Capítulo 6
Depois daquele dia, decidi não intervir mais no relacionamento dos dois, tinha que seguir a minha vida e eles precisavam resolver seus problemas sozinhos. Encontrei com Lana outro dia e ela me disse que estava trabalhando e que estava tudo bem, pelo menos não precisava mais depender daquele homem para tudo já que agora tem um emprego, isso é bom. Lana é jovem e precisa viver sua vida, não viver trancafiada em uma casa fazendo tudo que aquele homem quiser, ela não merece isso. Torcia com todas as minhas forças para que ela enxergasse isso.
Os dias passaram-se rapidamente e quando menos percebi, era chegado o primeiro dia de aula na faculdade. Estava um tanto entusiasmado e talvez um pouco nervoso, até mesmo para saber se o curso de letras é tão chato como dizem. Não pode ser tão ruim assim.
Alice chegou duas horas antes do previsto na minha casa, bem cedo por sinal. Já estava acordado porque conheço bem Alice e sua ansiedade, mas o fato é que ela exagerou um pouco no horário.
— Vamos, a gente vai se atrasar se não formos agora — falou, entrando nada discretamente com sua saia longa hippie e nada discreta pela porta da pousada, toda agitada. Eu adorava o jeito descontraído dela.
— Ainda não são nem cinco horas Alice, e que eu saiba, a faculdade não fica longe daqui.
— De qualquer forma, sempre é bom chegar cedo no primeiro dia, não é mesmo? — dizia, sorridente. Era visível que ela estava ansiosa e não conseguia esconder o entusiasmo.
— Ah, eu nem tomei café ainda. Vai ter que me esperar — falei, enquanto me dirigia a cozinha da pousada para preparar alguma coisa.
— Está bem, mas não demora! — gritou da sala.
O resultado de toda a pressa de Alice é que chegamos na faculdade cedo demais. Na verdade, daria tempo de conhecer o campus inteiro antes da aula começar, se caso quiséssemos. Tudo bem, sem exagerar um pouquinho, talvez metade dele.
Assim que entramos na Universidade, a UFRJ, senti um misto de vitória e medo, deve ser essa a mesma sensação que alguém que ingressa na faculdade dos sonhos sente. Eu sabia que em breve se iniciaria um novo ciclo na minha vida, porém, tinha receio dos desafios que estavam por vir. Alice parecia ter a mesma sensação. Ela olhava para mim, eu e ela estávamos feito dois idiotas parados na entrada do setor dela, que não ficava tão distante do meu.
— É estranho e bom está aqui — comentou.
— Como assim? — questionei-a.
— Estranho porque sei que a partir daqui, muitas coisas irão mudar, e é bom porque vencemos mais uma etapa de nossas vidas.
— E em breve seremos maiores de idade ou seja, adultos. Então tudo será diferente — refleti.
— Na verdade tudo já está diferente, Rick — disse olhando para mim — Mas é uma fase não é mesmo? Temos que enfrentar. É bom ver o quanto crescemos, embora sinta falta do que éramos.
— Nunca quis crescer — Comentei, de repente. — Na verdade, eu nunca quis nada em especial depois que a minha mãe morreu... quer dizer, a não ser o fato de que sempre quis vê-la outra vez.
Ela sorriu, pegando a minha mão.
— Você já cresceu Rick. E acredite, cada dia que passa se torna um garoto ainda mais especial. Sua mãe teria orgulho de você.
— Acha mesmo?
— Sim. — Sorriu. — E apesar de tudo ser novo pra mim, não acho que ser adulto deva ser tão ruim. Todas as coisas tem o seu lado positivo, e depende de você evidenciá-lo mais que o negativo.
— Tem razão. Obrigada, Alice — digo com um sorriso de leve.
É, quem sabe ser adulto não seja tão ruim assim.
***
Para falar a verdade, eu estava bem perdido no meu primeiro dia. Quer dizer, completamente perdido. Até que gostei da primeira aula, mas a matéria não fluiu bem na minha mente. Talvez por estar com os pensamentos em outro lugar, ou pelo nervosismo do primeiro dia, não sei. Mas apenas não fluiu. Infelizmente, agora teria que deixar todos os meus livros legais de lado, — ou boa parte deles — para começar a ler livros bem chatos e cansativos. Talvez me habitue com isso com o tempo.
No intervalo, Alice veio toda animada ao meu encontro, falando o quanto sua aula foi maravilhosa. Escutei tudo superficialmente enquanto devorava um sanduíche de frango que estava muito bom. A comida de lá parecia ser muito boa por sinal. Enquanto conversávamos, um garoto loiro e extremamente alto sentou-se discretamente na mesa onde estávamos. Eu estranhei, é claro, não é como se fosse perfeitamente normal alguém sentar na mesa onde estou com minha única melhor amiga no primeiro dia de aula e ainda lançar-nos um sorrisinho como se dissesse "E aí, gente".
— Vocês são novos aqui? — perguntou, de repente.
— Somos sim, e você? — perguntou Alice.
— Eu também. — Ele parecia querer puxar assunto. — Sabe, é difícil chegar em um lugar onde não se conhece ninguém.
— Eu não acho — falei.
— Sério? Bom, meu nome é Augusto, e vocês são?
— Ricardo e Alice — respondi.
— É um prazer conhecer vocês.
— Então Augusto, que curso você faz? — Alice perguntou, puxando assunto, enquanto tomava seu suco de laranja com o canudo.
— Eu faço Geografia e vocês?
— A Alice faz biologia e eu Letras — digo, dando uma última mordida no meu sanduíche.
— Corajoso você, Ricardo.
— É o que dizem — respondi com desdém.
Está bem, confesso, empatia não é muito o meu forte. Não que eu seja extremamente chato ou mal educado, apenas custo um pouco para confiar nas pessoas.
— É um curso muito interessante — disse Augusto, dando sua primeira mordida em um sanduíche que saltava presunto pra fora.
— Não foi o que me pareceu tanto na aula de hoje... — comentei, sem querer.
— Como assim, você não gostou da aula? — perguntou Alice, parecendo surpresa.
— Digamos que a matéria não fluiu muito bem.
— Só estamos no começo, tenha calma. Vai ver como logo você vai gostar do curso, sempre foi seu sonho — disse ela.
— É, quem sabe — respondi — Estamos apenas no início.
— As coisas podem mudar se você cooperar com elas — comentou Augusto — Bom, eu nunca pensei em estudar geografia, mas vou me dedicar ao máximo.
— Não tendo muitos cálculos, pra mim tá ótimo! — comentou Alice.
Nós rimos.
A conversa fluiu bem até o final do intervalo, e quando nós voltamos para sala, tive a sensação de que não era tão constrangedor assim se permitir conhecer e conversar com novas pessoas. Diria que era até bom e se não fosse por Alice, talvez nunca tivesse conversado com Augusto como conversei.
O difícil de trabalhar e estudar ao mesmo tempo é que é completamente exaustivo. Quando terminou a aula, tive que ir da faculdade para o trabalho e teria que fazer isso quase todos os dias, — o que mudaria completamente a minha rotina. Entretanto, nunca tive vida social, então o fato de não ter muito tempo para sair, não me afetava tanto.
Quando cheguei em casa, me joguei na cama e mesmo cansado, tive vontade de pegar meu PC. Já tinha um bom tempo que eu não escrevia nada, então resolvi continuar uma poesia que havia parado há algum tempo. Fiquei quase duas horas ali escrevendo e comendo, depois fui assistir o meu seriado de TV favorito: The Walking Dead.
Foi então que meu celular tocou. Já são quase onze horas, quem ligaria para mim a essa hora? Quando vi de quem se tratava, suspeitei que alguma coisa havia acontecido. Era a Lana. Atendi o telefone, porém, ela desligou. Achei muito estranho. Talvez ela tivesse apenas desistido de falar algo comigo, mas se fosse importante? Isso me preocupou. E mais uma vez, não consegui parar de pensar nela um só minuto aquela noite.
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Karol💞❤.
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