-- Almas em Guerra II --
O prisioneiro caminha pela grama com passos calmos. As roupas simples somadas com as marcas em sua pele o fazem parecer um escravo, mas, seu destino se tornou muito mais tenebroso do que o de um.
A floresta possui um tom vibrante verde, sua aparência transmite uma intensa vitalidade. Porém, mesmo com todo esse aspecto, não há indícios de animais nessas terras.
O prisioneiro para de se mover ao notar algo. Ele levanta um dos pés e o observa; uma faixa foi amarrada pelo local em que teve cortes por pisar na taça, feita com o pano de uma manga.
— Eles querem todos no melhor estado, não é? — pensa. — Baboseira, isso é um evento para crianças?
O homem caminha e, ao perceber algo no trajeto, sua expressão se torna mais séria. Ele para ao se aproximar.
— Realmente... é um evento para crianças. — Ele visualiza à frente uma espada, que está fincada em uma rocha.
O prisioneiro se aproxima da arma, ao estar próximo o suficiente, a retira da rocha com um simples puxar. O metal reflete os brilhos inconstantes dos holofotes formados pelos galhos. Ele deita a espada sobre suas mãos.
— Uma arma estrangeira... E... — Há um caixote posicionado ao lado da rocha, em um canto parcialmente oculto do seu campo de visão. — Se me devolveram isso, então não será tão aleatório quanto eu imaginava.
Algum tempo se passou. O homem continua andando. A espada que pegou está embainhada, presa em sua cintura por um laço. Em suas costas ele carrega aquele mesmo caixote que viu antes.
— Apesar de ser um jogo de criança, é verdade que pesquisaram bem sobre mim, mesmo que tenham me sequestrado quando não o "estava usando", conseguiram algo semelhante.
O prisioneiro para de se mover por alguns segundos.
— Foram os ninjas que fizeram tudo isso. Tanto sobre me sequestrar, quanto sobre descobrir informações minhas, e agora, a distribuição dos equipamentos. — Ele olha de relance para trás. — Apesar disso, não guardo rancor deles. São só cachorros, vazios, suas almas são um reflexo da que pertence ao contratante.
Uma memória ofuscada passa na sua mente: nela ele usa roupas casuais distintas das atuais, uma textura e aspecto pertencente a sua terra natal. No chão à frente estão espalhados vários corpos e manchas de sangue. O homem está com a dianteira coberta de sombras, um preto que se mistura com as marcas rubras. Após uma suspirada leve, suas pernas se movem, tirando-o desse local. A memória acaba, retornando a realidade.
Uma pena, que está sendo usada como pincel, vai sendo movimentada rapidamente, usada para a escrita em um bloco de folhas. Quem a usa está agachado sobre um galho, sustentando-se com a parte da frente dos pés. Esse ninja, ao parar de escrever, se lança com impulsos sutis, transitando de árvore para árvore em alta velocidade.
Ele persegue em sigilo o prisioneiro, fazendo anotações sobre suas ações quando acha necessário.
— Isso esclarece algumas coisas — pensa o prisioneiro, que ignora a presença do perseguidor. — Mas no fim, nada disso me importa. Mesmo que isso seja um evento para crianças, uma competição sangrenta para entreter algum lorde psicopata... Se com a vitória eu tenho alguma chance de voltar para minha terra, eu irei a perseguir.
Uma ventania passa, levantando os pedaços de grama e folhas pelo chão.
— Pois tudo o que desejo, é me encontrar em "seus" braços outra vez. Qualquer coisa que se ponha no meu caminho sobre isso, não terá a atenção da minha mente, e sim, das minhas "lâminas".
O prisioneiro desaparece no fundo da mata, nenhum oponente surgiu para o combater no primeiro dia.
Primeiro dia, total de sobreviventes: 7.
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As brasas de uma fogueira cintilam intensamente. O tempo atual é de uma madrugada escura, sem vento; a paisagem à volta está inundada pelo breu, o que tornou suas silhuetas obscuras.
Apoiado de costas para uma rocha próxima do fogo, é onde está o prisioneiro. Sua postura está relaxada, mantendo as pernas estiradas pelo solo e os braços caídos. Apesar de estar com os olhos abertos, encarando um dos lados do ambiente, sua respiração densa deixa claro que ele está dormindo.
Uma folha cai de uma árvore, indo de um lado para outro no balançar. A folha some na grama, fazendo um ruído; as chamas soltam faíscas no quebrar do graveto; o prisioneiro acorda, mexendo a feição por um instante, apertando as sobrancelhas.
Três projéteis saem da escuridão, indo rápido em direção ao homem; ele move o pescoço para o lado, permitindo que as shurikens se finquem na rocha.
Devido à esquiva repentina, ele está com um braço o apoiando no chão ao lado, o usando para se erguer. A caixa que carregava está há alguns metros de distância, em um buraco. O prisioneiro pega a espada jogada no chão, a desembainhando.
— Um ninja atacando, presumo que tenha sido ordenado a se envolver — fala o prisioneiro, em alto volume. — Ou... isso é de seu interesse próprio? Deseja vingança pelos seus companheiros que matei?
O silêncio é a única resposta que recebe.
— Os estrangeiros são calados, — pensa — parece que ele não vai se apresentar.
Ele caminha para mais próximo da fogueira.
— Creio que não posso reclamar. Nessa situação, se eu estivesse em seu lugar, também não falaria nada.
Sons de passos começam a soar nas sombras.
— Que surpresa. Pensei que ele iria se esconder até encontrar outra brecha, e então, tentar me matar outra vez.
Uma silhueta masculina surge, carregando na mão uma katana curta e, na outra, um sai. O fogo revela de vez sua aparência. É um homem magro, com vestimentas semelhantes ao do demais prisioneiro. Sua expressão é fechada como a de um maldito bandido arruaceiro. Seu cabelo é curto e amarelo.
— Então não é o ninja que busca minha cabeça — comenta, vendo o desconhecido se aproximar gradualmente.
— Não se preocupe, eles não vão fazer isso. Pelo menos, não antes dos três primeiros dias! hahaha!
— Entendo. Você. Matou um deles e roubou os equipamentos, huh?
— Hahaha! Não vou te chamar de esperto por acertar algo tão óbvio. Sim, matei um. Um deles até tomou o seu lugar para me vigiar, e, mesmo sabendo do que eu fiz, ele não procurou vingança nem nada. Parece que a vida dos companheiros não são importantes para esse clã.
O loiro começa a levantar os braços, preparando-se para atacar.
— Simpatizo com eles, afinal é idiotice ficar ligado a outros. Não é profissional!
— Antes de irmos ao que interessa... Na minha terra existe uma lei. Antes de um duelo, tenho que me apresentar.
— Isso parece inconveniente. Bem inconveniente. Certo, me diga quem és.
— "Araize, o de mãos ensanguentadas."
— Que título, em? Hehe... Interessante. — Um sorriso torto se forma em seu rosto. — Foi mal, mas eu, por outro lado, não vou me apresentar. Não sinto necessidade. Apenas pense que eu não tenho mais shurikens para te atacar na longa distância, por ter gastado a maioria em outro idiota, então vim resolver isso na curta distância.
— Como eu disse, é uma lei, e ela me obriga. Não posso lutar sem me apresentar. Pessoalmente, não tenho interesse em me lembrar de todos os estranhos que já matei.
— Hahaha! Assim que tem que ser! Pra mim esse papo de honra e leis é só lorota.
Os dois se encaram por alguns momentos. No centro do caminho entre eles está a fogueira. Com a expelida repentina de várias faíscas do fogo, a batalha começa.
O loiro corre no rumo do inimigo, abaixando a cabeça e o centro de gravidade, tornando seu semblante mais insano à medida que se aproxima; Araize dá um passo para trás, paralisando nessa postura enquanto aguarda o adversário.
Ao estar próximo o suficiente, ele ataca com a sai, fazendo o inimigo esquivar inclinando o torço para trás, em sequência o loiro tenta o golpear com uma estocada da espada, que é evitada com um salto para o lado. Ele o persegue, desferindo ofensivas rápidas com as duas armas; Araize desvia dos ataques indo para trás, com passos rápidos e inclinações do corpo.
Pedaços de panos são rasgados para o ar. A parte da vestimenta no peitoral do prisioneiro foi acertada, mas ele não foi ferido. A sai se choca contra a lâmina da katana de Araize. As armas dos dois tremem pela resistência imposta de ambos os lados. A expressão do loiro se abre mais em ânimo. Uma estocada atravessa a silhueta do primeiro prisioneiro, executada com a katana curta. Sangue vai para o ar.
As gotas do vermelho desabam sobre o solo. Parte do peitoral de Araize foi cortado em um trajeto diagonal, ainda sim, o dano foi superficial. Existe agora alguns metros de distância entre os dois.
— Ei ei! Você até que se move bem, mas é um desprezível com a espada! — caçoa o loiro.
Araize avança, aumentando o aperto das mãos no cabo, lançando uma sequência de ataques de balanços densos, que seu oponente desvia facilmente usando as armas, deixando-os deslizar no metal em direção ao vácuo; faíscas são espalhadas a cada colisão do vulto branco sobre o material.
O loiro trava um dos golpes com a sai, em seguida tenta cortar o pescoço de Araize com a outra arma; o prisioneiro larga a espada e se abaixa o mais rápido que pode, sentindo um vulto passar por cima. Com um pulo, ele abandona o confronto, pousando próximo da rocha. O loiro joga a katana capturada para o solo, onde fica cravada por coincidência.
— Quando estava atacando a luta tinha melhorado, mas o que fará agora sem sua arma?!
Araize pega duas das shurikens presas na pedra, o que surpreende o loiro, sucedendo de as lançar contra seu oponente. Os projéteis viajam rápido, mas não tanto quanto no arremesso anterior. O loiro as reflete com movimentos rápidos dos braços, percebendo só após que perdeu o oponente de vista.
Uma pisada forte é desferida sobre o solo, Araize está bem próximo do loiro, que ao notar a sua proximidade, salta para o lado, ficando perto da fogueira, surpreendendo-se ao notá-lo à frente com uma postura baixa. A franja do prisioneiro balança, expondo parte do olhar afiado de cor azul.
O loiro pula mais uma vez, é perseguido, e, em nenhum momento lhe é permitido alguma oportunidade para estabilizar sua postura de combate.
Quando o loiro nota, ele trouxe Araize para perto da katana abandonada, derrubando um rastro de terra com a saída do metal. A lâmina colide contra a cruz que o inimigo fez usando as duas armas, estremecendo sua defesa. Os músculos da perna, braço, pescoço e cintura do Araize se ressaltam jogando o oponente para trás, ganhando o embate.
Ainda assustado, o loiro recua com um salto, procurando tempo para estabilizar sua respiração; nisso ele acaba pulando por cima do fogo, logo vendo o demais prisioneiro em seu encalço; por um golpe está sendo projetado desde debaixo, a katana atravessa o fogo, carregando consigo partes das chamas, sucedendo de atingir a defesa de cruz, um impacto que espalha centenas de faíscas, inundando a expressão do loiro em tensão.
Os dois começam a trocar golpes pesados e, apesar de estar atordoado, o desconhecido consegue defender e se esquivar de todas as ofensivas que são lançadas, usando as brechas para causar cortes superficiais pelo corpo do adversário. Poeira ronda os pés de ambos, sangue é jogado para o ar. Mesmo com tudo isso, o semblante do Araize não é abalado.
— Agora! — pensa o loiro enquanto abre mais os olhos. Ele deixa propositalmente uma brecha aberta para o seu pescoço, logo depois de defender um ataque com sua katana curta, que está o fazendo ir para trás. — Venha! Vise o meu pescoço! Se você for um espadachim bom, é impossível que seu reflexo não se aproveite desse momento!
Com uma pisada brusca para o lado, Araize libera um golpe diagonal para cortar o pescoço do oponente. A espada viaja rápido pelo ar, um sorriso largo se forma no rosto do loiro. Ao impulsionar com os dedos, o homem gira a sai em alta velocidade, usando a tsuba para travar a arma do inimigo. Na mesma mão que segura a sai, o seu dedo mindinho está levantado desde a guarda com uma shuriken deslizando pelo contorno.
— Estou acostumado com situações assim, seu idiota! Esqueceu que eu sou um assassino?! — considera. Seu mindinho enrijece, deslizando o projétil, jogando-o na direção da cara do inimigo. — Tome isso e perca a maldita compostura!
O loiro fica pasmo ao notar que Araize já havia soltado o cabo da katana desde algum tempo.
Afinal, ele não é um...
A shuriken o corta, mas não no olho, no braço esquerdo, tão superficialmente que é jogada para longe com a colisão. O loiro sente o seu tempo de ação esvair-se, se apressando em movimentar as pernas, que o jogam para longe; ao dar uma pisada à frente, subitamente Araize se aproxima do oponente, fortalecendo os dedos enfileirado da mão esquerda, usando-os para perfurar o plexo solar do adversário igual uma lança, causando um grande espalhar de sangue da área atingida.
— Hã!? E-ele perfurou com a mão nua?! — Sangue vaza por sua boca, que fica tão ocupada expelindo que perde a função da fala. Ele tenta se empurrar mais uma vez para trás com os pés. — O que é esse cara?! — pensa.
Antes que o oponente pudesse pular, Araize o puxa para próximo com a mão esquerda, e, quando ficam cara a cara um com o outro, ele dá uma cabeçada, afundando a face do adversário, rachando o crânio, lançando a cabeça dele para longe, causando o dobrar do corpo. Com o rosto destruído virado para o céu, o loiro só pode o visualizar como uma imagem falha, que se borra de vez em uma mancha de tons.
— E-esse maluco! Ele...! Ele...!
Ao tirar a mão esquerda do plexo solar do adversário, o corpo dele despenca de costas para o solo enquanto libera laços de sangue para o ar. Antes de desabar por completo, o loiro tem uma última vista do olhar gélido do Araize, que está coberto lateralmente pela luz da fogueira, que lhe destaca as feridas.
— Ele não é um espadachim!!
O corpo do desconhecido colide contra o chão. O vencedor não demonstra mudanças nas emoções mesmo com o feito.
Total de sobreviventes até o momento: 5.
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