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Capítulo 10

    E domingo finalmente chegou! Eu ia fazer mais algumas revelações nesse capítulo, mas acabou ficando um capítulo gigantesco de verdade, então as revelações ficarão para o próximo. Por favor, não me matem. kkk Só um pouquinho mais de paciência, ok? Quem é a capa desse capítulo é a Rius, espero que gostem dela. Conto com o voto de todos, amo os comentários, me divirto muito com eles. Depois fico rindo à toa sozinha lembrando das coisas engraçadas que comentam rsrsrs Continuem indicando aos amigos. Obrigada por todo o carinho que me dão ^_^

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    - Ela... Ela é uma... Uma garota?! –gagueja Vanshey chocado.

    - Sim, uma garota! –estou tão chocada quanto ele, não sei o que pensar. – Entre outras coisas... –completo.

    Agacho-me ao lado dela examinando superficialmente seus ferimentos. Uma perfuração no abdômen do lado esquerdo e uma boa parte da carne do ombro direito está exposta. Ela não está nada bem. E com patas ou pernas, ela ainda continua sendo minha amiga. Preciso tratá-la o mais depressa possível. Ela está perdendo muito sangue, assim como Lorde Kadrahan. Os dois podem morrer se não forem tratados imediatamente. E nesse momento não tenho nenhum dos meus remédios e não tenho ideia de onde estão as minhas coisas que ela carregava.

    Quando estou a ponto de me desesperar, me sobressalto com um "baque" a minha direita. Minha mochila e minhas duas trouxas foram largadas do céu, quase nos acertando. Olho para cima e vejo Tov com Dras nas costas. Sorrio apesar da situação. Poderia beijar esses dois se não tivesse coisas mais importantes a fazer.

    Começo a agir imediatamente. Não vou poder suturá-la agora, mas preciso estancar o sangue e pego algumas bandagens dentro da trouxa com os remédios.

    Sinto que Tov e Dras pousaram e pela minha visão periférica vejo que foram até Lorde Kadrahan. Bom. Eles ficarão de olho nele por mim. Vanshey ainda está ao nosso lado, mas virou de costas, provavelmente por constrangimento, já que Rius está totalmente nua. Pego uma das minhas túnicas e a cubro da melhor maneira possível enquanto passo a bandagem ao redor da sua cintura.

    Estou enfaixando o ombro dela, quando ouço uma movimentação estranha as minhas costas. Antes que o meu cérebro sequer consiga acompanhar meus movimentos, já estou de pé com as minhas cimitarras em meus punhos pronta para atacar qualquer inimigo.

    Felizmente são os homens de nossa tropa que vejo diante de mim, mas só relaxo a postura ofensiva quando Vanshey pergunta incrédulo:

    - Como você fez isso?

    - Fiz o quê?

    Faço uma rápida análise. A maioria dos guerreiros está com ferimentos, mas se estão de pé, nenhum deles deve necessitar de cuidados urgentes. Alguns deles estão em seus cavalos, outros não. E todos me olham espantados.

    - As cimitarras, você as fez voarem até suas mãos!

    - O quê? Como?

    Olho para as lâminas em minhas mãos. Realmente, as cimitarras tinham caído bem longe de onde estávamos. Solto-as no chão. Não tenho tempo para pensar sobre isso agora.

    - LORDE KADRAHAN! –Entur se desespera ao vê-lo ensanguentado caído no chão e corre até ele.

    - Por favor, cuidem dele, assim que eu terminar com Rius, irei...

    - Rius? –pergunta Oris.

    - Depois eu explico. –digo ajoelhando-me novamente ao lado de Rius para terminar de enfaixar o ombro dela. – Vi umas casas abandonadas no caminho até aqui. Temos que levá-los a alguma delas para que eu...

    - Temos que sair daqui imediatamente. – Eres me interrompe. – Aquela coisa morta de três olhos é um Nöhkarium.

    - Um o quê? –pergunto.

    - São seres capazes de controlar bestas. –Eres olha apreensivo em todas as direções. –Deve haver mais bestas nas redondezas. Nós tivemos que lidar com quatros delas e se Dras não tivesse ajudado com suas bolas de fogo... –gratidão surgi em seu olhar. – E também­ são capazes de criar as ilusões que nos enfeitiçaram.

    - Aquelas pessoas eram ilusões?

    - Sim. Elas só devem ter desaparecido porque o mestre delas foi morto. –Aflição volta ao rosto de Eres. – Pode haver mais deles! Temos que sair dessa região o mais rápido possível, mas alguns cavalos fugiram no meio do ataque.

    Suspiro e olho para o curativo improvisado que acabei de terminar. Não estou satisfeita, mas terá que bastar. Levanto-me e já caminhando na direção de Lorde Kadrahan, chamo por Dras.

    - Dras! Sobrevoe a área com Tov e encontrem os cavalos. Eles não devem estar longe. Chame por eles.

    - Sim, Mestra! Sim, Mestra! Dras ir com Tov! Dras explicar para amigos cavalos que perigo já passou.

    Não é bem verdade, mas não o contradigo. Os dois levantam voo e logo desaparecem do alcance das vistas.

    Entur já removeu o peitoral da armadura de Lorde Kadrahan e agora estava tentando tirar um tipo de vestimenta feita de centenas de aros de aço. Lorde Kadrahan se protegeu duplamente para aquela batalha, mas não foi o suficiente. As garras do Nöhkarium atravessaram ambas as proteções com uma facilidade assustadora.

    Quando finalmente Entur consegue tirar a vestimenta de aço, meu coração se aperta e tenho que respirar profundamente para tentar me acalmar.

    Os cinco cortes transversais no tórax de Lorde Kadrahan são profundos e com certeza só não está morto por causa da proteção dupla. Um deles passa exatamente em cima do coração. Lágrimas ameaçam romper de meus olhos, mas me recuso a repetir o vexame que dei depois da visão e as contenho. Ele ainda não está morto e farei de tudo para salvá-lo. O cretino me deve algumas explicações.

    Coloco uma manta grossa sobre seu peito e depois a aperto bem com as faixas. Gostaria de fazer mais por ele, mas não há tempo. Se mais bestas aparecerem, não teremos chances.

    - Acho que aguentará até encontrarmos um lugar seguro para tratá-lo. –falo para Entur.

    - Estou confiando a vida dele a você, jovem Aédris.

    Todos estão atentos e com espadas em punho, olhando os arredores. O fedor podre da besta que Rius abateu contamina o nosso ar, por isso não podemos contar com nossos olfatos para saber se outra besta se aproximar. E vejo também que estão preocupados com o seu general.

    Cerca de cinco minutos depois, o restante dos cavalos começa a voltar. Como eu imaginei, não deviam estar longe. Dras aparece com Tov em seguida, trazendo meu arco e minhas aljavas.

    - Vanshey, você pode levar Rius com você?

    - É claro. –responde prontamente.

    Ele sobe em seu cavalo e Oris o ajuda com Rius. Sei que todos estão curiosos com a presença de mais uma garota entre nós, mas não fazem perguntas.

    O difícil agora será carregar Lorde Kadrahan. Pego minhas cimitarras, meu arco e minhas aljavas. Aproximo-me de Ônix e ele me permiti montá-lo.

    - O que pensa que está fazendo? –Entur questiona. – Eu irei carregar Lorde Kadrahan.

    - E sobrecarregar o cavalo? –Eres se intromete antes que eu tenha a chance de responder a Entur. – O peso de dois homens como vocês será demais para Ônix. A senhorita Aédris é mais Leve.

    - Mas...

    - Não temos tempo para discussões.

    Entur se cala e começa a ajudar Eres a levantar Lorde Kadrahan, mas o próprio os afasta.

    - Eu... Eu consigo... Subir sozinho. –diz ele com clara dificuldade em respirar e apenas com muito esforço consegue subir em Ônix se posicionando a minha frente.

    Assim que me sente atrás dele, ele se apoia totalmente em mim e relaxa os músculos tensos. Acho que desmaiou por causa da dor e do esforço. Passo meus braços entorno dele, o ajeito mais para o meu lado esquerdo para que eu possa ver o caminho, seguro firme nas rédeas e começamos a correr.



    Depois de mais de doze horas de uma corrida desenfreada, voltamos a nossa rota original e chegamos a Floresta da Meia Noite. Um lugar com árvores gigantescas com troncos da largura de uma casa pequena. Suas copas são tão frondosas que imagino que durante o dia pouca luz dos sóis consiga alcançar o interior da floresta. Durante a noite, como agora, o breu é total. Entretanto, a floresta possui um ar puro e exala os mais variados cheiros de flores. O vento é refrescante em nossas faces. Traz uma umidade muito bem vinda.

    Diminuímos a velocidade, enquanto Oris, Fins e alguns outros continuam em busca de um lugar para acamparmos. Uns minutos depois voltam e nos conduzem a uma área com uma pequena cachoeira que desaba em um rio de águas tranquilas.

    Assim que a tenda de Lorde Kadrahan está pronta, levamos ele e Rius para dentro dela. Vanshey e Entur insistem em me ajudar, mas os coloco para fora, escolhendo Eres como meu assistente. Duas lamparinas iluminam o ambiente o suficiente para que possamos trabalhar.

    Enquanto ele limpa os ferimentos de Lorde Kadrahan, eu cuido de Rius. Embora mais nada sobre ela devesse me surpreender, ainda assim, quando retiro as bandagens que coloquei nela, prendo o fôlego. A carne do ferimento em seu ombro começou a se regenerar e a perfuração em sua barriga também. Seja lá qual for a sua espécie, deve se curar rapidamente como Dras e eu. Será que também posso me transformar em animais? Sacudo a cabeça afastando o pensamento. Ela terá muitas perguntas a me responder quando acordar.

    Limpo o que ainda sobrou dos ferimentos, passo a pasta para evitar infecções e cubro com as folhas de zundi. Coloco novas bandagens e checo sua temperatura. Sem febre, isso é um ótimo sinal.

    Deixo-a descansando e vou até o meu outro paciente que está a apenas dois passos de distância.

    O que vejo faz um nó se formar em minha garganta. Eres deve ter notado a minha expressão, pois pergunta:

    - Pode curá-lo, não pode? –sua voz está aflita.

    - Leve-a para a minha barraca. –peço apontando para Rius. – E mande alguém me trazer mais água fervida. Muita água. E ferva mais panos limpos também.

    Ele não me questiona, apenas faz o que digo. Com cuidado, pega Rius e sai da tenda.

    Lorde Kadrahan está mal. Muito mal. Os cortes se infeccionaram. Pior do que isso. Com certeza havia algum tipo de veneno nas garras do tal Nöhkarium, pois a pele ao redor dos cortes está enegrecida, como se estivesse necrosando e há muito pus nos ferimentos. Não preciso tocá-lo para saber que está queimando de febre. Terei que cortar a pele morta antes de suturá-lo. E isso vai doer e muito. Daria qualquer coisa por uma flor de aédris, mas terei que me contentar com algumas folhas de lexiis. São ótimas como analgésicos. Só espero que ele não sinta tanta dor. Antes de qualquer coisa, pego um vidrinho contendo urris. Inclino um pouco a cabeça dele e o faço engolir o líquido. Ele engole com dificuldade, mas não abre os olhos. Urris é eficaz como antídoto para muitos venenos. Espero que para garras de uma criatura de três olhos também.

    Pouco tempo depois Eres e Oris entram trazendo bacias de água fervente e os panos limpos.

    - É verdade que aquela garota é a Rius? Sua égua? –Oris pergunta enquanto deposita a bacia ao meu lado. – Larcan nos contou, mas...

    Ele se cala ao ver o estado de seu General.

    - Podem se retirar e não importam o que ouçam, não entrem novamente.

    Eres gesticula em concordância e arrasta Oris para fora.

    O melhor que fiz, foi pedir para levarem Rius. Ela precisa de descanso e não haverá muita tranquilidade nessa tenda quando eu começar a cortá-lo.

    Amasso as folhas de lexiis até obter a quantidade suficiente de sumo e o faço beber mais uma vez. Tesoura, agulha e uma adaga de lâmina afiada já tinham sido fervidas antes. Ajoelho-me ao lado de Lorde Kadrahan segurando a adaga. Todo seu tórax está enegrecido ou cheio de pus. Terei que arrancar praticamente toda a sua pele desde o ombro ao quadril. Minhas mãos começam a tremer. Não quero lhe causar dor. Mas também não quero que ele morra. Um sentimento de dor pungente se alastra dentro de mim. Não posso perdê-lo.

    Lentamente aproximo a adaga de sua pele.

    - Se vai me cortar... Ao menos... Pare de... Tremer.

    Sobressalto ao som da voz agoniada dele.

    - Desculpe, não posso esperar o analgésico fazer efeito. –falo consciente das lágrimas se formando em meus olhos. – O que tenho que fazer irá doer muito.

    - Já... Sofri... Dores... Piores.

    Duvido disso, mas permaneço calada.

    Limpo as lágrimas idiotas. Vou precisar enxergar onde estou cortando e me obrigo a parar de tremer. Não quero retalhá-lo ainda mais.

    Primeiro perfuro as bolhas de pus e limpo tudo com os panos umedecidos na água fervida. Ele solta alguns murmúrios de dor, mas está aguentando bem.

    Agora vou começar a parte realmente dolorosa. Pego um pedaço de pano torcido, mas antes de colocar na boca dele, digo:

    - Não vou deixar você morrer!

    - Espero... Que... Não... –responde antes de morder o pano.

     Ele se calou depois do primeiro corte. Não emiti um único gemido de dor ao contrário do que se era esperado. Se é porque desmaiou ou porque o analgésico finalmente fez efeito, eu não sei. Tento cortar a carne necrosada o mais superficialmente possível e graças aos músculos generosos, quase consigo. Mas há lugares que tenho que cortar fundo em sua carne e a cada novo corte que faço, é como se eu estivesse sentindo a dor em seu lugar. Odeio machucá-lo. Odeio que ele sinta dor. E acima de tudo, odeio que ele esteja passando por todo esse sofrimento por minha causa.

    Termino tudo quase uma hora mais tarde. Depois de tirar a parte necrosada, costuro os cortes mais profundos. Em seguida passo a pasta para não infeccionar mais, coloco as folhas de zundi e também folhas de lexiis para aliviar a dor local. Antes de cobri-lo com os curativos, noto que ele tem uma cicatriz estranha bem acima do coração. Será que ele realmente já sofreu dores piores? Por fim coloco os curativos e depois enfaixo todo o seu tórax. Coloco a mão em sua testa, sua temperatura ainda está muito alta. Não quero ter que sair do lado dele, mas além de Rius, preciso ver se algum outro guerreiro precisa de meus cuidados. Sei que todos eles sabem cuidar de ferimentos mais brandos, mas quero me certificar que nenhum deles sofreu algo mais grave.

    Antes de deixá-lo, faço uma breve oração a todas as divindades implorando para que o veneno do Nöhkarium possa ser limpo de seu organismo com urris. Pego a minha trouxa de medicamentos e meus utensílios. Assim que saio da tenda, vejo que todos estão ansiosos aguardando por noticias da saúde de Lorde Kadrahan.

    Olho para Entur quando digo:

    - Fiz tudo que estava ao meu alcance. Só saberei o resultado de meus esforços amanhã. –respiro fundo antes de continuar. –Ele está com uma febre muito alta. Pode pegar água fria e molhar a testa dele para tentarmos diminuí-la, Entur?

    - Farei isso a noite inteira se for preciso. –Entur me dá as costas e segue para pegar mais água do rio.

    - Algum de vocês sofreu algum ferimento grave? –pergunto.

    - Senhorita Aédris, podemos cuidar de nós mesmo. –Eres diz. – Você está muito cansada, precisa descansar um pouco, dormir.

    - Vou ver como Rius está. Quando voltar, quero uma fila com aqueles que precisam de cuidados. –entrego meus utensílios para Fins. –Por favor, ferva tudo novamente.

    Não espero uma resposta. Sei que farão o que mandei e ninguém se atreverá a esconder de mim um ferimento mais grave. Usei uma autoridade em minha voz que não sabia possuir.

    Como esperava, encontro Vanshey sentado a entrada de minha barraca zelando por Rius. A chama da fogueira ilumina seu rosto.

    - Ela está bem?

    - Continua dormindo e não tem febre. Acho que ficará bem. –ele parece cansado. – Tov e Dras estão lá dentro com ela. Não desgrudam dela nem por um minuto.

    Sorrio. Eles a amam e sei que só ficarão tranquilos quando ela se recuperar totalmente. Mas meu sorriso morre quando olho o braço esquerdo de Vanshey.

    - SEU IDIOTA INCONSEQUENTE! –berro.

    - O que foi? – ele pergunta assustado com a minha ira repentina.

    - Isso aqui precisa de pontos! –digo terminando de rasgar a manga da camisa dele.

    - Ah, isso! É só um arranhão. –ele fala com fingido desdém.

    - Idiota! Se isso infeccionar, pode até ter que amputador o braço!

    Agora ele realmente parece assustado. Perdeu até um pouco da cor. Estou exagerando, mas ele não precisa saber disso.

     Começo a limpar o ferimento enquanto Fins termina de ferver os meus utensílios, entre eles a agulha.

    - A Rius sempre me pareceu mais consciente que qualquer outro cavalo, mas tendo Tov que também é extremamente inteligente, nunca me passou pela cabeça que...

    - É, ela nos enganou muito bem. –resmungo irritada. – E sou a melhor amiga dela. Ou pelo menos pensei que era...

    - Você realmente não sabia?

    - É claro que não. –respondo. – Não sei antes, mas pelo menos depois que passei a viver com Snotra, ela sempre foi um cavalo.

    Fins traz meus utensílios.

    - Lavei tudo muito bem e depois fervi, Aédris.

    - Obrigada, Fins.

    - Vou organizar os homens para ver quem precisa receber cuidado primeiro. –diz prestativo e se retira.

    - Ai! –Vanshey encolhe o braço quando começo a costurá-lo.

    - Por que está reclamando? Não é apenas um arranhão?

    - Ele vai ficar bem? –pergunta mudando de assunto.

    Meus olhos se enchem de lágrimas no mesmo segundo. Khrratz! Desde quando me tornei um bebê chorão? Desvio o olhar e uso a mão esquerda para limpar as lágrimas teimosas.

    - Acho que essas lágrimas respondem a minha pergunta. –Vanshey suspira resignado antes de continuar. –Sabe, eu realmente quero odiá-lo, mas fica difícil se ele não para de salvar a sua vida

    - Eu não o entendo, Vanshey! Ele me diz uma coisa com palavras, mas outra com gestos. –desabafo incapaz de me conter. – Suas palavras são sempre cruéis, me magoam e me deixam furiosa. Mas seus gestos são sempre gentis e protetores. E agora, mesmo tendo dito que nunca arriscaria a vida por mim, foi exatamente o que ele fez.

    - Talvez ele esteja apenas lutando uma guerra que nunca poderá vencer. –diz simplesmente.

    O que estou fazendo? Não deveria estar tendo esse tipo de conversa justamente com Vanshey. Termino de dar os pontos, aplico os remédios e passo a bandagem no braço dele.

    - Pronto! Só precisou de oito pontos. –digo ficando de pé. – Vou cuidar dos outros agora. Se Rius acordar, me chame.





    Passo a maior parte da noite cuidando de vários ferimentos, até dos que não são graves. Várias vezes, entre um ferido e outro, vou à tenda de Lorde Kadrahan ver como ele está. Ainda tem febre, mas diminuiu um pouco. Entur não sai do lado dele. Só quase perto do amanhecer consigo tomar um banho e depois dormir um pouco. Um dos guerreiros me cedeu seu saco de dormir e o coloquei ao ar livre perto da fogueira.

    Acordo com Vanshey me chamando:

    - Aédris! Aédris! Rius sumiu!

    - O quê? –já estou de pé no mesmo segundo caminhando até a minha barraca.

    - Assim que acordei, fui ver como ela estava e não a encontrei.

    - Tov e Dras?

    - Também não estavam.

    Nesse momento Tov aparece voando de algum lugar e deixa claro que devemos segui-lo.

    Depois de uma rápida caminhada, estamos em um ponto mais abaixo no rio, onde enormes rochas formaram uma represa natural nos presenteando com um lago e pequenas quedas d'água. E sentada em uma dessas rochas, com os pés na água, está Rius. Dras ao lado dela. Tov logo mergulha jogando água para todos os lados.

    Assim que nos vê, ela se levanta e caminha até nós com um sorriso radiante. Está usando um belíssimo vestido branco com corpete azul com detalhes dourados. O decote é quadrado e as mangas são longas e soltas. Há desenhos florais bordado em azul e dourado nas barras das mangas e também na barra da saia rodada.

   - Desculpe se preocupei vocês. –diz em uma linda voz que mais parece uma melodia. – Mas eu precisava urgentemente de um banho. O cheiro daquela besta estava impregnado em mim e tenho um olfato muito sensível.

    - Seus ferimentos...

    - Totalmente curados. Minha espécie se cura rápido também. –ela me surpreende com um abraço apertado. –Obrigada por cuidar de mim. Senti saudades, amiga.

    Retribuo o abraço. De alguma forma sei que também senti muito a falta da Rius que não é um cavalo.

    - Acho que também senti a sua falta. –digo.

    - É claro que sentiu! Você me adora! E sou sua melhor amiga!

    Ela volta toda a sua atenção para Vanshey com um sorriso maroto.

    - Oi, Larcan! O que achou do meu vestido? Ficou bem em mim? –pergunta alisando a saia.

    Sua altura é a mesma que a minha e o vestido ficou perfeito nela.

    - É... Hum... Ficou muito bonito. –Vanshey diz meio sem jeito.

    - Tenho que agradecer a sua irmã, senão estaria usando os trapos que essa aí chama de roupa. –ela graceja, mas sei que sem intenção de realmente ofender.

    - Antes meus trapos, do que pelos cheios de pulgas. –entro na brincadeira. Tenho a sensação que fazíamos esse tipo de brincadeira o tempo todo antes.

    - As pulgas me obedecem e não se atrevem a chegar perto de mim. –ela me mostra a língua.

    - Pulgas não são amigas. –Dras reclama se intrometendo na conversa. – Pulgas muito chatas.

    Rius está rodando segurando a saia do vestido.

    - Adoro vestidos. Farei melhor uso deles que essa teimosa. Estou tão feliz por tê-los, que seria capaz de beijar a Laashii. –um brilho travesso ilumina os olhos cor de mel. Conheço aquele olhar. Rius vai aprontar algo. – Mas como ela não está aqui, terei que agradecer a você!

    Sem dar a Vanshey a chance de fugir, ela segura seu rosto, estica os pés e pressiona os lábios nos dele. Ele não se move e ela o solta.

    - Não precisa fazer essa cara apavorada. –ela diz ainda sorrindo. A cara dele é cômica. – É difícil me livrar de certos hábitos. Animais dão lambidas para demonstrar felicidade.

    O que me faz lembrar...

    - Você me deve algumas explicações, Rius. –falo séria. – Quando pretende começar a dá-las?

    Ela hesita e não parece muito disposta a falar. Nos encaramos.

    - Hum... Sou uma Damera. –como se isso explicasse tudo.

    - Que é... –Vanshey a incentiva continuar. Ele ainda está corado.

    - Posso me transformar em qualquer animal, até mesmo insetos. Desde os pequenininhos até feras gigantescas. Entretanto, a minha forma primária é essa, humana. –diz apontando para si mesma. –Como já deve ter ficado óbvio, posso me curar rapidamente, mas quando me machuco seriamente, perco o controle e volto a minha forma original.

    - Snotra sabe o que você é?

    - Bem, a vi pouco antes que ela nos encontrasse e reuni minhas últimas forças para me transformar em um cavalo. –ela franze o cenho. –Mas sinceramente não ficarei surpresa se ela souber, aquela velha parece enxergar nossas almas às vezes!

    Isso é verdade. Snotra parece saber de tudo!

    - Eu... Eu sou como você?

    Uma gargalhada alta é a minha resposta.

    - Definitivamente não! –Rius diz quando finalmente consegue parar de rir. – E não temos nenhum grau de parentesco, antes que pergunte. Minha espécie é rara. 

    - Então o que você é minha?

    - Acima de tudo sou sua melhor amiga, pensei que isso estivesse claro! –ela tenta soar magoada, porém sei que só está evitando a minha pergunta. – Mas também sou sua guardiã, sua protetora.

    - Quem lhe ordenou que se tornasse a minha guardiã?

    - Ninguém manda em mim! –agora ela parece realmente irritada. – Ser sua guardiã foi escolha minha!

    - E por que tem mentido para mim todo esse tempo? –elevo a minha voz.

    - Não menti! –ela também fala mais alto, mas me dá as costas e começa a caminhar de volta ao acampamento. –Você sempre soube de tudo, não é culpa minha se esqueceu!

    - Rius! Ainda não terminamos! Volte aqui! –grito. – Quem eu sou? Qual é a minha história?

    Ainda caminhando ela diz:

    - Não posso falar. Estou presa ao juramento das Sete Luas e Suas Divindades.

    Ela caminha cada vez mais rápido. A covarde está fugindo de mim.

    - O quê? Você não pode estar falando sério! A quem fez o juramento?

    Tov sai do lago, se chacoalha todo espirrando água para todos os lados e sai correndo atrás de Rius. Também vou atrás dela.

    Ao passar por Vanshey, o escuto dizer a Dras:

    - Duas mulheres extremamente temperamentais juntas! Acho que todos nós sofreremos as consequências disso!

    - Mestra e Mestra Rius, sempre terremoto!!!! Bruuu...





     Antes que eu consiga arrancar mais alguma coisa de Rius, Oris nos encontra no meio do caminho. Sua expressão angustiada me diz tudo. Saio correndo mal olhando onde piso.

    Entro na tenda e encontro Entur a beira do desespero.

    - A febre voltou a subir e... E olhe para ele... Ele está... Acho que ele está morrendo.

    - Por favor, saia!

    - Perdoe-me por tudo o que te disse, mas por favor, eu imploro, salve a vida dele, jovem Aédris. –Entur segura as minhas mãos. – Por favor, salve-o.

    - Saia e não deixe que ninguém me atrapalhe.

    - Ninguém irá lhe atrapalhar. Suas coisas e suas plantas medicinais já estão todas aqui.

    Ele deixa a tenda e finalmente crio coragem de abaixar o meu olhar para onde Lorde Kadrahan está deitado. Pavor toma conta de mim. Me deixo cair de joelhos ao lado dele. Agora até a pele dos braços está enegrecida. O urris não fez efeito. O veneno está se espalhando por todo o corpo. Pego a tesoura e começo a cortar as bandagens que o envolvem. É como se eu não tivesse feito nada. Os cortes estão piores. O pus voltou e todo o seu tórax, pescoço e braços estão enegrecidos, necrosados.

    Pego seu punho, sua pulsação está muito fraca, quase inexistente. As lágrimas já correm livremente pela minha face.

    Coloco as mãos em seu peito, preciso sentir que ainda está vivo, que ainda resta esperança.

    - Você não pode morrer! Você não pode morrer! –digo entre as lágrimas. – Sua princesa espera por você. Sabe que se depender de mim irei deixá-la ser devorada pelos cernis! –tento fazer graça, mas nem assim consigo uma reação dele.

    Ódio começa a ganhar proporções descomunais dentro de mim. Ele está morrendo diante de meus olhos e não há mais nada que eu possa fazer. Ódio por ele estar morrendo por minha causa e sem ao menos ter uma explicação do porque ele fez isso. Ódio por não saber qual dos sentimentos contraditórios que ele sente por mim é maior. Sua aversão a bruxas ou seja lá o que for que o levou a querer sacrificar sua vida pela minha.

    De repente sinto as minhas mãos formigarem e depois tenho a sensação que elas estão pegando fogo. Em seguida uma luz que me cega sai delas. A intensidade da luz fica cada vez maior. Por puro instinto, as mantenho sobre Lorde Kadrahan e depois de alguns minutos a luz se extingue. Olho para ele e não fico surpresa ao constatar que onde havia os cinco cortes e a pele necrosada, só sobrou a cicatriz estranha que ele já tinha acima do coração. Ele está totalmente curado. Eu o curei. Literalmente com as minhas próprias mãos. 





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