Capítulo 30
Oie amigos! Já está até chato continuar pedindo desculpas pelos atrasos, mas quando não gosto do que escrevo, prefiro demorar do que postar algo que não esteja pelo menos bom. E também tem o complô wattpad, ontem tentei postar, mas os bug desse site não deixaram de jeito nenhum e hoje foi a mesma luta para postar! Estou tentando desde o fim da tarde. Enfim, sem mais delongas, espero que gostem desse capítulo (que ficou realmente gigante, quem sabe compense um pouco pela demora rsrs), comentem muito como sempre (é a melhor parte do meu dia *-*), não se esqueçam de votar e convidar os amigos! Esse capítulo é dedicado a uma leitora que acompanha a história desde o comecinho ^_^ Já a música é Frozen do Within Temptation de novo rsrs (ignorem o vídeo e prestem atenção na tradução ;) )
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Mais um? E eu achando que a minha próxima visita seria a Deusa da Lua Azul...
A divindade a nossa frente é tão alto e forte quanto Antúrix, talvez até com alguns músculos a mais. Seus cabelos laranja são curtos e possui uma barba por fazer no mesmo tom assim como seus olhos. Sua aparência é de um homem feito e cheio de vitalidade. Ele está trajando apenas uma calça marrom de couro cru, botas pretas e nada mais. Seu tórax está nu e ele claramente não se sente nem um pouco desconfortável por isso. E em cada lado de seu quadril, pendurados em suas respectivas tahalís, correias de couro adornadas com metal, pendem dois refinados machados de cabo longo e lâminas duplas. Lâminas tão letais que não é preciso ser um perito para saber que devem ser capazes de cortar a mais densa das rochas ou até mesmo aço.
Ao meu redor, aqueles que ainda não estavam curvados, incluindo o príncipe Nars e a princesa Myris, agora também estão sobre os joelhos em reverência a presença divina. Os darätzsalah também mudaram a postura e agora estão sobre os dois joelhos mostrando seu respeito a divindade. Todos com exceção de Kadrahan que se posta a minha frente com sua espada em riste e não parece nem um pouco lisonjeado com as palavras de Iéehruus ou mesmo disposto a reverenciá-lo.
- Calma, garoto! Não irei fazer nenhum mal a ela! –a divindade parece achar graça da atitude de Kadrahan. – Se eu me atrevesse a machucá-la, Ráahra me transformaria em cinzas sem pensar duas vezes!
Saio de trás de Kadrahan e vou logo dizendo com irritação:
- O que você quer? Foi a velha que te mandou?
O deus joga a cabeça para trás e gargalha tão alto que tenho certeza que ouço trovoadas mesmo com o céu totalmente sem nuvens.
- Velha! –ele está gargalhando tanto, que minúsculas lágrimas escorrem do canto de seus olhos. – Está ouvindo isso, Ráahra? –ele questiona em meio a gargalhadas incessantes. – Vai deixar sua filha continuar te chamando de velha? –mais gargalhadas.
Por todos os lados, ouço murmúrios chocados se propagando como ondas no oceano. Isso! Anuncia para o mundo que sou filha de uma deusa.
Se bem que talvez seja o momento ideal para esse segredo ser revelado! Isso definitivamente irá me ajudar a manipular mais facilmente certos peões...
– Posso te chamar de velha também, Ráahra? – o Deus palhaço faz piada e me sinto tentada a quebrar os dentes dele para ver se ele vai continuar achando tanta graça.
- Acho que vou dar uma grande festa! Assim podem aparecer todos vocês de uma só vez e com a desculpa de que foram convidados!
- Náyshilah, tão receptiva quanto a sua mãe! –ele finalmente para de gargalhar e olha diretamente para mim ainda com um sorriso divertido no rosto. – Ráahra também detesta quando apareço sem ser convidado! Mas não me importo! Apareço sempre que quero! Perturbá-la é a minha diversão preferida!
Reviro os olhos e olhando para o céu digo em alto e bom som:
- Velha, quer que eu me livre dele para você?
- Sem sombras de dúvidas herdou a audácia dela, mas nem mesmo Ráahra é tão sem juízo! –de repente minúsculos raios de tempestade iluminam os olhos laranja da divindade, mas ele ainda mantém o sorriso amigável e despreocupado. – Isso lá é jeito de falar com um deus, menina? Tenho certeza que embora sua mãe tenha falhado miseravelmente na sua educação, seu pai lhe ensinou a ter um pouco de respeito pelos mais velhos!
Um resmungo abafado a minhas costas é a confirmação de Antúrix as palavras de Iéehruus.
- O que você quer então, velho? –pergunto frisando a palavra "velho" embora ele esteja muito longe de parecer um.
- Só vim parabenizar pessoalmente o garoto pela manobra estratégica brilhante! –garoto? Definitivamente não consigo enxergar Kadrahan como garoto. – Mas não se preocupe. Você é a minha segunda preferida, Náyshilah! Seria a primeira se não fosse sua trapaça de olhar o futuro.
- Com todo o respeito, Vossa Divindade, dificilmente irá nos convencer que está aqui apenas por um motivo tão banal. –Kadrahan intervém com mais respeito do que eu, porém sem se deixar intimidar e ainda com a espada em posição de ataque.
Já eu não tenho a mesma paciência para formalidades.
- Escuta aqui, velho, se acha que...
- SAAAAHHH! –sou interrompida por um grito eufórico de Sa que surgiu não sei de onde e vai ondulando na velocidade da luz até Iéehruus!
A norantalo se enrosca toda feliz no Deus da Lua Laranja e dispara a falar sem parar.
- Saah sa sassaaah saa ssaaahsassa sahh sassa sah saa saaah sassasa ssa sahh saaahsa!
- Ei, bebê! Também senti a sua falta! –Iéehruus acaricia o pelo de Sa que no momento está parecendo um arco-íris de cores e a norantalo parece não caber em si de tanta alegria.
Ao ver a minha expressão de surpresa, o deus responde a minha pergunta não dita:
- Sa é a minha mascote! –ele diz ainda alisando os pelos de Sa. – Finalmente depois de éons Duuhlenn acertou ao me presentear.
Sa é a mascote do Deus da Lua Laranja? Então ele a enviou para me espionar?
- Antes que tire conclusões precipitadas, pedi apenas que ela cuidasse de você, Náyshilah! –ele parece ler meus pensamentos e não tenho certeza se posso confiar nele. – E, por favor, meus guerreiros, se levantem! É a primeira vez em muito tempo que me encontro pessoalmente com a minha melhor criação! E isso definitivamente é motivo de comemoração!
Com um movimento amplo de seus braços, como se fosse a coisa mais simples do mundo, o deus faz surgir inúmeras mesas de madeira cobertas por tendas grandes o suficiente para proteger a todos dos raios dos sóis.
- Vamos! Não sejam tímidos! Por favor, todos se acomodem!
Todos parecem incertos sobre o que fazer e olham para mim e Kadrahan.
Não pretendo mover um músculo antes de ele me dar algumas explicações.
- Ah, como pude me esquecer do principal? –literalmente em um estalar de dedos, uma fartura das mais variadas comidas surge em todas as mesas. – Essa é a nossa mesa, Náyshilah! –Iéehruus diz apontando para a tenda mais próxima de onde estamos. – Tem tudo o que você mais gosta de comer!
Aleluia! Alguém se lembrou de me alimentar! Esquecendo-me de tudo que deveria ser importante, sento-me a mesa e começo a atacar uma suculenta coxa de peru assado sem cerimônia. Bem, Sa gosta dele e ele está me oferecendo comida, portanto deve ser de confiança.
