• JHEX || CINCO - FINAL
O céu agora cinzento parece zombar de nós. Petros desce ainda segurando o braço, fazendo o mínimo de movimento possível que vá prejudicar seu ombro lesionado três horas antes. Arhil já em sua forma humana, se coloca ao nosso lado assim que chegamos na entrada do que costumava ser Arkalon. A cidade que ostentava toda uma imagem etérea, agora rumina destruição desde de seu núcleo.
Freya chega até nós em uma corrida alucinante, os cabelos verdes se destacam em sua pele alva. Os olhos da mesma cor, reluzem em ira. Em sua mão há o que penso ser uma cabeça. As orelhas pontiagudas e pelos negros cobrindo - a por completo, indicam que se trata de um centauro negro. Ela o joga ao nossos pés, dou um passo para trás. Ela parte para cima de Pietro que não tem tem de desviar de seu soco, o qual acerta o ombro ferido.
- Aí está! Feliz por termos chegado a isso?
- Freya, se contenha!
- Vai defende - lo agora Jhex! Até ontem você também o odiava!
- Ele está aqui para nos ajudar!
- Acho que é um pouco tarde para isso!
- Onde estão Urion e Gion? - tento mudar seu foco, perguntando pelos nossos amigos.
- Estão abatendo mais alguns animais de quatro patas! - ela diz friamente. De repente ela vira - se, seus olhos tornando - se de uma coloração intensa. - Oh, a cavalaria chegou!
Olho para a mesma direção onde seus olhos estão e não vejo nada. Nem um ponto qualquer. Bufo ficando nervoso. - Esclareça Freya, ao contrário de você não tenho uma super visão!
- Naahil, Mhonral e Jihli estão chegando com o restante dos caçadores. E cara, eles não estão felizes!
- Nem eu ficaria feliz em viajar dias inteiros para participar de uma guerra que não é minha. O território deles não faz parte do nosso. - Pietro diz calmamente, lhe dou um olhar aguçado. - O que?
- Se não vai ajudar, não se meta!
- Eles querendo ou não, a ordem foi dada. Sou o superior deles, Fabián está no meu pescoço. Algo precisa ser feito! - estala seu pescoço. Olha para cada um de nós. - Agora se as moças terminaram de fofocar, há uma guerra para ganhar.
Uma guerra que nem ao menos vimos chegar. O tratado era a linha tênue que separava os seres mágicos dos humanos, instalando o mínimo de normalidade entre nós. Mas então um cara mimado e que se envolve com alguém que não conhece coloca tudo a perder. Se as outras equipes estão aqui é por que o que aconteceu com Arkalon não se limita somente a ela. E agora vamos lutar contra feras que se alimentam de destruição e se regozijam em banhar - se em sangue inocente.
- Vou me encontrar com os outros. - Freya diz e logo seus pés ligeiros a levam para o leste.
- Vamos precisa de você Petros! - digo a contra gosto. Até horas atrás não podíamos dividir o mesmo ambiente pois a mistura de desejo e raiva era nocivo para ambos. Mas agora, vamos lutar lado a lado.
- Acho que não será possível! - me viro o observando de perto. Há hesitação por todo o seu rosto.
- Dê seu jeito! Seu primo se associou a uma bruxa e sabe Deus o que ele pretende.
Um facho de luz rosácea corta o céu assim que uma explosão é ouvida. A terra sob nossos pés estremece, ergo minha espada na altura dos meus olhos, meus dedos se apertam ao redor de seu cabo. Um uivo alto é ouvido e Ahril volta a sua forma original. Um enorme lobo desenhado em músculos sobre duas patas. Ele bufa baixinho, ergue o focinho na direção sul de onde veio a explosão. O som de suas patas potentes reverberando por todo o lugar. Sua estrutura alta desaparece por entre as toneladas de destroços.
- Bem, bem, bem! Vejo que meu querido primo resolveu sair do seu esconderijo! - floreia seus movimentos. Sua estatura triplicou de tamanho, pois está em sua forma real. Um belo centauro cinzento.
- Ícaro! O que significa isso tudo?
- Oh! Isso? - abre os braços musculosos e gira ao redor. Desdém é visível em seu rosto. - É só um problema de percurso.
- Eu confiei em você...
- E fez muito mal primo! Eu adquiri tantos contatos quando deixou tudo nas minhas mãos.
- Você era meu representante apenas!
- Assim me ofende primo! Sabia que seu próprio povo não estava feliz com sua liderança?
- Isso não é verdade! Eu tinha um tratado junto com Fabián e....- Uma risada que bem conheço corta as palavras de Petros. A raiva em seu rosto era quase palpável.
- Antina! - cuspo seu nome como o menor saboroso alimento. Ela ri, seus cabelos alvos e longos balançam com os movimentos.
- Querido Jhex! Quanto tempo não nos vemos!
- Não posso dizer que fico feliz em vê - la!
- Eu senti sua falta. Inclusive de sua boca suja!
- Vamos acabar logo com isso? Seu tempo já acabou Antina! Não cansa de causar mal aos outros?
- Nunca querido! É dele que me alimento, não se lembra?
- Qual o objetivo disso tudo! Os humanos tinham um acordo com as criaturas mágicas.
- Eu quero instaurar uma nova era! - não aguento e gargalho. Ela não gosta mas não me importo.
- Você ao menos se ouve mulher? Sua magia estúpida destruiu com tudo!
Os olhos demoníacos brilham quando me medem de cima a baixo.
- Como sempre desrespeitoso! Foi por isso que te amaldiçoei a viver para sempre! Ver os seus morrerem e nada poder fazer!
- Não! Você me jogou essa porcaria de maldição depois de ter ouvido um "não" como resposta! Seu ego não aguentou, confesse!
- Você! - seu dedo de unhas pontiagudas aponta contra meu peito. De repente um fogo invisível toma meu tórax. A dor é excruciante, vívida e mortal. Mas não para mim. Pietro diz algo mas não entendo. Estou ocupando demais tentando manter os olhos abertos e vender a dor.
- Pare! Pare! Está machucando - o.
- Como queira Sr. Petros Katsaros!
Como em um estalar de dedos, a dor vai embora. Sumindo como poeira ao vento. Meus pulmões antes congestionados, voltem a ativa. Pisco algumas vezes e me ergo devagar, minha espada ainda em punhos.
- Você me queimou de dentro para fora! - digo irado. A maldita tem a audácia de rir desdenhosamente.
- Ah não faça drama querido! Vou te dar um bônus! Não vou lutar hoje. Vou ver tudo como posso dizer: de camarote. Vou assistir sentada a sua queda. Que tal?
- Aprecie o show! - ela desaparece em um piscar de olhos. Sua magia permeando o ar ao redor. Estalando entre nós.
- Você está bem! - Petros toca meu ombro. Me esquivo de seu toque dando de ombros.
- Melhor do antes!
- Que amor! O casal está se entendendo? Pena que seja tarde não é? Vão estar mortos antes do fim do dia! - Ícaro avança contra mim. Sua pata corta o ar perto do meu rosto, desvio no último instante. Ele ri de forma debochada.
- Nunca gostei de você sabia Ícaro? - vou contra ele, minha espada corta uma parte de sua crina. Ele parecendo ficar nervoso. Lhe dou uma piscadela.
- E nem eu de você! Recíproco companheiro de merda! Não soube segurar o próprio amado.
Não respondo, apenas ataco. Meu pé acerta com força total sua parte traseira esquerda. Ele uiva alto, o som quebradiço. Ouço o som de lutas ao meu lado e encontro Petros lutando com as enormes mãos nuas contra um centauro negro. Os olhos do animal reluziam vermelhos em ira incontida. Para onde olho, há caçadores chegando e se juntando a luta.
Ícaro joga seu grande tronco contra mim. O movimento brusco, desloca meu ombro. Seguro um grunhido de dor. Rindo de forma maníaca, coloco o membro no lugar, minha espada lhe corta um pouco as juntas. Ele grita como uma menininha, me sentindo bem comigo mesmo.
