Capitulo XII - A liberdade veste branco
2 de maio de 1860
- Aqui está o chá meu jovem.
- Obrigado Philip, o senhor é muito gentil. – Oliver pegou a xicara de chá e, como estava com os pensamentos vagos, acabou derramando um pouco do chá na roupa. O copeiro do palácio de Westminster revirou os olhos discretamente. Philip Edmund Johnson achava Oliver White um gênio. Ele falava com muita eloquência na câmara dos comuns e tinha ideias parecidos com um velho conhecido de Philip: William Lovett. Oliver era jovem; tinha a mente fresca e um espirito liberalista, e isso trazia esperanças ao copeiro de 65 anos. Contudo, Oliver tinha muito que aprender. Ele era muito desajeitado, o que fazia com que os outros parlamentares falassem mal dele pelas costas. Philip tentava auxilia-lo da melhor maneira possível, apesar de ele não ser pago para isso.
- O senhor ainda está pensando no ocorrido do mês passado? – Philip ofereceu um lenço para que Oliver se secasse.
- Está claro, não é? Minha mente está rasa – dizia ele ao limpar o paletó – eu sei que me exaltei na sessão. Porém, não acho que sai perdedor de todo modo. – Oliver abriu sua bolsa e pegou uma carta.
- É o selo da família imperial francesa Mr. White? – Philip trabalhava como copeiro no parlamento a 40 anos. Ele foi contratado na época do reinado de Jorge IV. Philip era uma mina de informações que Oliver garimpava. Então não se surpreendeu quando o copeiro logo identificou o brasão estampado da carta.
- Isso mesmo. Consegui este documento graças o conde de Bristol e de um amigo meu. Mas isso não significa que devo confiar em alguém na câmara dos lords.– Philip acenou com a cabeça concordando.
- Se me permite perguntar meu jovem, o que pretende fazer de agora em diante? – Oliver entendeu o tom da pergunta. Presumiu que Philip já imaginara que o conteúdo da carta era de alguma importância e ele queria saber como Oliver usaria a seu favor.
- Bom, isso é segredo. Creio que se permanecer mais tempo neste lobby Mr. Johnson, as pessoas podem comentar – Uma das coisas que Philip mais admirava em White era a sua perspicácia. Ele deu um sorriso sem mostrar os dentes e se retirou com o carrinho de bebidas.
Oliver olhou atentamente o envelope timbrado. Ele havia conseguido algo importante e não queria desperdiçar uma chance como aquela, mesmo que isso o colocasse no inferno. O parlamentar se encostou na cadeira e ficou lembrando dos eventos que o levaram a segurar aquele documento.
Torre de Santo Estevão: Câmara dos Comuns – três semanas antes
- Mas isso é um absurdo. Será que não podemos fazer nada?
- Acalme-se Oliver! Não resolverá nada se continuar de cabeça quente – ponderou um dos amigos parlamentares de Oliver White.
- Me acalmar? John, você também deveria estar com os nervos à flor da pele! Para que serve essa maldita câmara? Somos um bando de espantalhos controlados por barbantes!
- Olha como fala. Se um dos lordes te ouvir você estará fora – disse John Walsh com afinco. Ele e Oliver se conheciam desde criança e eram amigos de longa data.
- Pois não devíamos ter nada a temer! Fomos escolhidos pelo povo para sermos seus representantes. Éramos para ser a maioria aqui. – dizia Oliver, enfurecido. John bufou. Ele gostava do senso de democracia que Oliver transmitia, mas também entendia que o amigo era exaltado ao extremo. E isso na política não era algo bom.
- Calma, White! Nós conseguimos uma vitória importante há dois anos. Não se lembra? Conseguimos o fim do censo eleitoral!
- Você se contenta com tão pouco Walsh! Isso está longe do ideal. Até quando o dinheiro falará mais alto neste país? Céus! Preciso fumar – Oliver saiu pisando alto. Ele ajeitara os óculos no rosto e caminhou rumo ao Old Palace Yard para fumar. No meio do caminho, ao passar próximo a câmara dos Lordes, Oliver ouviu uma certa comoção na casa adversaria.