Já estou na terceira mordida quando me ocorre o pensamento que talvez a comida esteja envenenada. Tarde demais para pensar nisso. Ao menos se eu morrer, morrerei de barriga cheia. E enquanto Duuhlenn e Véehros se revelaram apenas para mim, o fato de Iéehruus ser o único dos sete deuses a se mostrar perante todos, me faz admirá-lo mesmo contra a minha vontade.
Os demais guerreiros seguindo o meu exemplo, também se acomodam nas outras mesas, mas ainda parecem pouco a vontade diante a presença divina.
Sento-me a ponta da mesa com Kadrahan a minha direita enquanto a divindade se senta a minha esquerda como se estivesse em sua própria casa. Por indicação de Iéehruus, também estão na mesma mesa que eu, Antúrix, Séehlon, Yuules, Érishi, o Príncipe Nars, Myris, Eres, Entur e entre eles Oris, Fins, Gonn e Jilliabi. Os poucos guerreiros que sobraram que não são darätzsalah.
Ninguém além de mim, Antúrix e o próprio deus tocam na comida, mas não sou eu que irei insistir. Assim sobra mais comida.
Por todas as luas! Está tudo divinamente delicioso!
Há um delicioso peixe assado ao molho picante de tumar na minha frente e apenas o cheiro já me faz salivar! Tov irá adorar esse peixe! Espero que ele e Dras também estejam se empanturrando em alguma das outras mesas.
Aquilo ali é carne de cordeiro? Estico as mãos para alcançar a travessa de cordeiro e a do peixe ao mesmo tempo, mas Kadrahan já se adiantou e coloca generosos pedaços de carne e peixe no meu prato. Hummm, também tem batatas recheadas com cremosos cogumelos verdes. Dessa vez é Antúrix que me passa a iguaria.
- Irmãzinha, lembra o que te falei sobre elefantes?
A minha esquerda ouço um riso divertido do Deus Palhaço! Ele não vai parar de rir as minhas custas?
Lanço meu melhor olhar ameaçador para o meu irmão, mas meus olhos recaem nos guerreiros ao lado dele. Séehlon já era do bando de Antúrix, agora quanto a Yuules, um guerreiro um pouco mais novo que Entur também ser um darätzsalah, com certeza foi uma surpresa para mim. Ele e todos os outros me enganaram muito bem.
- Você e todos os outros me hostilizaram com uma veracidade impressionante quando me juntei a tropa, Yuules! –acuso o pegando de surpresa. – Por um acaso aproveitaram para descontar algum ressentimento da época que eu era a líder de vocês?
Ele ao menos parece envergonhado.
- É claro que não, minha senhora! –ele responde prontamente. – E a senhora nunca deixou de ser a nossa líder.
- E vocês ainda fingiram surpresa quando Kadrahan anunciou que somos casados! –entre um treino e outro o meu maridinho também dava aulas de atuação para os seus guerreiros? – Até soltaram murmúrios de surpresa com a grande revelação! –estou realmente indignada.
- Eles apenas estavam seguindo as minhas ordens, Aédris! –Kadrahan explica o óbvio.
Reviro os olhos e enfio uma grande porção de batatas na boca para não falar algo que me arrependa.
Entretanto, parando para pensar, na batalha do Deserto dos Ossos, nossos inimigos eram restos de criaturas revividas dos mortos e totalmente letais. Homens comuns não teriam saído de uma batalha como aquela com apenas com alguns ferimentos superficiais como foi o caso. Os guerreiros que se feriram mais gravemente foram justamente aqueles que agora sei serem os únicos realmente guerreiros comuns.
- Há quanto tempo vem infiltrando os seus homens na Guarda Real, Kadrahan? –o príncipe demanda com voz firme, mas não tenho dúvidas que está fazendo um grande esforço para soar controlado.
- Há tempo suficiente. –Kadrahan responde indiferente e finalmente começa a se servir de uma fatia de torta de legumes.
Nas outras mesas, vejo que todos começaram a comer também.
Na nossa mesa, Yuules e Séehlon colocam de tudo um pouco em seus pratos. Já Érishi se serve apenas de muitos legumes e verduras enquanto Myris continua sem tocar na comida.
Vendo que os poucos homens que sobraram de seu exército continuam sem comer, o príncipe se serve de um pouco de arroz e ovos mexidos para indicar que os outros também devem fazer o mesmo e é exatamente o que fazem.
- Tempo suficiente para quê? –Nars volta a adotar sua postura fria e inabalável. – Por qual motivo sórdido você seduziu a minha irmã enquanto já tinha uma esposa?
Epa! Se eu fosse ele não citaria a suposta sedução de sua nada adorável irmãzinha na minha presença. Meu humor que nunca foi dos melhores, está ainda pior e mais explosivo do que nunca por causa do fedelho.
- Nars, por favor, vocês são amigos! Não quero que vocês briguem por minha causa! –essa princesinha realmente deveria ficar calada. – Kadrahan já me explicou o que aconteceu e eu o entendo.
Um cutucão no meu braço me faz desviar a atenção deles.
- Agora vem a melhor parte! –o deus cochicha no meu ouvido. – Isso tudo vai ficar ainda mais divertido!
Franzo o cenho para ele indignada! Qual é o problema desse deus? Tudo é motivo de diversão para Iéehruus?
- Myris, você não prestou atenção quando Kadrahan disse que não nos permitirá voltar para casa? –Nars questiona com a paciência de quem está explicando algo a uma criança. – Caso ainda não tenha entendido, agora somos reféns dele!
A princesa dirige o olhar já marejado para Kadrahan para em seguida se voltar ao irmão com determinação.
- Kadrahan deve precisar muito de nossa ajuda para algo extremamente importante e tenho certeza que iria pedir a nossa ajuda quando você se precipitou em exigir satisfações mesmo eu tendo implorado que não o fizesse!
Sério isso? Essa princesinha está me causando ânsia de vômito de novo!
- Por que ele precisaria de nossa ajuda quando a própria esposa dele é filha de uma deusa? Eles até mesmo contam com a ajuda de um deus em pessoa! –o príncipe afirma e há certa exasperação em seu tom.
Iéehruus cruza as mãos na nuca, arqueia as sobrancelhas de maneira sugestiva e sorri displicente. Porém não diz uma palavra. Nem para concordar e nem para negar a insinuação de Nars.
Não deixo de notar que o príncipe também não parece nem um pouco intimidado com a presença da divindade.
- Nars...
- Acorde, Myris! Ele apenas usou você! –a paciência de Nars se esvai por completo. – Pare de querer justificar ou defender as atitudes dele! Você não é a esposa de Kadrahan para desempenhar esse papel!
Como já era esperado, os olhos de Myris se transformam em duas cascatas de águas infinitas perante a repreensão severa do irmão mais velho.
Por todas as luas! Se não fosse o meu marido que ela quisesse roubar, juro que faria a caridade de me tornar amiga dessa criatura apenas para ensiná-la que uma mulher não deve chorar a cada minuto do dia!
- Será que ao menos você pode me dizer por que pretende manter a mim e a minha irmã como seus reféns, Kadrahan? –Nars prossegue indiferente as lágrimas da irmã. – Afinal um dia fomos amigos e meu pai até mesmo te recebeu como um filho em nossa família!
- Por que estamos falando apenas de mim, Nars? Vai continuar insistindo que acreditemos que veio parar aqui por mágica? –Kadrahan inquire em um tom calmo como se estivessem discutindo política. – Acha que irei mesmo acreditar que é apenas uma vítima inocente de forças ocultas?
- Eu não tenho porque mentir.
- Não mesmo? –Kadrahan para o garfo a meio caminho da boca e levanta as sobrancelhas em um gesto calculado de cinismo.
Outro cutucão seguido de cochicho.
- Agora a coisa realmente vai ficar interessante! –é impressão minha ou esse deus gosta de ver o circo pegar fogo?
