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Capítulo 15

    É, parece que segunda virou o novo dia rsrsr. Bom, mais uma vez agradeço vocês por continuarem a acompanhar a estória de Aédris, por darem seu apoio e me darem  o incentivo que preciso para continuar escrevendo. Vocês me dão forças para continuar escrevendo e buscar melhorar cada vez mais. Muito obrigada do fundo meu coração. Vocês fazem os meus dias mais felizes. Espero que gostem desse capítulo e comentem muito como sempre. E deixem suas novas teorias também. Continuem convidando os amigos para ler e não se esqueçam de votar! ^_^

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    Preciso pensar rápido. Muito rápido. Tov me olha tão confuso quanto eu e faço sinal para ele sair da minha frente. Tento com o meu olhar dizer a ele que está tudo sob controle. Eu acho. O cerni ainda continua com a cabeça abaixada, mas sei que espera por minha resposta.

    - Por que não me procurou antes? –questiono com a minha melhor voz de autoridade.

    - A senhora foi extremamente severa e específica quanto as datas e locais de nossos encontros. –o cerni me responde sem se abalar. – Não achei prudente incomodá-la antes da data especificada pela senhora.

    Maravilha! Aparentemente eu sei de tudo, só esqueci-me de contar para mim mesma! Perfeito!

    - É claro, só estava me certificando se você estava atento as minhas ordens. –digo de forma arrogante.

    - Como esperávamos, formos informados que há uma tropa de guerreiros da Guarda Real em uma missão de resgate a princesa. – a voz do cerni é profunda e ressonante. – Quais são suas ordens quanto a isso? Devemos atacá-los antes que alcancem o Vale da Morte, minha Senhora?

    Adoro quando me subestimam. Aproximo-me ainda mais do cerni e me inclino rente a sua cabeça.

    - Não se atreva a me testar, cerni! –advirto em um tom baixo e ameaçador. – Se sabe da tropa, sabe que estou com eles!

    Percebo que a postura do cerni fica ainda mais rígida. Sua cabeça se abaixa mais alguns centímetros. O que significa apenas uma coisa. Ele teme a mim. Uma criatura assassina por natureza, cruel, impiedosa, extremamente forte, inteligente e letal tem medo de mim. Ao menos quando está sozinho.

    - Perdoe-me, se foi isso que pareceu, minha Senhora. –ele responde rapidamente. – Apenas queria saber se a senhora gostaria que simulássemos um ataque para ninguém desconfiar de seus planos.

    - Não, nada de ataques. –me apresso em dizer. – Minhas ordens são para que mantenham distância. Sei o que estou fazendo. –sei tão bem que não tenho a menor ideia do que está acontecendo, penso com ironia.

    - Sim, minha Senhora.

    - Isso é tudo. –digo dispensando a criatura.

    O cerni se levanta, claramente entendendo que sua presença não é mais necessária. Sua enorme estatura faz sombra sobre mim e o capuz continua escondendo suas feições. Sinto um tremor de frio percorrer todo o meu corpo, embora os dois sóis estejam em seu ápice no céu.

    - Cerni, você...

    - Woron, minha Senhora. –o cerni me corrigi.

    - Woron. –digo com indiferença. – A princesa, tenho certeza que fui clara quanto a não machucá-la... –faço uma pausa enquanto incerteza toma conta de mim. – Estão seguindo as minhas ordens quanto a isso, não é mesmo?

    - Sim, minha Senhora. Ninguém a tocou, muito menos a feriu. E ela está sendo bem alimentada, exatamente como a senhora ordenou.

    Solto o ar que não sabia que estava prendendo quando o alivio toma conta de mim. Ao menos não fui tão cruel quanto temia ter sido.

    Encaro a escuridão escondida sob o capuz. Se eu ordenasse para soltar a princesa, Woron acataria? Provavelmente sim. A questão é, eu quero isso? Não preciso pensar muito para chegar a uma conclusão. Não, eu não quero. Se tem alguém em quem devo confiar em toda essa maluquice que é a minha vida, esse alguém sou eu. Certamente eu fiz o que fiz devido a uma razão muito forte e até eu descobrir que razão é essa, as coisas devem continuar como estão.

    - Woron, há algo mais que queira questionar? –decido insistir. – Era somente sobre a tropa que queria saber?

    - Se a senhora não tem novas ordens, isso é tudo. –ele faz menção de se virar, mas muda de ideia. – Quanto a outra ameaça, os planos continuam os mesmos?

    Outra ameaça? Algo além deles? Isso está cada vez melhor.

    - Sigam o plano original. –tento soar confiante. – Façam exatamente o que eu ordenei a principio. –seja lá o que for que eu disse.

     Woron acena em concordância com a cabeça, em seguida faz uma breve reverência e me dá as costas para ir embora. Entretanto, após apenas dois passos longos, ele para e me faz mais uma pergunta, sem se virar novamente.

    - A Senhora irá manter a sua palavra em nosso acordo, certo? Não devemos nos preocupar quanto a nossa barganha, correto?

    Uma barganha? Por todas as luas, o que eu ofereci a essas criaturas em troca de sua submissão?

    - Vocês terão aquilo que foi combinado. –afirmo. – Contanto que vocês façam a sua parte do acordo.

    Ainda de costas para mim, mas uma vez ele acena com a cabeça e caminha novamente para o refúgio da moita. Minutos depois, o unicórnio imponente de antes ressurgi e dispara correndo entre as árvores do vale se misturando aos outros animais e desaparecendo entre eles.

    Começo a caminhar sem direção certa e sei que Tov está ao meu lado atento a mim. Mil perguntas fervilham em minha cabeça. Segundo Woron, eu fui específica quanto as datas e locais. Eu disse a ele para me encontrar em Ismirsha exatamente hoje e isso há muito tempo atrás. Certamente também fui eu que determinei a data para o sequestro da princesa. Sem dúvidas fui guiada por minhas visões, mas o que me fez agir em primeiro lugar? E por que agora? Há algo em especial nesse momento em que estamos? E o que a princesa...

    Meus pensamentos são interrompidos quando uma força invisível me arremessa muito metros ao longe de encontro a uma árvore. Por um milagre os ossos de meu rosto não se partiram, mas sinto que as reentrâncias do tronco perfuraram todo o lado direito de minha face e o sangue quente de minhas feridas escorre pelo meu pescoço. Tento me mexer, mas algo me prende de tal forma, que é impossível mover mesmo um centímetro.

    - Você não aprendeu mesmo a lição da última vez, não é mesmo? –uma voz gélida e feminina diz atrás de mim fora do meu alcance de visão.

    - Quem é você? O que quer? –consigo dizer apesar da dor que corrói os músculos da minha face.

    - Uma dica, minha querida Aédris! –a voz diz com malicia. – Levo desgraça, caos e morte por onde passo. Ao menos é o que dizem ao meu respeito.

    Uma bruxa, uma bruxa verdadeira está as minhas costas e tem poder suficiente para me manter completamente imóvel por mais que eu lute contra essa força.

    Antes que eu consiga responder a ela, ouço um grito esganiçado vindo da bruxa e despenco com tudo no chão. Estava pelo menos a um metro e meio do solo. Viro-me a tempo de ver a bruxa arrancando Tov de seu ombro e o arremessando com toda a força contra outra árvore. O estalo de uma de suas asas se chocando contra o tronco é audível e ele cai inerte no chão. Ao longe escuto gritos aterrorizados, alguma família deve ter nos visto. A minha frente vejo uma bela mulher em um longo vestido negro sem mangas. Sua pele é tão branca quanto leite e há desenhos vermelhos assimétricos por toda a parte de seus braços e mãos. Seus cabelos são negros como ébano e bem curtos. Enquanto seus olhos são azuis esverdeados e neles há mais frieza que em toda a neve do inverno.

    Sangue escorre do ferimento que Tov causou em seu ombro e ela olha na direção de seu corpo imóvel com uma raiva assassina. Sigo seu olhar e ódio toma conta de mim. Ela o feriu, ela o machucou. O chão ao meu redor começa a tremer em grande escala e fissuras se abrem no solo.

    A bruxa volta sua atenção para mim e um sorriso doentio surgi em seus lábios.

    - Ora, ora! Parece que deixei alguém com raiva. –com um singelo movimento de sua mão direita, o tremor para e as fissuras voltam a se fecharem. Simples assim. – Você não é páreo para mim, criança. Embora não pareça, tenho dez vezes a sua idade e cem vezes mais sabedoria.

    Ela literalmente desaparece em meio a uma fumaça negra e no instante seguinte ela aparece atrás de mim cravando uma adaga de lâmina fria em meu ombro direito. A dor excruciante se espalha por todo o meu corpo como se mil farpas de gelos estivessem me perfurando ao mesmo tempo. Com um movimento rápido, giro já com minhas duas cimitarras em punho, mas tudo que consigo acertar é uma nuvem de fumaça. Sinto um impacto em minhas costas e novamente sou arremessada contra outra árvore e desabo no chão irregular. Dessa vez sinto e ouço uma de minhas costelas se partindo. A dor é quase insuportável. Tenho dificuldade de respirar e começo a tossir golfadas de sangue. E pensar que há poucos minutos atrás um cerni demonstrou ter medo de mim. Woron com certeza desistiria do nosso acordo, seja o que for, se me visse no estado que estou agora.

    Com passos deliberadamente lentos, a bruxa se aproxima de mim ficando a minha frente. Estou deitada na grama verde e com muito esforço consigo erguer a minha cara do chão. Em mais uma tentativa desesperada, uso o poder de minha mente para atirar minhas lâminas nelas, mas a bruxa com outro gesto simples cria uma espécie de escudo invisível a sua frente e minhas cimitarras caem no chão sem nem chegar perto de atingi-la.

    - Isso é o melhor que você consegue fazer, Aédris? –ela pergunta com desdém. – Por favor, não me decepcione.

    - Quem... Quem é você? –está difícil não engasgar com o meu próprio sangue.

    - Embora você não se lembre, já nos conhecemos, minha querida. –ela me dirigi um falso sorriso afetuoso enquanto fala. – Sou Menélope.

    - Por... Por que não... Me mata... De uma vez? –está mais difícil ainda respirar.

    - Matar você? Por quê? Se é mais divertido humilhá-la. –ela se agacha com a expressão de quem está realmente se divertindo muito.

    - O que... Quer? -volto a repetir a mesma pergunta que já fiz.

    - Hum... Você está desistindo muito fácil. Só por causa de uns ferimentos leves já está prostrada no chão desse jeito. –ela se levanta e começa a caminhar na direção de Tov mais uma vez. – Talvez precise de um incentivo. Que tal se eu quebrar a outra asa dessa bola de pelo? Sempre odiei gatos. Mais ainda os grandes.

    Uma nova onda de fúria se apodera do meu corpo me dando forças para ficar de pé. No céu os dois sóis são encobertos por nuvens. Estranhas nuvens vermelhas. Trovões ressoam cada vez mais alto e um vento muito forte enverga as árvores ao nosso redor.

    - Fique longe dele! –grito entre os dentes com o pouco ar que me resta nos pulmões.

     Menélope olha para o céu em completo êxtase.

    - Muito melhor, Aédris! Muito melhor mesmo!

    Aproveito sua distração e invoco o meu poder contra ela fazendo a voar a uns bons metros de distância no ar. Ela cai no chão e seu sorrisinho desaparece substituído por uma expressão furiosa. Entretanto o poder levou o último vestígio de forças que havia em mim e caio de joelhos.

    - Talvez esteja na hora de dar fim ao seu sofrimento. –ela diz com escárnio vindo em minha direção.

    Entretanto antes que ela consiga dar mais um passo, a minha visão já embaçada registra quando uma lâmina sinuosa atravessa seu abdômen pelas costas.

    - Você vai me pagar por isso, sua criatura repulsiva. –ela promete levando as mãos a barriga antes de desaparecer em sua nuvem de fumaça.

    Os cantos de minha visão já estão escurecidos quando sinto uma túnica sendo colocada sobre mim no chão.

    - Sua gente já está aqui, minha Senhora. –ouço a voz de Woron como se estivesse muito distante. – Eles irão cuidar da senhora.

    Em seguida escuto barulho de cascos e sei que ele já voltou a sua forma de unicórnio correndo para longe.

    Quando o meu mundo virou completamente do avesso? Sou quase morta por uma suposta semelhante e salva por um cerni que deveria ser impiedoso por natureza. Por que tudo foge tanto dos padrões quando é relacionado a mim? Tenho muitas perguntas sem resposta, mas a falta de ar finalmente me leva ao mundo da inconsciência.

    Sou desperta por vozes familiares ao meu redor.

    - Ela já está assim há um dia inteiro! –reclama Rius com voz de choro. – É tudo culpa minha! Eu não deveria ter saído do lado dela. Nunca deveria tê-la deixado andando sozinha por aí!

    - Não é culpa sua! Ninguém é capaz de segurá-la quando ela quer fazer alguma coisa! –abro os olhos lentamente e vejo Vanshey abraçado a Rius confortando-a. – Ela já está completamente curada, só deve estar descansando para recuperar suas forças.

    Olho ao redor e vejo que estou na cama de meu quarto no palácio. Vanshey e Rius estão sentados ao meu lado na cama. Ele dá tapinhas desajeitados nas costas dela.

    - Há algo que queiram me contar? –pergunto contendo o riso enquanto me sento. – Um dia e...

    Sou interrompida por Rius que me abraça tão forte que parece que vai quebrar a minha costela recém-curada.

    - Aédris, me perdoe! Eu não deveria ter saído do seu lado nem por um segundo! –ela chora livremente entre os meus cabelos. – Mas eu estava tão feliz por poder voltar a agir como uma garota que acabei relaxando! Prometo que isso não vai voltar a acontecer!

    - Ei, ei, ei! Já estou bem. –digo afastando-a delicadamente. Seus olhos cor de mel estão vermelhos e as lágrimas não param de cair. – E você tem todo o direito de agir como uma garota e viver a sua vida.

    - Não! É meu dever te proteger! –ela teima entre soluços. – Se eu estivesse ao seu lado, nem você nem Tov teriam...

    - Tov! –desespero se apodera de mim. – Onde ele está? Ele está bem?

    - A asa esquerda foi quebrada, mas o Príncipe Niklaus cuidou dele e disse que ele em breve ficará bem. –Vanshey me informa voltando seu olhar para o pé de minha enorme cama. – E você pode se certificar com seus próprios olhos.

    Sigo o olhar de Vanshey e finalmente vejo Tov já vindo em minha direção. Ele se aninha ao meu lado com a cabeça em meu colo. Sua asa está enfaixada com uma tala improvisada para ele.

    - Meu garoto, obrigada por me defender! –quero abraçá-lo, mas tenho medo de lhe causar alguma dor, por isso apenas afago o topo de sua cabeça.

    - Ele não saiu do seu lado nem por um segundo desde que acordou. –Rius diz ainda fungando. – Está fazendo um trabalho melhor que eu em te proteger.

    - Rius... –começo de novo, mas sou interrompida mais uma vez por ela.

    - Será que você pode finalmente nos contar o que aconteceu?

    Com um suspiro profundo, conto a eles quase tudo o que aconteceu, omitindo apenas o meu encontro com o cerni e inventando uma mentirinha que estava apenas passeando pelo vale com Tov quando a bruxa apareceu. Quero questionar Rius se ela sabe do meu envolvimento no sequestro da princesa, mas não acho uma boa ideia que Vanshey saiba que sua prima está nas mãos dos cernis por minha culpa.

    - Menélope? Nunca ouvi esse nome! –afirma Rius com a testa franzida no final do meu relato.

    - Tem certeza? Acho que há uma grande chance de ter sido ela que nos atacou no penhasco. –digo com convicção. – Ela é muito poderosa. Irritantemente poderosa e cheia de si.

    - Talvez, mas tenho certeza que nunca ouvi o nome antes.

    - Não está mentindo para mim de novo? –se tratando da Rius, é bom sempre me manter desconfiada.

    - Quanto a isso, não. –sua resposta só reforça as minhas suspeitas.

    Meio como quem não quer nada, decido perguntar o que está me correndo desde que abri os olhos.

    - Onde está...

    - Lorde Kadrahan e os outros guerreiros saíram a caça pelos arredores tão logo ele curou você. –Vanshey responde em um tom desconhecido para mim. Então ele já sabe de nosso... Elo peculiar. – O Príncipe Niklaus também. Ele não ficou nada satisfeito, para dizer o mínimo, em saber que há uma ameaça capaz de deixar você no estado em que ficou, andando pelo reino dele.

    - Como me encontraram?

    - Foi fácil! –Rius diz prontamente. – Foi só seguir as nuvens vermelhas no céu! No instante que elas surgiram, sabíamos que havia algo errado com você.

    - Vanshey, estou com muita fome. Será que poderia ir atrás de comida para mim? –peço.

    Ele se levanta prontamente e vejo que ele entendeu que quero conversar a sós com Rius.

    - Claro! –ele diz com um sorriso brincalhão. – Vou pedir para trazerem um verdadeiro banquete para você!

    Tão logo a porta se fecha atrás dele, eu disparo:

     - O que você tem a me dizer sobre o meu envolvimento com o sequestro da Princesa? –Rius desvia o olhar e permanece calada. O silêncio dela me diz tudo. – Deixe-me adivinhar. Tem a ver com a promessa estúpida e você não pode falar nada a respeito.

    - Desculpe. –e ela realmente parece lamentar não poder me dizer. – Mas como você soube...

    - Antes de a bruxa aparecer, me encontrei com Woron. –respondo antes que ela termine de formular a pergunta e conto a ela exatamente tudo o que aconteceu dessa vez.

    - Nunca pensei que ficaria tão grata a Woron um dia... –Rius realmente soa grata por ele ter me defendido.

    - Será que ao menos você pode dizer qual é a minha parte da barganha nesse acordo? –imploro com olhos suplicantes.

    Rius balança a cabeça lentamente negando.

    - Sabia que nessas horas tenho vontade de te sufocar com o travesseiro? –que raios de promessa frustrante é essa?

    Ela ri divertida antes de dizer:

    - Já sofri ameaças piores vindas de você!

    Antes que eu consiga dizer qualquer outra coisa, a porta do quarto é aberta abruptamente e Kadrahan adentra sem esperar ser convidado.

    - Tov, nossa deixa para sairmos. –Rius diz se levantando e Tov a segue.

    Kadrahan está com olheiras, sua barba por fazer, os cabelos desgrenhados e sua roupa não está nas melhores condições.

    Quando Rius e Tov não estão mais presentes, ele caminha apressado até mim, mas para de pé ao lado da cama quando lanço um olhar de advertência para ele.

    - Obrigada por ter me curado. –começo sem fazer a menor questão de esconder que ainda estou brava. – Você obviamente teve muito trabalho dessa vez, mas isso não significa que já te perdoei por ter gritado comigo e se está esperando um pedido de desculpas por eu ter te deixado, pode esquecer. Não me sinto nem um pouco inclinada a pedir desculpas por algo que não...

    Minhas palavras morrem em minha boca quando ele se ajoelha na cama, se inclina e me beija desesperadamente. Como se temesse que eu fosse desaparecer a qualquer momento. Tento não corresponder, mas a minha resistência não dura nem um segundo. Logo o estou beijando com o mesmo ardor e paixão que ele. Enrosco meus braços no pescoço dele e o puxo para mim mais uma vez sem parar para pensar no que estou fazendo. Seus braços me envolvem em um abraço apertado e ele desgruda os lábios dos meus e passa a beijar todo o meu rosto. Meu queixo, minhas bochechas, minha testa...

    - Você nunca foi boa em pedir desculpas... –ele diz entre um beijinho e outro. – Quando te vi com o rosto desfigurado e sangue jorrando pelo ferimento no seu ombro... Achei que já era tarde demais e...

    E? Mas ele não conclui a frase. Apenas se cala e acomoda seu rosto na curva do meu pescoço. O que me deixa extremamente irritada e o afasto bruscamente.

    - Estou bem. –digo com firmeza. – Aquela bruxa só me pegou desprevenida.

    - Bruxa? –ele me encara interrogativamente.

    Conto a ele a mesma versão que contei a Vanshey. Não quero discutir sobre Myris e meu envolvimento no sequestro agora. Não quando ele acabou de me beijar com tanta paixão. Só acrescento que Rius não reconheceu o nome da bruxa.

    - Também não reconheço o nome. –ele diz pensativo. – Mas você está certa. Há uma grande chance de ela ter sido a responsável pelo ataque que vocês sofreram no penhasco. Só não entendo porque ela perdeu mais uma oportunidade de te matar, já que você estava tão ferida.

     - Ela teria me matado se... –ele arqueia as sobrancelhas e me dou conta que quase cometi o erro de falar demais. – Se eu não tivesse conseguido arremessar umas de minhas lâminas na barriga dela.

    Kadrahan me olha atentamente como se pudesse ver através de minha mentira, mas não diz nada quanto a isso.

    - Devemos partir ainda hoje! –ele diz de volta ao seu tom autoritário de sempre. - Não me importo com o que Niklaus ou a rainha Nira digam. Não é seguro para ninguém permanecermos aqui. Vasculhamos por todos os cantos da cidade e embora não tenhamos encontrado nada, isso não quer dizer que ela não voltará.

    Epa! Esqueci-me de informar algo a ele.

    - Kadrahan... –começo com uma voz doce, mas ele me interrompe.

    - Não!

    - Você nem sabe o que vou pedir! –argumento com minha irritação crescendo.

    - Você sempre usa essa voz doce quando quer me pedir algo que sabe que não vou concordar! E seja lá o que for, a resposta é não! –ele declara resoluto.

    Khrratz! É difícil argumentar com alguém que te conhece tão bem. Sem outra alternativa, decido ir direto ao ponto.

    - Niklaus irá seguir viagem conosco. –falo em um fôlego só.

    Ele se levanta da cama como se tivesse levado um soco no estômago.

    - O quê? –a fúria já familiar que o domina toda vez que Niklaus é envolvido, volta com força total. – Não! De jeito nenhum! Não mesmo! Isso está completamente fora de cogitação!

    - Niklaus é um feiticeiro, Kadrahan! –conto a ele sem rodeios. – E ele vai conosco quer você queira ou não!

    A palavra feiticeiro despertou o interesse dele e ele passa as mãos pelos cabelos analisando a nova informação. Depois de alguns minutos em silêncio, ele diz:

    - Niklaus pode até vir conosco, mas não prometo não matá-lo pelo caminho!

    Dito isso, ele deixa o quarto com sua fúria exalando por todos os poros.

    Tenho muitas coisas para refletir, mas só farei isso quando estiver com a barriga cheia. Recebo Beah com um enorme sorriso quando ela entra logo após a saída de Kadrahan com uma enorme bandeja de comida variada e apetitosa.

    Passamos o restante da tarde fazendo preparativos para partirmos tão logo amanhecer. Kadrahan não ficou nada satisfeito por termos que passar mais uma noite no palácio, mas Eres o convenceu que ainda havia muito a ser feito antes de voltarmos a nossa jornada. Reabastecemos nossas provisões e mesmo evidentemente contrariado, o general se viu obrigado a aceitar o armamento moderno que Niklaus nos ofereceu. Armamento que estou louca para conferir com as minhas próprias mãos na primeira oportunidade que tiver. Rius, Vanshey, Tov e até mesmo o escorregadio Dras viraram a minha sombra e praticamente não me deixam sozinha. E é com eles ao meu encalço que retorno a oficina do senhor Élor pouco antes do fim do dia.

    - Voltou com mais companheiros agora, menina! –o velho nos presenteia com seu sorriso amarelo nos dentes que ainda lhe restam assim que nos vê. – Esperem aqui. Vou buscar suas encomendas.

    Meus olhos brilham em antecipação imaginando que tipos de armas eu encomendei. Vanshey perambula pela oficina claramente impressionado com todas as magníficas armas expostas. Rius por sua vez não poderia estar com uma expressão mais entediada. Tov anda de um lado para o outro muito mal humorado por não poder usar suas asas enquanto Dras está tão deslumbrado quanto Vanshey com tudo o que está vendo.

    O velho Élor finalmente volta depois do que pareceram minutos intermináveis e me entrega uma bolsa pequena de couro.

    - Pronto! Agora todas estão devidamente lustradas! –ele me informa satisfeito.

    Sem entender, viro o conteúdo da bolsa sobre a mesa mais próxima que encontro. Tudo o que vejo são pequenos cilindros, triângulos, quadrados e outras peças minúsculas de metal.

    - Velho! Que raios de brincadeira é essa? –meu aborrecimento não poderia ser mais evidente. – Onde estão as armas que encomendei?

    - Isso é tudo o que encomendou. Não está faltando nada! –ele me responde com impaciência. –Agora vão todos embora! Você me pagou antecipado, mas não bem o suficiente para que eu tenha que oferecer uma bebida a todos vocês! Já estão atrapalhando meu trabalho!

    E é nesse momento que Dras escolhe derrubar uma fileira de lanças e espadas que estão em um canto da oficina. Em menos de um minuto somos todos enxotados porta a fora mais uma vez.

     - Dras bonzinho, Mestra! Foi sem querer, Mestra!

    - Está tudo bem, Dras! –Vanshey o acalma. – O velho ia nos enxotar de sua oficina de qualquer jeito.

    - Zarmey! Khrratz! –e isso é só o começo dos meus xingamentos. – Que raios de parafusos são esses e para que servem?

    - Não parecem parafusos. –Vanshey examina atentamente algumas das peças que tenho em minha mão.

    - De fato são armas. –Rius finalmente se pronuncia muito solícita. – Ao menos você consegue transformá-las quando quer.

    - E como faço isso?

    - Não tenho a menor ideia.

    Bufando de raiva, saio caminhando na frente deles, mas me detenho na porta do estabelecimento de doces. Preciso estocar doces para a viagem.

    Depois do jantar, em uma das muitas salas de visitas, adornadas com inúmeros quadros de pinturas sem graça, todos agradecemos a hospitalidade da rainha em nos receber, mas ela não nos dá muita atenção. Não sei que desculpa Niklaus inventou para a explosão, mas obviamente nosso grupo não é mais suspeito e faço uma anotação mental para questioná-lo depois sobre isso. A rainha por sua vez, nos dispensa sem a menor cortesia e mais uma vez consegue arrastar Vanshey para um passeio noturno pelo jardim, o que deixa Rius furiosa.

    - O quê? Ela além de não se desculpar por suspeitar de nós, ainda arrasta o meu Vanshey para o escuro do jardim? –me esforço para esconder que estou me divertindo com a cena. – Se ela se atrever a colocar as garras nele, vou mostrar a ela o que são garras de verdade!

    - Por que não vai vigiá-los de novo? –incentivo.

    - Não vou te deixar sozinha, Aédris! –ela diz sem tirar os olhos da porta por onde Vanshey e a rainha acabaram de sair. – Além do mais aqueles dois podem acabar se matando e não quero perder isso por nada. E também não quero que você se intrometa entre eles!

    Kadrahan e Niklaus estão de pé em um canto afastado da sala sem dúvidas nenhuma discutindo em voz baixa.

    - Por mim que se matem! –digo tentando parecer indiferente.

    - Sei... –ela fala nada convencida pelas minhas palavras. – Tov, Dras! –ela não esconde a alegria ao vê-los entrando na sala. – Para o jardim agora! E não tirem os olhos deles nem por um segundo!

    Os dois correm para o jardim sem precisarem de maiores explicações.

    Decido que está na hora de saber o que Kadrahan e Niklaus tanto conversam, mas eles encerram seja lá qual for o assunto, no momento que Rius e eu nos aproximamos deles.

    - Amor, estava aqui dizendo ao meu estimado amigo sobre nossos planos de fazer dessa viagem uma espécie de lua de mel antecipada. –o sorriso cafajeste não deixa os lábios dele mesmo enquanto bebe um gole de vinho de sua taça.

    Kadrahan o olha como se estivesse pensando em uma maneira de assassiná-lo de forma lenta e torturante. E com uma voz ameaçadora, ele diz:

    - Niklaus, não me importo com o que você seja, lhe garanto que minha paciência com suas piadas está se esgotando.

    - E por que tem tanta certeza que são piadas?

    Chegou o momento de interferir.

    - Se nos dão licença, Niklaus e eu precisamos conversar em particular. –sei que não foi a melhor saída, mas Kadrahan está merecendo.

    O olhar que ele me lança me diz que essa viagem passará a ser no mínimo mais divertida, ao menos em minha opinião, penso deixando que um sorriso tome conta de meus lábios.

    Quando estamos no amplo saguão do lado de fora da sala e sem ninguém por perto, Niklaus é o primeiro a falar:

    - Amor, o que acha de passarmos a nossa última noite de conforto no aconchego de meu quarto? –ele realmente não desisti.

    - Acha mesmo que vou permitir que você nos acompanhe sem fazer um juramento?

    Ele suspira com um falso ar de derrotado.

    - Eu realmente tinha esperanças que você se esquecesse desse pequeno detalhe. –seu sorriso paira no ar.

    - Jure Niklaus! –exijo com rispidez.

    - Eu juro, em nome das Sete Luas e Suas Divindades, que lhe direi tudo o que sei, no momento que julgar apropriado.

    - Não vou aceitar um juramento vago assim! Jure de forma especifica!

    - Isso é tudo que conseguirá de mim, amor. –agora ele ostenta um sorriso arrogante e presunçoso. – É pegar ou largar.

    Nos encaramos por longos minutos e por mais que isso me enfureça, sei que não vou conseguir nada além disso. Aceno para ele em concordância, embora nada satisfeita.

    O sorriso triunfante que ele faz questão de exibir, só serve para me deixar furiosa. Dou as costas a ele e sigo para o meu quarto. Quero aproveitar minha última noite no palácio em um longo banho de banheira.

    Já no alto da escadaria de piso branco, olho para trás e vejo que Kadrahan se juntou a Niklaus no saguão. Certamente veio conferir se estou indo sozinhapara o meu quarto.    

    Pouco antes do amanhecer, quando estou pegando as roupas do baú do meu quarto de vestir, encontro um livro com capa de couro e que aparenta ser muito antigo. Folheio ele rapidamente e também sou capaz de ler os vários idiomas ali escrito. Aparentemente o meu único problema é com a escrita do idioma de Tatris. Pego o livro e o guardo junto com as coisas que estou levando. Algo me diz que ele é importante.

    Ao sair do meu quarto de vestir, o meu queixo literalmente escancara de surpresa ao ver Rius me esperando no quarto principal. Ela está trajando uma calça bege, com botas marrons e uma delicada blusa amarela clara e sem mangas. Seus cabelos estão presos em uma longa trança e presa a um cinto em seu quadril, há uma adaga de lâmina negra.

    - Não precisa fazer essa cara! –ela diz. – Até eu reconheço que não é nada prático cavalgar de vestido!

    - Cavalgar?

    - Decidi que quero passar a maior parte possível do tempo em minha forma humana. –e eu bem sei o motivo, penso enquanto sorrio. – Mas não se preocupe, consegui dois ótimos cavalos para nós.

    Não discuto. Teremos longas noites pela frente onde será a minha vez de atormentá-la.

    Uma vez lá embaixo, toda a nossa tropa já nos aguarda a entrada do Palácio Branco. Kadrahan já está em Ônix, Vanshey logo ao seu lado com Dras, assim como todos os outros. Niklaus está em seu cavalo de pelagem marrom e ao seu lado em um cavalo branco, está um de seus homens da guarda real, que sem dúvidas irá acompanhar seu príncipe com o dever de protegê-lo. A nossa espera, dois cavalos, um cinza e um negro, estão selados próximos a escadaria de acesso ao palácio. Arrumamos nossas coisas neles e subimos e nossos novos animais. E não tenho dúvidas que são mais resistentes e velozes do que o cavalo que ganhei de Seliares em Zaira. Esse chegou a Ismirsha já exausto e com certeza não aguentaria a longa viagem que ainda temos pela frente. A rainha se despediu de todos e do irmão a mesa do café, mas não fez questão de nos acompanhar até o lado de fora e Rius ficou muito satisfeita por isso.

    A medida que seguimos pela avenida principal, muitas pessoas estão nas calçadas e nas várias pontes de vidro entre os edifícios para desejarem boa viagem ao seu príncipe. Com certeza estão acostumadas a o verem partir em suas muitas viagens e apesar do seu jeito despreocupado e aparentemente irresponsável, seus súditos o idolatram.

    Uma sensação desconfortável cresce em meu peito enquanto vou deixando as ruas de Ismirsha para trás. Suas construções modernas, seu povo sempre apressado e seus doces deliciosos me farão sentir saudades desse lugar. Que Kadrahan não me ouça, penso sorrindo comigo mesma.

    Ao passarmos pela muralha, todos os arqueiros fazem uma saudação de despedida formal ao seu príncipe e Niklaus responde a eles com grande respeito por seus homens.

    Quando finalmente deixamos a muralha que protege o Reino de Ismirsha para trás, o primeiro sol já surgiu no horizonte e passamos a correr, mas não na velocidade que estamos acostumados. Tov ainda não pode voar e sei que Kadrahan ordenou a tropa a irmos em um ritmo menos acelerado para que ele possa nos acompanhar sem muitas dificuldades. E todos estamos atento ao meu pequeno herói. Ao menor sinal que ele precisa de descanso, não hesitaremos em fazer uma pausa, mas minha ferinha é orgulhosa e ele faz questão de correr a frente de toda a tropa.

    A paisagem não demora muito e vai se tornando mais seca e árida à medida que estamos nos aproximando do Deserto de Ossos, mas estranhamente sinto um cheiro de terra molhada no ar. Paramos mais vezes ao longo do dia do que o de costume e Niklaus e eu nos revezamos nos cuidados com a asa de quebrada de Tov. Ele entende mais no trato de animais do que eu e aprecio cada ensinamento que ele me passa. Kadrahan evidentemente não gosta de nossas interações, mas mantém certa distância. Sei que precisamos conversar sobre muitas coisas, mas ainda não é o momento e o evito sempre que possível.

    Ao fim do dia, quando falta pouco para o segundo sol se por, uma surpresa nos aguarda. Estamos nos aproximando de uma ponte estreita ao longo de um enorme precipício, mas mesmo a distância vemos que a passagem está sendo barrada por um grupo de dez homens em seus cavalos. Os homens de nossa tropa imediatamente ficam com suas armas em punho, mas Kadrahan faz um sinal para eles abaixarem as mesmas.

    - Velhos conhecidos? –questiono, mas ele não se dá ao trabalho de me responder.

    - Khrratz! –ouço Rius xingar pela primeira vez em voz alta a minha direita.

    Kadrahan faz mais um sinal e toda a nossa tropa para no mesmo instante. Os homens a nossa frente sem dúvidas nenhuma são guerreiros, pois estão usando armaduras e estão armados dos pés a cabeça. O maior deles, o que parece ser o líder, desmonta do cavalo e os outros fazem o mesmo. Kadrahan também desce de Ônix, e eu, Rius, Vanshey, Niklaus e Entur também descemos de nossas montarias e o seguimos ao encontro dos desconhecidos. Eres e os demais permanecem em seus cavalos prontos para um ataque se for preciso.

    Quando nossos grupos estão a menos de cinco metros de distância um do outro, consigo observar melhor o líder. Ele é uma montanha de músculos, é mais alto que Kadrahan, sua pele é bronzeada, seus cabelos castanhos e ondulados chegam na altura do ombro. Seus olhos são castanhos, possui um cavanhaque aparado e uma expressão de fúria domina seu rosto. Ele definitivamente parece um selvagem que com certeza causa medo em todos com um simples olhar, mas Kadrahan não se deixa intimidar e eu muito menos. A muralha andante irradia poder e força e acima de tudo um orgulho nato de quem não teme a ninguém.

    O que me causa uma surpresa ainda maior, quando de repente o gigante se curva sobre um dos joelhos levando a mão direita em punho fechado ao coração em uma estranha reverencia e é seguido pelos demais membros de seu grupo. Olho para os lados e vejo que Kadrahan e Rius imitaram seus gestos.

    Epa! Isso só pode significar uma coisa!

    Estou para dar voz a minha pergunta, quando a muralha em forma de homem se levanta e quase me esmaga em um abraço de urso sem me dar tempo de reagir.

    Com dificuldade, me livro de seus braços de rochas e me afasto.

    - Quem você pensa quem é para me tocar assim? –questiono mesmo sendo obvio que ele me conhece.

    - Náyshilah, você não me reconhece? –sua voz mais parece um trovão e por um instante vejo mágoa em seu olhar, mas logo ira toma conta do gigante e ele avança na direção de Kadrahan o segurando pela gola de sua camisa. – O que você fez com a minha irmã, Kadrahan? –ele grita em sua voz de trovão.

    Irmã? Tudo está ficando cada vez mais interessante...

    E aí amigos leitores? O que acharam dos novos personagens?  O que acharam do capítulo? Comentem e não se esqueçam de nossa amiga estrelinha rsrsr

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