Contos de Amor - Parte Final
Oieee gente ^_^ Ok, sei que disse que postaria três capítulos seguidos, mas de repente não gostei mais do que tinha escrito, por isso decidi reescrever alguns trechos. E nunca ficava como eu queria. Reescrevi os mesmos parágrafos umas 500 vezes. Enfim, finalmente escrevi algo que me agradou e espero que gostem. Comentem muito, pois sabem que amo (amanhã respondo todos os comentários desde o capítulo anterior rsrs), votem e convidem os amigos. ^_^ A música de hoje é Warrior da Beth Crowley que acho que o refrão tem tudo a ver com Ráahra e Faraahtz! Não achei um vídeo com uma tradução decente, mas procurem no Google, vão concordar comigo no refrão! O capítulo de hoje é dedicado a uma linda Desbravadora <3
P.S: Saiu entrevista minha no livro "Entrevistados" da A-leeh aqui do wattpad (link no "link externo"), quem quiser dar uma passadinha lá e saber um pouco mais sobre mim e a criação dessa diva guerreira que tanto amamos, passem lá ;)
P.S 2: Hoje é aniversário da Pentelha!!!! Te adoro Pentelha RainhaTargaryen ! Feliz Aniversário!!!!
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Iliah
Um príncipe! Karus é um príncipe! Agora tudo faz sentido! É claro que a família dele nunca me aceitará! Eu não passo de uma plebeia de família humilde. E ainda por cima sou de um reino estrangeiro que não possui as melhores relações diplomáticas com o Reino de Tatris. Eu nunca serei capaz de me portar como as donzelas da nobreza. Nunca chegarei a altura delas. Nunca serei boa o bastante para me casar com um príncipe. Eu... Eu realmente nunca serei uma mulher digna de me casar com ele.
Uma tristeza começa a dominar todos os meus sentidos. Tão grande que é como se um enorme buraco estivesse se abrindo no meu peito e ficando cada vez maior. Sinto minhas mãos tremerem e minhas pernas fraquejarem. Minha visão fica embaçada pelas lágrimas que tento conter inutilmente.
Estou me sentindo sufocada! Quero sair daqui! Mas Karus e o irmão estão no caminho da porta. Talvez eu consiga sair pela porta da cozinha. E Karus ainda está ocupado demais desafiando o irmão para notar o meu desespero e planos de fuga.
Chego a dar um passo inseguro para trás, mas Ráahra não apenas me barra, como também murmura em meu ouvido:
- Se fizer qualquer besteira hoje, irá se arrepender pelo resto de sua vida!
- Mas eu nunca poderei...
O choro em minha voz faz Karus voltar sua atenção a mim.
- Iliah, meu amor, me perdoe! –sua angústia espelha a minha. – Eu sei que eu deveria ter te contado antes, mas eu não...
- Você ainda não tinha contado a ela sobre suas origens, Karus? –o príncipe parece surpreso e subitamente envergonhado. – Agora entendo. Perdão, não era a minha intenção causar nenhum desentendimento.
- Não queria causar nenhum desentendimento? –fúria goteja de cada sílaba. – Então o que quis dizer quando disse que não permitiria o meu casamento? –Karus ladra feito um cão raivoso.
A fúria de Karus claramente surpreende o príncipe e sua expressão serena desaparece. Ter a raiva do irmão direcionada a ele, visivelmente o abalou.
Nunca pensei que veria Karus assim e não quero vê-lo brigando com o seu irmão por minha causa.
- Karus, por favor, não...
- Não me importo com sua opinião, Tratus! –Karus declara sem me deixar continuar. – Nem você ou nossos pais irão me impedir de me casar com a mulher que amo! Estou disposto a renunciar a tudo! Mesmo que eu seja deserdado, não irei nunca desistir de Iliah!
As palavras de Karus são como um bálsamo para o meu coração e por um segundo esqueço todas as minhas aflições.
Mas... Ele está mesmo disposto a renunciar a uma vida de riquezas por mim? Renunciar ao seu título e a sua família?
Não. Não posso permitir que ele faça nada disso! Riqueza não é importante e sei que ele realmente não se importa com isso, mas não posso permitir que ele brigue com sua família.
Nossa família é o bem mais precioso que temos. Nunca seria feliz sabendo que ele se afastou de sua família por minha causa.
Me forço a engolir o choro e respiro fundo. Preciso ser firme agora.
- Karus, eu não...
- Por favor, senhorita Iliah, peço que me perdoe! –dessa vez é o príncipe que não me deixa falar. – Vim aqui com a mais nobre das intenções.
Não sei o que ele realmente pretende, mas ele me parece sincero.
- Estou em Galariate oficialmente em uma missão diplomática. E na ausência de meu pai, sou eu quem responde por ele. Esta tarde me encontrei com o Rei Garte e disse que é uma pena que ele não tenha filhas, pois dessa forma poderíamos firmar uma união entre os dois reinos através dos laços do matrimonio, o que o deixou muito triste por ter apenas filhos homens. –não entendo aonde ele quer chegar. – Felizmente uma ideia me ocorreu e disse a ele que nada poderia simbolizar mais a forte relação de amizade e cooperação entre nossos reinos do que o casamento de meu irmão com uma das filhas do Reino de Galariate. -o príncipe me informa sorrindo. - Ele é claro, ficou muito contente por ainda haver uma solução tão satisfatória para ambos os lados e aceitou o acordo.
- Sinto muito alteza, mas não entendo o que assuntos diplomáticos têm a ver com...
- Qualquer coisa que eu diga enquanto estiver em Galariate será a palavra de meu pai. – um sorriso triunfante paira nos lábios do belo príncipe. – Nem mesmo ele poderá voltar atrás em um acordo firmado em seu nome. E a tradição em nosso reino é que quando um jovem vai pedir a mão de uma donzela em casamento, seu pai deve acompanhá-lo e fazer o pedido junto a sua família. Por isso estou aqui.
E me deixando mais uma vez sem fala, o príncipe se dirige ao meu pai e se ajoelha diante dele.
- Imagino que o senhor seja o pai de tão adorável donzela, estou certo? –meu pai simplesmente acena com a cabeça. – Eu, Tratus Orindes Lomanian IV, Príncipe Herdeiro do Reino de Tatris, estou aqui representando o meu pai, o Rei Tratus Orindes Lomanian III, para pedir que conceda a mão de sua filha, Iliah, em casamento para o meu irmão, o Príncipe Karus Larcan Lomanian, futuro Duque de Vanshey.
Ninguém respira na sala. Nem mesmo os grilos sempre tão presentes em minha casa velha emitem um único som.
- Irmão? –o príncipe Tratus chama por Karus – Não posso fazer isso sozinho!
Karus parece confuso em um primeiro momento, mas logo se recupera e um sorriso de compreensão surge em seu rosto. E aos tropeços ele também se posta de joelhos ao lado do irmão.
- Senhor Jules, por favor, me faça o homem mais feliz desse mundo e me permita casar-me com sua filha!
- É claro que tem a minha permissão e a minha benção, meu rapaz. –meu pai responde serenamente. – Contanto que prometa que a fará feliz.
- Eu prometo senhor Jules! Prometo em nome das sete luas e suas divindades que farei tudo para fazê-la feliz! –ele diz com um ardor que me aquece a alma.
Ráahra exibe um sorrisinho um tanto satisfeito perante as palavras de Karus.
- Karus, será que podemos conversar em particular? –peço ainda incerta do que pretendo dizer.
Ele rapidamente fica de pé e gesticulo para que me siga até o meu quarto.
Tia Piane faz uma cara feia, mas outro olhar severo de Ráahra a impede de dizer seja lá o que fosse.
Quando estamos sozinhos em meu quarto, Karus passa a falar feito um desatinado.
- Iliah, meu amor, por favor, me perdoe! –ele segura meu rosto entre suas mãos suave e sou incapaz de não ver a súplica em seu olhar. – Sei que deveria ter te contado a verdade sobre as minhas origens... Eu queria ter te contado quando voltei, mas você...
- E antes, Karus? –o interrompo. – Por que não me contou antes?
Ele respira profundamente antes de responder.
- A minha vida inteira, Iliah, eu cresci cercado de pessoas que só se aproximavam de mim com segundas intenções devido ao meu título de nobreza. –seu pesar me dói o coração. – Mais tarde as mulheres só se aproximavam de mim porque me viam como um meio de se tornarem íntima do meu irmão para terem chances de se tornarem rainhas. –ele desvia o olhar e balança a cabeça. – Na melhor das hipóteses eu sempre fui apenas a segunda melhor opção. Nenhuma delas estava realmente interessada em conhecer a pessoa que eu sou. Por isso antes nunca fiz questão de lhe contar que sou um príncipe. Confesso que no inicio minhas intenções não eram as mais nobre, mas depois quando a conheci melhor, queria que você gostasse de mim pela pessoa que eu sou.
Compreendo os motivos dele. Realmente entendo. Acho que eu no lugar dele faria exatamente o mesmo e não posso condená-lo por querer ser amado pela pessoa que é não pelo seu título. Entretanto, essa não é a questão que me incomoda.
- Karus, eu não sou uma mulher adequada para você! –lamento quase chorando de novo. – Não tenho a educação necessária, não sei me portar como as nobres donzelas, nem mesmo sei dançar uma valsa! Não passo de uma plebeia humilde que mal terminou os estudos!
- Não fui justo há uns segundos atrás. Tenho ao menos uma amiga verdadeira que pode te ensinar tudo o que for preciso. –ele se aproxima e beija a ponta do meu nariz. – Quanto a valsar, irei adorar lhe ensinar eu mesmo!
- Karus, essas coisas são os detalhes mais insignificantes! –uma lágrima traiçoeira escorre de um dos meus olhos. – Eu estaria disposta a aprender tudo por você!
- Então está tudo resolvido. –ele seca a minha lágrima com um beijo em minha bochecha.
- Você não entende! –já não consigo mais frear minhas lágrimas. – Não importa a armadilha que seu irmão tenha usado para encurralar o seu pai, a sua família nunca me aprovará!
Karus se afasta um pouco e vejo um enorme sorriso de orgulho brincando em seu rosto.
- Tratus teve uma ideia genial! Eu nunca teria pensado em algo assim! –posso facilmente perceber o quanto ele tem orgulho do irmão e o ama muito. – Ele realmente pensa como um soberano. Dará um excelente rei um dia!
- Karus...
- Eles irão amar você assim como eu amo, meu amor! –ganho um beijo suave na testa. – Ficaremos noivos por um tempo e eles terão a oportunidade de conhecê-la e amá-la! E depois no casaremos na cerimônia mais linda que todos os reinos jamais irão ver igual!
- Eu nunca serei a esposa adequada para um príncipe! –declaro engasgada pelo choro.
- Não me interessa se você é adequada ou não para ser a esposa de um príncipe! –ele volta a secar as minhas lágrimas com mais beijos. – Tudo o que me importa é que você é perfeita para mim, Karus, alguém que a ama mais do que tudo!
Essa resposta faz o meu coração flutuar acima das nuvens e não tenho mais argumentos para rejeitá-lo.
- Eu também amo você mais do que tudo, Karus! –digo entrelaçando meus braços ao redor de seu pescoço.
- Isso é um sim? Ainda vai se casar comigo?
- Sim, eu vou me casar com você e farei de tudo para não lhe envergonhar e te fazer sempre feliz!
- Eu nunca me envergonharia de você! Todos terão inveja de mim, isso sim!
