Capítulo 29
4200 palavras
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— Oh, Bibi!? — Chamou a pequena Catrina, a menininha estava com cinco anos, em sua mão, um picolé de manga que pingava no chão, ela olhou em volta, procurando pela irmã. Sem sucesso, Catrina continuou andando pelo quintal, porém, ouviu um choro. — Bibi! — Gritou, correndo para trás da árvore, lá estava Bárbara, a mais velha estava com nove anos, e tinha acabado de se machucar por ter feito o que sua mãe não deixou, subir na árvore.
— Cat, a mamãe chegou? — Perguntou, seus olhos molhados pela dor do machucado.
— Não — Respondeu a pequena, olhando para irmã. — Você fez dodói?
— Fiz — Assumiu Bárbara, limpando o rosto, nunca gostou que a vissem chorar. — Tá doendo.
Catrina se aproximou, passando sua mão na cabeça de Bárbara, dando tapinhas.
— Passou, passou. — Disse Catrina, consolando a irmã.
— Obrigada, Cat, não conta pra mamãe. — Bárbara franziu a testa, mandona.
— Só se você me der outro picolé. — Catrina sorriu, fazendo sua irmã rir.
— Credo, menina — Bárbara se levantou, e estendeu a mão para sua irmã, Catrina segurou, olhando para cima, vendo a mais velha piscar pra ela. — Vou lavar o machucado e a gente vai comprar, e termine esse.
— Tá bom. — Catrina assentiu, voltando sua atenção para o picolé.
Alguns minutos depois, as duas apostavam uma corrida para o sorveteiro, Bárbara a deixava ganhar toda vez.
— Oi, Gi — Catrina cumprimentou a filha do sorveteiro, a menina sorriu.
— Oi, Cat.— Falou a menina, sorrindo.
— Oi, Gisele — disse Bárbara, tirando do bolso as moedas. — Qual que você quer? — Perguntou para a mais nova.
— De chocolate.
Depois de comprar o picolé, Catrina e Bárbara foram para o parquinho. As duas sentaram no balanço, a mais nova já estava com a boca suja de chocolate e Bárbara fazia careta.
— Mamãe vai saber que fomos no parquinho e vai brigar. — Comentou Catrina, terminando o picolé.
— Ela briga por qualquer coisa mesmo. — Bárbara respondeu. A mais velha colocou os pés na grama, encarando seus sapatos. — Só temos que voltar antes dela chegar.
— Tá bom, Bibi, me balança? — Pediu, segurando nas cordas, Bárbara assentiu, se levantando e empurrando Catrina, primeiro puxava para trás e soltava. A mais nova ria, vendo o mundo por outro ângulo.
Catrina sempre pôde contar com sua irmã para fazer o que gostaria.
As duas riam juntas e comiam o que a mãe delas proibia. Bárbara levava a culpa todas às vezes por ser a mais velha, porém, não se importava, ver sua irmã feliz era tudo o que ela queria. Mas, o que fazia era proteger Catrina de tudo.
Certa vez, a mais nova chegou em casa chorando porque seus colegas enviados do capeta puxaram seu cabelo, Bárbara nem se deu o trabalho de contar para seus pais, resolveria sozinha.
— Irmã, falaram que o meu cabelo é feio — Chorou Catrina, segurando o pato de pelúcia. Bárbara franziu a testa e se abaixou na altura da menina.
— Quem falou isso? — Questionou ela, nervosa.
— Uma menina que começou e os outros também falaram.
— Você é a menina mais linda do mundo! — Exclamou Bárbara, segurando no rosto de Catrina. — Vai acreditar neles ou na sua irmã?
— Na minha irmã. — Murmurou a pequena, grudando no pescoço de Bárbara.
— Muito bem — Bárbara sorriu. — Amanhã eu quero que você me mostre quem são essas pessoas, tá bom?
— Bate neles! — Catrina apertou o pato e o jogou no chão, simulando seus colegas. Bárbara riu.
— Eu só vou conversar. — Disse a mais velha, se levantando.
No outro dia, Catrina andava segurando na blusa de Bárbara, a garotinha ficou com medo de seus colegas voltarem para atormentá-la, por isso seguia atrás da irmã.
— Eles estão aqui? — Perguntou a mais velha, a menina assentiu, apontando na direção de um grupo de crianças, três meninas e dois meninos, Bárbara ergueu a cabeça e segurou na mão de Catrina, caminhando no rumo dos colegas. As crianças tinham a mesma idade da menina, então olharam para cima quando Bárbara se aproximou. — Vocês são as pestes que mexeram com a minha irmã? — Questionou, irritada. As crianças se entreolharam, Bárbara sempre meteu medo nas pessoas. — Se vocês mexerem com ela de novo, eu vou cortar o cabelo de cada um! Vocês vão ficar careca. — Ameaçou, encarando eles.
— Não pode fazer isso! — Protestou uma das meninas, Bárbara gargalhou.
— Então eu quero que você faça algo com ela na minha frente agora — A mais velha ergueu a sobrancelha, e deu um sorriso. — Se fizer algo, eu te empurro naquela lama. Quer pagar pra ver?
Subitamente, a menina e as outras crianças começaram a chorar, nisso, Bárbara gargalhou. Catrina piscou algumas vezes, surpresa com a força que sua irmã tinha.
— Que feios, voltem para o colo da mãe de vocês, fracotes! — Bárbara fez uma careta para as crianças e tirou Catrina dali, a levando para dentro da escola.
— Irmã, como é uma corajosa. — Ressaltou a mais nova, fazendo sua irmã rir.
— Ninguém mexe com você, sempre vou proteger você, tô falando sério, se alguém mexer contigo, eu desço a porrada. — Bárbara contou, atropelando as crianças que estavam correndo perto dela, Catrina riu.
— Obrigada. — A menina olhou para a mais velha, sorridente. Bárbara piscou, trazendo a segurança que só ela poderia trazer, Catrina amava seus pais, mas sua pessoa favorita sempre foi Bárbara. — Vou te proteger também.
— Ah, é? — Perguntou a morena, sorrindo.
— Eu vou te proteger assim como você fez comigo, mas agora eu não consigo porque sou criança — Explicou ela, tristonha. — Quando eu for grande, vou te proteger!
— Tudo bem, super-homem — Bárbara riu, entregando a mochila para ela. — Obedeça a professora e faça as atividades, se alguém mexer com você diz que sua irmã é louca.
— Tá bom, vou dizer que você vai jogar eles na lama — Catrina pegou a mochila, sorrindo. — Tchau, te amo. — Correu para junto das outras crianças e da professora. Bárbara sorriu, pensando que ela parecia mais alta do que ontem.
Agora, a líder da Leviatã olhava para o caixão de sua irmã mais nova, Catrina estava com o rosto tão sereno que parecia estar dormindo. Bárbara permaneceu parada ao lado da irmã por minutos que pareciam horas, ela colocou a mão em cima da mão de Catrina.
Bárbara reviveu momentos em que sua irmã ria e segurava a mão dela.
Por um segundo, ela ouviu a voz de Catrina a chamando, nesse instante, lágrimas desceram de seus olhos de uma maneira incontrolável.
Ainda segurando a mão dela, Bárbara abaixou a cabeça, sentindo o choro invadir sua garganta, como se estivesse preso.
— Cat, me desculpa — Balbuciou, encostando o rosto no peito de Catrina. — Eu sinto muito, não consegui te proteger, irmã.
A comandante da gangue levantou a cabeça, encarando o rosto da irmã falecida. Mais lágrimas escorreram pelo seu rosto, lentamente, Bárbara escondeu o rosto nas flores do caixão, pedindo aos céus para trocar de lugar com a mais nova.
