Capítulo 15
— Tem certeza do que está falando? — perguntei, surpreso com a quase afirmação.
— Seu pai tem me ameaçado desde que saí de casa. — confessou — Tenho quase certeza que foi ele, só pode ser ele.
— Eu desconfiei dele logo no primeiro instante, mas não pensei que pudesse ter mandado alguém te matar. Eu não sei o que pensar... Se isso for verdade, não sei o que serei capaz de fazer. — confessei, com toda a fúria que me consumia naquele instante.
— Ricardo, por favor! Não vá atrás dele, nós não temos prova disso; do que adiantaria?
Por um momento pensei em desobedecer o seu pedido, mas eu não conseguiria deixá-la ali naquele estado. Não podia complicar ainda mais a sua vida.
Foi então que pensei... Como ele seria o mandante do crime se não sabia onde Lana estava? Claro! Eu tive culpa de tudo. Ele foi até minha casa porque desconfiava que eu sabia onde ela estava. Só pode ter mandado alguém me seguir para encontrá-la… Eu tinha toda a culpa, eu matei a Sra. Galvão. Eu era um imbecil.
— Não é sua culpa, é minha, Lana. — comecei — Richard me procurou querendo saber onde você estava, eu neguei, mas deixei a entender que sabia... Ele deve ter mandado alguém me seguir quando vim até aqui. Isso tudo é culpa minha.
Lana permaneceu calada, por longos minutos que pareceram uma eternidade.
— Não se culpe... Você não sabia que ele era capaz de tudo isso, não teve culpa. — começou — Ele é seu pai, eu sei que no fundo você acreditava que ele não podia fazer isso, e sabe... eu também não.
— Por favor, me perdoa. — falei — Eu não queria que tudo isso acontecesse, não queria que nada disso fosse verdade. Preferia não ter pai do que ser filho de alguém assim, eu...
Não consegui mais falar. Meu olhos começaram a arder; sentia ódio, raiva, impotência. Em poucos segundos, meu rosto foi tomado por inúmeras lágrimas. Sempre procurei me manter forte, mas a verdade é que nunca fui. E naquele momento, minhas forças se foram.
Tudo o que desejava era que tudo isso terminasse, que toda a piedade que ainda sentia por aquele homem acabasse e que eu tivesse coragem o suficiente para acabar com sua vida. Eu o odiava. Odiava Richard pelo monstro que tinha se tornado. Repugnância era tudo o que sentia por ser filho daquele homem.
Sentia falta da minha mãe, das vezes em que me protegia quando era criança, dos conselhos e carinho que sempre me dava. Mas, por um momento, achei melhor que não estivesse mais entre nós. Era muito pequeno, mas lembro-me que Richard sempre teve transtornos psicológicos e minha mãe fazia o que podia para o ajudar. Não entendia muito bem do que se tratava, pois ela nunca comentou nada comigo e sempre foi muito discreta. Tenho certeza que se soubesse o que foi capaz de fazer hoje, não suportaria tamanha decepção.
— Está tudo bem, Rick... vingança não é a melhor opção e eu sei que você não teve culpa. — disse Lana, pegando em minha mão, dando-me forças quando era ela que mais precisava — Por favor, não pense em fazer nada que possa se arrepender.
— Você tem razão. — falei — Eu não posso te deixar aqui. Mais... o que pensa em fazer? Não podemos deixar isso assim.
— Só existe uma alternativa. — continuou, limpando as lágrimas que ainda havia em seu rosto — Pensei que poderíamos falar com o homem que está vivo. Talvez se nós falarmos com ele direito, nos conte quem foi o mandante do crime. Só com essa prova será possível provar que foi o Richard.
— Você tem razão. Depois que tudo isso passar, eu mesmo vou encontrar esse homem.
— Só tem um problema. — comentou.
— Que problema?
— O homem que está no hospital entrou em coma, temos que torcer muito para que se recupere. — falou, cabisbaixa — Liguei para o hospital e eles me disseram que o estado dele é grave. Ele era a nossa única chance, Rick.
Lana estava visivelmente abalada com toda aquela situação, e mesmo que eu soubesse que era quase impossível aquele homem sair do coma, eu não podia perder as esperanças. Iríamos provar que o Richard foi o mandante do crime.
— Nós vamos conseguir, Lana. — falei, convicto. — Ele não era, ele é a nossa chance.
***
No dia seguinte, bem cedo, o velório e enterro da tia de Lana foi realizado. Informei o que tinha acontecido para meus amigos Augusto e Alice e para minha surpresa, os dois vieram me apoiar, junto à Dona Mariana que nos ajudou muito naquele dia.
Foi um dia muito triste. E estando ali diante tantas pessoas que faziam homenagens a Layla Galvão, percebi o quanto fora uma pessoa querida e especial.
Embora que as pessoas tivessem o costume de homenagear os outros apenas depois de sua morte, tive a impressão que tudo o que falaram dela era com sinceridade. Layla sempre fora uma mulher caridosa. Além de ajudar Lana quando mais precisou, participava de vários projetos e ações sociais; ajudando abrigos de animais e orfanatos. Tudo por sua boa vontade, sem ganhar nada em troca. Assim como Lana, ela era realmente uma mulher admirável.
Alice e Dona Mariana nos acompanharam até a casa de Lana no final daquela tarde. A tia de Alice se ofereceu para ajudar no que precisássemos, oferecendo a pousada para que Lana pudesse se instalar, se não quisesse permanecer na casa da tia falecida pelos próximos dias.
Elas não faziam ideia de quem poderia ter cometido tais atrocidades e Lana também não comentou nada à respeito de suas suspeitas. Mas Dona Mariana concluiu que não seria seguro ela permanecer na casa de sua tia após a invasão, então, ela aceitou voltar para a pousada.
— Rick, preciso falar com você. Pode me dar um minuto? — pediu Alice.
— Claro. — respondi.
Nos afastamos um pouco da sala onde estávamos e ela começou a me interrogar:
— Rick, isso tem alguma coisa a ver com o seu pai, não tem?
— Como sabe disso? — Questionei-a.
— Pelo que me disse antes de ir atrás da Lana aquele dia, tudo indica que sim. Se não roubaram a casa da Lana nem nada e mataram a tia dela sem explicação, tudo leva a crer que ele seja o maior suspeito. — tomou fôlego — O que pensa em fazer, Rick? Precisamos fazer alguma coisa, antes que aconteça o pior.
— Nós pensamos em falar com um dos assassinos que está em estado grave no hospital, mas ele está em coma. Para prender o Richard, precisamos de provas, Alice. Eu já não sei mais o que fazer.
— Vamos torcer para esse homem se recuperar. Você precisa ajudar a Lana, se o que suspeitamos for verdade, ela corre um sério perigo. — baixou o olhar, de repente — Eu sei o quanto a ama e o quanto se preocupa com sua segurança, por isso quero que saiba que estou disposta a ajudar no que precisar.
— Obrigada, Alice. Eu só tenho a agradecer por tudo que você, o Augusto e a sua tia fizeram por nós hoje, de verdade.
— Não precisa agradecer, Rick. Somos seus amigos.
As palavras de Alice foram o meu maior conforto naquele momento. Muitas vezes me senti impotente diante várias situações, mas tudo era mais fácil quando eles estavam comigo. É nos piores momentos de nossas vidas, que sabemos quem realmente são os nossos verdadeiros amigos. E quando finalmente os encontramos, podemos ter a certeza de que será bem mais fácil enfrentar qualquer situação.
— Mas também quero te pedir uma coisa... — continuou — Tenha cuidado Rick, eu não sei o que eu faria se acontecesse alguma coisa com você.
— Eu vou ter sim, Alice. Fica tranquila, vai ficar tudo bem. — falei.
— Eu espero que sim... — falou — saiba que acima de tudo, você é o meu melhor amigo.
— Obrigada por ser a melhor amiga do mundo. — confessei com um sorriso.
Ela abriu um largo sorriso e me abraçou, com carinho.
— Sempre serei, seu bobo. Sempre. — falou.
Naquele momento, eu pude ter certeza: Não estava sozinho como pensava. Mesmo que não tivesse uma família estruturada que me apoiasse, eu tinha os meus amigos; e mesmo que fossem poucos, eram os melhores que alguém poderia ter.
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