Capítulo 14
4600 palavras
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Eram duas da manhã quando Bárbara acordou, não devia ter dormido tanto de tarde, pois agora seu sono fugira, sendo assim, ela se levantou e foi na direção da janela, Bárbara gostava de sentir o ar gelado da madrugada no seu rosto, momentos como esses parecia que a vida estava ao contrário do que deveria ser. Ela permaneceu alguns minutos sem se mover e pensou nos afazeres que teria pela frente. Não sabia que expandir a Leviatã para um distrito diferente daqueles do centro foi realmente uma boa ideia, porém, não podia deixar a oportunidade passar, de distrito à distrito, a metrópoles estava se tornando dela e mais perto ainda da sua vingança.
Bárbara sentiu a raiva consumindo seu corpo até ouvir passos no corredor, ela se aproximou da porta e abriu um pouco, nisso, viu Laura descer as escadas. A loira usava um pijama cor-de-rosa com estrelas roxas, Bárbara sorriu e também deixou seu quarto, podia deixar aquela madrugada mais interessante.
Enquanto isso, Laura procurou pela última garrafa de água que levara para a cabana, a loira dormiu cedo, não queria ficar deslocada entre um casal feliz e uma gângster emburrada, por isso foi para seu quarto e não demorou para pegar no sono, mas acordou às duas morrendo de sede.
No momento que deu o primeiro gole, ouviu passos atrás si. Laura se virou encontrando Bárbara com um sorriso levado, a loira prendeu a respiração e quase engasgou, qualquer coisa podia acontecer já que o casal vinte estava dormindo, mas Laura não seria fácil para a líder, se Bárbara realmente a queria, teria que fazer melhor que aquilo.
— Perdeu o sono? — Questionou a líder, dando alguns passos na direção da loira, que deu alguns para trás.
— Senti sede. — Murmurou Laura, evitando encará-la. Bárbara manteve o sorriso e continuou se aproximando da garota, nisso, a loira reparou no pijama que a ela usava, uma camiseta branca de manga longa e uma bermuda de malha preta que ia até seus joelhos, os cachos estavam jogados de maneira desleixada, mas ela parecia pronta para ir em uma festa de tão bonita, Laura sacudiu a cabeça afastando esses pensamentos. Afinal, prometeu que não cairia pela beleza dela.
— Eu também. — Bárbara sussurrou, depois passou a mão levemente pelo braço de Laura, seus dedos estavam gelados e fez a garota arrepiar, a líder alcançou a garrafa e a pegou, colocou seus lábios onde há poucos minutos, estavam os lábios de Laura. Sem perceber, a mais nova observava Bárbara descaradamente, a líder sorriu e abaixou a garrafa, tirando de seus lábios devagar. — O que está olhando, meu bem? — Perguntou a líder, quebrando o espaço que tinha entre elas, prendendo a garota no armário velho atrás dela.
Laura inalou o perfume floral da líder, aquele mesmo cheiro que ela sentiu mais cedo quase a fez fechar os olhos para sentir, porém, ela não daria esse gostinho para a mulher na sua frente.
— Não sou o seu bem. — Respondeu a loira, ríspida. Levantou a cabeça para demonstrar seu autocontrole, Bárbara mordeu o lábio inferior, sorrindo.
"Droga, isso não a irritou?" Pensou Laura.
— Eu fico me perguntando até quando você vai aguentar... — Bárbara aproximou seu rosto de Laura, chegando próximo ao seu ouvido. — Sei que você quer isso, Laura.
— Você não sabe de nada. — Cruzou os braços, sentindo seu rosto esquentar. Bárbara encarou seus olhos azuis, tentando encontrar ali, algo que dissesse o contrário e pelo sorriso que ela deu, com certeza encontrou.
— Seus olhos dizem o oposto, meu bem. — Ela riu, vendo a expressão irritada da loira. Bárbara desceu o olhar pelo corpo de Laura, o pijama cor-de-rosa a deixou fofa. — Esse seu pijama ficou lindo em você. — Sussurrou e afastou-se, ignorando o clima desconfortável entre elas.
— Você disse que não ia mais tocar nesse assunto. — Laura viu a brecha e saiu do espaço entre Bárbara e o armário, ela não entendia o motivo de sentir tanto alívio por ter escapado.
— Eu falei sobre a proposta, mas não deixei de ter interesse por você, uma coisa não tem a ver com a outra. — Bárbara advertiu, erguendo a sobrancelha ao explicar. — Mas eu não tenho pressa, acredito que você vai estar entre lençóis comigo, e pelo jeito que você está me olhando, será mais rápido do que imagina. — Piscou a líder e começou a deixar cozinha segurando o riso.
— Eu duvido que isso aconteça. — Laura pronunciou, fazendo Bárbara parar. — Nem todas as pessoas querem se deitar com você, entenda isso de uma vez.
— Não todas as pessoas. — Bárbara virou-se novamente. — Mas você quer, nem adianta negar.
— Vai esperar muito porque isso não irá acontecer, desista. — Laura se apressou para sair da cozinha, aquela conversa a deixava nervosa, precisava escapar das garras daquela predadora, porém, Bárbara segurou no seu braço, a puxando para si, pela diferença de altura, Laura deu de cara com a clavícula da líder.
Bárbara adentrou seus dedos pelos fios dourados de Laura, levantou a cabeça dela na direção de seu rosto, analisando cada traço fino da face da jovem, seus dedos percorreram as linhas que desenham a imagem de Laura, a garota sentiu seu corpo arrepiar. Bárbara sorriu, notando a reação dela.
— Gosto de desafio, mas não vejo esforço algum para ter você. — Sussurrou Bárbara, Laura franziu a testa e a empurrou, escapando das artimanhas da líder.
— Se você realmente me quer, vai ter que ser melhor do que isso. — A loira deu de ombros e apressou os passos na direção das escadas, ignorando qualquer coisa que Bárbara poderia fazer para impedi-la.
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Ian organizava as pastas por ordem alfabética, fazia dias que ele pensava em tirar algumas coisas do armário do escritório, Bárbara não ligava em deixar registros antigos lá, diferente de Ian, que precisava ter a certeza que tudo estava em seu devido lugar para conseguir trabalhar em paz. O asiático tirou do armário duas caixas de papéis que não tinham mais necessidade de estarem ali, depois que limpou a prateleira superior, Ian foi na direção da mesa, abrindo o computador portátil e confirmando a entrega da mercadoria no litoral.
Fazia algumas horas que ele recebeu uma ligação da casa de repouso que sua avó vivia, ele não conseguia vê-la, pois partia seu coração saber que ela não o reconhecia mais. Ian sentia a falta dela, mas a senhorinha não se parecia mais com a avó que o criou com histórias fantasiosas e refeições quentinhas. O asiático suspirou, frustrado. Fechou os olhos e se inclinou para trás na cadeira.
— Fala, parceiro. — A voz de Bárbara invadiu seus ouvidos, o fazendo abrir os olhos.
— Como foi a viagem? — Perguntou ele, evitando contato visual. Bárbara franziu a testa, notou algo diferente na voz de Ian.
— Foi boa. — Ela deixou a bolsa em cima da mesa, desconfiada. — Ian? — Chamou, o asiático levantou o olhar na direção dela. — O que aconteceu?
— Do que você está falando? A gangue tá do mesmo jeito que você deixou, na verdade, eu limpei o armário. — Ian deu de ombros, voltando sua atenção para o computador. Bárbara colocou a mão em cima da dele, impedindo-o de digitar.
— Não estou falando da gangue, estou falando de você. — Frisou Bárbara, Ian suspirou. A líder sentou na mesa e entrelaçou seus dedos com os do vice, ele apoiou a cabeça no colo dela. Bárbara alisou as costas dele, esperando o momento que Ian estivesse confortável para falar.
— Ela não se lembra de mim. — Murmurou Ian.
Bárbara respirou fundo, sabia de quem ele estava falando.
— Os médicos dela não conseguiram fazer nada sobre isso? — Questionou Bárbara, sua mão subiu até os cabelos de Ian, os acariciando gentilmente.
— Não. Disseram que pode melhorar, e que ela pode me reconhecer se eu a visitar com mais frequência, mas não sei se consigo. — O asiático enterrou o rosto na coxa da líder, ela sorriu fraco, momentos assim Bárbara lembrava dele quando era criança. Sempre preocupado e querendo manter as pessoas que amava seguras, mas não que ele tenha mudado desde daquela época.
— Ian... — Bárbara sussurrou, ele levantou a cabeça. — Você precisa ver a sua avó, vai se sentir melhor.
— E se ela não me reconhecer de novo? — Perguntou Ian, decepcionado. Bárbara segurou o rosto dele com as duas mãos.
— Se ficar longe, ela não vai lembrar quem você é, se quiser, eu posso ir com você. — Ela sorriu, Ian abaixou a cabeça.
— Não quero te atrapalhar, você tem coisas pra fazer, hoje chega o carregamento pelo litoral, estamos planejando essa ação há meses. — O asiático evitava contato visual, pois sabia que Bárbara conseguia decifrar seus sentimentos pelo seu olhar.
— A entrega só vem de tarde. Vamos agora, eu dirijo, ficamos por um hora e voltamos com tempo de sobra, ela precisa de você. — Bárbara levantou da mesa, fazendo Ian se levantar também. O asiático queria relutar, mas entendia que ela tinha razão. Sendo assim, ele assentiu, concordando com a ideia.
Alguns minutos depois, Bárbara estacionava o carro na frente da casa de repouso, Ian ficou calado o caminho inteiro, lembranças de sua infância e adolescência passavam por sua mente, onde sua avó estava lá por ele, cuidando dele e sendo mais que uma avó, mas sim a mãe que ele necessitava. O asiático respirou fundo antes de soltar seu cinto de segurança.
Bárbara o observava em silêncio, tirou o cinto e saiu do carro, esperando que ele fizesse o mesmo. Ian se obrigou a deixar o veículo, sua real vontade era de correr para longe ou se esconder embaixo do cobertor.
Os dois trocaram olhares e caminharam na direção da porta, Ian tomou coragem e entrou no recinto, perguntou a recepcionista se podia fazer uma visita a paciente Helena Sato, sobrenome esse criado para que ela não corresse perigo, a moça assentiu e permitiu a visita, os gângster deram as mãos e seguiram para o quarto de Helena.
Quando Ian entrou no quarto, avistou sua avó em uma cadeira, olhando para as grandes janelas, o coração dele parecia diminuir a cada instante, sendo espremido pela tristeza.
Sua avó virou o rosto na direção deles, apertou os olhos para conseguir ver quem eram aqueles dois jovens.
Ian sorriu e deu alguns passos na direção dela, Bárbara o acompanhou, mas ficou um pouco afastada, dando espaço para Ian.
— Sou eu, vó. — Ele ajoelhou na frente dela. — Ian.
— Ian. — A senhora sorriu, e tocou levemente no rosto dele. — Você já é um homem?
— Eu cresci. — O asiático olhou para Bárbara, ela sorria. Depois voltou sua atenção para sua avó.
— Você está diferente. — Helena apertou a bochecha dele, em seguida, passou os dedos pelo cabelo escuro de seu neto.
— Diferente? — Questionou ele.
— É — Ela sussurrou. — Não é mais o meu garotinho.
— O tempo passou, as coisas mudaram. — Ian riu, lembrando dos momentos que se escondia do mundo no abraço da sua avó.
— Não gosto disso. — A senhora encarou o nada, tristonha. — Perdi meu marido e vi a minha única filha morrer.
— A senhora sempre foi forte por aguentar as tragédias que aconteceram. — Ian sorriu fraco, tentou segurar as lágrimas quando sua avó citou seu avô e sua mãe, perdas essas que ele mesmo nunca superou. — Tínhamos um ao outro.
— Verdade, mas você não parece mais o meu neto. — Murmurou Helena, sem encará-lo.
— Desculpa ter mudado tanto. — Pronunciou ele, constrangido. — Eu não queria ter me tornado um estranho pra você, mas tive que virar outra pessoa para salvar a vida de quem eu amava.
— Você sempre reclamava das histórias que eu te contava, e dizia que pessoas não mudavam por amor. — Helena sorriu, virando o rosto para ele.
— Eu estava errado. — Admitiu ele.
— Eu também estava errada. — Ela afirmou. — Ainda tem algo do meu neto em você. Ainda é o meu garotinho.
— Eu não sou mais aquele garoto. Fiz coisas que não me orgulho e vi coisas que gostaria de esquecer. — O asiático abaixou a cabeça, cansado.
— Não importa. — Ela sorriu e pousou a mão sob o rosto dele. — Eu sempre amarei você.
— Por favor, não esqueça de mim. — Ian se levantou e abraçou sua avó.
— Jamais. — Helena sussurrou, nisso, seus olhos se encontraram com os da líder, que ficou encostada na porta, observando a cena. — Bárbara? — Perguntou a senhora, fazendo Ian a soltar e Bárbara piscar algumas vezes, confusa. Sem saber o que fazer.
— Lembra de mim? — Questionou a morena, se aproximando deles lentamente.
— Sim, eu lembro. — A senhora sorriu. — Você continua linda.
— Ah, obrigada. — Bárbara sorriu, ela e Ian se entreolharam brevemente. — Você está linda também.
— Obrigada, a sua irmã está bem?
— Sim. Ela está na faculdade e namora um bom rapaz.
— Isso é ótimo. — Lena sorriu. — Deviam trazê-la na próxima vez.
— Nós vamos, vó. — Afirmou Ian.
— Que bom, mas vocês finalmente estão juntos? — Questionou Helena, fazendo Ian negar com a cabeça e Bárbara sorrir.
— Somos amigos. — Murmurou o asiático.
— Mas vocês se gostavam quando eram crianças. — Helena lembrou, Bárbara arregalou os olhos, Ian engoliu em seco, os dois se entreolharam novamente, desta vez, envergonhados.
— Vó, isso faz muito tempo, não somos mais crianças. — Explicou Ian, tentando encarar o assunto.
— As coisas mudaram. — Completou Bárbara.
Helena riu, uma risada breve e abafada.
Nisso, a enfermeira surgiu, dizendo que estava na hora dos remédios e que depois ela precisava dormir. Os gângster se despediram com a promessa que faziam outras visitas, em silêncio, eles voltaram para o carro.
— Se sente melhor agora? — Bárbara perguntou, dando partida no carro.
— Sim. — Ele murmurou. — Obrigado. — Ian encarava a janela, evitando contato visual com ela. — Obrigado por tudo. — Completou o asiático e fechou os olhos.
Bárbara entendeu que ele precisava de silêncio e ficou calada durante a volta.
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O litoral estava nublado naquela tarde, o mar encontrava-se manso, os pássaros voavam de um lado para o outro em bando, no chão, o cais virava um local de encontro de gângster, Heitor e a primeira divisão se reuniram para receber a carga, enquanto também aguardavam a chegada dos superiores.
O loiro olhou para trás e avistou o carro se aproximando. Dele, Ian e Bárbara desceram.
O asiático usava um casaco marrom cumprido, calças pretas e botas de couro, a morena vestia um sobretudo cinza por cima da sua roupa preta, apenas seus tênis eram brancos. Os dois seguiram lado-a-lado na direção dos gângster espalhados pelo cais, Heitor, o capitão da primeira divisão, deu alguns passos para frente e os reverenciou.
— Senhora. — O loiro levantou a cabeça. Bárbara assentiu.
— Eles devem estar chegando. — Bárbara desviou o olhar do capitão, encarando o oceano, avistou um navio alcançando o horizonte. — Veja, Ian. — Ela apontou com a cabeça, fazendo o vice olhar naquela direção.
— Chegamos na hora certa. — Afirmou o asiático, os três caminharam para o centro do cais, observando o navio.
Os outros gângster se curvaram para eles assim se aproximaram, Bárbara assentiu e Ian permaneceu sério.
Aos poucos, o navio chegava na costa.
No momento que isso aconteceu, Bárbara sorriu, já imaginando como esse avanço beneficiária seus negócios, quando o navio atracou no cais e o representante do fornecedor desceu. Bárbara e Ian se entreolharam, o representante era uma mulher alta, negra e de tranças no cabelo. O olhar dela se encontrou com o da líder, assim ambas sorriram.
— Senhora Reis? — Questionou a negra, Bárbara concordou com a cabeça. — Eu sou Zoe, a "entregadora". — A negra sorriu.
— Pode me chamar de Bárbara. — A líder estendeu sua mão. Zoe a segurou firmemente. — Obrigada pelo cuidado com nosso acordo, vim pessoalmente para agradecer.
— Ah, Bárbara — Zoe manteve o sorriso. — Nós queríamos fazer parte dessa cidade há muito tempo, quando entrou em contato conosco foi como um sinal. Eu que agradeço. — As duas soltaram o aperto de mão.
— De qualquer forma, estou honrada. — Bárbara insistiu. Seus olhos se encontraram com os de Ian brevemente. — Esse é Ian Yamaguchi, meu vice comandante. — Pronunciou a líder, Ian e Zoe deram um aperto de mão rápido. — E esse é Heitor, capitão da primeira divisão e quem receberá você nas próximas entregas, pode ficar tranquila que a deixarei em boas mãos. — A morena sorriu e Heitor estendeu a mão para Zoe, a negra assentiu e apertou a mão dele.
— Não irei decepcionar, senhorita. — Heitor sorriu, o que fez Zoe sorrir de volta.
— Obrigada. — A negra desviou o olhar. — Vocês querem ver a mercadoria?
— É melhor, estamos precisando de algumas caixas para nosso consumo. — Ian afirmou, tirando as mãos dos bolsos.
— Minha equipe vai descer as caixas em um instante, ficará melhor para que escolham. — Zoe tirou um rádio do bolso, discando para o supervisor da equipe, para que finalmente retirassem as mercadorias do navio.
Alguns minutos depois, Ian abria uma caixa de madeira, seus olhos pretos analisaram as armas, que estavam perfeitamente amarradas para não escaparem.
A maioria eram do estilo 92FS MW2 Sight, o asiático levantou o olhar na direção de Bárbara, e assentiu. Ela entendeu e se aproximou.
— Três caixas não é um exagero? — Questionou a líder, parando ao lado dele.
— Na próxima vez, eu vou levar quatro. — Ele deu de ombros, e desamarrou uma delas, Ian a segurou com cuidado, olhando cada detalhe. — Não podemos ficar sem elas, matar ou morrer, se lembra?
— Lembro. — Bárbara sussurrou e desamarrou outra arma. — O armazém na sede tá quase vazio.
— Tenho que dar uma chamada nesses gângster, eles acham que armas dão em árvores? — Questionou Ian, irritado.
— Nova regra, se danificar alguma das armas que usam durante as missões, vamos descontar do pagamento, vou dizer isso hoje pra eles. — Bárbara ergueu a mão para alguns membros da Leviatã próximo a eles, fazendo-os levar as caixas para o caminhão no asfalto.
— Vê se mete medo neles, tô cansado de dizer a mesma coisa e eles não me escutarem. — O asiático bufou, e fechou a caixa. — Ei, vocês aí, levem essa aqui também. — Ordenou o asiático, os gângster obedeceram.
— Calma, Ian. Vou repassar isso com os capitães ainda, relaxa. — Bárbara riu, virando sua atenção para o oceano atrás deles. A líder colocou as mãos nos bolsos e deu alguns passos para a ponta do cais. As ondas vinham e voltam em sincronia, o mar não estava tão azul como de costume, Bárbara suspirou.
Ian a deixou sozinha por alguns instantes enquanto dava as novas ordens. Não queria incomodá-la. Podia sentir a vontade dela de estar apenas com sua própria companhia.
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Depois que os gângster voltaram para a sede da Leviatã, Bárbara explicou a nova regra, os capitães tentaram argumentar, mas a líder já estava decidida. Por isso, eles concordaram.
O resto do dia passou rapidamente, tanto que Bárbara só notou que escureceu quando Ian a chamou, o asiático estava animado, os negócios com o exterior triplicaram o lucro em apenas uma transação, era plausível comemorar.
— Eu nem conheço ele. — A líder deu de ombros, encarando a vista da metrópoles. Ian segurou seus ombros, permanecendo atrás dela. Tentava convencer a morena de ir na reinauguração de um bar, o dono era um antigo conhecido dele.
— Mas ele já me falou que faz questão que você vá, o lugar está mais equipado, vai ter até um show, vamos, Bárbara. — Insistiu Ian, com os lábios próximos do ouvido dela. Bárbara virou-se, ficando centímetros do rosto dele. Com isso, Ian sorriu e ela também.
— Você sempre me leva para esses lugares que eu não conheço ninguém.
— O pessoal também vai. — Ele murmurou, depois passou o braço ao redor da cintura dela, a puxando para si. — Você vai gostar, o show é de um cantor melancólico que tu gosta.
— O George? — Perguntou Bárbara, passando os braços ao redor do pescoço dele.
— É, vamos. Está decidido. — Concluiu Ian, prendendo Bárbara nos seus braços. Ela sorriu e adentrou os dedos pelo cabelo escuro dele.
— Tudo bem, eu vou. — Bárbara ergueu levemente o cenho, se dando por vencida. O asiático manteve o sorriso e a roubou um selinho antes de se distanciar novamente.
— Só vou descer pra entregar um documento pra Alexa e a gente já vai. — Ian avisou, pegou uma pasta em cima da mesa e deixou o escritório apressadamente.
Bárbara, ao ficar sozinha, puxou sua cadeira e sentou-se, relaxando os músculos e inclinando-se para trás. A líder tentava disfarçar para que Ian não notasse, sabia que se ele descobrisse sobre Laura iria encher sua paciência e ela não teria paz tão cedo, mas era impossível negar a atração que sentia pela garota.
Odiava passar vontade, entretanto, nunca teve que se esforçar para ter alguém, bastava sorrir que a pessoa entrava no jogo dela, Bárbara não precisava de muito para ficar com alguém, mas tentava entender o que raios aquela garota queria, talvez fosse uma boa sair com o pessoal da gangue, assim evitaria pensar em Laura.
Uma hora depois, os superiores da Leviatã entraram no bar, a líder se surpreendeu com a quantidade de pessoas que compareceram, os lugares com sofás e mesas estavam abarrotados de homens e mulheres, o néon em cores quentes enfeitavam as paredes, formando desenhos relacionados a praia, os móveis eram vermelhos e feitos de madeira escura, o bar ocupava duas paredes e dez pessoas atendiam os pedidos, o ambiente em si estava escuro, mas as luzes piscavam, refletiam em seus rostos em cores frias, azul, verde e roxo. A música alta deixava o clima entusiasmante, as pessoas que dançavam juntas pareciam sincronizadas umas com as outras.
Vendo toda aquela animação, Bárbara sentiu que definitivamente não estava no clima para eventos desse tipo.
Ian correu os olhos pelo local até encontrar o camarote, nisso, ele segurou a mão da líder e a guiou para aquele lado.
— Yamaguchi, você veio. — Gritou o dono do lugar. O homem era negro e baixinho, usava três cordões de ouro no pescoço e duas belas jovens seguravam seus dois braços.
— Eu não poderia perder essa, Jonas. — Ian sorriu. — Esse lugar ficou incrível, parabéns.
— Obrigado. E tô feliz que tu veio na reinauguração, mas então ela é a famosa Bárbara Reis? — Perguntou o negro, Ian assentiu.
— Bárbara, vem cá! — Berrou o asiático, a líder virou na direção deles e foi acompanhada de Nefertiti.
— Jonas, essa é a Bárbara. — Ian encostou no ombro dela delicadamente, a apresentando. Bárbara sorriu e estendeu a mão para Jonas.
— Boa noite, você tem bom gosto, esse lugar é lindo, e eu soube que vai ter um show no George, me ganhou nessa hora — Ela explicou, tendo que gritar por causa da música alta. Jonas apertou a mão dela firmemente, nem acreditava que a líder da Leviatã tinha o mesmo gosto musical que ele.
— Obrigado, é uma honra te receber aqui, fique à vontade, minha casa é sua casa! — Ele berrou, ela assentiu e deixou o lugar acompanhada de Nefertiti. Ian olhou na direção que elas foram e as duas pareciam cheias de segredinhos.
— Valeu por trazer ela, sabe como a ter aqui no primeiro dia vai ser bom pros negócios. — Jonas abraçou Ian brevemente, batendo nas costas do asiático em agradecimento.
— Que isso, cara. Você já me ajudou muito, hoje é de dia de festa! — Ian gritou novamente, nisso, Breno surgiu do nada e pulou sob suas costas. Ian quase caiu com o impacto.
— É isso aí, Víbora. Vamos acabar com a nossa vida, caralho! — Berrou o capitão, tentando se equilibrar nas costas do asiático. Jonas riu, ele e Breno já se conheciam há muito tempo e ele sempre se divertia com o capitão.
— Saí de cima, Breno, caralho. Tá doidão? — Ian o derrubou no chão, irritado. Breno fez uma careta.
— Porra, tu é chatão. — O negro se levantou, limpando a calça. — Jonas, se esse tonto não se diverte, deixa que eu curto por ele. — Nisso, o capitão correu na mesma direção que as meninas foram. Ian negou com a cabeça e o seguiu.