- Você me cortou?
- Isso é só o começo! Se envolver com Antina Ícaro? E tudo pelo que? Poder?
- Eu quero ser o melhor! Meu pai sempre me comparava ao meu primo. Petros é isso! Petros é aquilo! O perfeito Petros! - lança um olhar odioso em direção ao primo. - Ele era perfeito demais!
- Você é um doente! - ele se ergue sobre mim em suas patas traseiras. Saio de seu caminho quando sua intenção era me dar um coice bem no peito.
- Sim, não nego. Tanto que transformei meu perfeito primo em um assassino! Não me arrependo.
- Você não fez isso!- o primo ouve sua declaração e a raiva mais vil e em estado puro, domina suas feições. Petros aplica um golpe mortal contra o centauro com quem lutava. Sua dor vinha em ondas em nossa direção. Quando o animal dá seu último suspiro, seu corpo se transforma em pedra e logo depois é desintegrado pelo vento. - Você foi o culpado?
- Por matar Theos? Sim! Nada que uma boa e velha magia não resolva. Então o perfeito Petros virou o mártir da família.
- Seu desgraçado! Vou te matar!
- Estou pronto! Traga seu centauro a tona! Ou se você conseguir!
- Do que ele está falando? - sons de passadas ecoam no ar. Há mais centauros vindo.
- Eu reprimi meu centauro!
- O que? Está louco? Como fez isso?
Reprimir seu animal interior, como no caso deles. É quase como desistir de uma parte de si em detrimento a parte humana. Percebo ali que ele abriu mão não só de nós, como dele mesmo. A culpa sendo o que impulsionou tudo.
O conheci enquanto fazia uma viagem pela Grécia. Foi como os humanos costumam dizer: amor a primeira vista. No nosso caso foi companheiro a primeira vista. Meu coração estava vazio pois tinha acabado de enterrar um amigo que deu seu último suspiro em meus braços. Achei no início que estivesse sofrendo de carência. Mas a medida que fomos nos conhecendo, vi que o Centauro turrão é, era capaz de amar profundamente. Mas quando tudo aconteceu, o vi morrer junto ao irmão que morreu por suas mãos. Só não achava que ele iria matar o que tínhamos no processo.
Volto para o presente.
- Os deuses...- ergo minha mão livre da estava já cansado disso.
- Os malditos e intrometidos deuses!
- Vejo que você não é muito fã dos deuses! Por isso foi amaldiçoado não é?
Um som gutural vem atrás de minhas costas. Me viro a tempo de ver um centauro negro galopar em minha direção. A fúria incontida em seus olhos de cor cobalto era expectante. Suas passadas nada suaves faziam o chão instável de se estar. Ícaro avançou contra o primo que rasgava as roupas sociais expondo o corpo perfeitamente esculpido. Não me detive na visão, estava preocupado com o grande animal que tinha toda a intenção de me ferir.
Me esquivo de mais um coice, ele grunhe. Os braços com veias esticadas se estudam em minha direção, seu soco acerta - me a mandíbula. Ouço o isso estalar mas continuo de pé. Ergo minha espada acima de minha cabeça e lhe corto gravemente seu torso.
Não sei quando ou como. Mas a batalha que se resumia a somente nós quatro se tornou um turbilhão de corpos em combate. Urion em todos os seus três metros de altura, elimina com suas incríveis habilidades com facas três centauros negros de uma única vez. O sangue e vísceras voam ao seu redor e o louco tem a audácia de rir deliciado por tal ato.
Gion surge por entre um grupo de seis centauros negros. Sua baixíssima estatura lhe dá a vantagem de como ocorre nesse momento, cortar com seu inseparável machado os tendões dos combatentes. Os outros caçadores também lutam sem trégua alguma, o som de metal contra metal é música para nossos ouvidos. Perdi Petros de vista então quando olho por sobre a campina e vejo - o lutando com seu primo, me surpreendo ao vê - lo em sua forma natural. Seu centauro cinzento é maior do que todos os que estão aqui. Os cabelos loiros quase alvos encaracolados, estão na altura de seus ombros largos. E tem seus olhos, lilás límpido. Sua espada vai de encontro a de Ícaro que parece estar cansado.
Desvio de uma pata que vinha contra minhas pernas no mesmo instante que Ícaro diz algo para Petros Ele congela em seu lugar, parando totalmente de lutar. Parece estar se rendendo.
- Petros! - grito a plenos pulmões. - Lute homem! Lute! - corro até onde estão, eliminando meus alvos no caminho. Vejo quando Jihli bagunça com a mente de três criaturas, que caem ostentando um olhar vazio em seus rostos. Seu arco e flecha trabalhando sem parar. Mhonral sobrevoa atirando sem piedade.
Meu olhar encontra os primos. Petros parece estar se entregando. Ele não luta. Grito novamente mas nada acontece. Somente vejo com certa impotência Ícaro rugir ferozmente e elevar a espada contra o primo que parece ter se rendido antes do tempo. Vejo com horror quando a lâmina transpassa o peito de Petros. O sangue esguicha no ar, a dor dele se torna a minha. Mesmo que nossa ligação esteja fraca pelo que fez centenas de anos antes, eu ainda sinto o fio do destino que nos ligou assim que nascemos. Ainda que em épocas diferentes.
Quando ele cai, eu também o faço. Quando ele arfa, minha respiração se torna falha. Ícaro se vangloria sobre o corpo semi morto do primo. Ainda sentindo sua dor e decepção, me coloco na frente de Petros quando Ícaro tenta terminar seu trabalho. Eu continuo amando o filho da puta covarde constato enquanto lutamos ferozmente por um tempo indizível, mas que para mim não era nada. Pois meu tudo estava morto aos meus pés. Desarmo Ícaro, jogando meu ombro contra seu peito com toda a minha força, sua espada cai alguns passos longe de nós.
- Vai morrer desgraçado!
- Não agora! - ele ri sombriamente. O ar ao redor parece crepitar. Tudo se torna turvo e sem lógica.
O chão aos meus pés é nada mais do que um imenso negrume. O céu acima de mim, é oco de forma e cor. E silencio! O mais denso silêncio impera sobre mim. Estou sem minha espada assim como sem meus amigos. O ressoar de passos tímidos atinge meus tímpanos de repente despreparados para tal som. Me viro a tempo de ver uma criança de no máximo seis anos de idade. Seus cabelos alvos lhe alcançam a cintura frágil, seu vestido escarlate cintila em meio ao escuro fora de normal do lugar. Seus olhos me fitam com intensidade.
- Olá! - sua voz cantante me põe de joelhos. Meu corpo não me obedece. Estou confuso e sem ter ideia de onde estou. Tenho um trabalho a fazer, um mundo ou parte dele para salvar junto com meus amigos. Impedir Ícaro de se afundar mais e entregar tudo de mãos beijadas para Antina que se alegra na maldade e só de pensar no que ela pode fazer com os governantes dos cinco domínios em suas mãos. Tremo pelo que será das pessoas.
- Quem é você? - ela pisca seus cílios transparentes para mim.
- Você me conhece muito bem Jhex! Eu disse que seria meu.
- Antina? - meus olhos se arregalam em horror. Seus pequenos pés descalços vem até mim. Sua mão toca - me a face. A pele é tão gélida que sinto queimar o local onde toca. - Como? Onde está todo mundo? A grande batalha? Petros?
- Não se preocupe querido! Tudo vai ficar bem! - sorri de maneira inocente. Mas sei que por trás desse sorriso habita um grande demônio.
Um que de alguma forma me tirou de Arkalon, me prendendo em lugar que não sei onde fica. E o pior de tudo: sem saber como tudo vai ficar.
Fim?
Eu disse para não me matarem. O conto termina aqui mas a versão estendida virá.
É um presente por ficar tanto tempo sem postar. E relevem os erros, primeira vez escrevendo algo desse gênero.
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