"Que eu me lembre, não havia nenhum pleito agendado para hoje"
De súbito um homem saiu esbaforido do salão e parecia bastante irritado. Logo em seguida o primeiro ministro e o presidente da câmara dos lordes saíram rindo alto. Oliver ficara intrigado com a situação. Resolveu acender o cigarro ali mesmo próximo a porta da câmara adversaria na esperança de ouvir alguma explicação.
- É o fim dos tempos! Está na bíblia não está? Que o mundo viraria de cabeça para baixo quando algo assim acontecesse!
- Se é o fim dos tempos eu não sei dizer Mr. Campbell, mas que é uma coisa como essas isso é... Ora se não é o jovem gobby* da câmara dos comuns! Está perdido pelo palácio? Que eu saiba não pode fumar nessa área – disse Sir Bingham. Ironicamente, Bingham pegou o cachimbo que estava no bolso, colocou um pouco de fumo e perguntou se o colega parlamentar tinha um isqueiro. Oliver olhou entediado. Isqueiros não eram muitos populares nem muito acessíveis para a maioria das pessoas.
- Já estava a caminho de Old Palace, também está indo para lá my lorde? - Oliver apontou para o cachimbo recém aceso de Charles Bingham, que havia conseguido o isqueiro com Campbell.
- Perdoe-me a confusão. Acho que não fui claro o suficiente, você não pode fumar nessa área - Oliver sentiu o tom de desprezo na voz do conde. Porém, ele já havia se acostumado com represarias como aquela.
- Eu que devo desculpas my lord. Atrasei o passo somente para não trazer incomodo ao senhor primeiro ministro que saiu de forma alegre desta sala. Seria alguma confraternização entre os senhores?
- Como você é falante! Soube que na semana passada foi expulso da sessão de votos a respeito das rotas municipais. E pela hora – Bingham olhou em seu relógio de bolso – deve ter acontecido algo parecido hoje para estar aqui papeando. - Bingham e Campbell riram.
Oliver puxou o máximo de fumaça para dentro dos pulmões. A última coisa que queria era ser julgado por dar um soco em um lord.
- O senhor é muito perspicaz conde de Lucan, passar bem – Oliver tirou o chapéu e os cumprimentou. Caminhou rumo ao jardim de old place para fumar mais um cigarro. Ele precisava ter calma para analisar a situação. Algo de inusitado havia acontecido naquela manhã que deixara os deputados da câmara dos lords ouriçados. O presidente da câmara e o primeiro ministro estavam descontraídos, mas pelos comentários que ouviu de Campbell e Bingham não era algo digno de risadas, pelo contrário, era algo muito sério que fugia do comum. Apesar de terem usado termo "fim dos tempos", Oliver sabia que a religiosidade de seus colegas parlamentares era um tanto quanto duvidosa, então ele tentou pensar em que fatos poderiam se ligar a tal alegação.
- O que será que aconteceu de tão extraordinário para causar uma comoção tão grande? - disse Oliver por alto.
- Uma mulher - Oliver se assustou com a resposta inesperada a sua pergunta retórica. Ele estava tão concentrado em seus pensamentos que não percebeu que havia mais uma pessoa fumando no jardim.
- Como disse? Perdoe-me a indiscrição Sir. Hervey - White tentou se recompor.
- Você é Oliver White se não me engano. Acho deveras pavoroso o apelido que lhe deram. Meus companheiros apesarem de terem certa influencia nesse país, não são todos providos de inteligência. Peço desculpas pelo comportamento deles - o conde de Bristol, Frederick William Hervey, era um homem alto, de pele pálida e olhos fundos. Apesar da idade, sessenta anos, era nítido em seu rosto a jovialidade que raramente se via em pessoas como ele. Oliver, mesmo que contrariado, não achava brechas na conduta de Hervey que pudesse condená-lo. Ele, como era muito desconfiado, pesquisava a fundo quase tudo sobre a vida de seus colegas parlamentares.
- Fico lisonjeado que tenha ouvido falar de mim, conde. Mesmo que de forma tão pejorativa.
- Ora, não seja tão complacente meu mancebo. Espero que aceite as desculpas. Contudo, voltando ao assunto em questão, vejo que estas intrigado com a comoção de hoje cedo. O que te atraiu tanto desvelo, a ponto de agoniar-se dessa maneira? - disse Hervey após soltar a fumaça dos pulmões.
Oliver achou a pergunta interessante. Hervey poderia simplesmente tê-lo ignorado desde o início, ou apenas prosseguido com a narrativa sem muitos rodeios. O que o conde de Bristol queria realmente saber era o que o acesso a essa determinada informação lhe seria útil. Para a satisfação de Frederick, White percebeu sua intensão.
- Reconheço o senhor como homem honrado que dizem ser, e possui um grande gênio, suponho. Eu entendo perfeitamente, meu senhor, que apesar de parecer simpatizante com minha pessoa, não pode simplesmente soltar informações ao vento; e que na posição que ocupa também precisar ser o mais diligente possível. Não peço que confie em mim de imediato, pois isso sei que é algo impossível no momento. Porém, creio que o senhor tenha fé que algo possa ser feito caso eu saiba do assunto que os senhores trataram na câmara mais cedo. Se será útil ou não, convém somente a mim saber.
- Fé? - questionou Hervey num tom de divertimento - Tem um futuro brilhante Sir. White. É deveras perspicaz.
- Lhe agradeço novamente pelo reconhecimento.
- Está certo. Não há mal algum que sabia de algo não oficial. Presumo que tenha reparado no indivíduo que saiu enfurecido da câmara assim que as portas se abriram - Oliver concordou com um aceno. O homem pareceu bastante irritadiço. - Pois bem, imagino que deva estar a pensar que homem era aquele que fora tirado dos eixos, por nós lords..
- Espere um instante - disse Oliver com um certo espanto na voz - não me diga que tal homem era...
- Isso mesmo, uma mulher. E não somente uma mulher qualquer, mas sim uma figura importante na França.
Oliver soltou um assovio fraco. Ele nunca imaginaria, nem por um milhão de libras, que uma mulher havia adentrado ao parlamento, quanto mais pleiteado algo dentro da câmara dos lords.
- Estou estarrecido! Agora entendo os comentários de Sir. Bingham. Quem poderia imaginar uma coisa como essa! - Oliver parecia empolgado. Hervey assumiu uma postura diplomática. Ele não havia se arrependido de ter contato a White sobre a visitante inusitada, mas o assunto não deveria progredir mais além daquele ponto.
- Realmente é algo que não se imaginaria nem em cem anos, apesar de existir vossa majestade. - comentou Frederick com relação a monarca atual. - Por fim, isso é tudo que posso lhe dizer.
- Foi mais do que o suficiente conde. O que posso fazer para retribuir o favor? Imagino que queira uma contra partida.
- Não julgarei a sua falta de fé na humanidade Sir. White, mas as vezes nem todos os homens nascem maus. - o conde de Bristol de despediu com um aperto de mãos. Oliver ficou intrigado. Porque um lord, mesmo que sem todas as letras, passaria uma informação a um parlamentar da câmara dos comuns sem pedir algo em troca? Oliver no fim pensara que não conseguiu ler as reais intensões de Hervey.
Oliver fumara ao todo três cigarros. O terceiro foi mais pela conveniência de já estar em um local apropriado para apreciar o fumo. Ele sabia que havia herdado o vício horrível do pai, mas não podia evitar a sensação de bem-estar que a nicotina trazia. Com os pensamentos mais lúcidos, Oliver correu de volta a câmara dos comuns onde havia deixado sua bolsa.
- Ei Oliver! onde você estev...
- Agora não posso falar Jonh! - Oliver saiu correndo. Pegou sua bicicleta e marchou em alta velocidade rumo a Chancery Ln, Holborn. Lá ele iria encontrar um velho amigo dos tempos de faculdade.
- Olá, bom dia. O Ed está? – Oliver estava ofegante. Ele que colocou as duas mãos sob os joelhos, inspirava e espirava de forma descontrolada. A secretaria do pequeno escritório localizado no prédio da Maughan Library, olhou confusa para o homem de cabelos curtos cor castanho claro e de olhos cobertos por um óculos de grau fortíssimo. Apesar da aparência franzina e de ter um rosto ossudo demais, Livia, a secretária, achava Oliver um homem bonito.
- O Sr. Harrington ainda não retornou, ele foi para Sant Andrews ontem de manhã, mas creio que estará de volta essa tarde. O senhor aceita um copo de água? – Livia sorriu sem mostrar os dentes.
- Sim, por favor.
Livia trouxera a água. White bebeu o conteúdo do copo sem intervalo. Ele estava com sede devido as pedaladas apresadas que ele dera. O parlamentar precisava de conversar urgentemente com o seu velho amigo, Edwin Harrington.
- Qual a sua graça senhorita? – perguntou Oliver já com o folego restaurado.
- Me chamo Livia Bochanan.
- Senhorita Bochanan, por acaso teria papel e tinta? Quero escrever um bilhete para o Ed.
- Sim, senhor....?
-Perdão, não me apresentei. Me chamo White, Oliver White. – Livia pegou os materiais solicitados. Com rápidos rabiscos no papel, o parlamentar canhoto escreveu desleixadamente algumas linhas. Ficou pensativo por um instante e analisou o que acabara de escrever. Livia olhava discretamente para Oliver que parecia concentrado no que fazia. Oliver a olhou de relance, mas foi o suficiente para que a secretária corasse. O parlamentar também se sentiu envergonhado. Ele não levava muito jeito no campo amoroso. Ele havia tido um beijo roubado de uma prima quando tinha 13 anos, mas isso foi o máximo que conseguiu com uma mulher. Ele era extremamente tímido, e apesar de sua desenvoltura de oratória na câmara, ele gaguejava quando conversava com uma mulher que lhe interessasse. Somente um olhar mais indiscreto de alguma lady ele esquecia como se escrevia no papel.
- Bem... é... vo-você poderia entregar isso para o Ed quando ele voltar? Diga a ele que é urgente e que assim que ele tiver informações, entre em contato comigo – Oliver estava corado. Livia o olhava intensamente não porque estava realmente interessada nele, mas sim para entender o pedido que lhe fazia. Porém, Oliver não sabia distinguir esse tipo de coisa.
- Claro Sir.White, darei o recado. – Livia sorriu sem mostrar os dentes. Oliver se despediu da moça e ainda encabulado com o olhar da jovem nele, acabou se desequilibrando da bicicleta e quase caiu após duas pedalas. Livia pôs a mão sobre a boca para que Oliver não visse que ela estava tentando segurar o riso. Oliver foi embora o mais rápido possível.
Três dias após o fato, que para Oliver era histórico, o parlamentar nascido no condado de North Yorkshire, recebeu uma carta de seu amigo Edwin marcando um jantar no Rules às 19h daquele mesmo dia. Por coincidência, John e um outro colega politico o chamaram para jantar no mesmo lugar só que um pouco mais cedo. Oliver os fez companhia até a chegada de Edwin.
- Está sendo procurado pela MP**? – disse a Oliver um senhor calvo de corpo robusto num tom descontraído.
- Sir. Mitchell, está de bom humor hoje. O que te faz pensar uma coisa dessas? – Oliver acabara de receber sua taça de vinho.
- Estás a olhar de um quanto a outro, como se procurasse alguém que o vigiasse. Aconteceu algo?
- Nada de importante ainda – Oliver dera uma golada no vinho. Ele estava ansioso pela chegada de Edwin. Queria saber mais informações a respeito do pedido que lhe fizera. – estou esperando uma pessoa...
- Não me diga que é uma garota! – disse John após beber quase que em uma única vez uma caneca de cevada. A espuma da bebida ficara garrada ao seu farto bigode. Oliver fizera uma careta. Ele odiava pelos no rosto, tanto no seu, quanto no de outras pessoas.
- Não é nada disso. Vocês são uns abutres – Oliver terminara de beber sua primeira taça de vinho e pedira outra.
- Se eu estou de bom humor, com o senhor já ocorre o contrário. Sei que és bem razinza meu jovem, mas relaxe. Você é muito intenso na maioria das vezes. – comentou Sir. Mitchell assim que comeu um ovo de codorna.
- Touche – Oliver timbrou sua taça com a de Mitchell em sinônimo de rendição - Quem imaginaria Walsh! Que dois pobretões como nós viríamos a frequentar o Rules algum dia. – Oliver já havia terminado a segunda taça de vinho e já havia pedido a terceira. Sir Mitchell e John se entre olharam. Oliver não era muito forte com bebidas de teor alcoólico.
- Você deveria comer algo. Beber de estomago vazio não faz bem. – Sir Mitchell havia notado a mudança de no semblante de Oliver. John concordou com a cabeça.
- Não estou com fome... mas que droga! Cadê aquele desgraçado do... – antes que Oliver pudesse terminar a frase, seus olhos se fixaram na criatura que acabara de adentrar no restaurante. E não foi só ele, todos que estavam no local fizeram silêncio. O ser, que não parecia real, olhava com desdém para os clientes do estabelecimento à medida que caminhava para um local reservado do restaurante. Oliver acompanhava meio boquiaberto a figura de elegância extrema desfilar pelo salão. Logo após a entrada triunfal do ser, outra figura curiosa adentrara no recinto. Ao contrário do outro, que mais parecia ser uma miragem, o segundo individuo era bastante conhecido pelos tabloides e jornais britânicos, além de ser figura presente no palácio de Westminster. O magnata do ramo bélico, Antenore Andretto. Os dois caminharam na mesma direção e dividiam a mesma mesa. Logo começaram os murmúrios:
"Quem é aquele homem que acompanha Sir.Andretto? "
"Acho que é francês. Olha só essas roupas?!"
"Mas ele tem um jeito meio estranho não acham?"
Todos comentavam a respeito dos dois clientes inusitados. Oliver já estava na sua quinta taça de vinho. Ele achara que aquilo era uma coincidência absurda demais. Como que do nada a pessoa alvo de sua investigação estaria jantando no mesmo lugar que ele? Seria isso obra de Edwin ou do destino? O restaurante começava a ficar cada vez mais cheio. Oliver olhou de relance para um cliente que entrou um tempo depois, parecia ser um manco, mas ele não deu muita importância. Oliver imaginou que deveria ter aceitado o conselho de seu amigo com relação a comida. Ele não se sentia bem. Suas vistas estavam embaçadas e não conseguia pensar direito. O que ele tinha ido fazer ali mesmo?
- Então, vamos fazer um jogo... – disse John que já estava levemente alterado.
- Jogo? – questionou Sir. Mitchell.
- Eu aposto cinco libras que é homem – disse John.
- E eu, sete libras de que é mulher – disse Sir. Mitchell.
Oliver demorou alguns segundos para entender a origem da aposta, mas logo se deu conta de quem eles estavam falando.
- Eu aposto dez libras de que é os dois! – disse Oliver que já parecia estar embriagado por completo.
- Já bebeste muito vinho meu caro, onde já se viu? Ser duas coisas ao mesmo tempo. – comentou John após tirar a taça de vinho das mãos do amigo parlamentar, que parecia estar em outro mundo.
Oliver já estava fora de si. Como não era acostumado a beber além de duas taças de vinho, as cinco que ele bebera sem pestanejar o colocaram fora de orbita. E a sensação de perder o controle de si mesmo era algo que ele detestava.
-... Espero que escreva mais artigos. – A voz que soou meio estridente próximo aos cavalheiros era familiar para Oliver. Ele olhou para a direção em que a voz vinha e reconheceu a figura que falava. Era Edwin. Por mais ébrio que estivesse, White entendeu o recado.
- Então meus nobres cavalheiros, acho que a bebida está afetando meu juízo. Acho que por hora devo me retirar .. – Oliver se levantou, colocou o dinheiro no balcão e foi saindo do lugar
- Não é melhor que eu te acompanhe.. – Oliver já havia saído quando John se ofereceu para acompanhar seu amigo até em casa.
Edwin esperava Oliver na esquina seguinte do restaurante. Oliver cumprimentou o amigo com um aceno de mão. O parlamentar caminhava de forma irregular. Edwin suspirou.
- Bebeu mais que duas taças de vinho não é – disse Edwin quando Oliver chegara até ele.
Oliver soltou um riso fraco. Edwin sabia que não conseguiria ter uma conversa decente com Oliver naquele momento.
- Realmente meu amigo, estou em falta de sobriedade no momento. Mas se não for tomar-lhe mais tempo, me acompanhe até em casa e me conte o que descobriu. – Oliver soluçou. Edwin concordou. Não queria deixar que sua fonte de informações no parlamento fosse alvo de vadios.
- Depois temos que conversar de forma mais clara, mas posso adiantar algumas coisas. Você me faz pedidos quase impossíveis sabia?
- Tenho sorte de você se interessar por coisas impossíveis – Oliver olhou desnorteado para Edwin e deu um sorriso largo – agora vamos, estás a me matar de curiosidade.
- White! Pois bem, claro que fiquei surpreso com o pedido que me fez, ainda mais depois de descobrir que era a pessoa que me pediste para investigar.
- Você é inteligente como uma raposa. Em três dias já descobriu quem é a senhora ou senhorita?
- Mas é claro meu rapaz! Não todos os detalhes obviamente. Ainda estou levantando informações. Hoje mesmo, conheci alguém bem interessante no restau... – Edwin olhou para Oliver que mal se mantinha em pé. Como ele havia imaginado, o amigo não e estava em condições para ter uma conversava proveitosa. Ele então tirou do bolso um envelope e colocou dentro do paletó de Oliver e o ajudou a chegar seguro em casa que na verdade era uma pensão na qual o parlamentar tinha um quarto quase cativo.
Com certa dificuldade, White tentava destrancar a porta do quarto, mas não conseguia. Instantes após entrar na pensão, um homem com uma bengala adentrou no lugar.
- Quer ajuda meu jovem? – disse o homem com um tom amistoso. Oliver o olhou com dúvida, mas era mais devido ao estado de confusão mental do que desconfiança.
- Agradeceria Sir. – Oliver ainda tentava destrancar a porta. O homem tomou as chaves de Oliver e o questionou qual delas abriria a porta. Oliver demorou um pouco para responder ao estranho que lhe oferecia ajuda. Após a porta se abrir, White agradeceu ao homem e estendeu a mão para cumprimenta-lo, mas ele pareceu constrangido. O homem saiu andando dizendo para ele trancar a porta, que ele já tinha colocado a chave na fechadura. Oliver agradeceu mais uma vez e por um instante teve a sensação de já ter visto aquele senhor meio manco.
No dia seguinte, Oliver acordara de ressaca. Dissera para si mesmo que nunca mais iria passar de duas taças de vinho. Havia dormindo com a mesma roupa do dia anterior. Ele levantou e quando foi se trocar algo caiu de seu paletó. Era um envelope timbrado com um selo que logo Oliver identificou: francês. Por um instante ele ficou confuso, mas logo imaginou que aquilo era obra de Edwin. Assim que se banhou e comeu, Oliver sentara próximo a sua escrivaninha e abriu o envelope misterioso. E o conteúdo que a carta trazia era algo extraordinariamente interessante e ao mesmo tempo perigoso.
Lobby do membros da câmara dos Comuns - 2 de maio de 1860
Oliver continuava a olhar aquela carta que ao mesmo tempo que poderia dar-lhe uma grande oportunidade poderia leva-lo a lama. Nas semanas seguintes ao recebimento do envelope muitas coisas aconteceram e Oliver tinha uma missão importante naquele dia. Ele guardou a carta enviada da França de volta a sua bolsa e depois pegou outro envelope. Esse, que já era mais simples, também contina uma informação importante. Era um convite, na verdade. Dia 7 de maio em 1860, às 11:59 p.m , na rua Whitehall, 53 London, Reino Unido aconteceria um evento extremamente reservado. Um baile de máscara. O anfitrião era misterioso e com muito custo Oliver havia conseguido um convite. Agora, se ele conseguiria entrar era outra história, A maioria dos nobres residentes na capital fora convidada e isso seria uma boa oportunidade para conversar de forma causal com uma convidada que lhe chamava atenção. Ninguém menos que a representante de napoleão III, Greta Charpentier. Oliver deixou escapar o sorriso dos lábios. Ele finalmente se encontraria com a mulher que fazia história.
//////////////////////
Glossário
* -gobby: falar demais ou dizer coisas que não deveriam ser ditas.
** - MP - Metropolitan Police
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro