Capítulo 21
— Procura direito, deve ter alguma coisa nesse lugar! — falei, enquanto revirava uma gaveta pela terceira vez.
Faziam duas horas, — desde que saímos do hospital —, que estava na minha antiga casa com o Augusto, revirando tudo a fim de encontrar uma única pista de onde aquele homem poderia ter levado a Lana. Tínhamos virado a casa inúmeras vezes, mas não havia nenhuma pista sequer.
— Acho que não vamos conseguir nada aqui. — concluiu Augusto, depois de certo tempo.
— É... Aquele imbecil foi muito esperto. — falei, desapontado.
— Você tentou, não fica assim, cara. A Polícia está procurando os dois, eles tem que estar em algum lugar. — Acalmou-me.
— Eu sei. Mas tenho medo que isso aconteça tarde demais.
— Não pensa assim. Você tem que acreditar que ela vai estar bem, tem que ser positivo.
Assenti, desanimado.
— Preciso ficar sozinho, Gus. — pedi — Muito obrigado mesmo por ter me ajudado aqui... Você vai passar no hospital para ver como está a Alice?
— Claro, e não precisa agradecer. Somos amigos, Rick. Eu vou ver a Alice sim... espero que encontrem a Lana.
— Eu também espero. — Confessei — Qualquer notícia liga pra mim tá? Te vejo na facul.
— Pode deixar. Até mais.
***
Continuei vasculhando o cômodo onde estava por alguns minutos. Cansado, resolvi voltar ao meu antigo quarto. Sentei na minha cama, — que estava exatamente como havia deixado desde que saí de casa — e passei a analisar todo aquele local. Era impossível não lembrar da minha mãe. Lembrei de todas as vezes em que vinha contar uma história para que eu dormisse, de nossas conversas, do seu jeito doce de olhar e cuidar de mim... Minha mãe me fazia muita falta. Eu me sentia sozinho e pensei que talvez se Lana não tivesse aparecido em minha vida, eu não seria o que sou hoje. Não superaria a ausência da minha mãe, muito menos, o desprezo do meu pai.
Lana era a minha única família. E mesmo que o que eu sentisse por ela fosse muito mais que gratidão, não podia negar isso. Sei que se ela soubesse dos meus sentimentos, diria que estou confundindo as coisas, que não a amo e o que sinto é apenas gratidão pelo carinho que ela dedicou a mim durante tanto tempo. Mais do que o amor pode nascer afinal, se não for de um afeto mútuo?
Aos poucos, este afeto tornou-se um sentimento ainda maior e mesmo que seus sentimentos não sejam os mesmos, é inevitável controlar o que sinto.
Levantei da cama e meus olhos encararam um porta retrato quebrado. Nele, eu estava sorrindo com Lana, deveria ter mais ou menos uns onze anos. Lembro-me como se fosse hoje deste dia, o dia em que ganhei o prêmio de melhor poesia escrita na escola e o meu pai não havia comparecido. Lembro-me também que neste dia ele tinha folga, e simplesmente prometeu ir, mas não foi. Lana estava ao meu lado e me apoiou, fazendo com que quase esquecesse da ausência dele. Ela esteve comigo em todos os momentos, e embora eu não considerasse ela uma mãe; sei que fez o papel de uma.
Entrar naquela casa era como ter um Flashback do passado. Era inevitável pensar em quantos momentos ruins e bons eu passei naquele lugar. Olhei o relógio e vi que já passava das nove da manhã, peguei minha mochila e saí em disparada da casa. Minha sorte é que devido ao ocorrido de ontem e todas as coisas que precisava resolver acerca dele, permitiram que chegasse mais tarde para realizar a prova. É inacreditável como minha vida virou de ponta a cabeça de uma hora para outra, e posso dizer que estava literalmente, perdido.
Depois da prova, a qual realizei sozinho em uma sala — e estava mais difícil do que imaginei —, procurei por Augusto afim de saber notícias de Alice. E como já era de se esperar, o encontrei no refeitório.
— Foi no hospital? Como elas estão? — perguntei ansioso, ao sentar do seu lado.
— Está bem melhor, conseguimos um doador. E Dona Marina já recebeu alta. — Contou, com um sorriso.
Sorri, aliviado.
— Fico muito feliz de saber disso. — Confessei aliviado.
— Ela perguntou por você e te desejou sorte. — Contou.
— Alice é uma garota incrível.
— É sim. — Ele concordou, com um sorriso fora do comum.
— Eu a conheço há bastante tempo e sei o quanto é especial. E é por te considerar um cara legal, que digo que ela merece alguém como você.
Ele sorriu.
— Sabe, estava pensando em fazer uma coisa... — Comentou, desconcertado — digo... quando as coisas se acalmarem um pouco.
— É o que estou pensando, cara? — falei, imaginando o que diria.
— Sim, quero pedi-la em namoro. — Confessou — Quero fazer Alice feliz e espero que ela aceite isso.
— Tenho certeza que sim, Gus. Tenho certeza que vocês serão muito felizes.
— Espero que sim. — falou, com um sorriso de leve.
Meu celular tocou, anunciando uma mensagem de texto. Peguei o mesmo e rolei a tela, assustando-me ao ver de quem se tratava.
— Eu preciso ir, você me dá uma mão? — falei, levantando da mesa bruscamente.
— O que foi? — perguntou, atônito.
— A Lana me mandou uma mensagem, temos que encaminhar essa localização pra Polícia o quanto antes!
Saímos correndo do refeitório recebendo diversos olhares curiosos, entretanto, não me importei. Só queria encontrá-la logo.
***
A Polícia localizou o lugar de onde Lana havia mandado a mensagem e seguimos para lá de imediato. Era uma região deserta e desconhecida do interior do Rio de Janeiro. Seguimos pela estrada cheia de buracos durante horas que pareciam uma eternidade, até que depois de algum tempo após chegarmos na região que localizamos, reconheci o carro de Richard mais à frente. Dois policiais desceram junto a mim e Augusto e passaram a analisar a região.
— Eles não estão aqui! Parece que não tem nada. — Comentei, desesperado.
— Vamos por aqui. — Um dos policiais nos indicou, conduzindo-nos por um mato alto onde aos poucos, foi revelado uma cena que jamais desejaria ver.
Uma casa completamente incendiada, sem nenhum vestígio de vida. Meu coração acelerou, não podia ser o que estava pensando.
— Vamos analisar o local, fique aqui. — Indicou o policial.
— Pelo amor de Deus, ela não pode está lá dentro, pelo amor de Deus! — indaguei, desesperado.
— Calma, Rick! Não vamos tirar conclusões precipitadas, apenas mantenha a calma! — disse Augusto.
Depois de longos minutos, os policiais voltaram com expressões indecifráveis nos rostos.
— Ela não estava lá, não a encontramos... — falou um deles.
Suspirei aliviado. Não podia ouvir melhor notícia naquele momento. Ela ainda poderia estar bem.
— Mas encontramos o corpo de um homem que pode ser o sequestrador. — Continuou — Sei que tinha parentesco com ele... Sinto muito, garoto. — Concluiu.
Paralisei. Não conseguia entender o que sentia, apenas permaneci estático; sem reação. E foi então, que eu chorei. Não sei ao certo o motivo, mas eu senti dor mesmo sabendo que ela não estava lá. Chorei porque a morte daquele homem me afetava de alguma forma, mesmo que eu insistisse em odiá-lo. Nunca imaginei que sentiria tanto, mas naquele momento eu percebi que mesmo que ele fosse um imbecil, ele era o meu pai.
— Rick, calma! — Falou Augusto, apoiando-me — Mas e a Lana, onde está? — perguntou aos policiais.
— Não sabemos... — disse um deles.
Apenas saí dali e andei a passos apressados até a casa, e eles não interferiram. Então, quando adentrei aquele lugar, eu o vi. Havia algo em cima dele, talvez fosse um pedaço do que sobrou do teto. Levantei com dificuldade o enorme pedaço queimado de madeira e senti uma dor pungente invadir meu ser. O rosto completamente desfigurado, irreconhecível. O corpo, completamente queimado. Reconheci o casaco rasgado que ele usava na noite anterior e não pude evitar que minhas lágrimas caíssem ainda mais. Embora eu não quisesse, sentia sua morte.
Só queria que as coisas fossem diferentes, que não acabassem assim. Passei um longo tempo ali, apenas me perguntando porque as coisas tinham que ser daquela forma. Porque minha vida havia tomado esse rumo, e porque eu tinha que perder os meus pais de maneiras tão diferentes e brutais.
Lembrei da Lana e subitamente, levantei. Eu sabia que existia alguém por quem lutar e iria continuar por ela. Mas onde estaria? Um alívio repentino surgiu em mim por não vê-la ali e tudo o que eu mais queria naquele momento, era encontrá-la.
— Garoto, venha aqui! — disse um dos policiais, sua voz vinha da parte de trás da casa — Acho que tem algo aqui que precisa ver.
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Hello amores! Demorei, mas cheguei com mais um capítulo cheio de emoções pra vocês!
Então gente, como vocês perceberam é um pouco complicado pra mim estabelecer dias de postagens na semana, já que tem dias que definitivamente, eu não posso publicar... mas estou fazendo o máximo para liberar no mínimo um capítulo toda semana! Por favor, não deixem de me apoiar. Cada comentário e presença aqui é de extrema importância e preciso de vocês mais do que nunca nessa jornada! Muito obrigada a todos pelo carinho de sempre, até o próximo capítulo! <3
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