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Capítulo 16

* Música: I Wanna Be Yours - Arctic Monkeys na mídia.

Os dias se passavam e a nossa preocupação só aumentava. Lana prestou depoimento na delegacia, entretanto, não tínhamos nenhuma prova de que Richard fora realmente o mandante do crime. Nossa única chance era o homem que ainda se encontrava em coma no hospital, só ele poderia confirmar o envolvimento de Richard na morte de Layla Galvão.

Tínhamos a esperança de que se recuperasse para que pudéssemos convencê-lo a confessar quem foi o mandante, porém, os dias se passaram e ele não apresentou nenhuma melhora, - o que nos fazia perder cada vez mais as esperanças.

Já faziam quase dois meses que Layla havia sido morta e nada fora resolvido. Lana permanecia triste, impotente diante daquela situação. Nossa sorte foi ter a ajuda de pessoas muito especiais em nossas vidas. Dona Mariana era uma mulher incrivelmente solidária, Alice e Augusto, sempre me ajudavam como podiam.

Meu aniversário seria no dia seguinte, que era domingo, mas não estava nem um pouco animado com isso. Naquele dia, em especial, fui quase obrigado a aceitar o convite de ir para uma festa que Alice e Augusto resolveram organizar para mim, embora não estivesse nem um pouco afim.

- Eu não quero saber. Você não pode passar o resto da vida trancado nesse quarto, não é assim que nada vai se resolver. Aliás, amanhã é o seu aniversário e não aceito que recuse a festa que a gente quer fazer pra você. Já não basta ter faltado a do Gus? - questionou-me Alice.

- Também acho que já está na hora de aceitar algum convite nosso, cara. Você só sai desse quarto pra trabalhar e estudar. - comentou Augusto. - Ou prefere passar o final de semana trancado?

- Tenho muitas coisas pra fazer... preciso terminar um seminário e tenho que estudar para as provas da semana que vem. - expliquei.

- Ah Rick, por favor! Amanhã é o seu aniversário e se quiser, a gente pode te ajudar com esse seminário, relaxa! - disse Alice, já demonstrando sua impaciência. E como eu a conhecia bem, sabia que ela não ia descansar até que eu aceitasse.

- Não sei... onde pretendem dar essa festa? - Perguntei. Antes que afirmasse qualquer coisa, Alice já abriu um sorrisinho discreto.

- Na minha casa. - Respondeu Augusto.

- Eu não sei... preciso pensar.

- A Lana vai. - Comentou Alice, de repente.

- O que? Mais não seria perigoso?

- Não. A festa será fechada para amigos e lá é muito seguro, não tem como ninguém entrar. Não se preocupe, não vai ter perigo algum. - respondeu.

- Então, você vai ou pretende passar o resto da vida se culpando dentro desse quarto? - insistiu Augusto - Nós vamos ficar de olho em tudo, nada vai acontecer.

- Tudo bem. - respondi. - Dessa vez, eu não vou recusar essa intimação, afinal, não é todo dia que temos os melhores amigos mais insistentes do mundo. - brinquei.

- Sabia que íamos conseguir! - Comentou Alice.

Augusto riu, Alice me deu um abraço e comemorou com palminhas.

Permanecemos conversando sobre como seria a festa durante as duas horas seguintes. Não queríamos nada muito grande, então Alice fez a lista apenas com pessoas que nós três realmente conhecíamos. Trinta e cinco, para ser exato. E eu já achava gente demais.

- Bom meninos, eu preciso ir pra casa. Vou ajudar minha tia em umas coisas, até mais. - disse Alice, levantando do sofá que havia no quarto rapidamente.

- Quer que te deixe em casa? - perguntou Augusto.

- Relaxa, minha casa é aqui do lado, maluco!

- Tudo bem... então tchau.

- Até mais meninos. - Ela falou, e saiu em seguida.

Augusto ajudava-me a escolher as músicas que iriam tocar na festa, parecendo extremamente pensativo. E para ser sincero, eu tive quase certeza de que aquilo tinha a ver com Alice.

- Pensando muito? - Perguntei. Ele me olhou assustado, já que estava com os pensamentos bem longe dali.

- Como assim? - Perguntou.

- Você gosta da Alice, não é? - perguntei, direto.

- De onde tirou isso? Quem te contou? - Ele perguntou, com os olhos arregalados.

- É só ver o jeito que você olha pra ela né, cara. Ou então a forma como você reagiu com essa pergunta agora.

- Olha... eu sei que a Alice é afim de você e sabe, eu sou seu amigo.

- Como assim? - perguntei sem entender.

- Embora me interesse pela Alice, eu não furaria seu olho, cara. Você gosta dela também, não é?

- Claro que sim Gus, mas não como imaginou. Ela é como uma irmã pra mim. - expliquei.

- Tá falando sério?

- Claro! Não acha que se eu gostasse dela de outra forma, já teria confessado?

- Pra falar a verdade, não. - Ele riu.

- Tá, eu posso até ser ruim nessas coisas, mas quero que saiba que eu só gosto dela como minha melhor amiga. E de verdade, eu apoio vocês dois. - Expliquei.

- É, mas mesmo assim eu sei o quanto ela gosta de você.

- Ela te contou alguma coisa?

- Não, a Alice não é de falar muito sobre a vida dela, mas é fácil perceber o quanto gosta de você. Basta perceber como ela fica quando toco no seu nome.

- Olha Gus, você é um garoto legal e se realmente gosta dela, tem que correr atrás do que quer. Alice é a menina mais especial que conheço e tenho certeza que vocês podem ser muito felizes juntos.

Augusto parou de falar por um instante e continuou escrevendo no caderno onde anotamos as músicas, distraído.

- E você Rick, não gosta de nenhuma garota? - perguntou, quebrando o silêncio de repente.

Meu coração acelerou só de pensar naquela resposta. De repente me veio em mente o seu rosto, seus olhos, seu jeito doce e amável de ser... Tudo. Sim, eu gostava dela. Não via outra explicação para tudo o que sentia.

- Gosto sim, Gus.

- Eu a conheço? - quis saber.

- Sim, você a conheceu no velório de Layla Galvão. Eu estive ao lado dela durante todo aquele dia.

- Meu Deus! - falou, surpreso - Não vai me dizer que...

- Sim, é a Lana. - confirmei.

Ele passou a me fitar durante os três minutos que se seguiram, sem dizer uma única palavra.

- Cara, é complicado.

- É, eu sei.

- Ela sabe? Quer dizer... Vocês já tiveram alguma coisa?

- Não, claro que não! O que pensa que eu sou? Não sou tão pervertido assim!

- Mas sabe cara, de verdade, eu acho que você deveria contar.

- Pra quê? Isso só serviria para ela se afastar de mim. Eu prefiro que as coisas continuem assim do que eu fazer alguma besteira e estragar tudo. - confessei.

Ele se levantou do pequeno sofá, passando a andar de um lado para o outro, inquieto.

- Na boa cara, - continuou - se você sabe que não tem chance com ela, porque não tenta sair com outras garotas, ou sei lá, viver um pouco?

- Eu não tô nem um pouco entusiasmado para conhecer ninguém, se é o que quer saber. Ficar ao lado da Lana é uma escolha minha, apesar de tudo, ela precisa de mim e é minha única família.

- Desculpe, mas eu acho que se realmente a ama, tem que fazer alguma coisa. Qual é o sentido de ficar ao lado de alguém, mas não confessar a ela o que realmente sente?

- É o mesmo que acontece com você em relação a Alice.

- Não, é diferente. Alice gosta de você e pensei que você sentia o mesmo, por isso não falei nada do que sinto pra ela. Mas agora, tudo vai se ajeitar. Espero que pra você também, cara.

Ele sentou ao meu lado e permanecemos em silêncio durante minutos que pareceram uma eternidade.

- Sabe, eu não estou desesperado para que a Lana saiba o que sinto. - comentei de repente - O que realmente importa para mim é estar ao seu lado, não importa como. Eu sei o quanto ela precisa de mim, e sabe, confesso que também preciso dela.

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