As horas naquele lugar passaram rápido, Bárbara virou algumas doses com seus capitães e caminhava pelo lugar com Jonas, ele a exibia como um troféu, mas ela não se importava, estava se divertindo por conta da casa.
Em um momento, enquanto andava com Jonas no meio das pessoas, por uma fração de segundos, Bárbara avistou uma loira do outro lado da pista. A líder encarou aquela garota por alguns instantes antes de Jonas desviar sua atenção novamente.
Do lado oposto, Laura conversava com Gabriel, ou tentava já que a música estava alta. Entretanto, ela sentiu que deveria olhar para frente, sem entender o motivo, a garota levantou o olhar naquela direção e viu uma morena a encarando. Por um segundo, Laura negou que fosse Bárbara, de todas as festas de inauguração que acontecem na metrópoles, elas foram para a mesma e na mesma noite? Não. Não podia ser ela. Quando a loira fixou o olhar, o homem que acompanhava a morena desviou sua atenção e eles saíram da multidão, Laura seguiu com o olhar e deu um passo para frente, tentando ver se era Bárbara, mas alguém segurou seu pulso.
— Laura? Onde vai? — Questionou Gabriel, preocupado.
— Ah, desculpa. — Ela parecia recordar que estava com ele. — Achei que tinha visto alguém. — Laura abaixou a cabeça, decepcionada. Será que Bárbara a reconheceu? O que ela estava pensando, pode nem ser a líder.
— Você está pálida, quer ir embora? — Gabriel segurou o rosto dela.
— Não. E eu estou bem, não se preocupe. — Laura forçou um sorriso, o garoto sorriu de volta.
Os dois deram as mãos e foram dançar, mas a loira não conseguia mais apreciar a companhia dele, talvez porque queria estar acompanhada por outra pessoa.
Para evitar pensar nela, Laura virou algumas doses, não foi a melhor solução, pois agora estava levemente alterada.
Os movimentos de dança que antes eram descontraídos, agora estavam sensuais para com o garoto, ele sorriu e a segurou pela mão, a levando para um dos corredores isolados. Laura engoliu em seco, não deveria ter bebido tanto, e nem tinha intenção de transar com ele.
O garoto a empurrou para a parede e começou a beijar seus lábios. Laura não sentia grande emoção beijando ele, na verdade, nunca teve um beijo que valesse a pena lembrar, todas as pessoas que já se relacionou não tiveram impacto na sua vida, pessoas essas que Laura nem se lembra direito, então qual o sentido disso?
Para ser franca, a garota nunca se apaixonou.
Nunca sentiu que poderia existir apenas ela e outra pessoa no mundo.
E beijos iguais ao que estava recebendo a deixavam frustrada.
— Gabriel, espera. — Ela o afastou, encostando a mão nos lábios dele.
— Tá passando mal?
— Não, eu só não quero transar com você. — Sussurrou Laura, entediada. A expressão confusa de Gabriel só aumentava.
— Por que ficou me provocando? — Ele gritou. Nesse instante, Laura levantou o olhar na direção do garoto.
— Porque eu quis, mas não sou obrigada a transar com você. — A loira o empurrou e tentou deixar aquele corredor, entretanto, o ruivo a puxou novamente com brutalidade, a fazendo cair sentada.
— Puta que pariu, eu tive que aguentar seu papo chato em todas às vezes que a gente saiu, pra no fim, você falar que não vai transar comigo? — O garoto começou a berrar e apontar o dedo na cara dela, a loira arregalou os olhos, seu coração batia apressado e seu corpo tremeu. Ela engoliu em seco, tentou regular sua respiração e se levantou.
— Vai se foder, seu desgraçado, eu sempre te achei ridículo, só aceitei sair com você porque queria esquecer uma pessoa! — Ela gritou de volta, ele franziu a testa e ergueu a mão, foi tudo tão rápido, Laura não teve tempo de desviar, o tapa que recebeu fez seu rosto virar para o lado, sentiu gosto de ferro na sua boca.
— Não vou mais perder o meu tempo com você. — Ele murmurou. — E, Laura, aprenda uma coisa, todo mundo que se envolver com você só quer sexo, ninguém realmente está interessado no que você tem a dizer. — Com essas palavras, ele a deixou sozinha no corredor escuro daquela festa.
Oi, leitores!
Vote e comente.
Até a próxima
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