-- Almas em Guerra I --
O sol está brilhando forte, tanta glória que nenhuma nuvem ousa estar próxima. A sua presença é igual a de uma enorme joia incrustada no azul.
Os ruídos de uma carroça se movendo soam, os galhos de algumas árvores balançam devagar devido ao vento. Folhas caem.
A estrada de terra está em um solo alto acima da borda de uma floresta, estando a vários metros da altura das maiores árvores. O transporte avança em um ritmo lento...
Dentro da carroça estão sentadas dez pessoas encapuzadas, algemadas pelos braços e pernas, sem exceção. Todas portam estaturas, pesos, cor de pele e personalidades diferentes; além de motivações diferentes, desejos diferentes; sóis diferentes.
Pelo tom de alguns braços expostos ali, comparando-os ao aspecto nos dos guardas, está claro que alguns são estrangeiros.
A carroça para. Quatro guardas, que seguram lanças, guiam os passos dos prisioneiros para fora do transporte. Os que falham no ritmo são empurrados por batidas do cabo das armas, que quase os tiram o equilíbrio. Pés se movem com movimentos curtos pela terra, pois as algemas não permitem nada além disso.
Do lado de fora, os prisioneiros são alinhados um ao lado do outro. Os guardas em nenhum momento relaxam em manter a atenção. À frente do grupo está um homem: é velho, usa roupas folgadas de cores roxa e preto, que possuem adornos dourados pelas bordas; o chapéu quadrado, do tamanho da sua cabeça, tem um símbolo no centro de cruz com pontas gordas. O olhar dessa pessoa é afiado, coberto por sombras que não tiram o brilho das suas íris amarelas.
Ele olha os dez indivíduos, um por um. Um sorriso curto, que expõe malícia, se forma no seu rosto.
- Então esses são os dez espécimes - comenta, apertando o olhar, prosseguindo em observá-los. - Não parecem ruins. Pelo contrário. São bem distintos, isso é bom, torna mais interessante.
- Senhor, devemos entregar as dosagens agora? - indaga um dos guardas.
- Sim... Eu esperei muito tempo por isso. Não me faça esperar.
- C-certo. Serei o mais rápido possível.
As íris do velho deslizam pelas escleras, focando-se nesse guarda, lhe causando temor imediato.
- Não gostei.
- O-o que quer d-dizer, senhor?
- Não gostei de você.
O guarda fica em silêncio por alguns segundos, não sabendo o que responder.
Uma mancha branca viaja em alta velocidade pelo ar, dividindo o pescoço do guarda e, antes que o sangue jorrasse no velho, dois subordinados se põem no caminho, sendo eles os tingidos de vermelho, não deixando nenhuma única gota passar. O corpo despenca.
- Vejo que ainda são bem treinadas as pessoas de seu clã - fala o velho para a silhueta próxima, uma obscura e alta.
Uma espada é balançada para próximo do solo, tirando o excesso de sangue da lâmina. O usuário usa roupas negras por todo o corpo, incluindo a cabeça, equipado com partes leves de armadura à volta das articulações e pontos vitais. É um ninja, um bem robusto. Seu olhar sério é a única coisa exposta pelos panos.
- O seu elogio é uma honra - responde, batendo o punho contra a palma enquanto inclina-se de leve à frente, em reverência.
- Curioso. Vocês se tornam mais leais que samurais quando contratados, que clã exótico. Em todo caso, é sempre bom ter os serviços de vocês para um evento como esse. Seus homens já se posicionaram?
- Sim, todos cumprirão com êxito os seus serviços.
- Ótimo.
O corpo do guarda abatido está sendo carregado para longe do local. O velho volta a olhar para os prisioneiros, ordenando para os subordinados:
- Se não existem empecilhos, comecem logo o procedimento.
- Sim, senhor!
Um dos guardas coloca uma caixa de madeira no chão. Ela tem um aspecto brilhante diante do sol, possuindo desenhos de meias espirais nas extremidades. Ao ser aberta, de seu interior é pego uma garrafa de vidro preenchida por um líquido de tom verde-claro. As algemas densas de um dos dez cai para o solo, repelindo uma quantidade pequena de terra ao colidir.
- Beba - diz o velho.
O guarda enche uma taça com o líquido, em seguida o entrega nas mãos do prisioneiro, que foi desalgemado pelos membros. O silêncio toma o local durante os segundos em que essa pessoa segura a taça sem se mexer, sentindo o ar pesar em toneladas de escuro, sentindo o encarar incessante do velho. A água esverdeada desce rápido pela garganta do prisioneiro, que ao terminar, estende a taça para o guarda.
- Não é para a devolver - fala o idoso. - Quebre. Apenas isso. A quebre.
O braço do prisioneiro se retrai lentamente. A taça é largada, sendo estilhaçada ao levar uma pisada.
- Hahaha! Bom. Muito bom. - O velho bate palmas, comemorando como uma criança.
O pé levantado do prisioneiro sangra pelos cortes que levou com a ação, voltando sem reclamar para a postura que mantinha antes. As algemas são postas outra vez em seus braços.
De vez em vez as taças são entregues para os nove que faltam, durante isso, os pensamentos do velho soam: - Sim! finalmente chegou o dia! Isso é "sagrado". Pois, faz parte do "dia sagrado". Hahahaha! Esperei muito tempo! Quando foi a última vez?... Há dez anos?... Isso não importa... Só me deixe apreciar cada momento disso! - Taças são quebradas. - Não foi fácil, nem barato, caçar guerreiros de terras dos horizontes. Mas isso era necessário. Era, tenho certeza. Afinal... cada um de vocês estava predestinado a se tornar meu boneco. Meus bonecos. Cada um. Isso é bom, isso é ótimo! Hahaha...!
Chegou a vez do último dos dez tomar o líquido. Esse é o mais baixo entre eles, seus membros expostos são magros, mas bem definidos. O sol segue brilhando forte; o indivíduo toma o conteúdo da taça. Ou, ao menos assim parece. A água esverdeada escorre das bordas de sua boca para o solo.
- Ei! O que está fazendo?! - reclama um guarda. - Engula! Não deixe cair!
O objeto é despedaçado por um murro, os fragmentos se espalham em um mundo de reflexos puxados de luz; não todos eles. O prisioneiro pegou os dois maiores pedaços e, com um movimento rápido, ele finca um deles na garganta do homem próximo, afundado-o pela lateral.
Mortalmente ferido, o guarda só consegue esboçar uma expressão de surpresa antes de se contorcer em dor, perdendo de vez os sentidos.
Ainda se aproveitando deste instante, o prisioneiro arrasta um de seus pés à frente o máximo que pode e, apesar das correntes que o selam embaixo, impulsiona o arremesso do outro pedaço de vidro, lançando-o na direção do velho. O material viaja pelo ar em alta velocidade; o velho observa sua aproximação com um sorriso e olhos abertos ao máximo.
Uma lâmina é balançada pelo ar, deixando um borrão de branco pelo caminho, criando uma corrente de ar circular com seu cessar.
Na ponta da katana erguida está o pedaço de vidro equilibrado. O ninja mantém uma postura de pós golpe, paralisado, sendo o responsável pela anulação do ataque.
O prisioneiro que tentou executar o assassinato está assustado, dando alguns passos para trás. Os outros indivíduos continuam imóveis apesar da situação.
O braço do ninja é balançado, se tornando um vulto, liberando duas shurikens com alta rotação no rumo do prisioneiro; seus reflexos agem, ele as pega no ar; o que é em vão, sangue jorra da sua coxa direita, cortada pela passagem de um terceiro projétil oculto, atualmente fincado no chão.
As duas shurikens caem no chão sujo de vermelho.
Por uma artéria ter sido rompida, sangue não para de sair; o prisioneiro tenta conter o ferimento com as mãos, repleto de ansiedade, pressa e descuido, esquecendo do mundo ao redor; seu peitoral é atravessado por uma lança, estufando-o contra sua vontade.
Com um empurrão da perna do guarda, a lança é retirada da carne, e então, o corpo do décimo prisioneiro cai morto.
Alguns dos encapuzados olham para o cadáver, os outros não se mexem, ignorando-o.
O velho gesticula para alguns guardas, ainda mantendo um sorriso no rosto, porém mais leve que aquele imerso em insanidade. Os corpos dos abatidos são carregados para longe dali.
Restam nove prisioneiros.
- Certo, é uma pena que um dos bonecos se foi de maneira tão precoce - fala o velho. - Mas... fazer o quê. Ele rendeu "boas palavras", então sua vida não foi em vão... Isso! Não foi em vão! Vocês concordam, não concordam?!
Todos prosseguem em silêncio, incluindo seus subordinados. Uma formiga para na terra vermelha.
- Ha ha ha! Maravilhoso! Hoje é um dia maravilhoso! - Ele levanta seus braços para o alto e olha para o céu como uma criança. - Vocês devem estar se perguntando: "Qual será o nosso serviço 'sagrado' por aqui?" Bem, meus caros sortudos do sul, leste, oeste e norte. Eu irei explicar tudo.
O velho pede a espada do ninja com o estender do seu braço. Ele hesita por um instante, talvez por estimá-la, mas a entrega para seu senhor. Com uma gargalhada, o homem começa a golpear o ar várias vezes, sempre na mesma postura e lugar; seu suor foge da face, brilhando por refletir a luz do sol.
Ao parar de atacar, sua gargalhada cessa junto, ficando desanimado de imediato. Ele diz:
- Jogados. Isso. Vocês serão jogados nessa floresta. Só um poderá sair, sem exceção. Só um.
Mais duas formigas se juntaram na terra manchada de sangue.
- Vocês devem se matar. Sim, se matem, se ainda quiserem ver um amanhã. - A espada é apontada para os prisioneiros. - Não há outro caminho. Se tentarem fugir, serão mortos e tudo o que lhes é precioso, desde bens materiais a familiares ou amigos, serão apagados junto. Vocês não são mais rápidos que os ninjas do clã Asure. Eles não falham, mas... vocês falham.
Várias formigas estão amontoadas no vermelho.
- Querem ter um amanhã? Querem retomar suas vidas? - A expressão do velho fica estressada. - Que idiotice! Estão participando de um evento sagrado, e mesmo assim querem ir embora?! Ingratos! - Ele começa a desferir pisadas contra o chão, golpeando-o sem sossego. - Ingratos! Ingratos! Ingratos!!
As formigas foram esmagadas.
- Mas... é assim que os humanos são. São idiotas. Simples. Hahaha! E isso é o que também os tornam interessantes! É isso que os tornam dignos dessa festividade feita por mim! para mim!
Os prisioneiros cambaleiam, alguns caem de joelhos ou para trás.
- Bem, vocês entenderam. - Seu tom volta a ficar sem ânimo, olhando-os com desprezo. - Não haverão exceções, só um poderá viver. Não existem meios de fugas. Não existe esperança ou regras ocultas. Em três dias o "vencedor sagrado" será resgatado. "E se tiver mais de um sobrevivente?" Então nada viverá, pois o evento terá sido maculado.
O velho se vira com um sorriso estampado, a vista de um dos prisioneiros o está se fechando contra sua vontade, sofrendo com os efeitos da bebida.
- Agora durmam! Afundem no mundo dos sonhos antes de entrarem no paraíso para os idiotas! Que é onde vocês poderão mostrar seus verdadeiros valores! HA HA HA!!!
Todos os encapuzados estão desmaiados pelo solo. O velho parte de local. O ninja e os guardas olham com seriedade para eles, mas não pena, um luxo que jamais terão.
Os prisioneiros são carregados por alguns homens, descendo por uma rota inclinada para chegar a área da floresta.
----------
Horas se passaram. Todos os prisioneiros, agora sem seus capuzes, foram espalhados em pontos diferentes da zona da floresta, um ambiente não muito grande, rodeado por subidas de terras, semelhante a uma fôrma.
O primeiro prisioneiro, o primeiro a beber da taça, desperta do seu sono no solo, notando que está estirado sobre a grama.
Vento passa pelo local, mexendo levemente a vegetação e os cabelos curtos de tom castanho desse homem. As roupas dele são simples como a de um aldeão. Uma franja de tamanho irregular cobre seus olhos.
Em contraste a rigidez apresentada desde então em sua expressão, um sorriso curto se forma em seu rosto.
- Então, "Farime"... eu ainda tenho a chance de poder te ver?... - pensa, presenciando as palavras se amontoarem em um fundo negro, onde tremem.
Começando com um passo, o primeiro prisioneiro avança em direção a matança.
----------
Em uma cabana, o velho aguarda o resultado dos combates em uma poltrona, se deliciando com vinho, outras bebidas e alimentos que seu servo traz.
Suas bochechas sãos amassadas pelo esboçar de um sorriso extenso, sendo o único que desfruta desse evento diabólico, ou, isso seria um engano meu?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro