Capítulo 12
Já perceberam que adoro madrugadas, né? Então nem vou falar nada a respeito rsrsrs. Espero que gostem desse capítulo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo. A imagem que abre o capítulo é do Príncipe Niklaus, espero que gostem dele também. Admito que ele está um tanto irritante e até mesmo chato nesse capítulo, mas há muito escondido por trás de sua máscara de arrogância. Esperem para ver nos próximos capítulos. Comentem, convidem os amigos e não se esqueçam de votar. Beijos e até logo meus amigos leitores ^_^
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Ele me olha com apreensão, mas ao mesmo tempo com certa frieza. Não tenho dúvidas que está calculando quais mentiras e verdades deve ou não me contar. E isso me irrita ainda mais.
- FALE! –grito novamente.
A raiva dentro de mim está beirando o ponto de ebulição.
Khrratz! A taverna inteira está de fato tremendo. Ouço o barulho de louças indo ao chão, as luzes das velas no candelabro no teto tremeluzem, as paredes parecem ondular, poeira cai em nossas cabeças, pessoas estão aflitas tentando se equilibrarem sobre seus pés. Eu realmente estou provocando isso tudo?
- Lute comigo. –Lorde Kadrahan diz conseguindo me surpreender.
- O quê?
- Lute comigo. –repete ele. – Se me vencer, te darei algumas respostas.
O tremor ao meu redor diminui a intensidade. Provavelmente a surpresa e a confusão que as palavras dele me causaram amenizaram um pouco a minha raiva. Apenas um pouco. O suficiente para eu me dar conta que não quero machucar pessoas inocentes. O único que pretendo machucar é ele. E muito.
- Lá fora. –É tudo o que digo.
Me viro em direção a saída e as pessoas abrem caminho para eu passar. Estou furiosa. Tão furiosa que quase não enxergo as pessoas a minha volta. Sei que ele me segue, mas não olho para trás.
Uma brisa fria sopra o meu rosto quando saio da taverna fazendo meus cabelos voarem ao vento. Normalmente o frescor de uma brisa acalmaria meus nervos em uma noite tão quente como essa, mas duvido que qualquer coisa possa me acalmar no momento. Duvido que até mesmo as respostas que tanto anseio possam fazer com que minha raiva seja subjulgada. Agora a única coisa que me trará a paz é sangue. Sangue dele.
Paro no meio da rua e ele logo a minha frente a uns três metros de distância. Uma multidão forma um círculo ao nosso redor. Não é muito inteligente da parte deles. O chão voltou a ficar estável, mas não é porque a minha raiva se extinguiu. Não sou capaz de explicar, mas de alguma forma sei que o poder que antes fazia o mundo tremer agora está totalmente concentrado em mim, em meus punhos.
Tiro o arco e minha aljava das costas e os jogo para um lado no chão ficando apenas com minhas cimitarras em punho. Assumo uma posição de ataque. Pernas levemente flexionadas, a esquerda na frente, a direita atrás e meu tronco um pouco virado de lado. Meu braço esquerdo elevado a altura do rosto com a minha lâmina em posição defensiva, enquanto o direito está mais abaixo e para trás, pronto para um ataque e ao mesmo tempo defendendo o meu dorso. Sinto minhas veias latejarem em minhas têmporas e no meu pescoço.
Ele tira sua espada da bainha, faz alguns movimentos aleatórios, mas mantém uma postura relaxada. Em seu rosto, os cantos de seus lábios se elevam quase imperceptivelmente. O cretino está achando graça de tudo isso.
- Quando eu vencer, terá que me dar todas as respostas, não apenas algumas. –esbravejo entre dentes.
- Para exigir qualquer coisa, terá que me vencer primeiro. –ele diz com uma calma e confiança que me irrita cada vez mais.
Parto para cima dele com toda a minha fúria, mas ele simplesmente se esquiva de meu ataque girando o corpo com uma velocidade extraordinária e atinge a minha lateral esquerda com o cabo de sua espada. Por um momento fico sem ar, pois o golpe atingiu com muita força o meu pulmão e não sei como não quebrou minhas costelas. Ele não me dá tempo para me recuperar e me passa uma rasteira fazendo com que eu caia de costas no chão perdendo o pouco de ar que me restava. Sua espada vem para cima de mim, mas no último segundo rolo meu corpo para o lado. Dessa vez ele espera eu me levantar. Ele não está levando a luta a sério, está simplesmente brincando comigo.
Desfiro golpes e mais golpes, mas ele parece ser capaz de prever cada movimento meu e sempre se esquiva com enorme facilidade. Então uma revelação alcança meu cérebro entorpecido pela raiva. Já fizemos isso antes. Já lutamos antes e com certeza diversas vezes. É por isso que ele conhece todos os meus golpes e isso só me deixa com mais raiva. Mas lutamos um contra o outro como inimigos ou lado a lado como aliados? Não sei se quero saber a resposta para essa pergunta.
Vejo a espada dele novamente vindo em minha direção e me esquivo. A lâmina letal passa zunindo perigosamente ao lado do meu ouvido direito. Tenho certeza que terei meu braço decepado, mas no último segundo ele vira a espada atingindo o meu ombro com a parte plana da lâmina. A dor é insuportável. Não tenho dúvidas que desloquei meu ombro com o golpe. Entretanto não paro para pensar na dor e dou um chute em seu joelho esquerdo com toda a intenção de quebrá-lo, mas novamente ele se antecipa e recua a tempo de evitar ter seus ossos quebrados.
Ignoro a dor no meu ombro e uso todo poder que sinto em mim em um ataque direto, com as cimitarras cruzadas a minha frente, mas ele ampara o golpe com sua espada. Sua força é impressionante. Iguala-se a minha. E isso só pode significar...
- Você também é um Guerreiro Darätzsalah! –acuso furiosa.
Kadrahan não me responde, mas também não nega. Em sua face, vejo uma máscara de indiferença, mas algo em seu olhar trai suas emoções. Algo o preocupa. Mais precisamente algo que ele não quer que eu me lembre. O xingo a pleno pulmões de todos os palavrões que consigo lembrar em meu vasto vocabulário. Ele apenas ergue as sobrancelhas e suspira alto.
- Aédris, você não tem ideia do quanto me irrita quando usa palavras de tão baixo escalão como essas. –ele realmente parece irritado agora.
A força que usa em sua espada aumenta e sou obrigada a dar um passo para trás recuando. Todos os meus músculos já estão doendo pelos esforços contínuos. Acabo me desequilibrando e ele se aproveita para desferir outro golpe. Um chute que atinge a lateral de minha coxa esquerda me levando ao chão novamente. Para o meu azar, literalmente encontro uma pedra em meu caminho e minha cabeça vai de encontro a ela. Sangue escorre imediatamente do alto de minha testa no lado esquerdo, mas com uma agilidade que surpreende até a mim mesma, levanto rapidamente, faço menção que irei para um lado, mas no último instante recuo, faço um giro completo e finamente consigo atingi-lo em seu braço esquerdo, cortando-lhe a carne com a lâmina de minha cimitarra. Para a minha sorte e azar dele, ele não está usando sua armadura, o que torna a luta mais justa, em certos aspectos. Ele nem sequer lança um único olhar para o braço ferido, como se não passasse de um arranhão, ao invés de um corte que com certeza precisará de muitos pontos.
Estou cada vez mais ofegante e o suor causado pelos movimentos incessantes da luta, faz com que a minha roupa se grude a minha pele. Preciso acabar logo com isso. Pois enquanto a luta com o líder dos mascarados me fez ansiar pelo fervor dos campos de batalha, com uma saudade quase eufórica, essa me traz um sentimento muito incomodo que não consigo descrever.
O poder que antes eu sentia em mim, capaz de causar um terremoto, em algum momento me abandonou. Agora sou apenas eu e minha força Darätzsalah. A mesma força que ele também tem.
Avanço novamente para cima dele com as duas cimitarras erguidas. Ele consegue bloquear o golpe, mas sua espada vai parar no chão. Aproveito que ele está desarmado e uso toda a minha força em uma sequência de golpes cruzados com minhas cimitarras. Entretanto, ele consegue se esquivar de todos com extrema eficácia. Ele é surpreendentemente ágil para alguém do tamanho dele. Então com um chute rápido e certeiro, ele consegue atingir meu braço que está com o ombro machucado e acabo largando uma de minhas lâminas. No momento seguinte, ele torce meu punho e perco minha outra cimitarra. De alguma forma acabo desarmada e presa em seus braços.
Sou mais baixa, mas ele comete o erro de inclinar a cabeça para falar comigo.
- Aédris... –ele começa a dizer, mas dou uma cabeçada nele que faz sangue escorrer de seu nariz.
Porém seu abraço que mais parece grilhões de aço ao meu redor, não cede um centímetro em seu aperto. Só me resta uma coisa a fazer. Dou-lhe uma joelhada no meio das pernas. Ele me solta e cai de joelhos no chão. Sem perder tempo, preparo outra joelhada em direção ao seu queixo, mas ele bloqueia com seu antebraço esquerdo e com a mão direita puxa meu tornozelo e mais uma vez me vejo no chão. Antes que possa reagir, ele está sobre mim, usando todo o seu peso para me manter presa ao solo.
- Foi um golpe sujo até mesmo para você, Aédris! –Kadrahan me censura com raiva em seu olhar.
- O que foi? Está irritadinho porque não foi capaz de prever o meu golpe especial? Ou teme que eu tenha comprometido a sua capacidade de gerar herdeiros reais? –provoco enquanto tento em vão me livrar dele.
Sua expressão é indecifrável. Ele olha diretamente em meus olhos e por um momento me esqueço porque estamos lutando perdida no verde de seus olhos.
- Isso vai doer. –ele diz de repente. – Me desculpe.
- O que vai...
Com um movimento rápido e preciso, ele coloca o meu ombro no lugar.
- Ahhhhhhhh! –grito entre os dentes trincados.
Kadrahan se levanta e estende a mão para me ajudar a ficar de pé. Aceito, mas em um movimento brusco, torço o braço dele, dou um giro e acerto o queixo dele com o cotovelo. Ele se desequilibra momentaneamente, mas se recupera a tempo de bloquear um chute em direção a suas costelas.
Tento acertá-lo com outros movimentos, mas ele consegue bloquear todos os meus chutes, socos e cotoveladas. Segue apenas se defendendo, sem tentar me acatar de novo, enquanto estou ofegante e mais cansada. Por fim, ele torce meu braço atrás de minhas costas ao mesmo tempo em que seu braço direito se fecha entorno do meu pescoço me sufocando.
- Essa luta já acabou, entendeu? –ele diz em meu ouvido. – E você não venceu.
- Desgra... –o aperto em meu pescoço se intensifica me impedindo de continuar.
- Se te serve de consolo, você já me venceu antes. –sua voz é baixa e provocante. –Mas estava com muito mais raiva do que agora.
Ele me solta e caio de joelhos no chão lutando para trazer ar aos meus pulmões. Kadrahan desaparece em meio à multidão rumo à hospedaria. Eu perdi a luta, mas ao meu redor todos me olham com admiração e respeito. Alguns até mesmo batem palmas e outros gritam me parabenizando ou dizendo palavras de incentivo. Acho que não associaram que sou a responsável pelo tremor de agora a pouco ou simplesmente preferiram ignorar. Vanshey e Eres correm ao meu encontro para me ajudar. Rius e nem Dras estão ao alcance de minha vista.
Sou levada de volta a taverna onde recebo uma farta refeição por conta da casa enquanto os homens de nossa tropa se satisfazem com doses de Hyon. Vanshey está visivelmente preocupado com o ferimento em minha testa, mas uma meretriz que está claramente tentando agradá-lo, se oferece para cuidar do meu machucado. Tanto ele quanto Eres, não fazem nenhum comentário a respeito da luta ou do que ouviram. Respeitam o meu silêncio. Eres logo gesticula para os guerreiros deixando evidente que já chega de diversão e que todos devem dormir enquanto podem, já que partiremos pela manhã bem cedo.
Vanshey me acompanha de volta a hospedaria até a porta do meu quarto.
- Tome outro banho e descanse. –ele diz. – Se precisar de algo ou quiser apenas conversar, sabe onde me encontrar.
- Obrigada, Vanshey.
Por um estante, ele apenas fica parado a minha frente olhando profundamente em meus olhos. Sei que há muitas coisas que ele deve querer me perguntar, mas deve ter chegado a conclusão que com certeza nem eu mesma sei as respostas dessas perguntas, pois apenas acena com a cabeça e vai para seu quarto.
Quando fecho a porta, encontro Tov dormindo novamente na cama de Rius e um papel dobrado sobre a minha cama. Desdobro o papel e leio o bilhete escrito em darätzsalah:
"Lek fieshii ruosian Ismirsha. Dras oh derim seh. Ferum güshilah heïkkishaah.Yass teris derim réehritz shiguis. Shileirissh derim Larcan. Dêss ri suhialah vius krïaatz naani vres jaìi sioh. Uzz, Rius."
"Já parti em direção a Ismirsha. Dras está comigo. Nos reencontraremos amanhã. Pegue carona com o idiota teimoso. Nunca com o Larcan. Você só perdeu porque não queria realmente machucá-lo. Beijos, Rius."
Muito conveniente ela partir sem se despedir. A covarde está fugindo de mim outra vez, ou melhor, está fugindo de minhas perguntas. Não tenho dúvidas que ela sabia que o "réehritz shiguis" e eu nos conhecemos há muito tempo. Vou esganá-la assim que reencontrá-la amanhã.
Depois de tomar outro banho e colocar roupas limpas, agora uma confortável calça preta de algodão e uma camisa também preta e sem mangas, tento dormir, mas apesar de já ser muito tarde, não consigo. Estou à janela do meu quarto admirando a lua verde e o céu estrelado, quando ouço o barulho da porta.
- Não sabe que deve bater antes de entrar? –pergunto sem me virar.
- Se não queria que eu entrasse, deveria ter deixado a porta trancada. –diz Kadrahan com a voz cheia de presunção.
- E quem disse que é por você que estou esperando?
Os passos as minhas costas param de repente. Sorrio satisfeita comigo mesma.
- Então estou atrapalhando a sua diversão noturna? –a acidez em seu tom é indiscutível.
- O que você quer, Kadrahan? –pergunto enquanto finalmente decido encará-lo. –Já que tenho certeza que não está aqui para responder as minhas perguntas.
Ele se aproxima. Está perigosamente perto de mim. Sua mão direita se eleva e ele afasta meus cabelos da testa.
- Não precisou levar pontos? Já passou algum remédio?
Afasto a mão dele com um tapa.
- Então é isso? Veio conferir os estragos que fez em mim? –minha raiva ameaça voltar a superfície.
- Isso aí não foi culpa minha. –ele parece realmente acreditar no que diz.
- Ah, não? E quando deslocou o meu ombro? Também não foi culpa sua?
- Eu poderia ter arrancado seu braço do lugar, se quisesse.
- E o golpe que quase quebrou as minhas costelas? –falo cada vez mais alto. – Ou o chute em minha coxa que me fez ir de encontro aquela pedra?
- Você me odiaria ainda mais se eu não a tratasse como igual.
Isso é verdade, mas não vem ao caso.
Suspiro resignada e me viro para voltar a admirar o céu. Apoio os cotovelos na janela e tento me acalmar. Não quero provocar outro terremoto.
- Logo a Lua Azul surgirá no céu. –digo mudando de assunto. – Ela se juntará a Lua Verde e teremos além do Deus Luohrik também a Deusa Náahtris nos abençoando nessa jornada.
Kadrahan se junta a mim e fica ao meu lado na janela. Nossos braços se tocando. Sei que isso não é uma boa ideia, mas não saio do lugar.
- Desculpe-me por lhe impor a lutar comigo. –ele diz depois de alguns minutos em silêncio. – Mas você precisava descarregar a sua raiva de alguma forma e foi única coisa que me veio a mente que não iria ferir pessoas inocentes.
- Dizer a verdade também teria ajudado. –respiro profundamente buscando calma.
Mais silêncio.
- Fui levado da minha mãe pouco antes de começar a vida escolar. –ele começa com a voz baixa.
Não acredito! Ele realmente vai me contar alguma coisa? Agora ele tem a minha total atenção.
- Entur me contou até essa parte. –digo.
Ele parece não se importar por Entur ter me contado e continua:
- Você deduziu corretamente. Também sou um Guerreiro Darätzsalah e os homens que me levaram pertenciam ao clã do meu pai. Os anos que estive fora, fui criado por ele. –Kadrahan está olhando para lua enquanto diz: – Você é a Líder dos Darätzsalah e é assim que nos conhecemos. Devo minha lealdade a você.
Endireito o corpo e fico de frente para ele.
- Não espera realmente que eu acredite que isso é tudo, espera?
- Isso é tudo o que deve saber. –ele continua apoiado no batente sem me encarar nos olhos.
- Por quê? Também fez promessas em nome das Sete Luas e Suas Divindades? –pergunto exasperada.
- Não fiz promessa nenhuma. –ele balança a cabeça negando. – Apenas fiz uma escolha de não lhe contar mais nada.
Tenho vontade de acertar um soco em sua bela cara diante dessas palavras. O nariz dele nem ficou inchado com a cabeçada que dei mais cedo. Talvez um soco bem dado possa resolver isso. Aperto meu punho tão forte, que sinto os nós dos meus dedos doerem, mas então algo mais vem a minha mente e meu rompante de raiva se esvanece em um segundo.
- Você desviou a nossa rota original de propósito. – digo. – Para que eu pudesse ver as montanhas coloridas. Você sabia que o Dras iria me mostrá-las.
- Foi apenas um pequeno desvio e você sempre adorou cores. –seus olhos estão perdidos em alguma lembrança enquanto olha o céu estrelado. – Se pudesse ter visto a sua expressão maravilhada diante das cores das montanhas...
- Você estava lá? Me espionando?
- O deslumbramento em seu rosto, você estava tão...
Ele diz isso com um sorriso. Um sorriso amplo e verdadeiro. O primeiro sorriso genuíno que vejo desde que nos encontramos no palácio. Por todas as luas! Estou seriamente encrencada!
Kadrahan nota que estou observando ele e seu sorriso desaparece no mesmo instante. Então assume a sua postura rígida de sempre e diz:
- É melhor eu ir. Amanhã partiremos bem cedo para Ismirsha. Tenha uma boa noite.
Ele caminha até a porta e já está com a mão na maçaneta, quando vira de repente e com passos longos e rápidos diminui a distância entre nós. No segundo seguinte seu braço esquerdo enlaça a minha cintura, me puxando para junto de si até que não haja nem mesmo um centímetro entre nossos corpos, enquanto sua mão direita segura a minha nuca em um beijo ardente. Não perco tempo pensando e também entrelaço meus dedos em seus cabelos o puxando ainda mais para mim. Nosso beijo é cheio de paixão, nada delicado e muito faminto. Sinto como se fossemos queimar até a morte nesse beijo e mesmo assim nada mais me importa a não ser sentir o gosto de seus lábios nos meus. Sinto toda a sua força através desse beijo e quero mais, muito mais. Em algum lugar da minha mente, sei que há algum motivo para eu interromper o beijo, mas sou incapaz de lembrar a razão. Não quero que o beijo termine nunca. Então ele interrompe o beijo quando ambos já estamos sem fôlego. Vejo confusão em seus olhos e um certo arrependimento, mas não dura muito, pois ele volta me beijar. Dessa vez de forma suave e lentamente como em uma caricia. Sua mão passeia pelos meus cabelos enquanto seus lábios continuam a me beijar de forma carinhosa. Esse segundo beijo me faz sentir ainda mais perdida que o primeiro, por isso me afasto dele, mas não sem grande esforço.
- Vou deixá-la dormir. Você precisa descansar. – Ele me dá mais um beijo suave e rápido e vai embora.
E simplesmente assim, ele me deixa. Totalmente confusa e sem saber o que pensar.
Já passa do meio dia quando chegamos a Ismirsha. Não peguei carona com ninguém. Consegui arrumar um cavalo em Zaria e nem tive que pagar por ele. A mesma meretriz da taverna, que descobri se chamar Seliares, ficou muito feliz em me presentear com um. Acho que ela estava disposta a qualquer coisa, contanto que eu não precisasse dividir o mesmo cavalo com Vanshey.
Kadrahan e eu não trocamos uma palavra desde que amanheceu. E sei perfeitamente que ele me evitou a todo custo antes de deixarmos a hospedaria. Será que ele irá agir como se não tivesse me beijado? Se ele acha que sim, está totalmente enganado. Isso eu garanto.
Quando chegamos a fronteira de Ismirsha, uma enorme muralha que lembra muito a que existe em Barian, somos recebidos por arqueiros, mas seus arcos parecem muito mais modernos do que os meus. Um deles nos recebe com extrema cortesia e nos informa que o Príncipe Niklaus nos aguarda no Palácio Branco. Kadrahan fica tenso a mera menção do príncipe. Tenho a impressão que vou me divertir muito por aqui.
O Reino de Ismirsha sem dúvidas é pequeno, mas tem seu encanto. As construções em sua maioria são feitas de vidro, como redomas de cristais. E são mais altas do que em outros lugares. Nove, talvez dez andares até. Escadas cruzam de uma construção a outra e há pontes de vidro por todos os lados. Tudo parece muito organizado. As pessoas caminhando nas ruas parecem amigáveis, mas ao mesmo tempo cautelosas na presença de uma tropa como a nossa. Não vejo cavalos ou carruagens e me pergunto como as pessoas se locomovem nesse reino.
Por fim chegamos a uma construção moderna cheia de retângulos sobrepostos com enormes janelas de vidro. Imagino que seja o tal Palácio Branco, já que é a única cor que há ali. Guardas nos aguardam na entrada e somos orientados a deixar nossos cavalos sob os cuidados de cavalariços. Então a tropa inteira adentra o palácio e somos guiados a um enorme salão de teto alto onde obviamente está havendo uma festa.
Cerca de umas quinhentas pessoas circulam no salão. Todas elegantemente vestidas. E todas nos olham com grande curiosidade, já que não estamos vestidos como pede a ocasião. E se meu olfato não me engana, comida da melhor qualidade também deve estar sendo servida. Uma música alegre ecoa por todo ambiente, mas não sei dizer que tipo de instrumento musical produz os acordes que ouço.
Eu realmente já estive em Ismirsha? Tudo é tão novo para mim.
Continuamos seguindo em frente, mas um enorme quadro em um dos cantos chama a minha atenção. Nele está pintado uma bela jovem, usando um vestido justo, longo e de mangas compridas. Mas o que chama atenção na pintura, é que a jovem tem longos cabelos azuis que vão até os seus pés. Ao lado do quadro há uma placa com uma inscrição que leio em voz alta:
- "Náahtris, Deusa da Lua Azul. Simboliza a harmonia e a autoridade." Só sendo uma deusa para conseguir que harmonia e autoridade andem juntas. –comento.
É a primeira imagem que vejo de um dos deuses das sete luas. Será que ela realmente é como na pintura?
- Quer dizer que você ficou em Ismirsha tempo o suficiente para aprender a ler o idioma local? –Kadrahan pergunta com fúria mal contida.
Entretanto, não tenho tempo de responder. Alguém me puxa pela cintura e me dá um beijo. Na boca! Não penso duas vezes antes de acertar o meu melhor soco de direita no atrevido, seja lá quem for.
O burburinho de conversa cessa na hora, a música também para. Como sempre adivinham a hora de parar uma música?
Caído no chão, alisando o queixo, vejo um belíssimo homem de olhar e sorriso sedutor. Seus olhos são negros assim como sua pele cor de ébano. Ele é lindo e sua roupa de gala toda branca com detalhes dourados destaca ainda mais sua beleza.
Mesmo no chão, ele ostenta um sorriso sedutor. Posso não me lembrar do homem em si, mas reconheço esse sorriso cafajeste e sei que não posso me deixar enganar por ele. O homem não presta! É o que a minha mente está gritando.
- Então é verdade? Você realmente não se lembra de mim, amor? –pergunta o Príncipe Niklaus em nosso idioma com um leve sotaque enquanto se levanta e recusando a ajuda de um dos criados.
- Encoste em mim mais uma vez e vou garantir que você se lembre dos meus punhos!
Diante da ameaça, vários guardas se aproximam, mas recuam diante de um sinal de seu príncipe. Pela minha visão periférica, vejo Vanshey e Eres me flanqueando. Kadrahan está próximo e sei que ele é a real ameaça ao príncipe no momento. Posso praticamente sentir a raiva emanando dele.
- Mas eu me lembro perfeitamente de suas mãos talentosas, minha querida, Náyshilah!
Avisto Rius logo atrás do príncipe e ela bate a mão na própria testa, como se só agora tivesse se lembrado de algo importante.
- Náyshilah? NÁYSHILAH? –repito em um tom mais alto e quase histérico. – Mais alguma coisa que devo saber além do meu suposto nome verdadeiro?
Me viro furiosa e encaro Kadrahan.
- Quando vocês vão parar de esconder as coisas de mim? –grito enraivecida.
- Aédris, você precisa se acalmar. –ele diz nem um pouco perturbado. – Tem muito mais pessoas aqui do que na taverna.
Respiro profundamente várias vezes seguidas. Tanto ele quanto Rius ainda precisam me explicar essa questão da minha raiva causar terremotos. Ao menos isso é obrigação deles me dizer.
Niklaus se aproxima e faz menção de segurar a minha mão, mas diante do meu olhar furioso recua um passo e faz uma mesura galante.
- Meu amor, me daria a honra de uma dança? –ele me oferece o braço. – Afinal essa festa é em sua homenagem, para comemorarmos o seu retorno ao lar.
- Retorno ao lar? –pergunto confusa.
- Niklaus... –é tudo o que Kadrahan diz, mas posso sentir a ameaça velada em cada sílaba.
- Meu estimado amigo Kadrahan, não sabe o quanto estou feliz em revê-lo! –cinismo ecoa em cada uma de suas palavras.
- Alteza, acredito que não mereço uma festa em minha homenagem. –digo. Também sei jogar esse jogo. – Mas de qualquer forma agradeço tamanha receptividade.
- Amor, você sempre me chamou de Niklaus e outros apelidos carinhosos. –provoca o príncipe em seu melhor sorriso canalha. – Não vamos começar com formalidades agora.
Estou seriamente tentada a arrancar todos os dentes desse príncipe.
- Se não se importa, alteza, nossa tropa precisa de uma boa refeição, eu inclusive. –digo fazendo questão das formalidades. – Estou faminta, por isso irei recusar seu convite para dança. Preciso me alimentar primeiro.
- É claro, perdoe-me pela falta de percepção. Fiquem todos a vontade. – ele pisca para mim e diz baixinho próximo ao meu ouvido. – Conheço muito bem o seu apetite, amor.
Vou matar esse príncipe atrevido. A única coisa que me impede de fazer isso agora é a possibilidade de arrancar algumas verdades dele. Embora seja difícil eu acreditar em qualquer coisa que ele diga.
- Kadrahan, meu amigo, soube que está noivo da belíssima princesa de Tatris! Não tem ideia do quanto essa noticia me deixou feliz! –ele faz uma expressão teatral de tristeza e acrescenta. – Só sinto que ela no momento esteja na triste situação que se encontra. Mas não perca a fé. Ajudarei com tudo que estiver ao me alcance para trazê-la de volta aos seus braços.
- Eu agradeço. –responde secamente.
- Já que ninguém me apresentou, eu mesmo farei isso. –Vanshey diz dando um passo a frente e apertando a mão do príncipe. – Sou Larcan, filho do Duque de Vanshey, primo da Princesa Myris. Perdoe Lorde Kadrahan, sei que é muito difícil para ele pensar no sofrimento que minha prima deve estar passando. Por isso peço que diga a mim todos os tipos de ajuda que está disposto a nos oferecer.
Eu ouvi direito? Vanshey realmente está intercedendo por Kadrahan?
O Príncipe Niklaus olha para Vanshey com grande desconfiança enquanto é sutilmente conduzido por ele para longe de nós. Então me dou conta. É por mim que ele está intercedendo mais uma vez. Vanshey está fazendo-me o favor de afastar o príncipe atrevido de mim.
Olho ao redor. Todos os guerreiros já se espalharam pelo salão. Rius, é claro, desapareceu novamente entre os convidados. Só Kadrahan ainda está ao meu lado.
- Por que ele a trata com tanta intimidade? –demanda autoritário.
- Por que você não me diz, já que obviamente se conhecem?
Antes que qualquer coisa possa ser dita, o estrondo de uma explosão quase estoura meus tímpanos e Kadrahan me joga no chão protegendo-me com o próprio corpo.
Poeira cega tudo ao meu redor e todos estão gritando.
Por todas as luas, será que nem mesmo posso ter uma discussão sem que alguma catástrofe aconteça?
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