Capítulo 35
2500 palavras
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No momento que Bárbara constatou que Ian estava morto, sentiu seu coração ficar anestesiado, assim como da vez que viu seus pais morreram. Ela observou a expressão tranquila que ele fazia, sabia que Ian morreu feliz com as escolhas que fez, então uma parte dela estava feliz por ele finalmente deixar a vida de sofrimento que enfrentava desde criança. A morena colocou a mão no rosto dele, tentando criar coragem para terminar essa história.
— Vou dar um fim nisso — Ela sussurrou. — Por nós.
A líder olhou para trás, encontrando Heitor, Breno e Nefertiti tentando acabar com os inimigos, Bárbara visualizou o desfecho sem esforço, ela se levantou, mas antes, pegou a faca que Ian sempre levava escondida no caso, Bárbara apertou-a fortemente, depois correu na direção do governador, ele tentava desviar dos gângster enquanto os poucos seguranças tentavam protegê-lo, quando os olhos dela se encontraram com os dele, um arrepio percorreu a espinha do homem. A morena desviou rapidamente daqueles que entraram em seu caminho, a velocidade na qual ela fazia isso era tanta que em pouco tempo alcançou o governador, ela fez um corte no rosto dele, aquela foi a primeira vez que torturava alguém e não sorria, ela fez mais um corte no braço dele, e depois na perna, fazendo-o cair, assim Bárbara socou seu rosto, deixando-o tonto, a morena o puxou pelo cabelo, levando o rosto dele até a água, começando a afogá-lo.
Enquanto isso, Heitor levou uma facada no peito pelo segurança, aquela era sua própria faca, o loiro tentou com todas as suas forças, mas pensar em todos que já perderam a vida por causa da ideia de fundar a Leviatã o fez fraquejar por alguns instantes, assim o segurança aproveitou para acabar com ele, Heitor olhou na direção de Ian e Alexa, a latina com um tiro na testa, caída de qualquer jeito na areia, e Ian, seu amigo desde criança, morto com um tiro no peito. Heitor chorou, não porque estava morrendo, mas por toda a dor que já passou até aquele momento, ele lembrou de seus amigos naquela tarde há dezessete anos, na frente de um altar religioso de um hospital, ele sorriu, a imagem deles parecia tão clara, era como se ele visse todos eles crianças, o chamando.
Breno viu a cena, virando o rosto na direção do amigo.
— Heitor, não! — Gritou, perdendo o foco do que estava fazendo, então o segurança que o enfrentava avançou contra ele, derrubando-o no chão, mas Breno pegou sua arma que estava no chão, atirando nele, depois correu na direção de Heitor.
O loiro caiu sob a areia, olhando para o céu. O negro esqueceu que havia outro segurança ali e, sem percebê-lo, levou uma facada pelas costas, Breno arregalou os olhos, cuspindo sangue, depois caiu ao lado do amigo, as mãos deles encostaram-se, como se dessem as mãos antes de morrerem. Breno começou a fechar os olhos, vendo sua miserável vida passar diante de seus olhos, ele chorou, odiando a maior parte dela.
— Está na hora de dizer adeus. — Murmurou, olhando para seu amigo que fazia alguns instantes que já estava morto.
Quem observou a cena dele enquanto derramava lágrimas era Nefertiti, a negra havia levado cortes por todo seu corpo, principalmente nos braços, ela apertou o pescoço do segurança, tomando a faca dele e enfiando-a no rosto dele, depois mais uma vez, porém, no pescoço. Após isso, soltou ele na areia, cansada e praticamente sem forças, Nefertiti caiu de joelhos, deixando o choro cair livremente, ver Breno morrer foi demais para seu coração, no fundo, ela sempre o amou. Porém, a capitã havia sofrido tantos cortes e lesões, que mal conseguia mover-se, ela arrastou-se pela areia, aquele segurança que matou Heitor e Breno, viu que ela ainda resistia, então resolveu aproximar-se dela, suas ordens eram não deixar nenhum deles respirando.
Nefertiti notou, erguendo-se do chão.
A negra acabaria com aquele homem nem que fosse a última coisa que faria, com a mesma faca que usou antes, apertou-a com força e correu na direção dele, Nefertiti tentou acertá-lo, mas falhou, o segurança socou seu rosto, fazendo-a cair no chão, a negra, mesmo caída, acertou a faca na coxa dele, o segurança caiu e Nefertiti levantou-se, mirando a faca novamente na direção dele, ele puxou a mão dela, e a faca caiu, os dois tentaram pegar, mas ele foi mais rápido, enfiando a faca na barriga dela, Nefertiti gritou de dor, mas antes de pender e cair, reuniu suas últimas forças, tomando a faca dele e enfiando-a no pescoço dele.
A capitã caiu na areia, cansada. Nefertiti lembrou de sua filha, ela a teve aos catorze anos depois de sofrer nas mãos do patrão de sua mãe, mas a negra não queria o mesmo destino para ela, então a entregou pra adoção e saiu do País, encontrando refúgio na metrópoles. Sinceramente, ela não se arrependia de nada. Fez o que tinha que fazer para sobreviver. Morreu aceitando o seu destino.
Bárbara cansou de afogar o governador, naquele momento, parecia que não fazia sentido nada do que fazia.
— Sua vadia! — Esbravejou o homem, quase perdeu a vida várias vezes enquanto a líder levantava sua cabeça quando o via se debater.
Ela continuou encarando-o, porém, se distraiu com a voz de Laura chamando-a.
— Bárbara! — A loira começou a correr na direção dela, nesse instante, lágrimas começaram a descer pelo rosto da líder, exausta daquela situação. O governador, aproveitando a oportunidade, empurrou Bárbara na água e tentou tomar a faca que ela estava segurando. Ele segurou os pulsos dela, forçando-a soltar a faca, quando conseguiu, enfiou na barriga dela, mas Bárbara chutou o rosto dele e depois o peito, derrubando-o na água, Bárbara subiu sob o homem, acertando a cabeça dele em uma pedra, após isso, pegou a faca e enfiou no peito dele duas vezes. A líder caiu para trás, tonta. Viu Laura correr em sua direção enquanto gritava desesperada.
— Bárbara, vamos sair daqui, por favor! — Pediu, segurando a líder. Bárbara concordou com a cabeça, deixando a mulher segurá-la em seus braços.
As duas caminharam pela areia da praia, Bárbara olhou para seus companheiros de luta caídos no chão, começou a chorar, fazendo Laura chorar também, ela agradeceu mentalmente pelo apoio de cada um deles durante aqueles anos. Desejou que eles realmente tivessem paz, descansem depois de uma vida cansativa, sofrida e nada feliz.
"Obrigada, pessoal." Pensou a líder, deixando a praia junto de Laura.
As duas caminhavam por mais algumas ruas, Bárbara avistou o começo da estrada, então olhou para trás, vendo uma espécie de cabana abandonada.
— Laura, tem um lugar que podemos esperar até o amanhecer. — Comentou, guindo-a para a cabana. A loira assentiu, seguindo ela.
As duas entraram e o lugar estava as moscas, então Bárbara deixou as forças saírem, caindo de joelhos no chão.
— Bárbara! — Laura berrou, tentando segurá-la. A loira ficou na praia o tempo inteiro, observando a situação de longe, queria ter feito algo, mas era fraca, sempre foi. Laura viu a cena enquanto chorava assustada e sem conseguir sair do lugar, porém, ganhou força quando viu Bárbara precisar dela. E ela sempre precisou.
— Ele me acertou. — Bárbara tossiu, deitando no chão sujo e empoeirado da cabana.
Laura arregalou os olhos, vendo a blusa cinza da morena cada vez mais molhada por seu sangue, a loira ajudou Bárbara a deitar, colocando a cabeça dela em seu colo.
— Temos que conseguir ajuda, se eu for até a estrada e...
— Ninguém vai passar essa hora e se passar, não vai ajudar. — A morena cortou sua fala, tossindo mais um pouco. — Fica aqui até amanhecer, depois vai embora, se alguém te encontrar comigo você pode morrer, promete que vai fugir, promete.
— Não... por favor, você vai comigo. Você vai ficar bem, viva, nós vamos ficar juntas e nunca mais eu vou deixar você ir, vou ficar com você pra sempre, eu te amo, Bárbara, eu te amo tanto. — Laura abaixou a cabeça, derramando lágrimas como nunca fez antes, estava perdendo Bárbara novamente, mas desta vez, era pra sempre.
— Eu amo você. — Bárbara sorriu, segurando no rosto dela. — Se tem uma coisa que eu me arrependo, é ter deixado você naquela praia, me desculpa por isso.
— Esquece — Laura pediu. Negando com a cabeça, tentando controlar as lágrimas. — Fica comigo hoje, por favor.
— Eu vou morrer, não aguento mais isso, é melhor assim. — A líder olhou para o teto da cabana, sua mente começou a ficar embaralhada, seus sentidos começaram a falhar, não sentia os músculos e parecia que havia uma pedra dentro da sua garganta, impedindo gradativamente que sua respiração circulasse. Bárbara sabia que aquele era o seu fim.
— Não, não, por favor, Bárbara, fica comigo. Não me deixe, eu te amo tanto.
— Eu tenho que ir. Estou me sentindo estranha, acho que está na hora. — Bárbara apertou a mão dela, forçando contra seu rosto. — Obrigada pelos nossos lindos e preciosos momentos juntas, eu amo você.
— Não...
— Sabe o que eu gostaria agora? — Perguntou a líder, deixando Laura confusa.
— O que? — Questionou a loira, aproximando o rosto dela.
— Uma maçã caramelada, igual aquelas do nosso primeiro encontro, seria bom. — Falou, começando a fechar os olhos, Laura concordou com a cabeça, deixando mais lágrimas escorreram pelo rosto.
— Tudo bem, vou comprar uma pra você.
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"Ontem à noite, no antigo distrito Shaka, foram encontrados os corpos dos superiores da gangue Leviatã. Na praia estava Ian Yamaguchi, vice comandante desde que ela foi fundada há mais de quinze anos, o corpo de Bárbara Reis, líder da gangue há dez anos, foi encontrado algumas ruas depois, dentro de uma cabana abandonada. Há quem diga que Bárbara caminhou sozinha até lá, mas outras pessoas acreditam que ela teve ajuda, de qualquer forma, seu corpo estava sozinho sob o chão sujo da construção.
Não podemos afirmar com certeza o motivo da morte deles, porém, acreditamos que seja pela pressão que as autoridades faziam, já que criminosos estavam comandando a cidade.
Moradores do distrito Zâmbia, onde a gangue foi fundada e residiu por alguns anos, estão se reunindo para prestar respeito pelas vidas perdidas nessa briga entre as gangues, quem quiser fazer parte, vá para Zâmbia ao anoitecer.
A maioria dos cidadãos da metrópoles estão manifestando-se nas redes sociais, questionando-se qual o rumo que a cidade vai tomar após o fim da era de gângster, alguns estão animados, outros estão assustados, mas a verdade é que a era de gangues foi marcada por sangue, lágrimas e perdas, antes mesmo da Leviatã surgir, gângster já amedrontavam a cidade. Talvez agora, depois de tudo o que aconteceu, a metrópoles pode respirar tranquilamente.
Seria o tempo de paz depois de duas décadas de brigas?
Nós, da mídia e do jornalismo, desejamos que sim."
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Laura havia esperado amanhecer, assim como Bárbara pediu, a loira voltou a praia para limpar o sangue da roupa e retornou a cabana, ficando perto do corpo da líder até que o sol finalmente nascesse, após isso, com o coração despedaçado, a loira deixou a construção abandonada, caminhando pela estrada até encontrar um posto de gasolina, disse que havia batido seu carro e pediu para usar o telefone, ligou para a única pessoa que podia ajudá-la.
"Laura?!"
— Oi, Pedro — Falou, começando a chorar logo em seguida. Do outro lado da linha, o homem ficou ainda mais desesperado.
"Vou te buscar, onde você está?"
— Na estrada 196, indo para Shaka, parei em um posto de gasolina. — Contou.
"Estou indo. Se acalme."
Laura parecia apagar da mente momentos em que precisava esperar, as últimas horas foram tão assustadoras e sufocantes que seu raciocínio estava lento, parado no momento que via as pessoas morrendo e, principalmente, as últimas palavras de Bárbara.
Quando Pedro chegou, ela abraçou ele, tentando parar de chorar, mas seu namorado entendeu a gravidade da situação, então não perguntou nada, pelo menos por hora.
Assim que Laura entrou em casa, caminhou até seu banheiro e tirou suas roupas, entrando debaixo do chuveiro, deixando mais lágrimas caírem.
Depois do banho, Laura vestiu seu pijama velho e procurou por Pedro, o encontrou na cozinha.
— Eu vou te contar o que aconteceu — Ela parou na entrada da cozinha, cabisbaixa. — Vou te contar tudo.
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— Querida, você foi assaltada! Ficamos preocupados. — Exclamou a enfermeira chefe do hospital infantil, supervisora de Laura.
— É, me confundiram com a irmã de alguém que devia para eles, jogaram meu celular fora. Desculpa por trazer preocupação para vocês. — Falou Laura, apertando suas mãos uma na outra, tremendo.
— Melhor você descansar, vamos dizer que está doente, não se preocupe. — Ela sorriu, segurando no ombro de Laura.
A loira concordou com a cabeça, agradecendo sua supervisora.
Laura deixou o hospital e começou a caminhar pelas ruas, parou para ouvir a matéria que passava no jornal, era sobre o fim da gangue. Sem perceber, lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, fazendo-a encostar na parede, tonta. Laura sentiu seu coração disparar, então correu pela rua, desesperada. Porém, do outro lado, uma morena passou, a loira jurou que aquela mulher era Bárbara porque eram idênticas, por um segundo, ela realmente acreditou, pois seu corpo se moveu sozinho na direção da mulher, mas então parou, ouvindo apenas seu coração bater tão alto que parecia estar em seus ouvidos.
"Não é ela, Bárbara está morta."
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O tempo pode passar rápido demais quando estamos felizes, quando rimos e conversamos com alguém que amamos, mas ele passa devagar de uma maneira sufocante quando estamos tristes.
O parque nacional estava silencioso, era uma segunda-feira cinza, às duas da tarde.
Laura caminhou pelas ruas até encontrar a entrada, olhou em volta e agradeceu aos céus por não ter ninguém conhecido, suspirou antes de entrar no parque.
Fazia quase um ano do fim da Leviatã, nesse tempo, Laura não sabia como sobreviveu ou conseguiu ir trabalhar todos os dias depois daquilo, talvez fosse porque Bárbara parecia conformada com seu destino, então, aos poucos, Laura começou a aceitar também.
Podemos tentar salvar quem amamos, mas se ela não quiser ser salva?
Foi isso que aconteceu com elas.
A loira avistou as barracas de comida, sorriu, lembrando daquele dia, pediu por uma e sentou no mesmo banco de anos atrás.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, lágrimas começaram a descer incontrolavelmente por seus olhos, como não havia ninguém perto, não limpou o rosto.
— Eu comprei pra você, desculpa ter demorado, precisei de um tempo. — Fez uma pausa, tomando fôlego.
— Dói tanto pensar em você, queria ter te salvado, queria ter ido embora com você, mas acho que depois do que aconteceu você estava cansada. E eu entendo, espero que esteja em um bom lugar, eu amo você. Sinto sua falta.
Laura passou a mão sob os olhos, mas olhou para trás, sentindo alguém se aproximando, e um perfume de flores, mas não havia ninguém ali, então levantou-se e deixou a maçã caramelada ainda na caixa, como um presente, ela sorriu, indo embora do parque, acreditando que de alguma forma, ela recebeu o presente.
Fim.
Acabou, pessoal
Obrigada por chegar até aqui!
Amo todos vocês ♡
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