Capítulo 3
3000 palavras
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Bárbara virou a cabeça de um lado para o outro, abriu os olhos após mais uma sessão horrorosa de pesadelos, sentiu uma pressão em sua barriga, era Ian, ele dormia com a cabeça encostada perto de seus seios. Por isso esse peso todo. A mulher respirou aliviada ao constatar que não estava afogando em uma água suja como no sonho, pousou a mão sob os cabelos de Ian. O homem nem se moveu, apenas continuava abraçado a ela. Bárbara tentou se lembrar em que momento pegou no sono, talvez quando seu corpo não aguentou de cansaço, ela e Ian não paravam até que seu fôlego faltasse. Ele dizia que ela era fogosa, mas ambos eram insaciáveis.
A líder encarou o teto, era madrugada, notava-se pelo silêncio e a temperatura mais fria. Bárbara fechou os olhos novamente, mas o sono não queria chegar, ela estava tonta, provavelmente foi a erva. Bárbara tentou alcançar o lençol, porém, o corpo de Ian estava praticamente deitado em cima ela. Não queria se mexer para não acordá-lo, mas sentia frio. Bárbara tentou mais uma vez e conseguiu pegar na ponta do lençol, Ian virou para o outro lado, entretanto, não acordou. A líder terminou de puxar o lençol e cobriu seus corpos nus.
Os dois, no começo, nunca dormiam na mesma cama. Talvez fosse demais, afinal, lembrar de Matheus, o namorado de Bárbara que foi assassinado, era inevitável, Ian era o melhor amigo de Matheus desde que eram crianças e, agora, ele dormia com a garota de seu falecido melhor amigo, era estranho pensar nisso, por esse motivo, desde que eles começaram esse "lance" falar sobre Matheus era proibido.
Porém, Bárbara não se arrependia de ter beijado Ian naquela noite, quando os dois ficaram chapados depois de punir alguns traidores da Leviatã.
O vice a queria há anos, Bárbara sempre foi a mulher mais linda que ele viu, passar tanto tempo com ela fez Ian ver suas qualidades, a mulher era uma ótima estrategista e uma negociante de primeira. Bárbara podia negar, mas antes mesmo de começar a namorar com Matheus, teve uma queda por Ian, ele, segundo a morena, tinha o sorriso mais bonito de todos. Para acontecer algo nesses últimos cinco anos que eles eram parceiros não era difícil e foi o que aconteceu. Eles nem tentaram evitar.
A relação deles continuava a mesma na frente de outras pessoas, principalmente, na gangue. Porém, os dois sabem o que realmente acontece quando estão sozinhos.
Bárbara abraçou Ian, garantindo que ele estava ali, mesmo com todos os pesadelos ela não estava sozinha.
Como se ele sentisse a inquietação dela, Ian despertou. Levantou a cabeça levemente, tentando encontrar o rosto de Bárbara. A mulher continuava encarando o teto e não percebeu que ele despertou.
— Teve pesadelos? — Perguntou ele. A líder o encarou.
— Tive. — Ela sorriu fraco. Ian passou a mão pelo rosto dela.
— Quer conversar?
— Não. Por que você acordou? É madrugada. — Bárbara questionou, ele negou com a cabeça e voltou a deitar em cima dela.
— Você também acordou. Devíamos dormir de novo. — Ian se ajeitou, fazendo Bárbara de travesseiro. Ela murmurou algo, concordando.
Ian voltou a dormir, ouvindo as batidas do coração de Bárbara, o som que, ultimamente, ele dormia ouvindo quase todas as noites. Ela continuou com a mão sob o cabelo dele, fazendo algumas mechas ir pra lá e pra cá até pegar no sono novamente.
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A metrópoles ao meia dia parecia um formigueiro, pessoas apressadas passando de um lado para o outro, irritadas e gritando nos telefones. O centro da cidade possuía prédios e mais prédios, a maioria espelhados, os outros cinzas.
Bárbara caminhava calmamente pelas ruas, a líder usava um vestido colado vermelho, seu cabelo estava preso em uma trança firme, seus olhos castanhos estavam cobertos por óculos escuros. Ao seu lado, Alexa, a latina usava uma calça branca e uma camisa azul-claro. As duas seguiam para a sede da Ribeiro Campos, uma empresa de automóveis poderosíssima, a líder acreditava que podia conseguir o controle da cidade com os influentes da região. As duas encontraram o prédio e foram recebidas por uma loira simpática e um moreno discreto. Bárbara observava tudo, cada palavra que a loira dizia a morena fazia questão de guardar na memória, sabia que ela não estava falando isso por acaso.
— E, até que enfim, chegamos ao escritório, senhorita Reis. — A loira sorriu, Bárbara acompanhou o belo sorriso dela e trocou olhares com Alexa. — O senhor Campos está esperando as senhoritas aqui, há algo mais que eu posso fazer?
— Não. Obrigada pela recepção, você é muito linda, sabia? — Perguntou Bárbara, sorrindo gentilmente. A loira ficou corada.
— Ah, obrigada, senhorita Reis. — Ela juntou as mãos e as colocou para trás. Bárbara sorriu.
— Vamos, Alexa. — Ela chamou a capitã, e deu alguns passos na direção da porta. Entretanto, acenou para a recepcionista novamente.
Bárbara entrou no escritório, foi o maior que já viu. Tudo tinha um aspecto rústico, em madeira e couro. Um homem a esperava com os braços cruzados.
A conversa com ele foi como Bárbara esperava, porém, o homem não parecia aceitar que fosse associado a uma gangue.
— Veja bem, senhorita Reis, o que me diz parece certo, mostrou ser uma jovem ambiciosa, eu respeito isso, mas a Ribeiro Campos é antiga e um dos pilares dessa metrópoles, não sei se ter a Leviatã como uma de nossas protegidas é o melhor. — O homem explicou, calmamente. Bárbara o encarou por alguns instantes antes de responder.
— O senhor ouviu falar sobre a rebelião do dia 4 de junho? — Questionou Bárbara, o homem concordou. — E o senhor sabe quem foram as pessoas que organizaram aquela rebelião?
— Está me dizendo que...
— Foi a Leviatã. A presidente da Sampaio Indústrias nos contratou para fazer aquela limpeza nos seus antigos funcionários que foram presos e para que não falassem nada.... — Bárbara parou e deu um gole na sua água.
— Os mortos não falam. — Completou ele. A morena assentiu.
— Como pode ver, senhor Campos, nós trabalhamos inconspícua. A Leviatã realiza o trabalho, e se o senhor pagar bem, não deixaremos um rastro se quer. — Bárbara continuou, estava mais confiável. O homem parecia mudar de ideia.
— Onde a senhorita pretende chegar conquistando o centro?
— No topo. — Bárbara o encarou, seus olhos brilharam ao pensar nisso. O homem sorriu. Lembrou-se de si mesmo há alguns anos.
— Se continuar assim, é provável que chegue e bem mais rápido do que pensa. — Desta vez, o homem também deu um gole na sua água.
— O senhor quer mais um tempo para pensar? Fique à vontade.
— Não. Me convenceu sobre o dia 4 de junho. — O homem entendeu a mão para ela, Bárbara apertou. — Temos uma aliança, senhorita Reis.
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À noite, Bárbara chegou em casa. Eram oito horas, seu apartamento ficava na parte alta da cidade, ele era pequeno, já que a líder dividia com sua irmã, os móveis de madeira clara, alguns quadros de pintura naturais e um único vaso de planta na sala.
A mulher olhou em volta, ouviu vozes.
Não demorou muito para sua irmã surgir, correndo em sua direção.
— Mana! — A negra exclamou. Catrina era o oposto de Bárbara em muitas formas, mas a que se destacava era na aparência. Enquanto Bárbara era alta, Catrina era baixinha. Bárbara tinha um olhar mortal e um jeito intimidador. Catrina parecia uma princesa, seu jeito era doce e gentil. — Nem acredito que voltou pra casa mesmo. Achei que ia me dar um bolo! — Catrina abraçou sua irmã, Bárbara apertou a baixinha em seus braços. Sentia falta dela.
— Desculpa, o trabalho está me matando. — Elas continuaram abraçadas, até que um garoto apareceu do mesmo corredor que Catrina veio correndo.
— Ah, Diogo — Catrina se soltou do abraço, Bárbara encarou o menino da cabeça aos pés. — Irmã, esse é Diogo, quem eu te falei.
— Boa noite. — O menino acenou e estendeu a mão, Bárbara apertou firmemente.
— Boa noite. É bom te conhecer, a Cat falou tanto de você que parece que já te conheço. — Bárbara sorriu. Catrina respirou aliviada, isso significava que Diogo passou no primeiro teste. Aperto de mão firme.
— Eu que deveria dizer isso. A Catrina sempre me contou sobre a irmã mais velha dela, sinto que já te conheço. — Diogo sorriu, ele tinha covinhas. Bárbara e Catrina se entreolharam.
— Bom, nós vamos conversar hoje. — Bárbara passou por eles, os jovens se aproximaram. — Preciso de um banho, e tô morrendo de fome, Cat vai servindo a comida. — A morena adentrou o apartamento, Catrina sorriu.
— Folgada!