- Eu amo você, Karus!
- Eu também te amo, minha doce Iliah!
Nossas declarações de amor são seladas com um beijo terno, delicado e cheio de amor.
Ráahra
Três ciclos de luas depois, chegou o grande dia. Os reinos de Tatris e Galariate estão em festa. Todos comemorando a união entre os dois reinos vizinhos.
Continuo visitando Faraahtz sempre que posso, mas ultimamente há muitos conflitos nas terras além do Oceano Negro e evito me encontrar com ele nos campos de batalha, pois Iéehruus adora se meter em guerras onde não é chamado.
Faraahtz também foi convidado para o casamento, mas os motivos de sempre o impediram de estar aqui hoje. Gente brigando por motivos tolos.
O casamento de Iliah e Karus será realizado no Palácio Real, no Vale Flutuante acima de Barian e logo em seguida haverá um cortejo onde os noivos desfilarão em uma carruagem aberta pelas ruas da Cidade da Corte. Os portões da muralha foram abertos e os cidadãos foram convidados a celebrarem livremente a feliz união do jovem casal. A noite haverá um grande baile para as pessoas mais ilustres da nobreza dos dois reinos e também contará com a presença dos familiares de Iliah e alguns poucos amigos. E amanhã bem cedo, meu casal de amigos seguirá viagem rumo a sua nova moradia. Um magnífico castelo no Ducado de Vanshey. Após a cerimônia de casamento, Karus deixará de ser príncipe e passará a ser o Duque de Vanshey e Iliah sua Duquesa.
Estive observando a nova vida de minha amiga nos últimos ciclos de luas. Iliah aprende rápido e embora tenha se passado tão pouco tempo, parece que nasceu e se criou entre a nobreza. Ela tem uma graça natural e encanta a todos com seu jeito amável e doce de ser.
O rei e a rainha a principio ficaram chocados com o comportamento de seus dois filhos. O rei principalmente ficou furioso por ser filho mais velho, sempre tão obediente, ter usado seu nome em um ardil em favor do irmão mais novo, mas não foi capaz de esconder certo orgulho da manobra inteligente. E apesar da resistência inicial, logo os pais de Karus caíram de amores por Iliah.
Agora me encontro no corredor que leva aos aposentos de Iliah. Estou com a aparência que ela conhece, porém dessa vez tive o cuidado de parecer mais saudável com uns quilos a mais. Escolhi um delicado vestido azul claro com bordados prateados nas mangas e na barra da saia, assim como uma trança elaborada adorna o meu rosto.
Ao fim do corredor, dois guardas vestidos em uniforme de gala fazem a vigilância em frente a enormes portas douradas. Provavelmente me fariam alguma pergunta antes de permitirem a minha entrada, mas a alguém de repente escancara as portas e tão logo me vê, me esmaga em um abraço apertado.
- Ráahra, menina! Que bom que finalmente está aqui! –diz tia Piane que está a ponto de quebrar minhas costelas. – Minha menina Iliah não para de perguntar se você já chegou!
- Eu não perderia esse casamento por nada, tia Piane! –digo muito feliz em vê-la.
Não me esqueci de tia Piane e já encontrei alguém perfeito para ela. Um sorriso travesso se forma em meus lábios quando me lembro de seu par ideal. Não vejo a hora de finalmente poder unir esses dois também. Tenho certeza que vou me divertir muito.
- Entre, entre, menina! –ela ordena já me empurrando para dentro. – Iliah, olha quem finalmente chegou!
O enorme aposento está abarrotado de mulheres entre costureiras e criadas. Algumas fazendo os últimos ajustes no vestido de Iliah, outras arrumando-lhe o cabelo enquanto uma outra coloca um pouco de cor em seu belo rosto. Entretanto assim que me vê, Iliah se livra delas e corre para me abraçar. Um abraço caloroso e repleto de carinho.
- Ráahra, não sabe o quanto estou feliz por estar aqui! –ela diz ainda me abraçando. – Estava com medo que não viesse! E Faraahtz? Ele veio com você?
- Eu não perderia o casamento da minha melhor amiga de jeito nenhum! –faço questão de dar a minha benção pessoalmente a esse casamento. – Já Faraahtz teve assuntos urgentes para resolver, mas me pediu para lhe dar seus votos de felicidade!
- Nossa Iliah não está linda, menina Ráahra? –vovó Dana consegue sair do meio das criadas que também estavam arrumando ela.
- Ela está deslumbrante! –afirmo com sinceridade me afastando de seu abraço para admirá-la.
Iliah está usando um belíssimo vestido totalmente branco e esvoaçante com camadas de cetim e renda. No alto de sua cabeça, uma delicada coroa de pérolas é o enfeite perfeito sobre os cabelos soltos em cascatas suaves.
Minha amiga cora ao ouvir meu elogio e fica ainda mais linda e encantadora.
- Mas a senhora e tia Piane também estão lindas, vovó!
- Nossa menina está uma verdadeira princesa! –vovó diz em meio as lágrimas. – estou tão feliz por você, minha netinha amada!
- Assim como eu também estou muito feliz por você, minha sobrinha, que é para mim como uma filha!
Vovó Dana e tia Piane envolvem Iliah em um grande abraço e me puxam para me juntar a elas também.
- Por favor, não façam a noiva chorar! –uma das criadas pede.
- E cuidado para não amassarem o vestido! –adverte uma das costureiras.
- Também tomem cuidado com o cabelo dela!
- Elas têm razão! –tia Piane declara. – Já está quase na hora da cerimônia. Agora que Ráahra chegou para te fazer companhia, sua avó e eu poderemos ver como os homens de nossa família estão!
Vovó Dana dá um beijinho na testa da neta e em seguida diz:
- Estaremos te esperando no salão da cerimônia, minha querida!
- E vocês venham conosco! –tia Piane enxota todas as criadas! – Deixem as meninas conversarem um pouco a sós!
Depois que todas saíram e ficamos sozinhas, Iliah volta a sentar em frente a sua penteadeira.
- Será que pode ajeitar meus cabelos? –ela pede com seu sorriso doce. – Eles ficaram mesmo um pouco bagunçados com aquele abraço!
- É claro! –digo feliz em ajudar.
- Ráahra, hoje é o dia mais feliz da minha vida! Sinto como se estivesse sonhando! –seu olhar no reflexo do espelho parece realmente estar nas nuvens. – Minha família irá morar conosco no Ducado de Vanshey! Acredita que iremos morar em um castelo só nosso?
- Acredito sim e te garanto que não é um sonho. –será que devo usar um pouco de magia para os cabelos dela ficarem mais brilhantes?
- Meus sogros são adoráveis e me tratam como uma filha, você acredita? –ela pergunta toda contente.
- É claro que acredito! É impossível não amar você!
- E de pensar que eu tinha receio que eles não me aceitassem... –Iliah balança levemente a cabeça diante da lembrança de seu temor tolo. – Não vejo a hora de enchê-los de netos!
Crianças de novo. Além de vir dar minha benção a união de meus amigos, eu deveria dar a ela outro presente especial. Entretanto eu mudei de ideia antes de chegar aqui. Não quero perder a minha amiga. Sei que é egoísmo de minha parte, mas aprendi a amar Iliah como uma verdadeira irmã e não quero que ela deixe esse mundo tão cedo.
- Iliah, quero que me prometa que não importa o que o futuro lhe reserve, você não se deixará abater pela tristeza e se esforçará para ser feliz.
- É claro que serei feliz, Ráahra! –ela sorri como se eu tivesse dito algo absurdo. – Nem preciso prometer!
- Iliah, apenas me prometa! Prometa que...
Uma batida à porta nos interrompe.
- Pode entrar! –Iliah grita.
Uma jovem extremamente bela entra no quarto. Ela tem longos cabelos negros e belíssimos olhos verdes. Olhos que escondem certa tristeza apesar do sorriso que ostenta em sua face.
- Vim buscar a noiva antes que o noivo tenha um ataque do coração de tanto nervosismo! –ela brinca.
- Sahane, venha aqui, por favor! Quero te apresentar a minha melhor amiga, Ráahra!
A bela donzela da corte se aproxima em um andar elegante e cheio de mistério.
- Ráahra, essa é Lady Sahane, melhor amiga do Karus e do meu cunhado!
- Já disse que agora sou sua amiga também, Iliah! –Sahane afirma e sinto sinceridade em suas palavras. – É um enorme prazer finalmente conhecê-la, Ráahra! –ela faz uma reverência em cumprimento e eu a imito. – Iliah só fala em você desde que nos conhecemos!
- Infelizmente não posso passar tanto tempo quanto gostaria com a minha amiga! –lamento honestamente. – Posso contar com você para cuidar dela em minha ausência?
- Não se preocupe, Ráahra! –Sahane garante com um sorriso. – Após a lua de mel eles terão que voltar e passar um tempo aqui na corte. Mas prometo que cuidarei dela e a ensinarei a se defender de todas as feras da corte!
Iliah enruga atesta em uma expressão confusa e fala:
- Pensei que os leões alados fossem todos amáveis! Não imaginei que algum deles pudesse agir como feras!
Sahane e eu gargalhamos de forma cúmplices, mas e é ela quem explica a Iliah.
- Iliah, todos os leões alados são amáveis! As únicas feras a serem temidas por aqui caminham sobre duas pernas e se dizem humanos!
- Ahhh... –é tudo o que a minha amiga consegue dizer.
Não muito depois, estamos todos no grande salão dourado a espera da noiva. Sahane não estava brincando. Karus está mesmo a ponto de ter um ataque do coração de tão ansioso que está. Tratus, ao seu lado, está claramente se divertindo com o nervosismo do irmão. Os pais do noivo aguardam o inicio da cerimônia sentados em seus respectivos tronos de mármore branco alguns degraus acima de onde o sacerdote espera com Karus.
Finalmente as crianças que vivem no mosteiro próximo a corte começam a cantar uma melodia harmoniosa anunciando a entrada da noiva.
Iliah não poderia estar mais radiante. Seu pai segue ao seu lado na cadeira de rodas sendo empurrado pelo seu primo Sehro e com seu avô a conduzindo do outro lado. Todos os homens de sua família a guiam rumo ao homem que ama.
Quando chegam ao altar, os três seguram a mão esquerda de Iliah e a depositam sobre a mão de Karus.
- Nós estamos entregando a você, jovem príncipe, o nosso bem mais precioso. –o pai de Iliah diz com a voz embargada pela emoção. – Por favor, cuide bem dela!
- Prometo a vocês que cuidarei muito bem dela e a farei muito feliz! –Karus promete também emocionado.
A cerimônia segue com belas palavras ditas pelo sacerdote com todos os presentes se emocionando. E enquanto os votos sagrados são proclamados e juras de amor são trocadas pelos meus amigos, abençoo com todo o meu coração essa união.
Tudo o que quero é que eles sejam muito felizes, por isso não me atrevo a olhar novamente o futuro que aguarda Iliah.
Os ciclos de luas continuam seguindo o seu curso natural. E eu sigo observando minha amiga a distância. Hoje foi um dia muito triste para ela. Iliah perdeu seu primeiro bebê ainda no primeiro estágio de gestação e ela está arrasada. Seu útero doente é muito frágil e incapaz de sustentar uma gravidez além dos primeiros sessenta dias de gestação.
Sofro por minha amiga, mas me prendo a fé que ela será capaz de superar essa dor e seguir em frente sendo feliz ao lado do homem que ama.
Falando nisso, já estou morrendo de saudade do homem que eu amo. Puxo seu fio de água a procura dele e mais uma vez o encontro no Vale Flutuante das Montanhas de Gelo! O que tem lá afinal?
Cansada de esperar que ele me responda, decido perguntar pessoalmente e no instante seguinte é onde me encontro.
Fico de boca aberta diante de tanta beleza. O lugar é totalmente esplendoroso. Há montanhas cobertas de neve por toda a parte a se perder de vista e no centro delas há um lago de verdes águas cristalinas rodeado de enormes pinheiros. Entretanto a beleza que realmente me deixa sem fôlego, é Faraahtz que está se banhando livremente nas águas do lago.
- Se vai continuar me espionando tomar banho, exijo direito iguais! –ele reclama em alto e bom som me fazendo me sentir envergonhada.
Como ele sempre sabe quando estou presente?
Me torno visível diante dele na água o assustando. Sorrio vitoriosa. Com certeza ele não esperava a minha ousadia. Ponto para mim!
Contudo, Faraahtz se recupera rápido e a forma como ele me olha... Meu corpo está submerso até os seios e estou completamente vestida, mas o desejo em seu olhar é inconfundível!
- Ráahra... –ele sussurra.
Ouvi-lo dizer o meu nome com a voz rouca de paixão me faz tomar uma decisão.
Me penduro em seu pescoço e sem dizer nem uma única palavra o beijo com uma paixão incandescente. E nesse dia pela primeira vez me entrego ao amor carnal.
Estou morrendo! Só posso estar morrendo. De algum modo devo ter pegado alguma doença mortal e estou morrendo. Sinto-me tão péssima que voltei aos meus domínios na esperança de passar o meu mal estar, mas não adiantou nada.
Muitos e muitos dias já se passaram desde que me uni a Faraahtz na forma mais plena do amor e não poderia estar me sentindo mais feliz. Se não fosse o meu mal estar físico, é claro.
Nós deuses, não precisamos nos alimentar. Comemos mais por hábito e pelo prazer que uma refeição saborosa nos traz do que pela necessidade propriamente dita. Entretanto há dias que nada para no meu estomago.
Estou literalmente largada em um dos meus sofás em meio ao meu jardim, com uma das mãos arrastando no chão e meus cabelos na cara, quando sinto uma presença em meus domínios sem ter tido a minha permissão para entrar.
Se fosse em qualquer outro dia, teria me preocupado em saber como Seihtriss conseguiu entrar sem a minha permissão, mas no momento estou me sentindo mal demais para me importar.
- O que quer, Seihtriss? Não estou com humor para visitas!
- Estou aqui a trabalho, não para uma visita!
A olho entre as mechas dos meus cabelos que estão sobre o meu rosto. Seihtriss é belíssima com seus cabelos e olhos violetas como a lua que rege. O lindo vestido azul que está usando acentua ainda mais a sua beleza.
Porém o que me desperta a atenção, é que ela parece estar brava, muito brava por sinal. E considerando que nunca vi Seihtriss realmente brava com alguma coisa, sei que deveria me sentir alarmada, mas simplesmente não tenho forças para isso no momento.
- Se veio buscar a minha alma imortal, já aviso que não irei sem lutar e você irá perder! –será que estou mesmo doente a ponto de Seihtriss precisar vir levar a minha alma?
- Você não está me soando muito convincente em sua ameaça largada aí com essa aparência horrível! –seu tom de voz seco confirma que está realmente muito brava seja lá com o que for.
- Só preciso do estimulo certo! –declaro me obrigando a ficar de pé. – E brigar por minha alma, é estímulo mais do que suficiente para eu lutar para vencer!
Caminho em sua direção lentamente e vejo o temor em seus olhos. Ela sabe que não pode comigo.
- Seihtriss, o mundo viraria um caos sem você! –afirmo com o meu melhor sorriso. – Se as pessoas parassem de morrer e de nascer, o ciclo da vida não poderia seguir seu curso natural! Portanto, não me obrigue a lutar contra você!
- Não vim aqui tirar uma vida, muito pelo contrário! –ela diz entre os dentes.
Hum? Se ela não veio levar uma vida, isso significa que ela veio trazer vida?
- Minhas flores estão muito bem sem a sua ajuda! –digo olhando ao redor. Não esqueci de regá-las, esqueci? – Muito obrigada por sua intenção de trazer mais vida ao meu jardim, mas minhas queridas flores estão muito bem!
- Acha mesmo que eu seria capaz de entrar em seus domínios se não fosse a trabalho? Ou acha mesmo que me importo com todo esse mato?
Mato? Como ela ousa?
- Você quebrou a mais sagrada das leis universais, Ráahra! E agora todos nós poderemos pagar pelo seu pecado!
Sinto um frio me subindo toda a extensão da espinha! Maldição! Como ela descobriu? A minha barreira para bloqueá-los supostamente deveria ser impenetrável!
Preciso pensar em uma maneira de silenciá-la, sem me livrar dela. O mundo realmente viraria um caos sem ela para fazer seu penoso trabalho.
Ainda estou buscando uma alternativa em minha mente quando Seihtriss me surpreende fazendo uma luz em um tênue tom de lilás sair de sua mão. A luz lembra uma estrela minúscula e lentamente flutua em minha direção. Sinto-me inexplicavelmente fascinada pela pequena luz e não faço nada para impedir que ela se aproxime. Quando ela está a apenas alguns centímetros de mim, a luz deixa de ser lilás se transformando em um vermelho vinho flamejante para em seguida desaparecer em meu ventre.
- O que você fez? –inquiro assustada.
- Apenas cumpri o meu trabalho! A vida já se formava em seu ventre, apenas dei uma alma a ela!
- O quê? Você não pode estar insinuando que eu... Nós duas sabemos que isso é impossível!
- Nem mesmo eu entendo os desígnios do universo, Ráahra! Mas farei tudo o que estiver ao meu alcance para defender os meus contra o seu pecado!
Ela ameaça com veemência e em seguida desaparece.
Levo minhas mãos a minha barriga e de algum modo sei que ela está certa! Há uma vida crescendo em mim!
Faraahtz! Eu preciso ver o Faraahtz! Preciso estar com ele para entender o que está acontecendo!
O encontro dormindo sozinho em um quarto de uma estalagem qualquer. Felizmente Antúrix não está com ele.
- Faraahtz... –chamo seu nome em um murmúrio quase inaudível.
Imagino que ele mais deve ter sentido a minha presença do que me ouvido, mas no segundo seguinte ele já se levantou da cama e corre para me envolver em seu abraço.
- Minha pequena, o que houve? Você parece assustada!
Apenas a fraca luz de uma vela ilumina o quarto pequeno, mas é o suficiente para eu ver o seu rosto com clareza.
- Eu não sei como, Faraahtz! Não deveria ser possível, mas de alguma forma um milagre aconteceu comigo também! –minha respiração está acelerada e mal consigo falar direito. – Estou esperando um bebê! Nós iremos ter um filho!
A menção de um sorriso começa a se formar nos lábios de Faraahtz, mas antes que o sorriso se complete, ele desvanece totalmente e pela primeira vez vejo algo que nunca pensei que veria em meu valente guerreiro. Vejo medo em seu olhar. Um medo que beira o pânico.
- Uma filha! Nós teremos uma filha! –ele afirma com uma certeza que não sei de onde vem. – E é sobre a nossa filha que a Profecia das Sete Luas se refere!
A profecia! É por isso que Seihtriss estava tão furiosa! Uma profecia que ninguém sabe a respeito a não ser...
- Você é um dos guardiões da profecia... –constato o óbvio.
Vejo o brilho de uma lágrima em seus olhos. Então a profecia pela qual nunca tive o menor interesse diz respeito a nossa filha? E o que pode ser tão terrível nessa profecia para fazer o meu guerreiro ter vontade de chorar?
Só há um meio de saber. No lugar onde me sinto mais segura, nos braços do homem que amo, uso todo o meu poder para enxergar o futuro da criança que carrego em meu ventre. E o que vejo me destrói completamente. Busco todos os tipos de caminhos, todas as alternativas possíveis, mas só posso escolher entre os que irão causar menos sofrimento. Não há um único caminho onde ela não irá sofrer.
Com a mente de volta ao presente, me deixo ser abraçada fortemente por Faraahtz e eu choro. Choro compulsivamente como nunca chorei em toda a minha existência. Choro por mim. Choro pela perda do único homem que amarei por toda minha existência eterna. Choro por ele, pelo sofrimento que causarei a ele. E acima de tudo choro por minha filha. Uma filha que acabei de descobrir que carrego no ventre e já amo como parte de mim. Choro por todo o sofrimento que ela passará e que não poderei evitar por mais que eu tente. Choro pela dor dela. Choro por ser incapaz de evitar que ela sinta tamanha dor.
Passo a noite inteira apenas deitada em seus braços e minhas lágrimas parecem não ter fim. Nem mesmo suas doces palavras de conforto em meu ouvido conseguem me acalmar. Nós dois sabemos que somente palavras de otimismo não serão o suficiente para proteger nossa filha.
- Preciso voltar para os meus domínios. –minha voz sai rouca de tanto chorar. – É o único lugar que estaremos seguras até ela nascer.
- Eu sei. –ele responde resignado.
- Não poderemos mais nos ver...
- Eu sentirei a sua falta, minha pequena...
- Pensarei em um modo de proteger nossa filha pelo maior tempo possível.
- Eu sei que sim.
- Eu amo você, Faraahtz!
- Assim como eu amo você, Ráahra!
Nos beijamos e nos entregamos ao nosso amor pela última vez...
A medida que minha barriga cresce, o meu amor por minha pequena Náyshilah ganha proporções imensuráveis. Nunca pensei que seria possível que um milagre como esse também fosse possível para mim. A primeira vez que senti minha bebê mexer dentro de mim, foi a sensação mais maravilhosa de todo o universo. Fiquei tão feliz que o meu primeiro instinto foi procurar Faraahtz, para que ele também pudesse sentir nossa filha mexendo, mas antes de dar um passo sequer, lembrei que isso não seria possível e me entreguei ao pranto.
Continuo seguindo com o meu trabalho, mas também estou sempre de olho em Faraahtz e Iliah.
Minha amiga perdeu outro bebê e mais uma vez está desolada. Agora posso compreender a sua dor. Se eu perdesse a minha bebê, seria como perder o meu próprio coração.
Hoje é segundo dia de noite sem lua antes de se iniciar o ciclo da minha Lua Vermelha. E justamente hoje pela manhã senti as primeiras pontadas de dor, que ficam cada vez mais intensas a medidas que as horas passam.
Agora estou deitada em minha cama, em trabalho de parto, sozinha, sentindo dores terríveis e a única coisa que consigo pensar é por que raios não existe uma magia capaz de simplesmente fazer o bebê aparecer do lado de fora!
- Ahhh! –não consigo conter um gemido de dor. – Vamos filha, você tem que nascer antes que ela chegue!
As dores estão em intervalos cada vez mais curtos e minha respiração está completamente ofegante.
- Ahhhh! –suor escorre de minhas têmporas e meus dedos agarram o lençol com muita força. – Vamos filha, seja obediente ao menos uma vez! –suplico respirando cada vez mais rápido. – Você precisa nascer antes que Seihtriss...
- Esperando por mim, Ráahra?
- Vá embora! –grito desesperada e outro grito de dor escapa de minha garganta.
- Estou aqui para ajudá-la, Ráahra! Nem mesmo uma pecadora como você merece dar a luz sozinha!
- Nós duas sabemos o que veio fazer aqui... Ahhhh! –como dói. – Suma daqui!
- Empurre com mais força, Ráahra! –ela ordena em tom firme se posicionando de maneira a receber o meu bebê!
- Não! Vá embora!
Mas apesar do que digo, faço exatamente o que ela pediu.
- Ahhhhhhhhhhhhh!
A dor finalmente chega ao fim e sinto um alívio instantâneo, entretanto ao contrário do que seria o normal, somente um silêncio angustiante se faz presente.
- Por que ela não está chorando? - Quero voar e arrancar a minha filha dos braços de Seihtriss, mas estou fraca como nunca me senti antes. – O que há de errado com ela? O que você fez? -meu coração martela disparado em meu peito. Um medo que nunca pensei ser possível sentir se apodera de mim. Medo que ela tire a vida de minha filha antes mesmo que eu possa segurá-la uma única vez. - Seihtriss, por favor, não leve a minha filha de mim, eu lhe suplico!
Seihtriss está de costas para mim e nem ao menos consigo ver o rostinho de minha filha.
- Você já deve ter visto o futuro, sabe a escolha que deve fazer! –ela vira o pescoço e não demonstra nenhum remorso pelo o que está prestes a fazer.
- Por favor, eu imploro! –lágrimas descem em torrentes pelo meu rosto, mas não me importo de suplicar quantas vezes for preciso se isso for capaz de dissuadir Seihtriss. – Não me faça escolher entre as duas pessoas que mais amo!
- É exatamente esse o seu problema, Ráahra! Você ama demais! –ela permanece de costas para mim, mantendo minha filha longe de meus olhos e de meus braços. – Se escolher mantê-la aqui ao seu lado, eu o levarei imediatamente e garanto que ele sofrerá muito antes de morrer. Se renunciar a ela, ele viverá o suficiente para vê-la se tornar uma mulher. Ou se preferir que ele viva até a velhice como lhe era destinado, a levarei agora mesmo!
- Ao menos, me permita ficar o Ciclo da Lua Vermelha com ela! Por favor, Seihtriss, eu lhe suplico! Ficarei eternamente em dívida com você!
Todos me julgam a mais poderosa entre os deuses e me temem. Porém amar é a minha maior fraqueza e Seihtriss é a única que sabe o meu segredo. E por algum motivo que desconheço, ela não contará aos outros sobre a minha filha, mas cobrará o seu preço.
- Nem ao menos um único dia, Ráahra! Você cometeu o maior dos pecados e deve ser punida pelo seu erro!
Mais uma vez me foco nas inúmeras linhas do futuro. Umas com mais e outras com um pouco menos de sofrimento para minha Náyshilah.
Mordendo os lábios para engolir o meu choro, eu tomo a minha decisão.
- Eu a entregarei a ele ainda essa noite, Seihtriss. –o aperto em meu coração quase torna impossível respirar. – Eu prometo.
- Se tentar trapacear, Ráahra, juro que irei tirar a vida de um por um de todos aqueles que sua filha vier a amar!
Eu sei disso, mas não respondo. Apenas estico os meus braços para enfim poder segurar a minha filha. Seihtriss se vira e me entrega um bebê rosado de cachinhos vermelhos. E ela me olha curiosa com seus enormes olhos cinzas cristalinos como os do pai. A emoção que me domina é tanta que as lágrimas voltam a deslizar por minhas bochechas, mas dessa vez são lágrimas de alegria.
- Eu não fiz nada a menina. –Seihtriss parece sentir a necessidade de se explicar. – Ela simplesmente não chorou porque deve ser inteligente e saber que não se deve chorar à toa.
Ou porque está economizando suas lágrimas para o futuro, penso amargamente.
- Você é tão linda, minha menina! –digo sorrindo para ela enquanto seguro seus dedinhos minúsculos.
- Ela realmente é.
Levanto o meu olhar para tentar enxergar o que se passa na mente de Seihtriss, mas ela já desapareceu.
- E lembre-se sempre! Eu nunca perco. –diz o eco de sua voz a distância.
Pois encontrarei uma maneira de lhe ensinar a perder. Eu garanto.
Algumas horas mais tarde, depois que recuperei parte de minhas forças, chamo por Faraahtz em seus sonhos e enquanto o espero na floresta na calada da noite, nino a minha bebezinha a apertando fortemente em meus braços. Nada irá me causar mais dor do que ser obrigada a me separar de minha filha, mas eu temo por ela. Estou apavorada pelas terríveis provações que terá que passar. Tenho medo de todo o mal que podem querer lhe fazer enquanto é pequena se souberem de sua existência.
Faraahtz finalmente surge a minha frente e sei que está muito nervoso e tão apavorado quanto eu. Antes que ele diga as palavras que sei que me farão titubear, coloco o pequeno embrulhinho contendo a nossa filha em seus braços.
- Essa é a nossa pequena Náyshilah, ela tem apenas horas de vida. –me engasgo com o choro preso em minha garganta, mas me obrigo a continuar. – Um dia ela será mais poderosa do que qualquer um que já pisou nesse mundo, mas até lá, você deve protegê-la e ensiná-la a se defender sozinha sem confiar nos dons que ela terá. –digo ainda incapaz de soltar a sua mãozinha. – Alguns tentarão usá-la para conseguir mais poder. Entretanto a maioria irá temê-la e farão de tudo para eliminá-la. –minha outra mão acaricia seus cachinhos de seda. – Você deve proteger a nossa menina para que nenhum mal aconteça a ela e acima de tudo, deve ensiná-la a ser uma pessoa justa e bondosa. Vejo que ela irá sofrer muito, mas ela não deve deixar que isso mude seu coração.
- Venha conosco, minha pequena! Venha viver em meu clã! –sinto o desespero em sua voz rouca e embargada. – Irei proteger vocês duas! Irei descobrir algum modo de manter as duas seguras!
- Eu não posso ficar com ela! –não importa o que eu faça, ficarei sem um dos dois, mas não irei contar isso a ele, pois sei o que ele me mandará escolher. – Se eu ficar junto dela, eles seguirão o meu rastro e a encontrarão. –isso infelizmente também é uma verdade. – Cada segundo que passo com nossa filha, mais perigo ela corre. –assim como você, meu amor. – Eu a amo mais do que tudo na vida, mas a única forma de mantê-la protegida por mais tempo é me manter afastada.
- Minha pequena...
- Eu amo você, minha Náyshilah! –fico na ponta dos pés e beijo Faraahtz pela última vez. – Eu sempre amarei você, Faraahtz! E peço que nunca conte a ela nada sobre mim. –sussurro em seu ouvido.
- Eu também sempre amarei você, minha pequena...
Me inclino e beijo o rostinho de minha filha. Em seguida recuo alguns passos e desapareço na bruma da floresta antes que eu perca a pouca coragem que me resta para deixá-los. E nunca, jamais irei apagar da minha memória a imagem de dor do rosto de Faraahtz ao nos separarmos.
Estou destroçada por dentro. Meu coração se partiu em pedacinhos minúsculos e nunca mais irá se recuperar até eu poder ter a minha filha de volta para mim. Quero voltar para os meus domínios e pensar em uma maneira de recuperá-la, mas antes há algo que preciso fazer.
Encontro Iliah dormindo sentada no chão com a cabeça escorada em uma poltrona de um quartinho de bebê. Seus olhos estão inchados e há sinais de lágrimas secas que vão de suas bochechas ao seu pescoço.
Minha amiga entrou em uma terrível depressão ao perder o seu terceiro bebê e os médicos lhe disseram que nunca seria capaz de ter filhos. Nem mesmo Karus consegue trazer um sorriso de volta aos seus lábios. Nem mesmo ele com todo o seu amor é capaz de consolá-la.
Um sopro no ar e sei que ela não acordará não importa o barulho que eu faça.
- Minha amiga, você merece a alegria de ser mãe e lhe concederei essa dádiva porque agora entendo o seu sentimento! –digo em voz alta me ajoelhando ao seu lado. – Se eu pudesse, eu também renunciaria a minha vida pela a minha filha, mas nem mesmo isso eu posso. –luz começa a brilhar em minha mão e a pouso sobre o ventre de Iliah. – Agora você poderá ter os filhos que tanto deseja e será a melhor mãe do mundo para eles! E eu prometo que irei zelar pelos seus filhos da mesma forma que irei zelar pela minha menina. Assim como também prometo que a vida deles será repleta de felicidades! A única coisa que peço em troca, é que seja para eles a mãe que não poderei ser para minha filha!
E assim me despeço também de minha amiga.
Alguns ciclos de luas mais tarde volto ao Castelo de Vanshey. Quinze dias depois e todo o reino ainda comemora o nascimento do primeiro filho de Iliah e Karus. Minha amiga não cabe em si de tanta alegria. Ela praticamente não desgruda dele e dispensou a ajuda de uma babá ou governanta contrariando as tradições da nobreza e se opondo firmemente a qualquer um que ousasse interferir no seu modo criar o filho. As únicas que ela aceita ajuda, além de Karus, são sua avó e sua tia.
No momento ela acaba de fazer seu filho dormir e o coloca no bercinho. Convenientemente fiz todas as suas mantinhas desaparecerem e Iliah precisa ir procurar em outro cômodo.
Assim que minha amiga Iliah deixa o quarto, me aproximo do berço e pego o bebê Larcan em meu colo. O calor de seu corpinho e seu cheiro de bebê me aquecem o coração ao mesmo tempo que o sinto se partir em um milhão de pedaços. Daria tudo para poder ninar a minha menina como estou fazendo com ele agora. Lágrimas turvam a minha visão e o vazio de não poder ter a minha filha comigo mais uma vez me destrói a alma.
O bebê Larcan abre seus olhinhos tão parecidos com os da mãe e sorri para mim.
- Um dia a minha filha irá partir o seu coração, mas prometi a sua mãe que zelaria por você e suas irmãs. –digo com pesar. – Prometi que sua vida seria repleta de felicidades e ao lado de minha filha você só iria encontrar dor e sofrimento. –e saber o quanto ela irá sofrer, dilacera a minha alma todos os dias. – Outro irá carregar esse fardo. Outro sofrerá as dores que a seguem. Alguém que irá aprender a lidar com a dor desde muito cedo. Alguém que se dependesse de mim também não sofreria o fardo que minha filha carrega, mas ele a amará e será forte ao lado dela. Enquanto você meu menino, encontrará amor e a felicidade que realmente merece...
O tempo passa mais rápido do que eu gostaria e minha Náyshilah está cada vez maior e mais terrível. Ela e Antúrix formam uma dupla terrível e embora muitas vezes eu ache graça de suas travessuras, na maioria das vezes ela me deixa com o coração na mão. Está sempre correndo fazendo coisas perigosas e se machucando. E como no dia que nasceu, nunca chora, não importa o tamanho do machucado. E também está sempre brava com alguma coisa. Geralmente com Antúrix.
Queria tanto poder abraçá-la, dizer o quanto a amo e que penso nela em todos os segundo do dia, mas infelizmente o dia que poderei dizer essas palavras ainda está muito longe. Por enquanto tenho que me conformar em cuidar dela a distância...
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E os contos chegaram ao seu fim! Espero que tenham gostado de conhecer esses personagens e conhecerem os fatos que levaram aos acontecimentos futuros. Alguns deles ainda voltaremos a ver, embora outros não... Comentem muito e não se esqueçam de votar! Adoro vocês!!!! ^_^
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