Como isso não aconteceu, ela se levantou e secou o rosto.
Olhou para trás, encontrando Ian. O olhar dela subitamente escureceu, apenas virou sua atenção novamente para Catrina.
A jovem usava um vestido branco com detalhes de flores azuis. Bárbara deixou o cabelo da irmã solto, a queria livre, sempre a quis livre. A líder sorriu fraco, passando os dedos pelo traços da irmã, sempre amou a semelhança que ela tinha com o pai delas.
— Eu te amo, não importa quem eu me tornei, Catrina, não importa para onde eu vou, você sempre vai ser a minha casa. Você sempre vai ser a minha família. — Bárbara sussurrou, beijando o rosto da irmã antes de soltar a mão dela e dar as costas para o caixão.
Caminhou pelo lugar abatida, na porta, o vice comandante da gangue a esperava, Ian usava óculos escuros para esconder os olhos inchados.
— Eu vou embora, não quero ver ninguém — Avisou, saindo do jazigo espelhado, Ian respirou fundo. Nada faria ela mudar de ideia. — Amanhã eu quero conversar com você e com os capitães, de manhã, chega primeiro que eles porque quero falar com contigo antes. — Intimou, tirando os óculos escuros da blusa e os colocando sob o nariz. Ian apenas concordou com a cabeça, e Bárbara deixou o lugar, andando como se estivesse flutuando, o chão tinha ido embora de seus pés quando perdeu a irmã.
A líder andou por alguns minutos, se afastando de seus sentimentos.
Parou quando sentiu dores nas pernas, talvez tivesse andado demais. Do outro lado da rua, avistou um banco de pedra, a líder suspirou antes de se aproximar, sentou com as pernas esticadas por causa da dor, ela apoiou as mãos no banco, tentando se segurar em algo que fosse real, já que a morte de Catrina a desconectou da vida.
Os olhos castanhos de Bárbara focaram na rua movimentada, ela chorou, colocando o rosto entre as mãos.
— Eu queria ter ido no seu lugar.
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Uma hora depois, Laura entrou no jazigo acompanhada de sua família e de Natália, sua amiga. A loira, igual aqueles que amavam Catrina, se encontrava com os olhos vermelhos.
Diogo, o namorado de Catrina, não levantou a cabeça até chegar perto do caixão, quando isso finalmente aconteceu, ele segurou na mão dela, deixando as lágrimas escorreram pelo seu rosto novamente.
— Oi, minha princesa — Falou. — Eu não acredito que você não está aqui, eu não aceito que você morreu.
Diogo limpou o rosto, e encostou a cabeça na de Catrina.
— Eu posso viver mil vidas, mas só vou me apaixonar quando te encontrar. — Ele sorriu. — Da próxima vez, preferiria morrer do que te deixar ir. Eu te amo. — Diogo beijou brevemente os lábios dela antes de se afastar.
Laura observou o primo com o coração apertado, olhou em volta, procurando pela namorada, mas sabia que dificilmente a encontraria. A loira suspirou, nada poderia fazer por Bárbara e era isso que mais doía.
Laura se aproximou de Ian, para saber que fim deu aquele garoto, o asiático contou que mandou matá-lo dentro da prisão, Laura abaixou a cabeça, no fundo, sabia o que ele diria.
As horas passaram rápido, Laura saiu do jazigo espelhado, deixando as lágrimas escorreram pelo rosto, lentamente, se afastou para o outro lado da rua, não suportando a tristeza de perder sua amiga, Laura fechou os olhos e rezou por Catrina e para que Bárbara ficasse bem, ou o mais perto disso.
Como uma tentativa de ouvir a voz da namorada, ela tirou o celular do bolso, discando para Bárbara mais uma vez naquele dia.
Imediatamente, a ligação caiu na caixa postal, Laura colocou a mão na testa, preocupada.
— Bárbara, sou eu, não te vi mais, me deixa segurar sua mão nesse momento e pra sempre. Te amo. Me liga.
A loira guardou o celular no bolso da calça, imaginando os piores cenários, o que Bárbara está fazendo? Será que ela ia procurar por Laura esses dias? Como Laura iria encontrá-la?
Sem que notasse, Nefertiti sentou ao seu lado no banco.
Laura continuou olhando seus sapatos, alheia o que acontecia em sua volta.
— A líder saiu antes que vocês chegassem, mas eu estou cuidando do funeral, pode pedir algo pra mim. — Falou a capitã, Laura virou o rosto na direção dela.
— Eu já esperava por isso, pior que eu não posso fazer nada por ela. Me sinto horrível.
— Você pode continuar do lado dela, ela vai precisar do seu apoio. — Nefertiti tirou do bolso um maço de cigarro, indo fumar mais uma vez no dia. — Eu não sei muito sobre a vida da Bárbara, mas dos anos que a conheço, você foi a primeira pessoa que ela permitiu que a conhecesse de verdade. — A negra se levantou, acendendo o cigarro com seu velho isqueiro.
— Espero poder retribuir o amor que ela tem por mim. — Murmurou a loira, abatida.
— Você já faz isso. Se precisar de mim, estou fumando no jardim. — Disse, se afastando da garota.
Horas depois, Laura entrou em casa com seus pais.
— Querida? — O pai dela a chamou, fazendo Laura parar do meio da escada, virando para ele.
— Sim... — Ela desceu os degraus, confusa.
— O que a sua namorada faz? — Perguntou o velho, Laura engoliu em seco, provavelmente Diogo deve ter falado mais do que devia no funeral, e agora seu pai estava a questionando sobre Bárbara, isso não ia acabar bem.
— Ela é corretora de imóveis, vocês sabem... — A loira olhou para sua mãe, mas a mulher desviou o olhar, parecia decepcionada.
— Não minta para mim. — Ele cruzou os braços, sério. Laura olhou para baixo, sabia que não conseguiria mentir pra ele.
— Ela é a líder de uma gangue. — Confessou, esperando o surto do pai. O velho arregalou seus olhos e encarou sua esposa.
— Você sabia disso, Maria? —Perguntou, assustado.
— Eu desconfiava da real profissão dela, mas não eu fazia ideia do que poderia ser. — Falou a mulher, negando com a cabeça.
— Mas ela não me envolve nessas coisas, nem sei o que ela faz, vocês não têm que se preocupar. — Laura tentou amenizar, mas seu pai continuou com os olhos arregalados, não podia acreditar nisso.
— Quer ter o mesmo destino da irmã dela?
— Isso não foi culpa da Bárbara, imagina como ela deve estar agora, não posso deixá-la! — Gritou Laura, virando para subir as escadas.
— Eu não vou perder minha única filha para esses bandidos imundos! — Exclamou o velho, sentiu sua esposa segurar sua mão, gritar com uma pessoa apaixonada nunca é a melhor opção.
— Eu a amo e não vou desistir dela! — Laura gritou de volta e trancou a porta do quarto.
Seu pai pensou em ir atrás, mas sua mulher o abraçou.
— Eu vou conversar com ela, querido, nós vamos resolver esse problema sem gritar uns com os outros, tá bom? — A loira sorriu, segurando no rosto do seu marido, ele perdeu a postura de nervoso estando tão perto de sua mulher.
— Como você quiser.
Enquanto isso, Laura tirou as roupas que usou no funeral e colocou seu pijama de estrelas, se enfiando debaixo das cobertas. Estava tonta, mas não conseguia chorar, algo impedia suas lágrimas, o medo de perder sua garota pra sempre.
Quando a loira abriu os olhos novamente, o céu estava escuro e uma corrente de ar entrava pela janela de seu quarto. Ela engoliu em seco, sentindo sua boca amarga.
— Laura? — Chamou sua mãe. A menina se levantou e abriu a porta, encontrando a senhora com um prato com algumas fatias de pizza, Laura quase chorou, sua mãe parecia conhecer sua alma.
— Mãe, eu não quero me separar da Bárbara, eu amo ela. — Choramingou, abraçando sua mãe.
— Calma, querida, ela acabou de ver a irmã morrer, espera ela procurar você. — A mulher aconselhou, ainda segurando o prato.
— Acha que ela vai me procurar?
— Tenho certeza. — A senhora sorriu, tranquilizando sua filha.
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Do outro lado da metrópoles, Bárbara encarava seu copo vazio.
A líder buscou refúgio em uma das festas idiotas da cidade, evitando pensar na irmã. Ela se afundou no sofá, colocando as mãos no rosto, o efeito da bebida começou a pegar seu corpo, pois sentiu tudo girando. Da porta da sua sala vip, uma garçonete surgiu com mais uma garrafa, mas Bárbara negou com a cabeça e fez um sinal com as mãos, simulando quando alguém fumava, a garota entendeu e deixou alguns cigarros de maconha na mesa, saindo da sala em seguida.
A morena acendeu um deles, usando o seu isqueiro. A primeira tragada, no segundo que inalou, sentiu que poderia passar pela perda dela, mas que teria que ficar chapada o tempo inteiro.
Subitamente, lágrimas começaram a descer violentamente pelo seu rosto, Bárbara sentia suas mãos tremerem, mas não conseguia controlar o tremor de lembrar da morte de Catrina, perdeu o último fio que a fazia se segurar, perdeu sua casa.
Em meio o choro e a vontade de estar no lugar dela, Bárbara continuou fumando, fazendo a dor amenizar aos poucos. Depois que aquele cigarro acabou, ela fumou mais um e se jogou no sofá, tonta.
— Será que eu sou amaldiçoada? — Perguntou, olhando para cima.
Bárbara tentou alcançar o último cigarro, porém, desistiu e fechou os olhos.
— Se for pra me matar de tristeza, faz isso logo, para meu coração de uma vez, mas não tira as pessoas que eu amo, porra. — Choramingou, colocando as mãos no rosto. Seu pensamento foi direto para Laura, podia sentir a angustia da namorada, mas Bárbara já havia decidido, nada a faria mudar de ideia.
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O galpão em que Bárbara escolheu para conversar com seus gângster foi o que recebia as armas do litoral, ela entrou no espaço e encontrou Ian folheando uns papéis, ele levantou o olhar na direção dela, esperando que Bárbara falasse primeiro, a líder se aproximou, ainda com as mãos no bolso.
— Oi.
— Eu te liguei muito, achei que tu nem ia aparecer hoje. — Comentou o asiático, olhando para o chão.
— Não vi, foi mal. — Falou, também olhando para o chão. Ian soltou o ar, sabia que teria uma difícil conversa com ela.
— Bárbara, eu sei que a dor está esmagando seu peito — Ele deu alguns passos na direção dela, vendo que ela nem mexeu um músculo, o asiático segurou nos ombros dela, a fazendo olhar pra cima. — Está esmagando o meu também.
— Eu tô tão cansada. — Confessou. — Odeio essa vida, odeio essa merda, odeio a porra dessa cidade, queria tacar fogo em tudo.
— Pior que eu sei que você seria capaz disso. — Ele riu, causando um breve sorriso nela.
— Nós vamos embora daqui — Falou, irritada. — Eu não aguento mais ficar nesse lugar, vem comigo? — Perguntou.
— Sempre. — Eles se abraçaram, sentindo seus corações perto um do outro. — Vai deixar a Laura?
— Ela vai acabar morrendo também, não posso deixar isso acontecer. — Bárbara soltou o abraço, indo para trás da mesa. — Nem adianta argumentar, já fui em funerais demais para minha idade, vou proteger a minha garota. — Ela acomodou na cadeira, esperando os outros chegarem.
— Conversa com ela, não seja irresponsável com a menina. — Repreendeu o asiático, cruzando os braços. Bárbara bufou, odiava quando ele a tratava como criança.
— Vou conversar com ela hoje, não se preocupe. — A líder se ajeitou na cadeira, imaginando como seria a conversa.
— Nós vamos pra capital do país, ver qual é a deles, tô querendo novos ares.
— Nossa cara tá manjada aqui, é melhor ir pra outro lugar mesmo. — Ian assentiu, planejando o que faria na capital. — Quem você vai deixar cuidando das coisas aqui?
— A Nefertiti. — Bárbara respondeu, entediada. O asiático concordou com a cabeça.
Alguns minutos depois, os capitães chegaram no galpão.
— Eu chamei vocês aqui porque vou deixar a metrópoles, então preciso que vocês tomem conta dela por mim, quem vai ficar no comando é a Nefertiti. — Avisou, não se importando com a opinião deles. — Ian vai comigo, não sei quando vamos voltar, por isso quero a dedicação de vocês. — Ela fez uma pausa, olhando suas próprias mãos. — Alguma pergunta?
— Você está bem? — Perguntou Breno, ele jamais temeu quem a comandante era, pelo contrário, admirava tudo que ela construiu.
— Estou. — Bárbara sussurrou, evitando encará-lo. — Mais alguma pergunta?
— Você vai voltar pra metrópoles um dia? — Questionou Alexa, pensativa.
— Não sei, mas se um de vocês quiserem me ver, estarei na capital. — A morena continuou olhando suas mãos, Ian entendeu seu desconforto e suspirou, mas ele não poderia fazer nada. — E eu vou voltar vez ou outra, relaxem, voltem ao trabalho que eu vou resolver uns bagulhos da mudança, vão. — Ela apontou a saída, entediada. Os capitães, mesmo levemente chateados, obedeceram.
— Bom trabalho, comandante. — Heitor, que estava calado vendo o sofrimento dela, curvou-se em respeito, Bárbara o lançou um breve sorriso, mas voltou a fechar a cara. Aos poucos, eles deixaram o galpão, o último a sair foi Ian.
— Vou cuidar de umas paradas, pra ir contigo, mas se tu quiser ir na frente, te encontro na capital. — Alertou, indo pra saída.
— Faz o que achar melhor, e mande lembranças pra Lena. — Comentou, cruzando os braços. Ian assentiu, caminhando cabisbaixo, fazia dias que o asiático não conseguia sorrir de verdade, talvez fosse porque viu Catrina ser esfaqueada e não pôde fazer nada.
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À noite, Bárbara esperava Laura na praia, no mesmo lugar em que a pediu em namoro.
A líder havia mandado uma mensagem mais cedo, marcando o encontro, foi breve nas palavras, conhecia a sagacidade de Laura para ler as entrelinhas. Assim, a morena encarava o mar na sua frente, esperando ela chegar, como se seu coração soubesse quem se aproximou, ele acelerou.
— Bárbara?
Ela se virou, encontrando Laura parada, com seus olhos azuis arregalados, assustada. A loira usava um vestido vermelho, semelhante ao que usava no dia que se conheceram.
— Me desculpa por ter sumido. — Bárbara sussurrou, olhando para baixo. Laura franziu a testa, confusa. Sua namorada estava diferente, parecia uma estranha.
— Eu quero estar ao seu lado, mas se você quer enfrentar a perda da Catrina sozinha, eu te respeito. — Comentou Laura, olhando para aquela mulher, que apesar de se parecer com sua namorada, era outra pessoa.
— Obrigada — Bárbara olhou para ela, por um segundo, uma lágrima solitária escorreu pela sua bochecha, mas a limpou rapidamente. — Você está linda.
Laura riu, abaixando a cabeça.
— Você me traiu? — Perguntou. Bárbara gargalhou.
— Jamais faria isso, tá doida? — Questionou a líder, indignada.
— Por que tá toda esquisita?
Bárbara respirou fundo, caminhando na direção de Laura, com força, ela segurou os ombros da mais nova, encarando seus olhos, não quebrando a troca de olhares.
— Eu amo você, Laura. — Confessou Bárbara, sorrindo em seguida. — Eu olho pro céu, pra lua, as estrelas e nada disso é mais bonito do que você. Eu amo o som da sua risada, amo seus olhos de oceano, amo o jeito que você expõe suas convicções sem medo. Amo quando você me toca, e amo cada segundo que passei ao seu lado. Todos os dias que estive com você foram perfeitos, eles foram tristes, felizes, calmos, agitados, eles foram perfeitos. E eu quero te agradecer por isso, por ter feito o sol brilhar na neblina que é a minha vida. Obrigada.
Laura sentiu seu corpo arrepiar e seu rosto queimar, ela sorriu, mas começou a chorar sem perceber, durante sua adolescência, a loira não sentiu um terço do que sente com Bárbara, acreditou que o amor era apenas uma invenção para o dia dos namorados, mas quando a conheceu, viu que estava errada.
— E é por causa desse amor, que não posso deixar que você tenha o mesmo destino que a minha irmã. — Nisso, a morena soltou os ombros dela, indo pra trás. — Acabou, Laura.
— O que? — Laura piscou algumas vezes, tentando assimilar o que ouviu.
— Estou terminando com você. — Continuou a líder, olhando diretamente para os olhos da loira.
— Bárbara, você está me deixando? — Questionou Laura, seu coração, que antes estava transbordando de amor, agora, começou a acelerar, assustado com a possibilidade de perdê-la.
— Não é fácil pra mim — A morena colocou as mãos no rosto. — Mas eu preciso fazer isso, ninguém está seguro do meu lado, eu sabia que estaria te colocando em risco, mas não posso negar o óbvio. Sinto muito, Laura, mas esse é o nosso fim.
— Sua desgraçada! — Gritou a loira, indo na direção dela, furiosa. — Você me fez se apaixonar por você, me fez te amar, eu nunca amei alguém do jeito que te amo, e você vem com essa! — Exclamou, tentando acertar um tapa na morena, mas Bárbara segurou as mãos dela rapidamente.
— Você acha que eu quero ir no seu funeral, porra?! Se continuar comigo, vai acabar morrendo, vê se toma juízo! — Gritou de volta, irritada. — Tu pode ter uma vida boa, longe desse caralho de gangue e mortes, eu não vou tirar isso de você, então me esquece!
Laura se soltou dela, fervendo de raiva e remorso, queria acabar com aquela mulher, mas a tristeza invadiu seu peito e ela caiu de joelhos na areia da praia, derramando lágrimas incontroláveis.
Bárbara começou a chorar também, mas colocou a mão sob a boca, tentando esconder as lágrimas.
— Eu odeio o dia que te conheci! Odeio tudo o que você me fez sentir, odeio você! — Esbravejou a loira, com a cabeça baixa. — Me faz um favor e nunca mais me procura, some daqui!
— Laura... — Bárbara tentou se aproximar, mas a loira se levantou, afastando-se dela.
— Não me toca! — Laura gritou novamente, seu rosto molhado e vermelho, seus olhos azuis não estavam mais brilhantes como de costume. — Eu odeio você, vai embora!
— Sinto muito, amor. — Respondeu a líder, secando seu rosto e caminhando pela areia, passando por Laura. — Se cuida. — Bárbara sussurrou, olhando uma última vez para a menina antes de sair da vida dela.
Oi, oi, leitores!
Obrigada por todos os votos e comentários, isso me ajuda muito.
Perdoe se encontrarem erros, ainda vou revisar ele inteiro.
Até a próxima ❤
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