Capítulo 16
Comando de Operações e Defesa Aeroespacial (C.O.D.A.)
Tempo transcorrido após o primeiro contato: 36 dias.
Um mês havia se passado. Com a excitação de quem recebe seu primeiro salário na vida, Terry já faz planos para gastar seu pagamento. Sentado em uma poltrona da janela, o rapaz abre inúmeras páginas de sites de compra em seu smartphone, enquanto o trem percorre seu caminho até o C.O.D.A.
As coisas, até então, não haviam saído conforme o planejado. A primeira semana em seu novo emprego fora dedicada à procedimentos e padrões internos. Palestras do RH apresentando a empresa aos novos funcionários, simulações de situações de emergência e abandono do prédio, um passeio por todos os setores permitidos do complexo e mais palestras do RH a respeito do código de conduta e ética. Tudo muito chato aos seus olhos.
Por isso sentiu-se sendo dragado em um poço de areia movediça ao deparar-se com a sua estação de trabalho. Passada a primeira semana de treinamentos internos, os dias seguintes haviam sido dedicados apenas a passar para o papel o seu projeto da faculdade.
Seu trabalho de conclusão do curso abordava apenas o aspecto teórico do tema. O protótipo que ele aparecia usando no vídeo havia sido construído instintivamente. Não havia nenhum projeto detalhado, esboço de circuitos com modelos 3D e simulações em softwares documentados. Em função disso, sua primeira tarefa como colaborador do C.O.D.A. era tirar o projeto de sua cabeça e passar tudo para o computador. E isso, para Terry, é muito chato.
Como um engenheiro recém-formado, Terry curtia criar e programar coisas, inventar soluções para diferentes problemas. Desenhar no computador, entrar em contato com fornecedores para cadastrar e especificar peças e matéria prima, definitivamente não era algo que o agradava. Era coisa para estagiário fazer. Não para ele.
A partir da segunda semana Terrance ganhou sua própria mesa em uma sala cheia de Engenheiros Júnior de todos os outros setores. Não entendeu muito bem por que ficaria em uma sala tão genérica, e não com o pessoal do seu departamento. Dispostas lado a lado, dezenas de mesas, separadas apenas por uma divisória, ocupavam quase todo o espaço.
Quando compartilhou com seus colegas de sala que havia sido entrevistado pelo próprio Diretor Geral, ganhou fama de estrela. Mas com o passar dos dias, o assunto foi esfriando e ele acabou se tornando só mais um no meio de tantos. Sem falar que sua dificuldade em se relacionar com outas pessoas o afastava cada vez mais de seus colegas de empresa. Quase sempre almoçava sozinho e passava o intervalo dormindo em sua mesa.
Ainda para piorar, havia sido advertido por postar fotos suas, dentro do complexo, em seus perfis da internet, o que era terminantemente proibido. Definitivamente, havia começado sua carreira com o pé esquerdo.
Sua vida pessoal também não estava muito animada. Seu dia a dia resumia-se a acordar cedo, ir trabalhar e voltar para casa. Sozinho, nem jogar vídeo game tinha muita graça, visto que o grupo que ele mesmo havia criado para jogar on line com seus amigos estava quase sempre vazio. Terry tinha a certeza de que esses mesmos amigos criaram outro grupo para a jogatina, mas, que por alguma razão, não o incluíram.
Havia alugado um apartamento de dois quartos no centro da cidade, a cerca de 40 minutos do complexo do C.O.D.A. Por não saber cozinhar nem um ovo, acabava fazendo todas as suas refeições em uma lancheria logo abaixo do seu apartamento. Vez ou outra saia a caminhar sozinho à noite, para conhecer seu bairro. Estava atrás de uma academia.
Luana, a garota do RH por quem havia desenvolvido um interesse amoroso, não foi mais vista. Até sua supervisora Erika, segunda presença mais constante em seus devaneios românticos e sexuais, era raramente avistada. Achou que a essa altura, já estaria vivendo rotina mais emocionante.
Desde o dia da entrevista que não via sua namorada, Jéssica. Por coincidência, a convenção da qual ela participaria tinha sido marcada para o mesmo dia da entrevista em um centro empresarial na mesma cidade. Se não fosse por isso, já estaria fazendo mais de três meses sem vê-la.
Estavam juntos havia dois anos. Conheceram-se na faculdade. No início o relacionamento era muito promissor. Jessica era a sua primeira namorada e, ele o primeiro dela. Fizeram muitos planos, achando que passariam o resto da vida juntos. Mas, pelo menos para Terry, assim que as coisas começaram a cair na normalidade, seu interesse por ela diminuiu. Ela já não o atraía mais fisicamente. De repente, ele começou a achar que conseguiria uma pessoa mais "top". Gostava das garotas de academia, com suas barrigas e pernas malhadas.
Jessica se formou um semestre antes dele e acabou indo morar no exterior, para cursar sua pós-graduação, o que só contribuiu mais para que o sentimento que Terrance tinha por ela acabasse, ao mesmo tempo em que ele ganhou certa liberdade. Se é que sair escondido com os amigos em festas da faculdade é sinônimo de liberdade.
Após o almoço, Terrance está com a cabeça apoiada sobre seus braços cruzados em cima da mesa, tentando tirar um cochilo. A sala que é ocupada por mais de quarenta engenheiros e estagiários está quase vazia. Esse horário é um dos poucos momentos que o local se encontra calmo e silencioso. Já está quase pegando no sono, com um pequeno filete de baba escorrendo pelo canto de sua boca quando uma notificação sonora de recebimento de e-mail o acorda.
"- Saco! Quem é o vagabundo que responde e-mail na hora do almoço?"
Contrariado, mas curioso, o jovem Snider abre a mensagem, que na verdade se revela ser um agendamento de reunião.
"- Ai droga. Outra palestra sobre ética no trabalho não, por favor".
Seus olhos se enchem de luz, entretanto, ao perceber que o convite, havia sido enviado para, entre outras pessoas, sua supervisora, a Dra. Barnett e, ninguém menos que o Diretor Geral do C.O.D.A.
- Ai sim! – O jovem engenheiro se levanta abruptamente e desfere uma série de socos no ar. Ele ainda tinha, pelo menos, mais duas semanas de trabalho pela frente, para concluir todos os registros de seu dispositivo, então a reunião, obviamente não seria sobre isso.
"- Um novo projeto talvez?"
Terry abre sua gaveta, pega sua nécessaire onde guarda seus itens de higiene pessoal e vai até o banheiro se preparar. Ainda faltava uma hora para o início da reunião, mas queria chegar cedo - o que por si só, já era um fato inédito - para garantir um lugar privilegiado e não ficar de pé.
***
A sala de reuniões se encontra lotada. Todos os 16 lugares ao redor da mesa, mais os seis acentos dos sofás e algumas cadeiras que foram trazidas de outras salas estavam ocupadas por colaboradores das mais diferentes sessões do C.O.D.A. O clima era de apreensão. Desde os episódios do retorno de Andrômeda e a invasão de seu passageiro, no mês passado, que tantas pessoas não se reuniam em um mesmo lugar.
A importância da reunião fica nítida, quando o Secretário de Defesa Gerald Rohns entra na sala acompanhado de, ninguém menos que Francis P. Cavalieri, o Presidente dos Estados Aliados do Sul.
Todos se calam quando os dois adentram no aposento. Terry, que se esforçou para chegar primeiro e garantir um lugar de destaque na reunião, se vê cordialmente obrigado a ceder o seu lugar na mesa ao Presidente. No fim, ele acaba tendo que procurar um lugar em pé, bem ao fundo da sala.
- Senhoras e senhores, obrigado por comparecerem à reunião com tão pouco tempo de antecedência. Sabemos o quão ocupados todos são. Mas acreditem não os chamaríamos aqui se não fosse por algo extremamente importante. – Quem se pronuncia é o Presidente Cavalieri, que logo passa a palavra ao Diretor Whittaker.
- Senhores, todos vocês aqui acompanharam e estão cientes dos fatos ocorridos no mês passado.
"- Que fatos?"
- Há exatos 36 dias, nosso Monitoramento de Missões Espaciais, conhecido por alguns apenas como MMS, começou a se comunicar com a sonda espacial Andrômeda assim que ela entrou no raio de alcance de nosso radar. Passamos a monitorar e a seguir a nave desde Marte. Várias informações foram recebidas, inclusive os dados vitais de um de seus ocupantes, Tenente Wade O'hara. – Continuou Whittaker. – O problema é que essa nave partiu em missão e, por complicações diversas, se perdeu no espaço há mais de 60 anos, o que deixa tudo mais interessante. Ao se aproximar da Terra, Andrômeda alterou a sua trajetória e acaba pousando na Lua. – Nesse instante as luzes se apagam e o monitor da sala é ligado, passando a exibir fotos e gravações. – O que vocês estão vendo são imagens e gravações feitas a partir do telescópio do satélite CICLOPE. Como podem ver, Andrômeda já estava muito danificada quando se aproximou da Lua. Por isso, achamos que ao perceber que a nave não resistiria a uma reentrada na atmosfera da Terra, o seu ocupante acabou decidindo abandoná-la e seguir viagem sozinho.
Com um aceno de cabeça, o Diretor passa a palavra para a Dra. Erika Barnett.
- Essas são imagens do nosso visitante. – As imagens exibidas agora dão lugar a uma projeção do alienígena, com vários gráficos exibindo as informações conhecidas a respeito dele. – Ele possui uma armadura, ou exoesqueleto, de temblórium endurecido de aproximadamente 18 mm de espessura, além de um sistema de propulsão interna, o que lhe permitiu se deslocar entre a Lua e a Terra. Entre outros elementos identificados está o carbono, o que nos faz pensar que esse bicho possui uma estrutura bio robótica. Não foram detectados resquícios emissões de nenhum tipo de gás ao seu redor. Logo, sabemos que ele não respira e que seu sistema de propulsão não é alimentado por nenhum tipo de combustível químico ou fóssil.
A doutora faz um sinal com a mão e logo pastas começam a serem distribuídas entre os participantes da reunião.
- Isso tudo que eu falei não é novidade para ninguém.
"- Meu Deus. É novidade para mim, sim!"
- Agora vamos expor algumas informações que a maioria aqui desconhece. – As luzes se apagam e o monitor volta a se destacar na sala, exibindo mais informações. – Sem podermos arriscar que um alienígena alcançasse nosso planeta sem sabermos suas intenções, o Comando autorizou que nosso satélite abatesse o inimigo. Essas são imagens do ataque.
Pelo monitor, os presentes acompanham a tentativa do CICLOPE de destruir o alvo. Terry, estupefato com a enxurrada de informações, não consegue processar tudo que acaba de lhe ser revelado.
"Como assim? Uma tentativa de invasão de um alienígena na Terra? Um satélite capaz de disparar mísseis? Como é possível que tenham conseguido manter tudo isso em segredo?"
- Como vocês podem ver, nem mesmo uma explosão nuclear foi capaz de destruir o alvo. Felizmente acreditamos que com o impacto da explosão, conseguimos alterar sua rota inicial.
- Dra. Barnett, qual era sua rota de voo inicial? – Um dos participantes pergunta.
Em sua mente vem as fotos da mina abandonada. Mas ela sabe que se fosse para tornar essa informação pública, Whittaker já teria feito.
- Não sabemos. – Quem responde é o Secretário de Defesa, antes que Erika pudesse pensar em uma resposta. – Tudo o que sabemos é que nosso visitante acabou caindo em algum ponto do Pacífico, a mais ou menos 200 quilômetros da costa das Filipinas.
- A partir desse ponto, passamos o comando das ações para o governo chinês e, posteriormente, à Libra – Erika continua. – Aqui tudo começa a ficar confuso, com muitos pontos de interrogações surgindo. As informações que recebemos é que 14 horas após ter sido confirmada a destruição do alvo, uma plataforma de extração, a 12 quilômetros do local da queda foi atacada. Muitos de seus tripulantes foram mortos e alguns outros estão desaparecidos. – Erika termina sua apresentação e volta a se sentar.
O Presidente Cavalieri toma a palavra de volta e, após terminar de abotoar seu paletó, retoma a apresentação.
- Isso, meus caros, é o que vocês vão falar, quando interrogados em caso de vazamento de informações. – O Presidente acena com a cabeça para alguém bem atrás, de pé ao lado da porta. – Tudo que vocês ouvirem e verem a partir desse ponto é considerado informações Ultrassecretas e, sobre hipótese alguma, vocês devem falar sobre isso, com ninguém.
Com o aperto de um interruptor em uma botoeira ao lado da porta, uma micro corrente elétrica percorre todas as folhas de vidro que formam a divisa entre a Sala de Reuniões e a Sala de Controle. Antes transparentes e cristalinos, agora eles se tornam negros e a prova de som.
- Vou pedir para que os senhores desliguem os seus celulares. – Solicita o mesmo homem que apertou o interruptor.
Todos prontamente obedecem, tirando seus aparelhos dos bolsos de suas calças ou casacos e desligando-os. Terry, alambicado como sempre, resolve que configurá-lo apenas para o modo silencioso seria o suficiente, já que nem sinal ele conseguia pegar ali dentro.
Em seguida o Presidente retoma seu relatório.
- Como podem ver pelas fotos em suas pastas, esse foi o estrago causado no ataque à plataforma. – De costas ao seu público, enquanto analisa pela enésima vez as fotografias, o Presidente usando uma caneta laser, circula alguns pontos específicos. – Aqui, aqui e aqui. Acreditamos que tudo isso tenha sido feito por algum tipo de feixe de partículas ou plasma. Como vocês sabem, o uso desse tipo de arma é proibido por qualquer exército que não o da Libra e temos certeza de que eles não atacariam sua própria embarcação.
- Nem a Libra e nenhum outro governo do mundo tem registro de qualquer grupo ou facção terrorista com posse de tais armas, apesar de sabermos que essa tecnologia já foi negociada no mercado negro. – Rohns completa a informação.
- Obrigado, Secretário Rohns. – O presidente prossegue. – Isso foi achado em um ponto do convés. – A foto é de uma poça de algo muito semelhante a sangue, porém de cor roxa brilhante. – Após analisada em laboratório, a Libra concluiu que esse sangue não pertence a nenhum ser vivo do planeta, apesar de conter traços de DNA humano misturado. E isso. - Dean faz uma breve pausa, pesando suas próximas palavras. - Isso também foi achado na plataforma.
A foto parece mostrar um corpo liquefeito, como se tivesse derretido parcialmente na posição fetal.
- Isso senhores, é o que restou de Wade O'Hara, um dos pilotos de Andrômeda.
Abruptamente Terry interrompe a reunião, gritando, enquanto tenta desesperadamente tirar o seu smartphone do bolso. Em um primeiro momento, o jovem engenheiro enfia toda a mão no bolso da calça a fim de retirar o aparelho, porém, logo em seguida ele a puxa de volta e a sacode, como se o que ele havia tocado estivesse muito quente.
Todos se olham assustados com a cena, preocupados com o que pudesse estar acontecendo com o colega. Outros, porém, se entreolham com um ar malicioso na face e um sorriso estampado nos lábios.
Conforme o calor em seu bolso aumenta e começa a irradiar para a pele de sua perna, ignorando a fina camada de tecido de suas roupas, o jovem Snider se debate mais e mais.
Com a ajuda dos mais próximos, usando as pontas dos dedos, Terrance finalmente consegue tirar seu telefone do bolso e o joga no chão da sala. A essa altura, o aparelho já soltava uma pequena coluna de fumaça. Mais uns segundos e pequenas faíscas começam a saltar do smartphone junto de pequenos curto circuitos. Suas peças de plásticos derretem e se transformam em uma massa disforme negra. Até que tudo cessa.
A Dra. Erika se levanta de sua posição lá da frente e vem até a parte de trás da sala. Os presentes na sala retornam à suas posições originais, esperando que a reunião continue meio que se esquecendo de Terry. Sem saber o que aconteceu, o jovem totalmente sem graça e envergonhado tenta se desculpar timidamente enquanto Erika se agacha e pega o celular, já em temperatura normal na mão.
- Deveria ter desligado. – Ela olha para ele, ainda agachada. – Na minha sala, depois da reunião. – Graciosamente ela se levanta e, com o aparelho morto em seu bolso do jaleco, volta para o seu lugar.
"- Merda. Que mancada!"
- Está tudo bem aí atrás, filho? – Francis pergunta, levantando seus olhos sobre os outros presentes.
- É. Está tudo bem sim, senhor Presidente.
- Ótimo. Onde eu estava mesmo? Ah, sim. Os traços de DNA presentes no sangue da criatura também combinam com o DNA de Shin Ji Yong, um oficial coreano, membro da tripulação da embarcação.
A foto de um asiático, deitado em uma cama de hospital, cercado por equipamentos médicos é exibida.
- Shin foi um dos sobreviventes ao ataque, porém está em coma. Por isso ainda não conseguiram saber exatamente o que houve.
- Senhor Presidente, ninguém mais testemunhou o ataque? Quero dizer, não existem outras testemunhas? - Quem pergunta é um dos Engenheiros Sênior do C.O.D.A.
- Não. Dos 47 mortos, 34 eram oficiais da plataforma que morreram em combate. Os outros tripulantes da plataforma procuraram abrigo durante a ação. Foram interrogados, mas não disseram muito. – O Secretário de Defesa se antecipa e responde à pergunta. Ele continua – Quatro horas após o ataque do alienígena, o porta-aviões AES REGULUS chegou ao local, seguido de um submarino chinês. Nenhum rastro do inimigo foi localizado, até então. Isso tudo ocorreu há 35 dias.
- O propósito dessareunião, além de colocá-los a par de todos os acontecimentos é prepará-los parauma nova missão: o C.O.D.A. foi designado para rastrear e localizar oalienígena. E vamos fazer isso com o auxílio do satélite mais moderno da Terra,o CICLOPE. - Uma pausa. - Então se preparem. Vamos caçar esse invasor.
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