— Para, nós temos visita. — Bárbara deu de ombros e seguiu para seu quarto. O lugar era grande, o maior do apartamento. A cama de casal com cobertores brancos, a estante com diversos livros e a mesa do computador embaixo. Bárbara jogou a bolsa na cadeira e seguiu para seu banheiro, assim que fechou a porta, parou na frente do espelho, por ter dormido com Ian na noite passada, seu rosto parecia mais descansado. Ela ignorou qualquer pensamento sobre a gangue e os problemas que estavam acontecendo e começou a tirar suas roupas. No banho, Bárbara deixou molhar os cabelos. Tirou toda sua maquiagem e aparentavam ser uma mulher comum.
Após sair do box e voltar ao quarto, Bárbara procurou por uma roupa simples. Sem ser de couro ou lycra. Ela achou uma calça de moletom preta e uma camisa branca. Secou os cabelos com um secador e os penteou rapidamente. A fome falava mais alto. Saiu do quarto, ouviu Catrina e Diogo conversando animadamente, eles riam e estavam empolgados. Bárbara sorriu.
— Demorou pra quem estava morrendo de fome! — Exclamou Cat, Bárbara revirou os olhos. — Senta, vou fazer seu prato.
— Obrigada, irmã. — A líder sentou ao lado de Diogo, ele parecia intimado por Bárbara, mas quem não se sentia assim perto dela? — Então, Diogo, no que você trabalha?
— Sou assistente de um redator do jornal da cidade, curso jornalismo na mesma faculdade da Cat. — Diogo explicou, seu prato já estava pronto, porém, ele esperava as meninas se servirem também. Enquanto falava, Diogo olhou diretamente nos olhos de Bárbara. Ela sorriu. Ele passou no segundo teste.
— O jornalismo sempre me interessou, mas eu tive que começar a trabalhar muito cedo e não fui pra faculdade, mas se pudesse, teria feito jornalismo. — Bárbara puxou a jarra de suco para mais perto, era engraçado pensar nos sonhos de infância, isso parecia ter sido em outra vida.
— A Cat falou que você trabalha como corretora de imóveis, não é? No centro. — Perguntou Diogo, Bárbara afirmou. Já tinha combinado com Catrina, sempre que precisasse dizer o que sua irmã fazia, era melhor inventar uma profissão. E corretora combinava com Bárbara.
— Isso. Sou corretora há seis anos, é um bom trabalho, não tenho do que reclamar. — Bárbara deu um gole no copo, suco de maracujá era seu favorito. — Obrigada, irmã. Caramba, o cheiro está bom, foi você mesmo que fez? — Ironizou Bárbara, Catrina sorriu. Sentia falta daquela idiota, mesmo com toda implicância.
— Lógico. Eu estou ficando boa na cozinha, agora come, Bárbara. Está muito magra. — Catrina sentou na cadeira na frente de Diogo, ele sorriu pra ela.
— Tá bom, mãe. — Bárbara sussurrou e começou a comer, realmente estava com fome. Após alguns minutos, apenas com o barulho dos talheres, ela resolveu cortar o silêncio.
— Então, Diogo, onde você mora?
— No distrito Nilo, perto da praia.
— Nossa, é um dos mais bonitos. Eu fui lá uma vez, há alguns anos... — Bárbara parecia tentar se lembrar, Catrina e Diogo se entreolharam. — Foi por causa de uma festa na praia, não foi tão boa como eu pensava, mas o lugar é lindo! Nunca esqueci.
— As festas não são tudo isso, ainda pra você que vive na classe alta.
— Ah, é... — Bárbara sussurrou. — Mas você mora lá com seus pais?
— Não. Com meus tios, meus pais moram em outro cidade, eu vim pra cá porque queria morar na metrópoles. — Diogo explicou. Bárbara assentiu.
— E você tem irmãos? — Perguntou a líder. Diogo sorriu.
— Não de sangue, mas minha prima é como uma irmã pra mim. Nos últimos anos, ela tem sido a irmã que eu não tive.
— Ah, isso é lindo. — A morena sorriu e voltou sua atenção para seu prato. Diogo passou no terceiro teste. Estabilidade. Ele tinha planos do que fazer e tinha uma família.
Mais tarde, quando os três conversavam na sala, Catrina se levantou para ir no banheiro, nessa hora, Bárbara conseguiu conversar com Diogo.
— Escuta — A líder o chamou, o menino virou para ela. — É a primeira vez que ela me apresenta alguém, fiquei com receio, não pensava que ela já era uma adulta, mas você parece ser bom, na verdade, eu sinto isso. Não machuque a minha irmã, ela é a melhor pessoa do mundo. E se fizer isso, eu te mato.
— Eu sei, e entendo a sua preocupação, Bárbara. A Catrina é minha princesa, vou cuidar dela. — Diogo desviou o olhar, envergonhado.
Bárbara sorriu fraco. Se lembrou de Matheus, ele a chamava assim também.
— Me convenceu. — Ela se levantou. — Pode dormir aqui, está tarde pra voltar, vou pro meu quarto. — Bárbara acenou, ele também. Catrina surgiu na sala.
— Já vai dormir? — Perguntou a mais nova. Bárbara assentiu.
— Tô cansada, irmã. Amanhã a gente conversa mais. Boa noite, e se for transar usa proteção, não quero um sobrinho agora. — Bárbara deixou a sala ouvindo as reclamações de Catrina e o riso abafado de Diogo.
Após entrar no quarto, a líder foi até o banheiro, escovou os dentes. Voltou para a cama e se jogou. Entrou debaixo das cobertas e esperou que o cansaço a vencesse.
Do outro lado do centro, Ian e Heitor entraram em um parque abandonado, os bancos e aparelhos de ginástica estavam pinchados, o cheiro de álcool e drogas era forte. O vice correu os olhos pelo local até encontrar seu alvo. Ele e Heitor estavam acompanhados da primeira divisão, na qual Heitor era capitão.
Os homens que estavam reunidos na arquibancada, nos últimos degraus, arregalaram os olhos ao verem quem havia chegado. Um deles, Kayk, um negro esguio e magro, se levantou e curvou-se para Yamaguchi.
— Boa noite, senhor. — Ele o cumprimentou. Ian cruzou os braços. O asiático usava uma camiseta preta e calça jeans azul. Seus tênis eram brancos. — Não esperava vê-lo.
— Kayk... — Ian riu, o garoto abaixou a cabeça. — Eu fiquei sabendo de uma coisa e estou confuso. — Ele colocou a mão queixo, Heitor sorriu.
— Com o que, senhor?
— Eu não gosto de disse e me disse, então, Kayk, quero que me diga a verdade, pode ser? — Ian o encarou, o garoto assentiu. Nisso, o asiático deu alguns passos na direção dele, não desviando o olhar por um segundo. — Você criou a porra de um clube de luta? — Questionou o vice.
— Ah, senhor, o Edgar...
— Não desvia, assume a merda que você fez. A Leviatã só têm pessoas que assumem seus erros, nenhum de nós é covarde. Então, me responde. — Ian ergueu a sobrancelha, Kayk engoliu em seco.
— Sim. Eu fiz um clube de luta. — Nesse instante, após confessar, o menino recebeu um soco tão forte que caiu no chão.
— Eu quero saber o que deu na cabeça de vocês, caralho! — Ian gritou, os aliados de Kayk queriam fazer algo, mas enfrentar Yamaguchi e toda a primeira divisão não parecia uma ideia muito inteligente. — É uma regra básica, vocês são tão idiotas! — O asiático continuou gritando. Rapidamente, chutou o rosto do negro, depois pisou na mão dele, fazendo pressão, não parando ali, Yamaguchi se abaixou e esmurrou o rosto do garoto, sangue começou a sujar sua mão, Ian o empurrou no chão novamente e se levantou. — É isso que acontece quando fazem merda dentro da Leviatã. — Ian encarou os outros meninos, irritado. — Todos vocês, e esse idiota que está aqui, estão expulsos da gangue. Se eu ver vocês usando o nome da Leviatã, mato cada um no soco. — Ian chutou o abdômen de Kayk com muita força, o negro cuspiu sangue. Depois, saiu de cima dele como se não fosse nada, limpou a mão com seu lenço de seda vermelha, igual o que Bárbara tinha e deixou o lugar.
— Escuta aqui, seus putos. — Heitor tomou a frente enquanto Ian se distanciou da cena. — Vocês precisam aprender na pele como são esses clubes. — O loiro se aproximou de um dos garotos, rapidamente, socou o rosto dele. Nesse instante, mais três membros da primeira divisão ajudaram seu capitão com essa pequena lição. Heitor segurou o pescoço de um deles enquanto socava seu rosto, em seguida, chutou seu abdômen, o fazendo cair no chão. Os membros da sua divisão terminaram o serviço com gosto, fazendo os meninos sangrarem do mesmo jeito que os garotos, que eram obrigados a participar do clube de luta. Ian observava de longe.
Durante aquela noite, o vice fechou os clubes de luta pendentes.
Sua mão estava dolorida de tanta gente que precisou bater, mas era melhor fazer isso antes que a situação piorasse. O asiático queria não admitir, mas acreditava que a Leviatã enfrentaria ainda mais problemas. Internos e externos. Crescer na cidade podia ser bom, mas as coisas só ficariam piores. Esse era o preço do poder.
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Até a próxima. ♡
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