- Você não deveria estar aqui, Nars! Somente Myris deveria prosseguir viagem conosco! –Kadrahan larga o talher e cruza os braços diante de si. – Vai mesmo continuar fingindo ignorância quando sabe muito bem o porquê ela é a causa de tudo isso?
- Eu não tenho ideia do que está falando, Kadrahan! –o príncipe nega impassível.
Não tem ideia? Tenho grandes dúvidas quanto a isso! A única realmente perdida aqui sou eu.
Uma fungada audível chama a minha atenção. Certo, Myris também parece tão perdida quanto eu, penso revirando os olhos e soprando um dos meus cachos da minha cara.
- Não? Então tenho certeza que irá apreciar se eu dividir o que sei com você e Myris! –Kadrahan se volta para Myris que está sentada ao lado de Iéehruus. – Myris, talvez seja o momento de você...
No entanto as palavras de Kadrahan são interrompidas quando em um rompante Nars fica de pé, levanta Kadrahan pela gola da camisa e tenta acertá-lo com um soco. Porém Kadrahan é mais rápido e não apenas desvia do golpe, como segura o punho de Nars com uma mão e com a outra empurra cabeça do príncipe com tudo contra a mesa.
Kadrahan torce o braço de Nars e mantém a cara do ex-amigo muito bem presa de encontro a mesa na travessa de salada. O sangue que jorra do nariz de Nars forma uma poça na mesa ao redor de seu rosto arruinando as preciosas verduras de Érishi.
Eres e os poucos guerreiros que sobraram sob o seu comando fazem menção de sair em defesa de seu príncipe, mas um olhar repleto de faíscas acompanhado de uma leve negativa de Iéehruus com a cabeça, são o suficiente para manterem os guerreiros em seus devidos lugares.
- Eu te avisei que só permitiria que você me golpeasse uma única vez, Nars! –o príncipe até tenta se livrar de Kadrahan, mas suas tentativas são inúteis diante da força de um darätzsalah. – E você já usou essa oportunidade!
Dito isso, Kadrahan libera o príncipe que recua um passo limpando o sangue do nariz com as costas da mão.
- Algum dia você teve real consideração por minha família, Kadrahan? Algum dia se importou verdadeiramente com a minha irmã? Algum dia realmente me considerou como um amigo? –Nars demanda praticamente cuspindo as palavras agora sem se preocupar em esconder suas emoções. – Ou tudo foi apenas fingimento desde o começo?
Kadrahan não se dá ao trabalho de responder. Apenas fita Nars usando uma máscara tão impenetrável que até mesmo eu sou incapaz de dizer o que se passa em sua mente e muito menos em seu coração.
Humilhado e com raiva, o príncipe dá a volta na mesa e arrasta a irmã pelo braço para longe de nós com seus poucos guardas ao seu encalço.
Um mero sinal de Kadrahan com a cabeça é tudo o que Yuules e Séehlon precisam para se levantarem juntamente com alguns guerreiros de outras mesas e seguirem o príncipe para garantirem que não façam nenhuma tentativa idiota de fuga.
Quero conversar com Kadrahan em particular e fazer as devidas perguntas, mas por culpa do fedelho, tudo o que consigo pensar é no bolo de alcáss a minha frente. E no bolo de lezus com amoras e creme de priss também. Nem o fato de ter um deus sentado a minha esquerda me parece mais importante do que saciar a vontade do fedelho de comer doces. Khrratz! Nesse ritmo vou acabar ficando mesmo maior que um elefante!
- Ei, você! –o deus de repente aponta para um dos guerreiros na outra mesa. – Pegue a sua flauta! Precisamos de música para animar a nossa festa! E você, meu guerreiro montanha, solte a voz! –ele completa apontando para Antúrix.
- Festa? E estamos comemorando o que exatamente? –pergunto com cinismo, pois posso imaginar a resposta do deus palhaço.
- A minha presença divina entre vocês, obviamente! –sabia. – Ou acha que é todo dia que os mortais podem contar com a visita de um deus? E a melhor maneira de me reverenciar é festejando comigo!
O sorriso que recebo da divindade não poderia ser mais presunçoso.
As horas passam e apesar dos guerreiros fazerem um esforço visível para aparentarem estar se divertindo para agradar o deus, é mais que evidente que ninguém se sente realmente a vontade na presença de Iéehruus. Corrigindo, ninguém salvo algumas exceções, como Antúrix, por exemplo, que claramente está se divertindo como nunca se divertiu na vida!.
No momento ele e Iéehruus estão em uma luta corporal muito acalorada. A única regra do que eles chamam de "brincadeira para descontrair" é não usar armas e poderes divinos. Apenas força física. Como se Iéehruus não levasse vantagem por ser imortal.
O segundo sol já se pôs há horas e aqueles que não estão sendo sentinelas do perímetro ou vigiando o damera, estão sentados no chão ao redor de uma enorme fogueira enquanto Iéehruus e Antúrix continuam com sua "brincadeira" sem sentindo um pouco mais afastados do fogo.
Mais cedo, Yuules e os outros vieram ter uma palavrinha comigo e se desculparam pela forma que me trataram quando entrei para a tropa. Os ouvi calada, assentindo vez ou outra, mas deixei claro que quando tudo isso acabar eles não sairão totalmente impunes pelo tratamento que recebi. Vi certa apreensão nos olhos deles, mas deixei eles pensarem o pior. Eles têm que aprender a ter mais respeito pela líder deles afinal de contas.
Durante a tarde aproveitei e fui dar uma olhada em Niklaus que a meu ver ainda vai precisar de mais uma noite inteira de repouso. Usar tanta magia o exauriu por completo e ele ainda se encontra em um sono profundo.
O que mais me irrita em nossa atual situação, é que por enquanto estamos de mãos atadas. Não podemos definir planos e muito menos traçar rotas sem ouvir de Rius exatamente tudo o que aconteceu no Vale da Morte. Não até saber quem cometeu a chacina contra os cernis, como Áilos conseguiu trazê-la para o lugar tão distante onde estamos em tão pouco tempo e que tipo de besteira ela acordou com o damera.
Balanço a cabeça enervada. Ainda há Myris e Nars para nos preocuparmos. Kadrahan evitou tocar no assunto, mas também não fiz questão de perguntar. Algo me diz que não quero realmente saber o porquê a princesinha é tão importante para os planos de Kadrahan. Para os nossos planos, me corrijo. Afinal, fui eu que mandei sequestrar Myris no final das contas.
Inquieta com meus pensamentos, tento me acomodar melhor no chão, mas não importa quantas vezes mude de posição, continuo me sentindo desconfortável. Com um longo suspiro, resolvo deixar para pensar nos problemas depois e me concentro na música que flui por todo o acampamento. Em uma tentativa de agradar ao deus, alguns guerreiros se juntaram e tocam seus rústicos instrumentos musicais de forma um tanto desafinada, o que acaba me divertindo.
Alguns até mesmo se arriscam a cantar, embora ninguém tenha uma voz tão bela quanto a de Antúrix para o canto.
A música é alegre e muito animada, transmitindo um falso sentimento de tranquilidade. O que está longe de ser a verdadeira emoção dos guerreiros na presença do deus guerra. A apreensão de todos é tangível no ar, pois a presença de Iéehruus só pode significar uma batalha eminente a qualquer momento. Por outro lado, ele também é o deus da justiça, só tenho que torcer para que a justiça esteja do nosso lado...
O chão formado de rochas de lava vulcânica, continua me incomodando, porém estou em um ponto estratégico, onde sei que terei uma visão privilegiada quando Rius acordar e vir correndo atrás de Vanshey. Mal posso esperar para ver a cena de minha visão com aqueles dois em carne osso.
Kadrahan me encontra sorrindo de orelha a orelha quando finalmente volta com mais um pote de doce de priss para mim.
- O que você andou aprontando? –ele pergunta desconfiado ao se sentar ao meu lado no chão.
- Eu não fiz nada de mais! –nego inocentemente tomando o meu doce das mãos dele. – Agora me conte de uma vez quais são os seus planos! Até agora não acredito que todas aquelas ofensas dos guerreiros quando me juntei a tropa era tudo teatrinho! –reclamo bufando depois de engolir uma colher cheia de doce. – Quando tudo isso acabar, eles vão limpar estrumes por todos os dez ciclos de luas para aprenderem a nunca mais enganar a líder deles daquela maneira!
- Aédris, eles estavam apenas obedecendo as minhas ordens. –Kadrahan os defende.
- E você vai limpar os estrumes junto com eles!
A tensão que esteve presente no rosto dele o dia todo desaparece e ele retribui a minha ameaça com um sorriso de desafio que diz "veremos".
- Vamos! Comece a falar!
- Yuules e alguns dos outros fazem parte do antigo clã do meu pai. –Kadrahan responde. – Nomeei Yuules como líder do clã quando os deixei, mas mesmo tendo os desertado, eles me juraram lealdade e prometeram atender ao meu chamado se algum dia eu precisasse deles.
- E os outros?
- Alguns os conheci ao longo da vida e outros vim a conhecer depois através dos que já conhecia, mas como sou o segundo na hierarquia dos darätzsalah, na sua ausência, eles seguem o meu comando sem hesitar.
- E por que mesmo depois que apareci continuaram seguindo suas ordens idiotas?
- Porque você nunca deu uma ordem direta a nenhum deles me desautorizando. –o sorriso que recebo do meu marido não poderia ser mais debochado.
Tem momentos como agora que realmente tenho vontade de transformar o belo rosto do meu maridinho em uma massa completamente disforme.
- Você sabe que não vai sair impune por isso, não sabe?
- E você sabe que nunca consegue ficar brava comigo por muito tempo, não sabe? –ele afirma enquanto enrola um dos meus cachos em seus dedos com um brilho malicioso no olhar.
Um vento um pouco mais forte de repente sopra os meus cabelos na frente do meu rosto, mas não é o tipo de vento que traz frescor. É uma lufada de ar quente do vulcão carregando consigo o mesmo cheiro desagradável de antes e que faz o meu estomago embrulhar de novo.
- Fedelho, não se atreva a tentar me impedir de comer o meu creme de priss! –o repreendo literalmente apontando o dedo para a minha barriga ainda a mostra. – Se você se comportar, depois eu como mais doce de alcáss!
Levanto o meu olhar e deparo com Kadrahan encarando o meu ventre, que por algum milagre ainda continua reto, com uma expressão indecifrável.
Sei que devo perguntar o que Nars não quer que Myris saiba ao ponto de ter seu autocontrole sempre tão inabalável caindo por terra em apenas um segundo, mas isso vai ter que ficar para depois. Está na hora de Kadrahan e eu termos uma conversa séria sobre o fedelho.
- Kadrahan, qual é o seu problema com o... – começo, mas um murmúrio coletivo me faz interromper a minha frase.
Sigo os olhares em direção ao horizonte noturno e imediatamente entendo o que causou a comoção. Despontando a margem do céu estrelado, a lua de Véehros começa a surgir reluzente para se juntar as outras quatro luas no véu negro do céu.
- Por que você não parece surpresa, Aédris? –desconfiança volta com força total no tom de Kadrahan.
Involuntariamente, mordo o meu lábio inferior e desvio o olhar, o que só serve para me atestar como culpada da acusação implícita. Khrratz!
- Por todas as luas, Aédris! – ele passa as duas mãos nos cabelos exasperado. – Quantas vezes vou ter que repetir? Pare de tentar ver o futuro!
- Eu não tentei ver nada de importante! –retruco na defensiva. – Foi só uma coisinha à toa! Vi a Lua Anil por um mero acaso!
- Aédris, você precisa me ouvir! Você tem que entender! –a cólera que emana dele é tão latente que sinto os pelos dos meus braços se arrepiarem. – Você é a que mais sofre com as coisas que vê! Pare de tentar ver o futuro! Faça isso por mim, eu te imploro! Eu não quero ver você sofrer nunca mais!
Ele me puxa em um abraço apertado e enterra o rosto em meus cabelos! A tática que ele sempre usa quando quer evitar me encarar nos olhos.
Zarmey! O que ele não quer que eu veja? Ou melhor, o que ele não quer que eu veja de novo?
Antes que eu possa sequer usufruir um pouco mais do calor dos braços de Kadrahan, ele de repente se afasta de mim e fica de pé em uma postura defensiva a minha frente.
- Véehros não deve estar nem um pouco contente com isso! –a voz grave de Iéehruus ressoa as minhas costas.
Levanto-me bufando e só não faço a besteira de atirar o pote em minha mão no deus inconveniente porque afinal é o meu doce preferido.
- Velho, não vê que está atrapalhando? –saio de trás de Kadrahan para falar cara a cara com Iéehruus, mas o super protetor do meu marido me impede me segurando pela cintura.
- Já disse para não se preocupar, garoto! Não vou fazer nenhum mal a ela e se quisesse fazer, já teria feito! –a divindade afirma divertido com o zelo excessivo de Kadrahan com o meu bem estar. – E quanto a você menina insolente, será que existe alguém no universo que você respeite?
- Respeito várias pessoas, para a sua informação!
- Alguém que você demonstre respeito? –ele insiste.
Aí já é outra estória.
- Vossa Divindade ainda não nos disse o motivo de estar entre nós. –Kadrahan sim sabe ser a educação em pessoa quando quer. – É sobre isso quer conversar agora?
- Como vocês são impacientes! –o deus solta um longo suspiro dramático balançando a cabeça. – Mas tudo bem! Vamos conversar de uma vez!
Em um movimento ágil, Iéehruus tira seus dois machados das tahalís chocando um contra o outro em um golpe súbito e estridente. O mais surpreendente, todavia, são os minúsculos raios de tempestade que surgem do atrito das lâminas gerando um clarão tão forte que Kadrahan e eu temos que proteger nossos olhos com as mãos.
Quando enfim voltamos a enxergar, tudo e todos ao nosso redor desapareceram. Agora para todos os lados que olho só vejo dunas e mais dunas de areia. Estamos em um deserto sem fim e com um calor de matar.
- Bem vindos aos meus domínios! –Iéehruus diz com a voz cheia de pompa e nos guia para uma gigantesca tenda em meio as areias do deserto noturno. – Aqui ninguém poderá nos espionar.
Estávamos a beira de um vulcão e ainda assim não era tão quente quanto é nesse lugar. O ar é muito mais denso, quase que como se fosse algo capaz de me tocar. Um toque quente carregado de areia que arranha a minha pele. A cada respiração sinto como se areia estivesse entrando pelas minhas narinas esfolando as paredes da minha traqueia até os meus pulmões. Aliás, tenho a sensação que areia está entrando até mesmo pelos meus olhos e ouvidos. Já detesto esse lugar. Com exceção do Deserto de Ossos, desertos não deveriam ter a temperatura muito baixa durante a noite?
Iéehruus para a entrada da tenda e afasta o tecido que serve como porta nos dando passagem e me vê torcendo o nariz enquanto olho a minha volta.
- Sua mãe também detesta os meus domínios e por isso quase nunca vem me visitar. Ráahra reclama que aqui é excessivamente quente e pegajoso! –ele afirma com um sorriso amigável. – Entretanto ainda prefiro esse ambiente! As areias do deserto estão sempre se modificando, elas parecem tão iguais, mas na verdade são completamente diferentes. Parecem inofensivas, mas podem ser letais. E além do mais, ensinam um homem a ser forte e resistente. –enquanto ele fala das virtudes de seu domínio com adoração, há uma calma tão tranquilizadora em seu olhar, que nunca esperei encontrar no deus que todos clamam nos campos de batalha. – Mas devo confessar que também gosto muito dos domínios de Ráahra. Você iria adorar os domínios dela! Há milhares de flores coloridas e inúmeras fontes de águas e um rio flutuante que se estende por todo o seu domínio correndo de baixo para cima sobre as nossas cabeças!
A descrição de Iéehruus do lar de minha mãe me deixa fascinada! Será que algum dia poderei conhecer esse pedaço de paraíso?
Entro na tenda seguida por Kadrahan e antes de dar voz aos meus pensamentos, meu queixo cai diante do que vejo.
A tenda que por fora já parecia bem grande, por dentro parece um verdadeiro palácio. Certamente há mágica presente, pois as dimensões não condizem fisicamente com o que se é visto de fora.
Há inúmeros "cômodos" por todo o lugar. Salas com até mesmo sofás, mesas para refeições, diversos ambientes que devem servir de quartos, uns com colchões forrados de cetim, outros com camas de dossel com lençóis de seda e há um número infinito de almofadas de todos os tamanhos por toda a parte.
Laranja e vermelho predominam nas cores da decoração, além de várias cortinas de seda transparente nos mesmos tons. Alguns móveis pequenos de madeira escura complementam a decoração juntamente com tapeçarias repletas de desenhos de armas. Há também no ar um aroma almiscarado misturado ao cheiro de especiarias que me faz sentir fome de novo e a minha boca começa a salivar instantaneamente.
Estou girando sobre os calcanhares tentando captar tudo dos domínios de Iéehruus quando um brilho reluzente de metal prende a minha atenção em um canto mais afastado de onde estamos. Brilho de cobre, prata e ouro. Não tenho dúvidas de que se trata da oficina de armas do Deus da Lua Laranja e é exatamente aonde meus pés querem me levar, mas ele de forma nada sutil se posta a minha frente bloqueando o meu caminho.
- Tenho um presente para te dar, Náyshilah, mas o que acha de tomar um banho antes e vestir roupas limpas e novas? –ele sugere sem cerimônia. – A criança vai acabar pegando um resfriado se continuar com essa barriga de fora!
Resfriado nesse calor de matar? Duvido muito.
- E por que eu aceitaria um presente seu? –retruco ainda desconfiada.
- Porque não seria a primeira vez! –é a resposta simples que ele me dá.
Detesto quando falam comigo sobre um passado que já sabem que não lembro.
Kadrahan me lança um olhar questionador e simplesmente dou de ombros deixando claro que não tenho a menor ideia do que Iéehruus está falando.
- Velho, para de me enrolar, pois sabe muito bem que não lembro nada do meu passado!
Mais uma vez Iéehruus gargalha as minhas custas antes de responder:
- Acha mesmo que o velho Élor seria capaz de forjar armas tão magníficas? –Élor? O ferreiro de Ismirsha? – Ele dormia profundamente enquanto eu fazia o trabalho pesado!
- Aquele monte de parafusos que não faço a menor ideia como se usa?
- Armas, Aédris? –Kadrahan inquire com uma indignação descabida.
Ou será que me esqueci de contar a ele sobre as armas que encomendei em Ismirsha?
- Depois vocês podem discutir a falta de comunicação no casamento de vocês! –Iéehruus pousa a mão em meu ombro esquerdo e me guia por cortinas e mais cortinas de seda. – Agora vá se banhar!
Bem, não é como se eu tivesse muita coisa para fazer e realmente faz horas que almejo um banho de verdade. Após poucos segundos de ponderação, acabo decidindo seguir a direção que Iéehruus aponta e me deparo com um biombo de madeira enegrecida com desenhos rústicos entalhados nele. Atrás do biombo encontro uma tina enorme também de madeira cheia de água e espuma perfumada transbordando pelas laterais.
Testo a temperatura da água com a mão e ela não poderia ser mais convidativa. Está fria, o que é ideal nesse calor sufocante, e a espuma perfumada exala um aroma delicioso de flores silvestre.
Não me sinto muito a vontade com a presença de um estranho nas proximidades, mesmo ele sendo uma divindade, mas sei que Kadrahan não irá deixar ele ou qualquer estranho se aproximar de mim enquanto me banho.
Ainda receosa, tiro as minhas cimitarras juntos com suas bainhas, assim como meu arco e minha aljava de flechas. Em seguida começo a despir as minhas roupas e sem hesitar mergulho meu corpo dentro da tina. Deixo a espuma cobrir completamente o meu corpo até os ombros e fecho meus olhos enquanto apoio a minha cabeça na lateral da madeira me permitindo relaxar por alguns instantes.
Começo a brincar com a espuma que faz cócegas em meu pescoço e deleito-me totalmente na sensação da água fria em minha pele, que é como uma caricia suave em meus músculos tenso e doloridos. Não tinha ideia de quanto eu estava ansiando por um banho de verdade.
Por mais que eu tente o contrário, está difícil não me sentir tendenciosa a confiar em Iéehruus. Primeiro ele me alimenta, agora me presenteia com um banho relaxante que tanto precisava... Simplesmente as duas coisas que mais adoro!
Entretanto outro pensamento inquietante me ocorre e abro os olhos imediatamente. E se essa água me engolisse e me levasse para outra dimensão? Véehros me fez ser engolida pelo chão quando me levou até ele! E se Iéehruus apenas quisesse me separar de Kadrahan? Só a ideia de aparecer nua onde quer que seja já me deixa apreensiva e me apresso em me lavar de uma vez.
O mesmo pensamento deve ter ocorrido a Kadrahan, pois ele aparece ao lado do biombo e depois de checar que estou exatamente onde deveria estar, ele se posiciona de modo a olhar para frente onde certamente Iéehruus se encontra, mas sei que continuo ao alcance de sua visão periférica.
Por fim mergulho totalmente a cabeça para lavar os meus cabelos e desembaraço os fios usando os dedos, o que não é uma tarefa nada fácil.
Quando termino, Kadrahan me entrega uma toalha e ouço Iéehruus gritar do outro lado:
- Roupas limpas e o seu presente estão no baú do lado direito do biombo.
Encontro uma calça marrom de couro cru, uma camisa branca de mangas curtas e até mesmo roupas íntimas, além de um par de botas de cano longo em um tom marrom um pouco mais escuro que a calça.
Visto-me rapidamente e já estava para sair de trás do biombo quando algo reluzente no fundo do baú chama a minha atenção. Suspendo a peça maravilhada e não hesito em colocá-la. Se trata de uma espécie de armadura que se parece muito com um espartilho feito de escamas douradas e couro grosso resistente. Ao contrário do que eu esperava, a vestimenta me dá a sensação de estar usando algo tão fino e leve como uma segunda pele, ao invés de algo pesado como costuma ser as armaduras ou algo totalmente incômodo como os espartilhos.
Sorrindo feito uma criança que acabou de ganhar um presente maravilhoso mesmo não sendo seu aniversário, levanto a minha cabeça e encontro Kadrahan olhando para mim com um brilho familiar em seus olhos. Algo me diz que não é minha nova armadura que ele está admirando e meu sorriso fica ainda maior.
- Pretende ficar aí para o resto da vida, Náyshilah? Posso ter a eternidade inteira pela frente, mas você não!
Revirando os olhos, pego as minhas armas e saio de trás do biombo voltando a ficar diante da presença divina.
- Olhando para você agora, Náyshilah, ainda não consigo acreditar em como a Ráahra me enganou por tanto tempo! –Iéehruus diz com admiração. – Sempre fiquei de olho em minha melhor criação, os darätzsalah, principalmente em seu pai! –ele prossegue e o deixo falar. – Faraahtz era um homem sábio, justo e de coração generoso! Um homem honrado acima de tudo! Certa vez lembro vagamente de tê-lo visto com uma mulher de cabelos negros e totalmente desprovida de beleza, mas não dei muita atenção. Mal sabia eu que se tratava de Ráahra e que ela já estava confundindo a minha cabeça com seus poderes. Algum tempo depois ele levou um bebê para viver com seu clã, uma criança de cabelos negros que julguei ser da mesma mulher de antes. Um menino!
- Um menino? –agora sou que estou rindo. – Por mais moleca que eu tenha sido e sempre ter abominado vestidos, tenho certeza que devo ter agido como uma garota em muitas ocasiões!
- Tenho certeza que sim, mas Ráahra distorcia toda a realidade para que nós, os deuses, víssemos somente o que ela queria. Toda vez que espionava Faraahtz eu a via como um menino e foi assim por muito tempo! Ráahra tem poderes inigualáveis.
Interessante, muito interessante!
- O encantamento de Ráahra só se desfez quando você o encontrou! –ele aponta com o queixo para Kadrahan. – Eu estava ansioso por ver a luta entre os herdeiros dos dois clãs mais fortes entre os darätzsalah, por isso não tirava os olhos de vocês dois!
Kadrahan cruza os braços diante do peito e joga o peso do corpo de uma perna para a outra claramente se sentindo desconfortável com a informação de que fomos espionados o tempo todo.
- Agora sei porque há tantas guerras no mundo! –afirmo com ironia gotejando de minhas palavras. – O deus que deveria cuidar para elas não acontecerem fica ocupado demais espionando dois adolescentes!
E é claro que o deus idiota não se abala e pela milésima vez nesse dia, sua gargalhada ressonante feito um trovão ecoa em meus ouvidos!
- Náyshilah, talvez eu me ofendesse se não tivesse passado os últimos milhares de éons ouvindo o mesmo humor ácido de sua mãe! Você também herdou isso dela! –ele nem parece encontrar dificuldade para respirar depois de tanto gargalhar. Idiota! – Enfim, vocês dois se conheceram antes da grande luta e tudo foi um choque para mim ! Imagine a minha surpresa quando vocês se beijaram pela primeira vez e a névoa que distorcia a minha visão se dissipou dando lugar a uma linda menina? Uma menina incrivelmente parecida com Ráahra!
- Velho, você está me fazendo perder o meu tempo! Eu melhor do que ninguém sei que sou uma garota! Vá direto ao ponto!
- Também estou curioso para saber aonde quer chegar com essa história, Iéehruus! –Kadrahan diz deixando a formalidade de lado. – Se já sabia há tanto tempo sobre a verdadeira identidade de Aédris e quer que acreditemos que podemos confiar em você, por que não... Você e Ráahra poderiam ter...
Sinto a mesma raiva e frustração de quando Kadrahan descobriu que sou filha de Ráahra emanando dele como se fosse um vulcão prestes a entrar em erupção.
Iéehruus coça a barba por fazer, desvia o olhar e depois de soltar um longo e lamurioso suspiro, volta a falar.
- A questão é que você, Kadrahan, de alguma forma expõe as fraquezas de Náyshilah tornando-a mais vulnerável!
Se Iéehruus queria desviar a atenção de Kadrahan das perguntas não ditas, conseguiu, pois ele recua um passo como se tivesse levado um soco no estomago.
Será que realmente estamos destinados a não ficarmos juntos? Será que foi porque me dei conta disso que o deixei? Porque previ algo de dimensões apocalípticas e não queria que a presença dele ao meu lado literalmente me enfraquecesse de alguma maneira? Porque a última coisa que eu queria era me tornar vulnerável em uma grande guerra vindoura? Porque tinha que cumprir uma profecia estúpida e não podia me dar ao luxo de ter minhas fraquezas expostas?
Não! Eu não sou assim! Antes ou agora, não importa! Odeio que tentem ditar o meu destino! Eu sou a única que irei escolher os meus próprios passos!
- Velho, não sei se você notou, mas ultimamente estou ficando mais forte a cada dia e isso com Kadrahan ao meu lado! –entrelaço meus dedos nos de Kadrahan ao completar. – Não vou permitir que você e nem ninguém diga o contrário!
- Muito bem, Náyshilah! –Iéehruus me elogia com um sorriso satisfeito. – Eu não esperaria outra atitude de uma legitima guerreira darätzsalah! Principalmente de uma que também é filha de Ráahra!
- Se tem nos espionado durante todo esse tempo, deve saber que não tenho sentido muito apreço pelos deuses ultimamente, Iéehruus! –Kadrahan se recupera rápido do choque das palavras da divindade e juro que sou capaz de sentir o ódio crescente latejando em suas veias. – Nos dê ao menos uma prova que podemos confiar em você!
Com um movimento tão rápido que não passa de um borrão para os meus olhos mortais, o Deus da Lua laranja, Iéehruus, também o Deus da Guerra, segura a mão direita de Kadrahan sobre o cabo de sua espada obrigando a desembainhá-la e mais sinto do que vejo, a lâmina da espada cortar o ar rumo ao meu tórax.
O impacto em meu peito é tão forte, que todo o ar de meus pulmões é expelido para fora de uma só vez e arquejo audivelmente com a falta total de oxigênio caindo de quatro no chão!
Olho para cima e em um piscar de olhos, Iéehruus está de volta ao lugar de antes como se nunca tivesse se movido. Ele está sorrindo, mas seu sorriso não alcança os olhos. Olhos estes que brilham com raios prateados sobre o laranja de sua íris.
Kadrahan olha para a sua mão que segura a espada como se não acreditasse no que acabou de acontecer. Como se fosse incapaz de assimilar que mesmo indiretamente foi o responsável por eu estar no chão agora desesperada por ar.
Após segundos de pura agonia para mim, ele deixa a espada cair como se ela fosse uma brasa incandescente lhe queimando a pele e finalmente volta a si me ajudando a me levantar e me amparando em seus braços protetores.
Porém antes que Kadrahan consiga vociferar seja lá o que for que pretendia, Iéehruus o interrompe imperativo.
- A agilidade, destreza e força descomunal dos darätzsalah vêm de mim! Então não me subestime, garoto! –não há mais nenhum vestígio do tom brincalhão de antes nas feições duras de Iéehruus. – Primeiramente, isso foi para você aprender que sempre deve me tratar com o devido respeito, garoto! Mais do que ela, você deve a existência de sua raça a mim! –agora faço questão de descobrir como a minha mãe é capaz de fazer deuses virarem cinzas. – Em segundo lugar, você queria uma prova de que pode confiar em mim, não queria? O peitoral de armadura que dei a ela é capaz de protegê-la da mais letal das lâminas. Essa armadura é impenetrável. Nenhuma arma é capaz de perfurá-la. Mesmo uma lâmina tão afiada capaz de cortar metal, aço ou a mais sólida rocha como se fosse feita de manteiga como é o caso da sua espada, garoto Kadrahan! Uma espada forjada por mim!
- Como é que é? –pergunto desperdiçando o pouco fôlego que consegui recuperar.
Olho para baixo e apesar do impacto que arrancou o ar como se eu tivesse sido soterrada por uma avalanche rochas, a armadura não sofreu nem mesmo um único arranhão.
Meus olhos agora são atraídos para espada de Kadrahan como se ela fosse um ima me guiando até ela. Nunca prestei verdadeira atenção nessa espada. Sim, é uma bela espada. Longa e lisa na maior parte de sua extremidade e com pequenas lâminas curvadas para dentro formando um intrincado desenho no centro de seu eixo próximo a base do cabo. Uma arma belíssima de fato.
Contudo, a única coisa relevante para mim é que ela sempre serviu ao propósito de todas as espadas, que é de retalhar corpos. Mas quanto a ser uma espada especial capaz de realmente retalhar qualquer coisa que encontre pelo caminho, isso de fato nunca prestei atenção! Talvez porque até agora não passamos por tal necessidade... E como assim ser uma espada forjada pelo próprio Iéehruus?
O deus se aproxima lentamente como um felino e se abaixa recolhendo a espada do chão.
- Nunca se perguntou o porquê jamais conseguiu se desfazer dessa espada embora ela tenha sido um presente de seu pai?
- Não importa as mágoas que eu possa ter de meu pai, sou um homem pragmático. –Kadrahan responde mascarando qualquer sentimento com indiferença. – Nunca iria me desfazer de uma excelente espada que sempre me foi tão útil como essa!
Iéehruus gira o cabo da espada com uma mão e com a outra desliza os dedos ao longo da lâmina.
- Essa espada pertenceu a sua mãe!
- O quê? –nem mesmo Kadrahan consegue esconder a incredulidade que toma conta de seu rosto.
- Não vou negar que passo a maior parte do meu tempo de olho nos darätzsalah e nos vários conflitos que sempre existem mundo a fora. –ele passa o dedo pelo fio da lâmina, mas nem mesmo uma única gota de sangue é exposta. – Entretanto nunca nego ajuda a alguém que roga por mim com toda a sua alma em um momento de extremo perigo! E foi em uma situação dessa que presenteei Lady Sahane com essa espada!
Quando eu penso que já ouvi de tudo, descubro que a minha sogrinha foi presenteada com uma espada divina...
- Ela mais tarde deu a espada de presente ao seu pai que por sua vez deu a você. –Iéehruus prossegue agora com a expressão mais suave. – Não foi somente a beleza de sua mãe que encantou Beliahtrus. Ele se apaixonou por sua coragem e braveza! Pela guerreira que ela poderia ter sido se as circunstâncias de seu nascimento fossem outras.
A máscara de Kadrahan começa a se estilhaçar e a cada pedaço que cai, vejo emoções conflitantes tomando conta do homem que amo.
- Meu pai algum dia realmente amou a minha mãe? –sua voz sai baixa, em um sussurro de descrença. – Eu sempre achei que...
- Não é a minha área de especialidade, mas até mesmo eu posso afirmar que ele a amou! Do jeito distorcido dele, mas amou! – o deus volta a sorrir divertido. – Tudo o que sei é que Ráahra tem muito que me agradecer, já que a minha espada ajudou a proteger a filha dela inúmeras vezes!
Aposto que o Deus Palhaço vai usar isso contra ela pelo resto da eternidade.
- Agora temos que voltar! Náyshilah já tem o meu presente e você, garoto, já sabe a real importância de sua espada! –ele completa devolvendo a espada a Kadrahan que a aceita com certa hesitação.
Nos sobressaltando, Iéehruus de repente bate na própria testa com a mão espalmada.
- Quase me esqueço do que realmente queria falar para vocês! –a divindade bagunça os cabelos laranja como se ainda estivesse decidindo se deve ou não nos falar o que tem em mente. – Vocês devem buscar O Vale Flutuante das Montanhas de Gelo! Faraahtz não gostava tanto daquele lugar à toa!
- E como vamos encontrar um vale flutuante que nunca para no mesmo lugar?
Contudo, Iéehruus não se dá ao trabalho de responder antes de mais uma vez bater seus machados um contra o outro nos ofuscando com a luz intensa.
Estamos de volta ao acampamento, ainda com Iéehruus ao nosso encalço. Quando é que ele vai sair do nosso pé?
Os primeiros raios de sol já iluminam o novo dia e a maioria dos guerreiros já foram dormir, sobrando apenas os sentinelas. Zarmey! Zarmey! Zarmey! Ao menos Véehros me devolveu no mesmo instante em que me tirou de minha realidade! Não consigo evitar um olhar carrancudo para Iéehruus que simplesmente me ignora.
Entretanto qualquer pensamento sobre o deus é varrido da minha mente quando avisto Rius sentada ao lado de Vanshey com a cabeça escorada no ombro dele.
Khrratz! Perdi a cena que esperei a noite inteira para ver!
Antúrix, Érishi, Entur também estão com eles, mas ainda nem sinal de Niklaus! Será que ele ainda não recobrou os sentidos? Tov está impaciente andando de um lado para o outro e Sa o segue ondulando acima de sua cabeça com sua pelagem agora toda azul. Também não vejo Dras, mas ele deve estar com Niklaus. Uma amizade inusitada surgiu entre os dois e o volun passa muito tempo na companhia do feiticeiro.
Rius que já irradiava alegria de tanta felicidade por ter Vanshey junto de si, se ilumina ainda mais quando me vê! Toda saltitante, ela vem correndo até mim e me esmaga em um abraço apertado e caloroso! Tov por sua vez fica se esfregando em minhas pernas ronronando feito um gatinho feliz. Já Sa foi direto se enroscar no pescoço do deus.
- Aédris, minha amiga, minha irmã! Finalmente apareceu! Eu estava a ponto de me transformar em uma besta alada e ir atrás de vocês na lua laranja! –Antúrix com certeza não perdeu tempo em atualizar Rius e Vanshey dos últimos acontecimentos. – Não tem ideia do quanto senti a sua falta! Sei que foram apenas alguns dias, mas nunca ficamos separadas antes!
- Também senti sua falta, Rius! –digo retribuindo o abraço com o mesmo carinho. – Quase morri de tanta preocupação com você! –ela está tão magra que consigo sentir facilmente os ossos de suas costelas através do tecido fino do vestido.
Sinto meu sangue ferver instantaneamente com o calor da raiva que desperta em mim. Vou matar aquele damera covarde assim que ele não me for mais útil.
- Ahhh, então provou um pouco do gostinho do que passo todos os dias com você? –ela graceja se afastando um pouco para me olhar nos olhos e falhando em sua tentativa de parecer séria.
O simples movimento de dar um passo para trás, a deixa tonta e ela cambaleia. Impeço que ela caia, mas Vanshey já está ao lado dela e a conduz de volta a se sentar na rocha que eles estavam antes.
- Eu já falei para ela ficar quieta até se recuperar completamente, mas ela simplesmente não me ouve! –Vanshey reclama enquanto entrega uma enorme fatia de pão para ela. – Termine de comer, Rius! Só assim vai recuperar as energias que perdeu!
- Com você cuidando de mim o tempo todo, vou me recuperar rapidinho, meu Larcan!
Vanshey fica tão vermelho de vergonha, que chega a ser fofo.
Mal eu sento em uma das rochas com Kadrahan ao meu lado e um prato de muitas folhas verdes surge diante de meus olhos.
- Notei que você come muita carne e muito doce, mas deve comer também verduras e legumes, pois eles são muito importantes para o desenvolvimento do bebê em seu ventre! –Érishi diz toda sorridente e prestativa com seu sorriso de covinhas.
E ao som da palavra bebê, Rius engasga com o pão que estava comendo tossindo tanto que grossas lágrimas escorrem do canto de seus olhos. Acho que esqueceram de contar a novidade para ela.
- O quê? –ela pergunta com a voz esganiçada depois de muito tossir.
- Pois é, você vai ser tia! –aceito o prato das mãos de Érishi um tanto contrariada, afinal não sou uma taturana para comer tantas folhas. – Tem um fedelho a caminho!
Rius olha para a minha barriga com tamanho horror, que a impressão que tenho é que ela espera que um monstro rasgue minhas entranhas de dentro para fora a qualquer segundo.
Ei!Ei!Ei! O Fedelho pode ser um tanto inconveniente, mas não é nenhum monstro!
- Kadrahan! –ela vocifera.
- Agora não, Rius!
- Ah, agora sim, senhor!
Rius se põe de pé e os dois travam uma batalha silenciosa com o olhar. Todos parecem prender a respiração, até que Kadrahan desiste e também fica de pé caminhando para longe sem olhar para trás.
- Nós iremos conversar, Aédris! Não se atreva a nos seguir! –ela ameaça dessa vez realmente séria e um tanto amedrontadora. – Não se esqueça que posso farejar seu cheiro a quilômetros de distância!
- Não vou seguir vocês! –respondo com a minha melhor cara emburrada.
- E vocês não a deixem sair daqui! –dito isso, ela também nos dá as costas e se afasta.
- É melhor você ficar por aqui, Aédris! –Vanshey aconselha sem se prolongar.
- Coma tudo, Lady Aédris! -Entur aconselha. - Realmente fará muito bem ao bebê!
Antúrix também se levanta, estala o pescoço de um lado para o outro e esfrega as mãos uma na outra em um gesto de antecipação antes de dizer a Iéehruus:
- E aí Divindade Laranja, o que acha de mais uma disputa?
- Só se for agora! –Iéehruus aceita o desafio com o mesmo entusiasmo e os dois se afastam.
Sa começa a ondular ao meu redor em vigilância enquanto Tov deita aos meus pés.
É, não vou conseguir sair mesmo daqui com tantos me vigiando. Mas quem disse que preciso sair? Finjo estar entretida separando ervilhas para o canto do prato e me concentro em Kadrahan e Rius uns minutos a frente.
Os vejo a uma distância segura do acampamento e depois de farejar o ar e ter certeza que estão longe dos ouvidos de qualquer um, Rius esbraveja feito uma fera ensandecida:
- COMO ISSO É POSSÍVEL, KADRAHAN?
- Rius, por favor...
- VOCÊ SABE O QUE VAI ACONTECER!–ela o acusa ainda aos berros. – VOCÊ SABE O QUE ELA VIU!
- Rius, fique quieta, ela...
- VOCÊ SABE QUE ESSA CRIANÇA NUNCA VAI NASCER!
O quê?
- CALA A BOCA, RIUS! –Kadrahan grita ainda mais alto do que ela perdendo a paciência de vez.
Rius se encolhe como se tivesse levado um tapa. A mágoa nos olhos dela me dá a certeza que ele nunca falou assim com ela antes. E ele parece se arrepender no instante que as palavras deixam sua boca.
- Os poderes da Aédris estão mais fortes ultimamente! –ele passa a explicar em um tom mais brando. – Ela está conseguindo controlar suas visões com muito mais facilidade! Tenho certeza que aquela teimosa está nos espionando nesse exato momento!
Ela leva as mãos à boca e olha para todos os lados como se esperasse me ver os espionando.
Como tenho a certeza que eles não dirão mais nada de revelador, volto ao presente e instintivamente levo a mão ao meu ventre. Como assim o Fedelho nunca vai nascer?
Ainda fingindo comer as folhas de Érishi, me concentro no Fedelho e no futuro dele, mas o meu esforço é totalmente em vão. É como se uma cortina negra tivesse sido colocada diante de mim vedando os meus olhos. Só vejo escuridão e mais escuridão. Busco outros caminhos, mas tudo o que vejo é um breu infinito. A mesma venda obscurece a minha visão não importa o caminho que eu escolho relacionado ao Fedelho.
Esforço-me ainda mais em minha concentração, mas a minha cabeça começa a doer de tal forma que sinto como se a lâmina cega de um serrote estivesse rasgando o meu cérebro de uma extremidade a outra.
Quando dou por mim, estou de joelhos no chão, com as mãos na cabeça como se pudesse arrancar a dor com elas. Mas a dor em minha cabeça não é nada comparada com a dor que sinto em meu peito, comprimindo a minha alma com um sentimento horrível de perda.
Algum lugar lúcido do meu cérebro registra que estou no chão passando mal e não veio ninguém em meu socorro, o que definitivamente é muito estranho.
Levanto o meu olhar e vejo que todos formaram uma barreira protetora ao meu redor. Que raios está havendo agora?
Mais adiante, vejo Iéehruus falando com uma mulher de longos cabelos azuis. Náahtris, a Deusa da Harmonia e Autoridade, a Divindade da Lua Azul também veio para a festa! Estava mesmo demorando...
- Ela é uma anomalia nesse mundo, Iéehruus! –a voz da deusa ressoa como a mais bela das melodias. – Enquanto ela existir, nunca mais haverá harmonia entre os mortais!
Náahtris é tão bela quanto qualquer um dos outros deuses. Suas feições expressam serenidade, pureza e benevolência infinita, o que não condiz com a ameaça implícita que ela faz a minha vida.
Pela minha visão periférica, vejo todos os outros darätzsalah se aproximando e fechando o cerco ao nosso redor. Até tento me levantar, mas a dor na minha cabeça desestabiliza por completo o meu senso de equilíbrio.
- Você não deveria estar aqui, Iéehruus! –a deusa diz com a doçura de uma criança.
- Sou o Deus da Guerra, Náahtris! Achou mesmo que eu ficaria de fora da maior guerra que esse mundo poderia ter?
- Entregue-me a garota ou saia do meu caminho!
- Não farei nem uma coisa nem outra!
- Como sempre decidiu ficar do lado de Ráahra!
- Tecnicamente estou do seu lado, Náaht! –Iéehruus está de costas para mim, mas tenho certeza que ele exibe seu já característico sorriso zombeteiro. – Você sabe perfeitamente do que Ráahra é capaz se tocar na filha dela!
- Acredita mesmo nisso? Por que se importa tanto com essa aberração se nem mesmo a mãe dela se preocupa com o destino da filha?
Como alguém consegue dizer coisas tão cruéis e ainda aparentar ser a pureza e bondade em pessoa?
- Náaht, nós deveríamos...
- Se vai ficar mesmo do lado de Ráahra, o que acha da sua criação contra a minha?
Ela mal termina de dizer as palavras e nuvens de fumaças negras surgem em meio aos guerreiros! Bruxas! Pelo menos uma dúzia delas!
E de repente, antes que eu mesma seja capaz de sequer ver a ameaça, uma rajada de vento com a força de um tornado me arremessa muitos metros ao alto e para o chão.
Quase posso sentir meus ossos sendo esmigalhados um por um contra o solo rochoso. Minhas costas doem de tal maneira que beira o insuportável, mas o que realmente me deixa aterrorizada é a dor aguda e profunda em meu baixo ventre.
Não!
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Finalmente! Acho que agora vai! Amigos, esperem que tenham gostado desse capítulo! E também que não queiram me matar ou arrancar os meus cabelos por causa do final kkk Leitores fantasmas, não sejam tímidos! Se façam presentes! Se não gostam de comentar, tudo bem! Mas lembre-se de dar o seu voto clicando na estrelinha ;) Sei que tem muita gente que lê off line, pois ler online gasta tudo os créditos do celular, mas depois quando tive uma wi-fi grátis por aí, aproveite e vote em todos os capítulos que deixou de votar! E isso vale 'para os novos leitores também. Vocês se empolgam lendo um capítulo atrás do outro (amo isso *-*) e acabam esquecendo de votar! Quando der, voltem no capítulos anteriores e confiram se faltou alguma linda estrelinha em algum capítulo para trás ;) Essas estrelinhas ajudam tanto a divulgar nossas histórias e nos deixam muito feliz! Porém o que eu mais amo são os comentários de vocês, que sempre alegram o meu dia e arrancam um sorriso de orelha a orelha de mim não importa onde eu esteja! Muito obrigada! Aguardem surpresinhas nos próximos dias ^_^
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