar duas vezes, acionam seu propulsores em modo de aceleração máxima na direção da fragata que, ao mesmo tempo inicia sua manobra para retornar à posição de escolta do AES REGULUS.
Na Torre de Comando do porta aviões, uma caneca se estraçalha ao ser atirada contra uma antepara.
- QUEM ESSE COMANDANTE PENSA QUE É? Nunca recuei em meio a uma batalha antes, e agora ele aparece e por cima de mim ordena que meus homens recuem! - Almirante Turner esbraveja furiosamente. Para um homem das antigas como ele, recuar de uma batalha diante uma dificuldade era a maior desonra que poderia lhe acometer. Ainda mais no comando do navio de guerra mais poderoso do planeta.
Mil coisas passam na cabeça do Almirante e quando ele se vira para arrancar o radiohead de sua oficial de comunicação para ordenar que seus homens voltassem a batalha, ele olha para o horizonte. E então as ordens do Comandante Kincaid passam a fazer sentido.
- O quê? Não me digam que já cansaram de brincar! Eu ainda nem suei. - Entre uma pausa e outra para tossir, o mercenário somali grita e gesticula para as duas Unidades Táticas que decidirem se retirar da batalha. Ele se volta em direção à fragata e ao porta aviões, alguns quilômetros de distância e percebe que a fragata também está recuando.
- Eu vou acabar com todos vocês. E vou fazer isso agora! - Dalmas chega a inclinar o seu corpo para iniciar seu voo até o navio, mas alarmes em seu visor começam a disparar. Porém o funcionamento não está perfeito. As imagens são tremidas e vez ou outra seu visor apaga e acende, acusando um mau funcionamento devido à uma interferência eletromagnética. - Interferência? Do quê?
Dalmas nota que a superfície do oceano, de forma repentina começara a se agitar, com ondas se formando e quebrando em função dos fortes ventos que começam a sobrar.
Seguindo sua intuição, o somali olha para cima. E então sua pergunta é respondida.
As pesadas nuvens de tempestade que começavam a se aglomerar, agora estão se movimentando em um padrão circular, com um grande vazio em seu centro, exatamente como o céu se move durante o surgimento de um tornado. As nuvens antes negras começam a brilhar em um tom amarelado, passando para o laranja. Relâmpagos saltam de uma nuvem para outra, percorrendo toda a superfície gasosa, tamanha a quantidade de energia eletrostática acumulada nelas.
Quanto mais brilhante e vermelho o céu fica, mais fortes ficam os ventos e mais agitado fica o mar. Era como se um incêndio de proporções apocalípticas estivesse consumindo toda a abóbada celeste. A região rapidamente se transforma em uma área caótica e cataclísmica.
Eis que então, atravessando o véu nublado, uma gigantesca estrutura metálica surge, em chamas, se desintegrando em milhares de partes enquanto cai em direção ao oceano. A visão é aterradora. Dalmas não tem para onde correr. Tudo que ele pode fazer é apreciar a beleza daquele evento que ele acredita se tratar da fúria divina.
Centenas de quilômetros acima, um módulo inteiro do satélite CICLOPE fora desconectado e arremessado sobre o alienígena, com as três novas Unidades de Combate dentro. Em questão de minutos a estrutura percorreu toda a distância entre o espaço e a Terra. Agora, estava a poucos metros de colidir com o oceano.
Sem ter tempo para escapar, o módulo atinge a criatura extraterrestre e seu hospedeiro em cheio, pouco antes de tocar a superfície da água, arrastando-o para o fundo do mar. Uma onda de dezenas de metros se forma com a força do impacto. Aquele volume todo de água se desloca em todas as direções, a partir de seu epicentro a uma velocidade de mais de 60 quilômetros por hora. O vapor superaquecido, formado pela evaporação da água alcança mais de quatro quilômetros de altura rapidamente e, ao entrar em contato com as nuvens congeladas da tempestade, desaba na forma de uma chuva torrencial de proporções bíblicas.
Registros futuros dirão que todo o espetáculo pôde ser testemunhado por mais de 15 países ao redor do Pacífico.
No passadiço da fragata Hayabusa, entretanto, seus tripulantes não tem a oportunidade de apreciar o evento, pois uma gigantesca e esmagadora onda se aproxima rapidamente deles.
- Aceleração máxima! Motores a 120%. Temos que sair daqui imediatamente!
Na Torre de Controle do REGULUS, o clima não é diferente.
- Torre de Controle para Sala de Máquinas. Precisamos de máxima aceleração. Repito, máxima aceleração!
- Temos que virar 90 graus para bombordo. Se essa onda nos acertar de lado, vamos virar. - Turner nunca vira um deslocamento de água como aquele, mas sabia o que poderia acontecer se o porta aviões não estivesse corretamente posicionado para atravessar aquela onda.
A corrida contra o tempo é angustiante. A onda avança de forma implacável contra tudo em um raio de 20 quilômetros de seu centro. A primeira embarcação a ser atingida é a fragata Hayabusa. A onde o ergue até a sua crista, mas o navio consegue se manter estável e surfar o paredão de água sem sofrer grandes danos. O porta aviões não tem a mesma sorte. Após a onda quebrar, uma muralha caótica e avassaladora de água e espuma se choca contra a embarcação que, por competência de toda a sua tripulação, conseguiu se posicionar de forma a "cortar" a torrente. O impacto é fortíssimo. No interior do porta aviões prateleiras e armários viram, pessoas são atiradas de um lado para o outro e tudo que se encontra no deck principal sem fixação é varrido para o fundo do mar. Entretanto a estrutura do navio faz jus a sua fama e o AES REGULUS não afunda.
Na direção contrária, no S.S. Saint Paul, os mercenários restantes que aguardam pelo retorno do seu líder se aglomeram a estibordo do navio para testemunhar o espetáculo. Mas assim que aquele maremoto começa a se propagar em sua direção, o desespero toma conta de todos.
Alguns descem para os decks inferiores onde suas portas estanques podem conter a água e se fecham lá, enquanto outros simplesmente atravessam o navio na direção contrária da onda e pulam para fora do cargueiro.
A embarcação recebe o impacto da onda em sua lateral, com menor força é verdade, mas o suficiente para ser arrastado por algumas centenas de metros até, finalmente, a onda se dissipar. O navio também resistira ao impacto, mas muitos de seus ocupantes nunca mais foram vistos.
Em questão de minutos, conforme a força da onda ia se dispersando, o oceano também voltava à sua calmaria inicial, como se nada tivesse acontecido.
- Relatório de danos! - Os alertas soam incessantemente na Torre de Comando do AES REGULUS. Almirante Turner corre até as janelas para avaliar os danos no deck principal. As águas, conforme escorrem de volta para o mar formam diversas cachoeiras ao longo do navio.
- Senhor, o paiol de munições 4 está completamente alagado, mas a água está contida.
- Algumas aeronaves foram levadas pela onda, senhor. Ainda estamos trabalhando nos números.
- Todos os membros da tripulação estão no navio. Há muitos feridos, mas ninguém foi levado, senhor.
Ao longe, o módulo do satélite ainda desponta no horizonte, parcialmente submerso. Sobrevoando a gigantesca estrutura, as três novas Unidades Táticas de Combate, procuram por sinais do alienígena.
No continente americano, hemisfério sul, três fuzileiros navais comandam suas respectivas Unidades a partir das instalações do C.O.D.A., em um laboratório improvisado. A sala é redonda, com 20 metros de diâmetro. No centro estão localizadas as cadeiras, também chamadas de células. Cada piloto ocupa uma célula. Em suas cabeças, o DISCMEN capta os impulsos elétricos de seu cérebro e envia até as Unidades. Do teto, um feixe de cabos os conectam ao sistema principal. Circundando toda a sala, painéis de cristal que reproduzem em tamanho real o ambiente ao redor das Unidades, imergindo os pilotos em campo de batalha 3D.
Do lado de fora, todos acompanham a ação das Unidades Táticas. Entre os telespectadores estão o Diretor Geral do C.O.D.A, o Secretário de Defesa dos Estados Aliados do Sul, a Engenheira Chefe do C.O.D.A. e; o criador e responsável pela implementação do DISCMEN nas armaduras, Terrance Snider.
- Estou achando que enviamos as Unidades até lá por nada. Era só ter atirado o CICLOPE inteiro na cabeça do alienígena que teríamos resolvido toda a situação. - O tom descontraído de Terry destoa de toda a situação. Com apenas um olhar, Erika repreende seu jovem colega.
"- Sério?! Que povo sem senso de humor.".
- Algum sinal do alienígena?
- Negativo, senhor. Nossos sensores não captam nenhum sinal do inimigo.
As novas Unidades são bem parecidas com as tradicionais, com exceção de alguns traços e arestas mais quadradas e, suas pinturas, ou melhor, a falta delas. Por se tratarem de protótipos, as três unidades ainda apresentam uma aparência bruta de aço, com alguns números e códigos pintados em branco espalhados pelo corpo e uma faixa zebrada, pintada em amarelo e preto em pontos específicos dos androides.
- Esperem! Meus sensores captam uma leitura. É uma descarga de energia, e das grandes! - Um dos fuzileiros operadores das Unidades chama a atenção de todos.
- Afastem-se daí. - A ordem é dada diretamente pelo Secretário Rohns e obedecida de imediato.
As duas outras Unidades também captam o ponto da emissão de energia e se afastam alguns metros enquanto continuam a sobrevoar os destroços.
Um feixe de luz irrompe de dentro do módulo espacial, abrindo um buraco em sua fuselagem. De dentro do buraco surge Berserker levitando, com seus tentáculos circundando seu corpo, preparados para atacar.
Imediatamente as Unidades se espalham ao redor do alvo e apontam seus braços para o pirata. O braço de cada Unidade se transforma, com peças móveis se abrindo, revelando um canhão de partículas interno em seus membros. O interior de cada canhão brilha fortemente e emite um som vibrante, indicando estarem prontos para serem disparados a qualquer momento.
Os sensores das Unidades rapidamente executa uma varredura no corpo do mercenário, detectando vários danos internos.
- Senhor, detectamos DNA humano nessa criatura. - Enquanto um dos fuzileiros reporta a descoberta, seus scanners fazem uma pesquisa em sua base de dados. - É o DNA de um dos prisioneiros desaparecido de Atlantis, senhor!
Sobre o exoesqueleto avariado de temblórium e aço balístico de Berserker, a mente fundida de Dalmas e do alienígena avalia a situação. Poderiam lutar. Estavam feriados, mas longe de serem vencidos. Porém o preço poderia ser muito alto a pagar. Além dos três canhões de partículas, Berserker pode sentir todas as armas da fragata e do porta aviões apontadas para si.
Ele poderia lidar facilmente com aqueles três Unidades. Já haviam derrotado duas sem muitos esforços. Os navios de guerra ainda estavam avariados e confusos com toda a situação. Dalmas imaginava que teria uma boa janela de tempo para cuidar dos três inimigos sobre si, antes de precisar se preocupar com os reforços.
Tinha feito sua escolha.
As peças móveis de seu capacete se fecham uma vez mais e seus olhos por de trás do visor passa a emitir novamente um brilho púrpura. Estava pronto para a batalha.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro