Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo Extra - O Começo (Parte II)

     Oi meus queridos leitores!!!! Saudades? Já estava deixando vocês loucos de ansiedade? Correrias e e mais correrias, enfim, fazer o que, escrever ainda não paga as minhas contas kkkkk Hoje quando finalmente terminei de escrever o capítulo extra, ficou mais gigante que o anterior, mais de 12 mil palavras (o último foram 9200) e nem notei. Simplesmente fui escrevendo e escrevendo até me sentir satisfeita com desfecho. É a estória deles e queria que vocês acompanhassem com riqueza como os sentimentos foram crescendo e tomando forma, mas ficou gigante mesmo, por isso decidi dividir. A boa notícia é que pelo menos dessa vez não irão esperar muito e vou até prometer publicar a parte final na quarta, afinal já está pronta. Não irão sofrer muito rsrsrs. Como sempre, digo e repito, comentem muito, não se esqueçam de votar, pois cada estrelinha ajuda a nos motivar a continuar escrevendo. Convidem os amigos, conhecidos, parentes e a todos que conhecem para ler também. Novos leitores, não se esqueçam de votar nos capítulos anteriores. Fantasminhas, não seja tímidos, apareçam, comentem, votem! A música da vez é Iridescent do Linkin Park e o capítulo é dedicado a essa leitora fofa que indicou essa bela música (que está publicando uma estória onde ela me dá o troco e me mata de curiosidade T-T) E também coloquei o avatar do pai da Aédris. Espero que gostem ^_^ Adoro todos vocês!!!!!

*****************************************************************************************************

Aédris

    Mágico. O nosso primeiro beijo é simplesmente mágico. Suave, delicado e com tanta ternura que me sinto como se estivesse flutuando pelo lindo céu estrelado! Perco completamente a noção do tempo. Agora entendo porque Rius tem estado tão ansiosa para ter o seu primeiro beijo. Ser beijada por Kadrahan é o sentimento mais maravilhoso que já senti! E tenho certeza que se fosse com qualquer outro rapaz não teria sido a mesma coisa. Esse beijo é especial porque é ele e...

    Por todas as luas! Estou pensando como uma romântica incurável!

    Ele está segurando meu rosto entre suas mãos e me sinto desamparada quando ele afasta seus lábios dos meus.

    - Acho que você já tem que ir! –ele diz em um sussurro enquanto apoia sua testa na minha.

    - Ir? Ir aonde? –do que ele está falando? Quero mais beijos.

    - Sua comemoração de aniversário, com sua família! –Kadrahan diz entre um sorriso.

    Khrratz! Esqueci-me completamente disso!

    - Quanto tempo já se passou? –pergunto me afastando para conseguir pensar.

    - Não faço a menor ideia! –ele me responde com sinceridade e ainda sorrindo.

    Oh céus! Posso facilmente me perder nesse sorriso.

    - Tenho que ir! –dou mais um passo para trás.

    - Foi o que eu disse!

    Já passei o dia todo comemorando com todos os guerreiros do clã. Comemoramos a nossa maneira, é claro. Disputas e disputas uma atrás da outra. Tudo com muita diversão! Desconfio que eles se divirtam mais do que eu tentando descobrir uma maneira de me derrotar. E depois ainda tem a desculpa que não estavam lutando a sério, pois era só uma brincadeira para o meu aniversário. Tudo com muita fartura em comida! O que me faz lembrar...

    - Trouxe isso para você! –digo tirando do meu ombro uma bolsa cheia de comidas variadas. – Prometa-me que vai comer tudo!

    Kadrahan pega a bolsa, dá uma espiada dentro e depois solta uma gargalhada.

    - Você está começando a me convencer que estou mesmo muito magro!

    - Não, você não está magro! –ironia destila de minha voz. –Está raquítico! –estou exagerando, mas ele precisa entender que deve se alimentar melhor. - E está feio! Uma estranha combinação de músculos e ossos!

    Kadrahan dá um passo à frente e acaricia o meu rosto. Apoio o meu rosto em sua mão ao invés de me afastar para ir embora.

    - Você é a única pessoa em muito tempo a realmente se preocupar comigo. – ele diz e mais uma vez seus lábios estão nos meus.

    Nosso segundo beijo é tão doce quanto primeiro, porem um pouco mais profundo. A ternura de seu beijo acaricia a minha alma. Uma alma que eu nem lembrava possuir até agora. Um sentimento que não sabia ser capaz de sentir se apodera de mim. Não sei definir, não sei explicar, mas sei que algo mudou dentro do meu ser.

    Mais uma vez, é ele que interrompe o beijo, aparentemente sou incapaz de fazer isso.

    - Você realmente precisa ir. –sua voz sai em outro sussurro e agora é ele quem dá um passo para trás aumentando a distância entre nós.

    Sei que preciso ir. Tenho que ir. Durante o dia a comemoração foi com todo o meu clã. Agora a noite irei comemorar meu aniversário apenas com a minha família. Com meu pai, Antúrix e Rius. Não tenho dúvidas que eles preparam algo especial para mim e não posso deixá-los esperando por muito tempo.

    - Esse foi meu primeiro beijo. –digo sem pensar. – Ou melhor, o outro foi, mas você entendeu. –corrijo sem jeito.

    - Então agora você é minha, minha Aédris! –ele afirma com convicção.

    Começo a dar passos para trás. Realmente preciso voltar para o acampamento.

    - E você é meu, meu Kadrahan!

    - Para todo o sempre! –sua certeza me comove, mas antes que eu me atire em seus braços e o beije novamente, viro as costas e saio correndo.




    Encontro Rius no local que ela sempre me espera enquanto estou com Kadrahan. Não perto o suficiente de nos ouvir, mas sempre ao alcance de me proteger se for preciso. Palavras dela. Não que eu ache que precise de alguma proteção, mas nada é capaz de tirar da cabeça dela que ela é a minha guardiã e deve sempre me proteger.

    - Já comprei seu bolo de aniversário, obviamente é o seu sabor prefe... –ela começa a falar assim que me vê, mas se interrompe de repente. – Que enorme sorriso é esse?

    - Não é nada! –me esforço para conter o sorriso em minha face, mas é quase impossível. – Temos que nos apressar! –digo apressando o passo e deixando-a para trás. – Ninguém vai acreditar que demoramos tanto tempo assim para comprar um bolo pronto!

    Rius segura o meu braço e me faz virar para ela.

    - Não vai me contar o que aconteceu, Aédris? –seu sorriso não poderia ser mais malicioso.

    - Ei! Quem disse que você pode me chamar assim? –não deveria ter contado a ela o nome que Kadrahan escolheu para mim.

    - Acontece que não estou vendo nem a sombra de Náyshilah, a Guerreira Darätzsalah que eu conheço! –ela começa a me rodear como um animal prestes a atacar a sua presa. – Tudo o que vejo é uma garota completamente apaixonada que está sorrindo de orelha a orelha por ter ganhado o seu primeiro beijo!

    Por um acaso dameras também são capazes de ler pensamentos? Como ela consegue sempre acertar tudo?

    - Rius, já disse que temos que correr! Daqui a pouco Antúrix vai vir a nossa procura e isso é ultima coisa que quero! –isso parece convencê-la.

    - Está bem! Mas depois vai ter que me contar todos os detalhes.




    Passar a noite do meu aniversário com minha família é algo maravilhoso, embora tivesse sido mais completo se uma certa pessoa também pudesse estar comigo. Estamos na tenda de meu pai, que é tão grande que pode muito bem se passar por uma pequena casa. Comemos meu bolo de lezus com creme de priss e todo coberto de amoras silvestres. Estava divino. Meu pai me deu de presente duas cimitarras magníficas! De um lado suas lâminas são lisas enquanto do outro são dentadas. O presente que mais gostei depois do colar que está em meu pescoço escondido sob a minha blusa. Antúrix por sua vez me deu uma túnica preta de couro com capuz e forrada de lã de carneiro por dentro, perfeita para o inverno rigoroso que iremos enfrentar. Rius mesmo já tendo me dado o vestido há uns dias atrás, meu deu também várias fitas coloridas para amarrar meu cabelo. Depois que todos comemos, consegui convencer Antúrix a cantar para mim. Adoro provocá-lo dizendo que tem uma voz de trovão, mas na verdade acho a voz dele linda. E combina perfeitamente com as canções que contam a história de nosso povo. Normalmente é necessário muitas doses de hyon para convencê-lo a cantar, mas hoje por ser meu aniversário, não precisei pedir duas vezes. Logo Rius se junta a ele com sua também belíssima voz melodiosa e começam a cantar em dueto. Meu pai me abraça de lado e apoio minha cabeça em seu ombro enquanto apenas apreciamos as belas canções em silêncio. Talento musical definitivamente não é algo que corre em nossas veias.

    Muito mais tarde, quando Rius e eu já estamos em nossa tenda, ela não me deixa em paz enquanto não conto a ela o que aconteceu. Apesar de sua insistência, não conto detalhes, apenas digo que sim, tive o meu primeiro beijo e que foi lindo. Ela bem que tenta arrancar mais informações, mas quero guardar o momento especial que tive com Kadrahan só para mim.

    No dia seguinte acordo cedo e estou me dirigindo para o meu treinamento matinal com Antúrix quando meu pai me procura.

    - Filha, agora que o seu aniversário já passou, hoje a tarde enviarei um mensageiro ao acampamento de Beliahtrus marcando o desafio para daqui a dois dias!

    Dois dias? Tenho apenas dois para passar com Kadrahan e depois provavelmente nunca mais vê-lo? Isso é tudo o que me resta?

    Concordo com a cabeça, mas não digo nada para não correr o risco de deixar transparecer a minha contrariedade em minha voz. Nossos sentinelas localizaram o acampamento deles no primeiro dia que chegamos aqui, no lado norte do povoado, por isso preferimos no estabelecer no sul, após a floresta. Entretanto até agora nenhum contato direto foi feito por nenhuma das partes.

    Meu pai me encara por alguns segundos como se estivesse esperando alguma objeção de minha parte. O que acho estranho, pois ele sabe que não costumo fugir de uma boa briga. Então ele parece desistir de esperar seja lá o que fosse, passa a mão na minha cabeça e segue na direção de Niiehx, o seu melhor amigo e atualmente o segundo em comando.

    Antúrix já me espera com impaciência e quando o nosso treino começa, estou completamente alheia a nossa luta e até mesmo aos meus próprios movimentos. Simplesmente deixo meu corpo se defender com apenas reflexos, pois embora meu corpo esteja presente, meus pensamentos estão muito distantes.

    Apenas mais dois dias e então após o desafio levantaremos acampamento e seguiremos viagem para algum lugar qualquer. O problema é que ainda não estou pronta para me despedir de Kadrahan, para lhe dizer adeus. Talvez algum dia eu volte a este reino, a este povoado, mas até lá ele provavelmente já estará casado com uma camponesa de muita sorte. O simples pensamento já me enerva. Só de imaginá-lo com outra, tenho vontade de matar um. No caso Antúrix, que tem o azar de estar bem na minha frente no momento. Acabo acertando-o com meu bastão de treinamento na lateral de sua cabeça. Sangue começa a jorrar de sua cabeça imediatamente. Se fosse qualquer outro, certamente teria desmaiado com um golpe tão forte, mas o meu irmão apenas balança a cabeça certamente para recuperar o foco e me olha irritado.

    - Ficou maluca de vez, Náyshilah? –ele urra a plenos pulmões. – Que golpe sujo foi esse? Eu cantei para você ontem a noite e é assim que me retribui?

    Normalmente não uso golpes próximos de pontos letais em um simples treinamento e sem dúvidas só consegui atingi-lo porque o peguei de surpresa. Não era a minha intenção realmente machucá-lo. Nosso clã treina com afinco, mas buscamos não causar danos graves uns aos outros para estarmos em nossa plena capacidade física caso surja uma batalha inesperada. Um osso quebrado, por exemplo, deixaria um guerreiro incapacitado de lutar...

    Uma ideia que está muito longe de ser a mais brilhante que já tive, começa a se formar em minha mente. Uma ideia muito estúpida e que vai doer muito, mas que pode dar certo. Sem pensar muito para não correr o risco de desistir, avanço com ainda mais agressividade desferindo golpes atrás de golpes em Antúrix. Como eu esperava, ele reage com a mesma intensidade, conseguindo dessa forma me desarmar e acidentalmente atingir o meu pulso direito com toda a sua força usando o bastão.

    - Ahhhhhh! –grito e caio de joelhos segurando o meu punho.

    Khrratz! Doeu muito mais do que eu imaginava. E se eu não tivesse me acovardado e recuado a mão um pouco no último segundo, certamente estaria doendo muito mais agora. Meus ossos estariam esmigalhados.

    - Irmãzinha, me desculpe! Eu não queria realmente machucá-la! –Antúrix se ajoelha ao meu lado e parece estar em pânico por ter me causado dor. – Ou melhor, eu queria, mas não achei que fosse realmente conseguir!

    - Está tudo bem, Antúrix, foi apenas um acidente! –digo com os dentes trincados de dor tentando consolá-lo. – Apenas preciso...

    Antúrix me pega em seus braços como se eu fosse mais leve que uma pena.

    - Antúrix, me coloca no chão! Eu machuquei a mão e não as pernas!

    Ele me ignora e nosso pai já está ao nosso lado.

    - Leve-a até a minha tenda, filho! Irei cuidar dela lá!

    Rius aparece não sei de onde e dá um tapa tão forte em suas costas que quase o derruba comigo junto! Tenho certeza que não foi seu braço de humana que ela usou.

    - O que você fez com ela, seu troglodita?

    - Sei que mereço todos os tipos de punições por ter machucado a minha irmãzinha, mas será que dá para esperar até eu não estar com ela nos braços, Rius?

    - Rius, ele não teve culpa, foi apenas um acidente!

    - Os três, parem com discussões inúteis e se apressem! –meu pai demanda.

    Pouco tempo depois, estou na tenda e meu pai examina meu punho que já está bem inchado. Ele aperta em vários ângulos e cerro os meus dentes para conter a dor.

    - Nenhum osso foi quebrado de fato, mas devido ao inchaço certamente no mínimo algum osso está trincado. –meu pai diz depois de alguns minutos. – Lhe darei chá de lexiis para aliviar a dor e também algo para ajudar na cicatrização do osso, além de passar no local algumas outras ervas para diminuir o inchaço antes de enfaixar o seu punho.

    E é exatamente o que ele faz sob os olhares atentos de Antúrix e Rius. Passa uma pomada no meu punho inchado, acrescenta umas plantas medicinais e coloca uma tala improvisada antes de enfaixar o meu punho para imobilizá-lo. Com o auxilio de mais uma faixa, estou com o braço suspenso e pendurado pelo pescoço.

    - Levará pelo menos quarenta e cinco dias para se recuperar completamente! –não seriam trinta? – É o suficiente para você, Náyshilah?

    Meu pai me encara com intensidade por longos segundos. Zarmey! Ele sabe que me deixei machucar de propósito! Será que ele também sabe o motivo? Espero que não!

    - Sim. –sussurro baixinho.

    - É melhor ficar longe de treinamentos! –ele se levanta. – E Antúrix, não se sinta culpado, acidentes acontecem toda hora!

    O olhar de repreensão que meu pai me lança antes de deixar a tenda é tão severo, que acho que teria preferido levar um tapa na cara. Por sorte Antúrix não vê, mas Rius estava atenta o suficiente para ter notado.

    Depois vou pensar em uma forma de me redimir com o meu irmão, já que ele está evidentemente se sentido culpado por ter me machucado. Terei que fazer alguma coisa por ele, só não sei o que ainda.




    Mais tarde, quando vou me encontrar com Kadrahan no horário de sempre, Rius me acompanha estranhamente calada. Como ela não é burra, com certeza deve ter entendido a minha armação e se sente culpada por ter brigado com Antúrix quando a única culpada de tudo fui eu. Pelo menos ela parece brava com si mesma e não comigo.

    Quando já não estou mais ao alcance de sua vista, tiro a faixa que está pendurando o meu braço de encontro ao peito e puxo a manga do meu casaco para esconder o meu punho ferido. Quero evitar ter que mentir ainda mais e também não quero preocupá-lo à toa.

    Entretanto, assim que me vê sua primeira pergunta é:

    - O que houve com a sua mão? –será que ele não deixa escapar nenhum detalhe?

    Mal dá para ver a ponta dos meus dedos já que o casaco fica um pouco grande em mim. Será que ele percebeu porque há um volume estranho sob o tecido.

    No segundo seguinte ele já está puxando a manga do meu casaco e com todo cuidado examina a minha mão.

    - Como se machucou? –ele insiste.

    - Meu irmão. –respondo optando por dizer parte da verdade.

    Instantaneamente vejo os músculos de seu pescoço se enrijecerem! Epa! Acho que não falei da maneira que deveria.

    - O seu irmão, ele... –Kadrahan começa e sei que está usando de todo o seu autocontrole para dizer as palavras certas. – É violento com você? Ele a maltrata?

    Solto uma risada. Sou eu que na maioria das vezes sou violenta com Antúrix.

    - É claro que não, Kadrahan! –digo o tranquilizando. – Na verdade isso foi culpa minha! Eu o provoquei e...

    - Ainda assim, ele não deveria usar sua força com você! –ele é categórico.

    - Foi um acidente! Coisa de irmãos! –Kadrahan ainda não está convencido. – Se vai te fazer se sentir mais tranquilo, eu juro em nome das Sete Luas e Suas Divindades que machucar o meu punho foi totalmente culpa minha!

    O juramento sagrado finalmente o convence e por fim ele relaxa sua postura tensa.

    - Se importa se eu desfazer a bandagem para examinar melhor?

    - Fique a vontade!

     Sentamos no nosso cantinho, que fica próximo ao riacho, mas sob a proteção de rochas o que nos protege do vento frio. Ele já forrou algumas peles no chão para nos aquecer e deposito a bolsa de comida que trouxe. Então ele coloca minha mão direita sobre o seu colo e delicadamente começa a tirar a faixa que envolve o meu punho.

    - Você não tem irmãos? –pergunto curiosa.

    Nos últimos dias evitei perguntar sobre assuntos pessoais para não ter que responder as mesmas perguntas. Contudo de repente me deu vontade de saber tudo sobre ele.

    - Tive alguns. –sua resposta leva alguns minutos para ser dita. – Os perdi quando ainda eram crianças.

    - Eu sinto muito. –arrependo-me imediatamente por ter tocado em um assunto tão triste.

    - Não sinta. –seu tom é seco e desprovido de emoções. – Se eles estivessem vivos, certamente me apunhalariam pelas costas na primeira oportunidade.

    Que raio de resposta é essa? De que espécie de família ele vem? Que pai cria os filhos para se matarem? Será que ele sim é maltratado por aquele que deveria zelar pelo seu bem estar?

    Estou prestes a arrancar a localização de onde ele mora para ensinar uma lição ou duas ao pai dele, quando lembro que não devo me intrometer. Afinal daqui a quarenta e cinco dias irei embora desse lugar e provavelmente nunca mais irei vê-lo. E irei evitar esse reino a todo custo para não correr o risco de vê-lo casado e feliz com outra.

    Mesmo sabendo disso, não resisto e pergunto:

    - Como é a sua família?

     Kadrahan está se esforçando para parecer totalmente focado no trabalho de examinar a minha mão. Com todo o cuidado possível, ele aperta toda a extensão da minha mão e do meu pulso.

    - O osso está apenas trincado. –ele repete o mesmo que o meu pai. – Felizmente não há ossos quebrados.

    - Foi o que o meu pai disse.

    - Desculpe-me. –Kadrahan parece constrangido. – Não quis duvidar do tratamento dele, apenas queria ter certeza que não é grave.

    - Eu sei. –digo.

    - Ele fez um excelente trabalho. –Kadrahan recoloca a tala e as ervas no lugar e volta a enfaixar o meu punho. – Só acho que seria melhor manter o seu braço suspenso.

    - Com algo assim? –tiro a outra faixa do meu bolso e mostro para ele.

    - Exatamente, teimosa! –ele passa a faixa pelo meu pescoço e suspende meu braço como deveria.

    - Como é a sua família? –insisto.

    Kadrahan se escora na rocha e eu apoio a cabeça em seu ombro esperando ele falar.

    - Meu pai é um homem severo e muito rígido. –ele responde depois de longos minutos. – Exigi o melhor de tudo e todos. Não aceita nada menos que a perfeição.

    E aposto que exigi a perfeição principalmente de seu filho.

    - E a sua mãe?

    - Ela é uma mãe muito carinhosa. Tenho certeza que não há no mundo melhor mãe que ela. –sua voz muda completamente ao falar da mãe. – E há também o meu avô. Ele é um homem muito bondoso. Meus tios são mais sistemáticos, mas acho que também são boas pessoas.

    Meu coração fica mais calmo ao saber que ele tem a mãe e o avô para zelar por ele, talvez os tios também. Embora eu ache que sua mãe poderia alimentá-lo melhor. Ou talvez eles sejam muito pobres e a comida tenha que ser racionada. Será que magistrados não ganham bem nesse reino?

    - Agora é a sua vez! Fale-me de sua família!

    - Sua mãe e seu avô certamente se dariam muito bem com o meu pai! –afirmo com certeza. – Ele é um homem generoso, justo e honrado! E o amo muito! Ele também tem muita paciência! Só sendo assim para aturar três filhos geniosos!

    - E além de geniosos, como são seus irmãos?

    - A Rius você já conhece. Ela é cheia de vida e adora aproveitar cada momento. Também é muito esperta. Não consigo esconder nada dela e não é por falta de tentar. Mas ela é ótima em guardar segredos. Até demais. Ela é feminina e adora coisas delicadas, embora ela própria não seja muito.

    - E o seu irmão?

    - Ele é tão estourado e irritadiço quanto eu! Temos os gênios muito parecidos. –se tivéssemos o mesmo sangue provavelmente não seríamos tão parecidos. – Ele adora uma boa briga e muitas vezes o provoco dizendo que ele é um selvagem, mas na verdade ele tem um coração de manteiga. Também é justo e solidário como o meu pai. Só que ao contrário de meu pai, meu irmão ama farrear mais que tudo. Nesse ponto somos diferentes. –me apresso em esclarecer.

    - E quanto a mãe de vocês?

    - Não somos filhos dos mesmos pais. –explico. – Sou a única filha de sangue de nosso pai. O verdadeiro pai do meu irmão era o melhor amigo do meu e faleceu quando ele ainda era criança. Já Rius eu mesma a encontrei perdida na floresta quando éramos muito pequenas e ela também era órfã. Entretanto nosso pai criou a nós três sem distinção e o amo ainda mais por isso.

    - O seu pai realmente parece ser uma pessoa admirável! –Kadrahan comenta.

    - Quanto a minha mãe, sei dela tanto quanto você, ou seja, absolutamente nada. Meu pai nunca me fala dela. Nem sei se está viva ou morta. Nem ao menos sei o seu nome. –reclamo frustrada.

    - Fisicamente você se parece com o seu pai?

    - Com exceção da cor dos olhos, não me pareço em nada com ele. –mas gosto da cor dos meus olhos. – Há pouco tempo ele mencionou que sou muito parecida com ela.

    - Então sabemos ao menos uma coisa sobre ela. –Kadrahan diz enigmático. – Ela deve ser linda!

    Não costumo ouvir esse tipo de elogio de outra pessoa além de meu pai. Talvez por que os rapazes de meu clã tenham receio de levar uma surra minha ou de Antúrix. Mas o simples elogio me deixa tão feliz que dou um beijo no rosto de Kadrahan.

    - Pensei que tinha lhe ensinado melhor que isso ontem! –ele tenta soar ofendido, mas seu sorriso travesso o denuncia.

    É a única pista que tenho antes de ele me beijar.


Kadrahan

    Depois de passar algumas horas com Aédris, mesmo relutante em me afastar dela, insisto que ela vá para sua casa antes que o segundo sol se ponha. Ela teima que pode se cuidar sozinha, mas não acho seguro ela ficar perambulando a noite. Eu adoraria levá-la até sua casa ou ao menos perto, mas ela diz que não quer confusão com seu irmão. Sei que ela esconde algo de mim, a começar pelo seu verdadeiro nome, mas não a pressiono, pois escondo muito mais coisas dela. E adorei ouvi-la falar de seu pai e de seus irmãos.

    Irmãos. Ao longo dos anos desde que passei a viver com o meu pai, o vi trazendo outros inúmeros garotos para o clã, todos meus irmãos. Entretanto nenhum deles foi capaz de sobreviver ao treinamento impiedoso de meu pai. A maioria não entendeu a regra básica que aprendi no primeiro dia. Chorar só piorava os treinamentos e fazia com que o meu pai os castigasse mais cruelmente. Alguns resistiram um pouco mais, outros menos, mas todos morreram ainda crianças. Nas raras vezes que ouvi meu pai mencionar a minha mãe, foi durante essas mortes, quando ele sempre enfatizava que ela foi a única capaz lhe dar um herdeiro forte e saudável. Ainda não sei se ser o mais forte é uma benção ou uma maldição.

     E não fui totalmente sincero com a Aédris, como sempre. Ao menos um dos meus irmãos acho que não me apunhalaria pelas costas. O pequeno Nuurih foi o último irmão que o meu pai trouxe. E ele era o mais parecido comigo, não fisicamente, mas no jeito de ser. Ao menos era parecido com o menino que eu fui um dia. Ele era um menininho bom, gentil e fazia o possível para ser amável com todos na esperança que fossem tratá-lo melhor. E também não chorava como os outros. Fiz tudo o que estava ao meu alcance para protegê-lo, mas depois de passar horas treinando sob uma nevasca intensa, ele sendo ainda uma criança, não resistiu e morreu de pneumonia no último inverno. Devo ter irmãs espalhadas por aí, mas elas sim têm sorte de não conhecerem o pai que tem.

    Ficar sozinho na floresta me faz ficar pensando muito em meu irmãozinho que fui incapaz de proteger, por isso decido voltar para o acampamento e treinar para manter a cabeça livre de pensamentos.

    Quando chego, encontro meu pai vociferando em alto e bom som. E já sei que se tratando dele, é melhor confrontar o inevitável do que adiá-lo. Aproximo-me dele e questiono com o devido respeito:

    - Qual é o problema, meu senhor?

    - Faraahtz, aquele maldito! Ele está nos insultando, nos humilhando!

    Espero em silêncio ele continuar.

- Ele nos enviou um mensageiro com uma missiva dizendo que o desafio só poderá ser realizado daqui a quarenta e cinco dias! –meu pai grita cada vez mais alto. – Quarenta e cinco dias! É uma humilhação ele nos fazer esperar tanto!

    Agradeço aos deuses por ser excelente em não deixar transparecer as minhas emoções, caso contrário meu pai veria o quanto fiquei feliz com a notícia. Terei quarenta e cinco dias a mais para passar com Aédris.

    - O desgraçado alega que Náyshilah se feriu gravemente em um treinamento e não estará apto a uma luta justa até se recuperar!

    Chegou a minha hora de falar.

    - Se ele realmente se feriu gravemente, quarenta e cinco dias não serão o suficiente para ele se recuperar completamente. –digo com frieza calculada. – Isso será uma vantagem a nosso favor.

    Meu pai certamente não tinha levado esse fato em consideração e seu ânimo ao poucos deixa de ser tão exaltado.

    - Vejo que também herdou a minha inteligência e frieza, garoto! –desprezo totalmente o orgulho em sua voz. – Agora vá treinar! A partir de hoje terá apenas duas horas com sua gazela e passará todo restante do tempo treinando! Não podemos desperdiçar essa vantagem que os deuses nos presentearam!

    Duas horas ainda são melhores do que nada. Ele poderia ter me proibido de deixar o acampamento. Acho que a essas alturas ele já desistiu de ter outros filhos e quer garantir que eu lhe dê netos que possa torturar. Mas não tenho nenhuma intenção de tocar em Aédris dessa maneira. Nunca faria com ela o que ele fez com a minha mãe. Simplesmente usá-la para depois abandoná-la com um filho no ventre. E depois arrancar a criança de seus braços.

    Peço permissão e me retiro para treinar.




    Ainda tenho mais uma hora de treinamento antes de poder me encontrar com Aédris. O treinamento tem sido mais intenso do que nunca, mas as duas horas por dia que passo com ela, me fazem contar os segundos para vê-la. Os últimos quarenta e quatro dias foram os mais felizes de toda a minha vida. Aédris é inteligente, divertida e sempre diz tudo o que pensa! Entretanto o que mais me fascina nela são sua coragem e confiança em tudo o que faz. Em todos os gestos, ela age como se não temesse a nada e nem a ninguém. Não que tenhamos passado por alguma outra situação perigosa, mas é a segurança com que ela fala e age, que me faz ter certeza que sua coragem e destemor não são imaginação minha. É claro que ela também tem seus defeitos, se irrita com muita facilidade, é impaciente e tenho certeza que sua coragem é proporcional a sua falta de juízo. Mas também é carinhosa e se preocupa muito com aqueles que ama. Não tenho dúvidas que ela seria capaz de sacrificar sua própria vida pela sua família se fosse preciso. O que prova o quão generosa ela é. E a cada dia que passa, tenho mais certeza que ela é a única que quero ao meu lado por toda a minha vida.

    Amanhã finalmente será o dia do desafio. O dia que mudará a minha vida de um jeito ou de outro. Sempre busquei evitar pensar no pior, mas agora é inevitável. Não temo por minha vida no caso de eu ser derrotado. O que se sabe é que Náyshilah nunca matou nenhum de seus desafiantes. Pelo contrário, sempre demonstrou clemência por eles. Entretanto se eu perder a luta, meu pai verá isso como uma humilhação e não tenho dúvidas que me punirá de algum modo. E principalmente nunca me permitirá ficar com Aédris. Se descobrir da intensidade de meus sentimentos por ela, ele apenas irá querer eliminá-la por representar uma fraqueza para mim em seu ponto de vista. Principalmente quando descobrir que não haverá nenhuma criança no próximo inverno.

    Não. Derrota não é uma opção. Não apenas a minha liberdade, mas a minha felicidade com Aédris ao meu lado depende de minha vitória amanhã.

    E depois que vencer Náyshilah, farei as coisas do jeito certo, agirei como um cavalheiro honrado e não como o assassino sem princípios que fui criado para ser. Se Aédris me aceitar, irei me casar com ela. Mesmo a conhecendo a tão pouco tempo, não tenho dúvidas que ela é a única para mim. Nomearei alguém para ser o segundo em comando dos Darätzsalah e terei uma vida tranquila com Aédris. Só em caso de uma grande emergência voltarei aos campos de batalha. Irei levá-la comigo para o reino de Tatris para rever a minha família e depois de ter certeza que serei novamente aceito, poderemos voltar e buscar seu pai e seus irmãos. Sei que todos poderemos ter uma vida feliz no Condado de Meehtryus. Irei arranjar um oficio, talvez até mesmo como um marceneiro, já que gosto de entalhar em madeira e teremos a nossa própria casa. Sim, seremos felizes lá. E é por esse sonho de felicidade que devo lutar amanhã.


Aédris

    Os últimos quarenta e quatro dias foram perfeitos. Tão perfeitos que não consigo me livrar da sensação que tem algo errado. A única coisa que tenho certeza é que quero Kadrahan para sempre ao meu lado. Ele se tornou a minha força e me passa tanta segurança quando estou em seus braços que sinto que não devo temer a nada e nem a ninguém. Sempre fui destemida, mas ele me deu um novo propósito. Agora quero ser forte por ele, para fazê-lo feliz. Para lhe tirar o enorme peso que sinto que carrega em seus ombros. E se alguém tivesse me dito há apenas a um ciclo de lua atrás que um dia estaria tendo esse tipo de pensamentos, certamente daria uma enorme gargalhada ou daria um soco no sujeito por dizer tamanha blasfêmia a minha pessoa. Mais provavelmente a última opção. E se fosse a Rius em uma situação parecida, a chamaria de louca, diria que é muito pouco tempo para sentir algo tão profundo por uma pessoa, que por ser jovem demais estaria apenas iludida com a ideia de romance e que com certeza seria algo passageiro. Tentaria dissuadi-la de todas as formas dessa loucura. A questão é que não consigo convencer a mim mesma disso tudo. Sei que o que sinto por Kadrahan já está enraizado em meu coração e não importa o que aconteça no futuro esse sentimento nunca irá mudar.

    Hoje pela manhã me livrei de vez da minha tala. Meu punho já está completamente recuperado há vários dias, mas preferi manter a encenação. Amanhã será o dia do desafio e depois partiremos logo em seguida. Preciso pensar na decisão que estou prestes a tomar e preciso de uma ajudinha extra. Escolho o lugar afastado e isolado a beira do rio onde tomo meus banhos diários. É silencioso com exceção da água corrente e me dá a tranquilidade necessária para me concentrar. Sento-me no chão gelado e deixo o vento frio varrer todos os meus pensamentos. Deixo o meu olhar se perder nas águas do rio e após longos minutos de muito esforço a mesma imagem de antes volta a surgir em minha mente. Khrratz! O que isso quer dizer?

    - Tentando ver se Kadrahan está em seu futuro?

    Quando dou por mim, já estou de pé com minhas cimitarras rentes em cada lado do pescoço de Rius. E ela não está nem minimamente assustada.

    - Rius, já cansei de te dizer para não me assustar assim! –esbravejo largando as cimitarras no chão. – Poderia ter machucado você!

    - Você nunca me machucaria! –sua confiança em minha capacidade de reconhecê-la a tempo chega a ser exasperante. – E sabia que tentar ver o futuro antes de tomar decisões é trapaça?

    Me largo no chão novamente e ela se senta ao meu lado.

    - Às vezes acho que a bruxa aqui é você! –acuso. – Como sempre sabe tudo o que penso?

    - Isso não é bruxaria! –ela sorri confiante. – Apenas a conheço como a palma da minha mão!

    - Não sei se gosto disso!

    - Pare de me enrolar e me diga logo o que viu!

    - Nada de útil! –respondo totalmente frustrada. – Já tentei inúmeras vezes, mas sempre que tento ver meu futuro com Kadrahan, tudo o que vejo é a mesma pedra colorida idiota e nada mais!

    - Pensei que adorasse tudo o que é colorido! –Rius não se esforça para esconder que está se divertindo com a minha frustração.

    - E gosto, mas não quando está me atrapalhando a ver aquilo que realmente me interessa!

    Rius sorri com complacência, passa o braço em meu ombro e apoia sua cabeça na minha antes de dizer:

    - Talvez os deuses estejam lhe dizendo para não trapacear e tomar sua decisão seguindo o seu coração!

    Ela se levanta e me deixa sozinha novamente sem dizer mais nada.

    É, parece que não tenho outra opção além de seguir o que o meu coração tanto quer. Decidida, volto para o acampamento e procuro por meu pai.




    - Náyshilah, diga logo o que quer! –meu pai está sentado a frente de sua tenda afiando uma de suas adagas. – Você está me rodeando há mais de vinte minutos e já estou me sentindo como uma presa acuada!

    - Não seja exagerado, velho! –sento-me em uma tora de madeira ao seu lado.

    - Não estou exagerando! –ele pega minhas cimitarras da bainha e começa a afiá-las também. – Quando quer alguma coisa, você parece uma predadora que não irá desistir enquanto não conseguir o que quer que seja! Você analisa todas as suas opções de todos os ângulos, calcula friamente uma infinidade de possíveis ataques e por fim não dá a menor chance de escapatória a sua presa! –seu sorriso não poderia ser mais franco. – Me dá até um frio na espinha quando está com esse olhar de predadora!

    - Já falei para parar de exagerar, velho!

    - Então diga logo o que quer, filha!

    - Lembra quando eu encontrei Rius na floresta e você permitiu que ela vivesse conosco mesmo não sendo uma de nós e hoje ela é uma Guerreira Darätzsalah tanto quanto qualquer outro?

    - Encontrou outra criatura perdida na floresta? –ele pergunta ainda com um sorriso no rosto.

    - Mais ou menos. –começo. – E assim como Rius, ele é forte e luta muito bem! Tenho certeza que será um excelente Guerreiro Darätzsalah também!

    - Ele? –é impressão minha ou seu sorriso se alarga ainda mais?

    - O nome dele é Kadrahan! Garanto-lhe que é uma boa pessoa, que defende os mais fracos! E também é um cavalheiro honrado e de coração puro. –falo de um fôlego só. – Quero pedir sua permissão para que ele faça parte do nosso clã e venha conosco!

    Meu pai deixa a cimitarra de lado, segura meus ombros e me vira de frente para ele.

    - Filha, se ele realmente te ama, ele te seguirá para todos os cantos do mundo com ou sem a minha permissão! –procuro em seus olhos alguma indicação que esteja irritado, mas ele nem ao menos parece surpreso. – E é claro que você a tem!

    - Só isso? Não vai me perguntar nada? –pergunto desconfiada.

    - Confio em seu julgamento! E se você diz que ele é uma boa pessoa e um jovem honrado, eu acredito! –ele me abraça apertado e apoia seu queixo no topo de minha cabeça.

    - Não vai nem me dizer que é muito pouco tempo para eu...

    - Náyshilah, eu soube que amaria sua mãe por toda a minha vida na primeira vez que a vi! E eu tinha mais ou menos a idade que você tem agora quando a conheci! –meu pai diz em um sussurro abafado. – Sempre achei que quando esse sentimento especial acontecesse com você, não seria diferente! Afinal, você é minha filha!

    - Eu te amo, papai! –digo com um nó na garganta.

    - Também te amo filha e tudo o que mais quero é que você seja feliz! –ele desfaz o abraço e acaricia os meus cabelos. – E se alguém foi capaz de conquistar esse coração, tenho certeza que ele a merece!

    - Entrou um cisco no meu olho! –tento disfarçadamente limpar os cantos de meus olhos.

    - Além do mais, tenho certeza que Antúrix não o poupará no interrogatório! –agora o sorriso de meu pai é maldoso. – Amanhã depois do desafio, traga o sortudo que ganhou o seu coração para que possamos conhecê-lo.

    Khrratz! Ele tem razão! Meu irmão será a minha maior dor de cabeça!

    - É melhor você correr! –meu pai diz de repente. –Já está atrasada! Não deixe seu rapaz esperando!

    Olho para o céu e pela posição dos sóis, estou mesmo atrasada! Levanto-me com um pulo!

    - Tenho que ir, velho! Prometo não demorar!

    - Filha, "paizinho" geralmente me assusta, mas adoro quando me chama de papai!

    Dou um beijo em sua bochecha e digo antes de sair correndo:

    - Obrigada, papai! Você é o melhor pai do mundo!




    Não encontro Rius e como estou atrasada, não perco tempo procurando-a e vou sozinha. Ultimamente só temos duas horas para ficarmos juntos, já que seu pai o incumbiu de alguma tarefa que toma todo o tempo de Kadrahan e desperdicei por parte desse tempo com o meu atraso. Estou com o coração martelando no peito. Pela primeira vez na vida estou nervosa. Conversar com o meu pai foi fácil, mas estou apavorada com a conversa que pretendo ter com Kadrahan. Sei que ele gosta de mim, mas ele nunca disse as palavras exatamente. E se o que ele sente não for tão intenso quanto eu acredito que seja? E se ele não estiver disposto a abandonar a família para viver uma vida de nômade ao meu lado? Sei que ele tem suas diferenças com o pai, mas ele idolatra a mãe e o avô. É claro que poderemos voltar e visitá-los de tempos em tempos, mas será uma grande mudança. Obviamente terei que contar a Kadrahan quem eu realmente sou e minhas origens, antes de propor que siga ao meu lado e estou mais nervosa por isso. Kadrahan tem uma natureza pacata e sei que aprecia a tranquilidade, ao contrário de mim que adoro o fervor dos campos de batalha. Sou incapaz de me imaginar vivendo uma vida monótona dia após dia em um povoado pequeno e tedioso como Mékkliss.

    O encontro no local de sempre andando de um lado para o outro nervoso também. Assim que me vê, ele me puxa e me abraça forte.

    - Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? –ele se afasta e com preocupação estampada em seu rosto. – Você nunca se atrasou antes!

    - Desculpe! Estava conversando com o meu pai e acabei me atrasando!

    - Achei que algo pudesse ter te acontecido e fiquei maluco de preocupação! –vejo a aflição em seus olhos. – Eu ia sair para te procurar, quando me dei conta que não sei onde mora.

    - Kadrahan, quanto a isso...

    - Mas eu já estava prestes a bater de porta em porta no povoado até te encontrar! –ele me interrompe. – Só de pensar que algo pudesse ter te acontecido... Não consigo mais imaginar a minha vida sem você!

    Não consigo evitar que um sorriso tome conte do meu rosto diante de suas palavras. Ele segura o meu rosto entre suas mãos e seu olhar transborda sentimentos.

    - Aédris, eu amo você! –meu coração parece que vai saltar do peito.

    Sorrio ainda mais e estou para lhe dizer que sinto o mesmo, quando ele acrescenta:

    - Não pretendia te dizer isso hoje, mas nunca sabemos o dia de amanhã, o que pode acontecer! –sou capaz de dizer uma coisa ou duas que podem contradizer isso. – Case-se comigo, Aédris! Faça-me o homem mais feliz desse mundo e me dê a honra de ser seu marido!

    Epa! Dou um passo para trás quase que inconscientemente! Casar? Para que meter os deuses nisso? Não podemos simplesmente viver como companheiros fiéis para o resto da vida? Guerreiros Darätzsalah não se casam, quer dizer, alguns sim, mas deixam para trás a vida como guerreiros. Não quero deixar de ser uma guerreira!

    - Sei que ainda somos muitos jovens e podemos esperar um pouco se quiser, mas há alguns reinos onde é comum se casarem na nossa idade! –ele se apressa em dizer. – Ainda não tenho um anel ou qualquer outra coisa especial, ou melhor, na verdade não tenho nada para lhe oferecer! Mas eu conseguirei um oficio e lhe darei uma casa e tudo mais o que merece!

    Ele dá um passo em minha direção e eu recuo dois.

    - Desculpe-me! Não era minha intenção assustar você! –devo estar com a mais pura expressão de pânico em minha cara. – Eu apenas achei que você... Por isso pensei que se lhe propusesse casamento...

    Prefiro enfrentar uma horda de cernis a ouvir qualquer coisa relacionada a casamento. E por que raios ele está tão tagarela hoje? Normalmente sou eu que falo mais que a boca.

    - Não quero uma casa. –é tudo o que consigo dizer.

    - Entendo. –ele diz.

    Sua expressão muda completamente dando lugar a uma máscara de indiferença.

    - Em alguns dias farei uma longa viagem e queria que você me acompanhasse, por isso me precipitei em meu pedido. –agora é ele que começa a se afastar.

    Casamento implica em acompanhar o outro em longas viagens?

    - Creio que agora devemos dizer adeus.

    Adeus? Não quero dizer adeus! E se casamento é o que o fará seguirmos juntos em longas viagens, que assim seja.

    - Kadrahan! –o chamo quando ele já me deu as costas e segue em direção a seu cavalo.

    - Sim? –pergunta após se virar lentamente.

    - Eu me caso com você!

    A máscara se quebra e um sorriso de mais pura alegria e alívio toma conta do belo rosto. Atiro-me em seus braços e o beijo apaixonadamente. Para em seguida sair correndo antes que eu realmente pense no que acabei de aceitar.

    Quando já estou a uma certa distância, grito:

    - Amanhã, no horário de sempre venho lhe buscar para conhecer a minha família!

    E amanhã antes de levá-lo para conhecer a todos, contarei a ele quem somos.


Kadrahan

    Ainda tenho vários minutos antes de precisar voltar, por isso sento a margem do riacho e penso em tudo o que acabou de acontecer. Quando Aédris se atrasou mais de meia hora, entrei em desespero. E se algo tivesse acontecido com ela? E se outros bandidos a atacaram no caminho? E se ela tivesse adoecido da noite para o dia? Teria que bater de porta em porta até encontrar sua casa e ver se ela estava bem. E quando ela finalmente surgiu a minha frente, alívio tomou conta de mim. Tê-la em meus braços só me fez ter mais certeza que jamais quero perdê-la e por isso desatei a falar sem parar para pensar. Disse que a amava e por um instante achei que ela fosse dizer que sentia o mesmo por mim, mas então seu sorriso desapareceu quando precipitadamente a pedi em casamento. E quando ela começou a recuar, ao invés de agir com a minha sensatez costumeira, continuei a falar sem parar tentando encontrar argumentos para ela me aceitar. Sua expressão de completo pânico me fez ver que a assustei com o meu pedido súbito. Mas sempre estive tão certo de ser correspondido por ela, que nem cogitei a possibilidade de ter me equivocado. Quando disse a palavra "casamento", ela me olhou como se preferisse enfrentar uma horda de cernis a viver ao meu lado. Algo começou a ruir dentro de mim e quando ela simplesmente disse que não queria uma casa, ou seja, um lar ao meu lado, tudo se partiu completamente. Ela havia me rejeitado. Assumi a máscara de indiferença que sempre uso quando não estou com ela e depois de lhe dizer adeus, estava pronto para ir embora quando ela me chamou e aceitou o meu pedido. Tudo voltou ao lugar dentro de mim. Então ela me beijou com paixão, como se quisesse transmitir através do beijo as palavras que não conseguia dizer e saiu correndo. Agora só preciso vencer o desafio amanhã e tudo ficará bem. Conhecer o pai e o irmão dela não pode ser pior do que lutar contra Náyshilah, o sucessor dos Darätzsalah.

********************************************************************************************

    Parei bem antes da tão esperada luta... Sim, fiz de propósito porque sou muito má huhuahuhauah Mas vocês estão cansados de saber que adoro torturá-los kkkk A tortura será pouca dessa vez kkkk Por favor, meus queridos amigos, imploro, se gostaram, não se esqueçam de votar. Essas estrelias são muito importantes ^_^

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro