Sorrisos inevitáveis
Notas iniciais:
Eu não sou muito fã de colocar notas inciais, mas eu precisava! Indico totalmente vocês lerem esse capítulo escutando a música Lose my cool da Foxes, foi ela que me ajudou a terminar esse capítulo, e eu estou completamente viciada nela. Espero que gostem do capítulo!
Capítulo 3
- Arabella Lockhart
- Sorrisos inevitáveis
- Já está pronta, alteza? - Frida me perguntou quando eu terminei de calçar meus saltos.
Levantei-me e dei uma última ajeitada em meu terninho, ele era verde água claro, como se estivesse esbranquiçado. A blusa de dentro tinha um tipo de gravata que se alongava até minha cintura, era leve dando a impressão que tinha um lenço amarrado bem ali. O blazer por cima e minha calça social justa que batia até um pouco acima dos meus tornozelos. Os sapatos de cor marfim dando um contraste perfeito. Nessas situações que eu achava minha roupa perfeita eu literalmente tinha uma vontade de dar pulinhos e deixar um gritinho fino escapar da garganta.
É, Arabella Pariseau Lockhart tinha seu lado artístico voltado para a moda, um bem pequeno e quase nunca exposto, mas tinha! Meu cabelo estava em um coque frouxo como eu normalmente usava e como joias reais só carregava brincos de perola e minha tiara.
- Sim, estou - falei tocando uma última vez em meu colar que não era da realeza, mas era real e eu estaria carregando, antes de coloca-lo por dentro da blusa.
- A rainha lhe aguarda no salão amarelo para o café da manhã, alteza - Raphael me informou assim que Frida abriu a porta do quarto me dando espaço para passar.
- Meu pai e meu irmão não estarão presentes? - perguntei já seguindo a frente apenas com minha agenda em mãos.
- Não, o rei me pediu para lhe entregar isso - Raphael chegou até meu lado e me entregou um papel dobrado ao meio com extremo cuidado.
Sempre que meu pai não conseguia nos encontrar para alguma refeição ele se sentia na obrigação de se justificar conosco. Uma pequena carta com breves palavras em sua caligrafia impecável mostrando que ele havia escrito com total calma, que não era algo que ele escrevia de mau grado e nem corrido, ele escrevia porque queria.
No papel ele pedia desculpas por nem ele e Sebastian não poderem estar presentes para o café da manhã, mas que se tivéssemos sorte nos encontraríamos novamente no jantar para uma refeição em família, ou quase já que agora Elisa estava na escola preparatória.
E ela fazia tanta falta! Elisa sempre estava no castelo, era como se quando voltávamos de um longo dia atribulado sempre teria alguém de sua família te esperando para te receber, era reconfortante.
Mesmo que ela não gostasse de ficar no castelo, mesmo que ela nem quisesse saber sobre o que havia acontecido nas reuniões e eu pudesse desabafar com ela, Elisa era minha irmã e eu sentia saudades dela estar no quarto ao lado me irritando ou eu mesma resmungando por algo que ela fez.
- Obrigada - agradeci a Raphael o olhando apenas de relance e continuando meu caminho para encontrar minha mãe.
O salão amarelo se localizava no primeiro piso do castelo, minha caminhada até lá não demorou quase nada e quando cheguei lá minha mãe conversava algo com Elena, sua assistente.
Eu achava isso bem engraçado sobre Elena, quando Sebastian e Elisa eram mais novos eu vivia ouvindo piadinhas sobre Elena e ela sempre revirava os olhos para eles logo após lhes dar um puxão de orelhas, e atualmente eu continuava a ouvir as piadinhas (que vou revelar eram engraçadas, muitas vezes eu me segurava para me manter inexpressiva!) e Elena continuava a revirar os olhos para os dois. Nada mudou nesse quesito com o passar dos anos. Mas tudo isso não era algo desrespeitoso era só porque Elena parecia que comandava um exército com toda sua preocupação e horários.
- Bom dia, mãe - falei indo em sua direção e dando um rápido beijo em seu rosto - Bom dia, Elena - ela acenou para mim com um pequeno sorriso enquanto escrevia algo em seu tablet.
É, ela era mais uma que se rendi a tecnologia, enquanto eu sempre amei anotar cada coisa que eu fazia, cada detalhe e depois poder ler com minha própria letra, acho que chegava a ser paranoico essa coisa de preferir escrever eu mesma em um papel.
- Já está de saída? - perguntei.
Sim, nós tínhamos nossas refeições juntos, mas aquela bem ali na minha frente era a rainha de Parforce, com toda sua calma e elegância, ela sempre estava fazendo e pensando em algo. Era difícil marcar um horário privado com ela, mas minha mãe sempre fez o possível e nunca nos negou todo aquele amor com que fomos criados.
- Nada disso - ela disse com um leve sorriso -, ainda temos alguns minutos antes de termos que nos separar.
- Nos vemos daqui a - Elena olhou em seu relógio de pulso - uma hora no máximo para resolvermos as fantasias, tudo bem?
- Tudo bem - eu concordei e quando me sentei na cadeira à frente de minha mãe, Elena se levantou e se retirou do salão. Deixei minha agenda no canto da mesa bem distante de nossos pratos ainda vazios.
- Evento educacional hoje? - minha mãe perguntou e eu assenti ao mesmo tempo em que estendia meu guardanapo de tecido em meu colo.
- Sim, vai ser divertido ver as crianças vencedoras do campeonato de matemática da escola de Heide e de outros condados, estou animada.
- Você fez um discurso com antecedência, não é? - ela me perguntou e eu concordei com um sorriso.
- Como adivinhou? - perguntei ainda com um leve sorriso e minha mãe riu segurando o bule e derramando um dos líquidos mais maravilhosos do mundo em minha xícara - Camomila? - perguntei como uma criancinha.
- É pra te relaxar, sei que fica um pouco nervosa antes de um discurso e você ama camomila, então! - minha mãe deu de ombros e eu bebi um gole do meu precioso.
Ok, eu era completamente viciada em chá de camomila o que irritava meus irmãos, eles tinham até nojo do cheiro do chá de camomila.
- Você notou algo diferente em seu pai ultimamente? - minha mãe perguntou antes de bebericar seu café, Elisa tinha alguém a quem puxar, eu tinha a certeza de que bastava o aroma de grãos de café moído para deixar minha mãe ativa por mais uma hora, ela era completamente viciada nisso.
- Deveria? - perguntei começando a pegar a taça com frutas na pequena mesa em que estávamos acomodadas - Aconteceu alguma coisa? - continuei perguntando dessa vez a encarando.
- Ele está sobrecarregado! - ela esclareceu e eu vi sua postura se transformar, de mãe para rainha - Seu pai colocou na cabeça que você não quer aceitar o trono de modo algum e está começando a lhe excluir de reuniões muito importantes e dirigindo isso para Sebastian - ela suspirou ainda segurando a xícara em suas mãos -, ele está treinando Sebastian e isso está o deixando exausto, porque era para você estar cumprindo esses compromissos.
Encostei-me devagar na cadeira em que estava sentada e respirei fundo. A pequena seta de meu colar grudava em meu peito com força, seu significado pesando mais do que nunca.
- Eu ainda não me decidi - respondi começando a desistir em comer algo, meu estômago já havia se embrulhado em um pacote.
- Mas seu pai tenta não impor isso a você, eu sei que ele quer você no trono, mas se você recusar...-ela não precisou terminar a frase, eu sabia que Sebastian teria que assumir e ele teria que estar pronto para isso.
- Eu vou conversar com ele o mais rápido possível - eu afirmei e ela sorriu gentilmente.
- Obrigada, querida, mas não posso ver Frederic dando tudo de si e estando acabado no final do dia para na próxima manhã fazer tudo outra vez!
Suspirei, minha mãe era forte em seus argumentos sentimentais e quando se tratava do meu pai ela era uma grande guerreira, sempre tentava deixar seus filhos para cima também, mas falando sobre o trono ela tinha que escolher ser esposa e rainha ou mãe, e se estivesse no lugar dela também escolheria ser esposa e rainha. Porém, eu era a filha e me sentia sobrecarregada com esse assunto, conversar sobre a decisão de uma família e um país.
- Eu entendo - foi tudo que consegui comentar antes de tentar iniciar verdadeiramente meu café da manhã.
Depois dessa conversa tão tensa para os únicos poucos minutos que tínhamos juntas, mesmo que para ela essa conversa fosse necessário, a minha vontade de comer já não existia e o que eu colocava em minha boca parecia amargo e eu queria apenas sair daquela sala, mas continuei a comer e fingir que estava tudo bem para mim.
- Bom - minha mãe voltou a falar após algum tempo e sua torrada já estar na metade -, você e Sebastian participarão de uma entrevista juntos, não é? - ela perguntou enquanto passava um pouco mais de manteiga na torrada.
- Isso, vamos substituir o ministro da saúde.
- O Ronald Bendetti, certo? - assenti - Compreendo - ela disse e deu uma pequena mordida em sua torrada desviando o olhar para sua xícara de café, ela estava querendo falar algo e logo de cara entendi.
- O que a senhora quer me falar sobre o Sebastian? - perguntei voltando a me endireitar na cadeira e arqueando uma sobrancelha.
Pelo menos essa conversa seria mais agradável, ouvir minha mãe falando sobre meu irmão e suas namoradas era sempre muito divertido, quase tão divertido quanto perturbar Elisa pelos seus modos. Ok, por mim a implicância com ela era necessária, muita coisa que ela vestia ou como agia atrapalhavam um futuro como princesa bem centrada (se bem que o próprio espírito de Elisa não era nada centrado!) que ela deveria ter, mas era engraçado sempre fazer algum comentário sobre algo dela, digamos como uma irmã implicante.
- Você sabe se ele está saindo com alguém? - ela perguntou apoiando o cotovelo na mesa e ignorando qualquer regra de etiqueta que ela tanto havia nos ensinado em nossa infância.
Eu terminei soltando uma risada e negando com a cabeça.
- Mãe, a última coisa que quero saber é sobre os casos do meu irmão - falei voltando a pegar minha xícara de chá e tomar um pequeno gole.
- Mas - ela se endireitou em seu assento -, se você descobrir algo vai me contar? - ela perguntou me olhando com sua cabeça abaixada em direção ao seu café.
Era engraçada demais aquela cena para eu não soltar mais uma pequena risada, uma mulher elegante com uma coroa brilhante me encarando como uma adolescente atrás de novas fofocas.
- Nem pensar! - falei e coloquei mais uma colher recheada de frutas em minha boca.
- Mas por quê? - ela perguntou indignada agora com a cabeça levantada.
- Já é o suficiente apenas as revistas de fofocas muito interessadas nos relacionamentos de Sebastian, a senhora também não! - contrarie retirando o guardanapo de meu colo.
- Arabella, às vezes você precisa ser um pouco mais curiosa! - ela falou com um leve sorriso.
- Com certeza - me levantei e fui até o seu lado dando um leve beijo em sua bochecha também pegando de volta minha agenda na mesa - Até mais tarde, me encontrarei com Elena para determinar nossas fantasias para os Jogos Belforte - falei enquanto já me dirigia à saída do salão.
- Escolha com sabedoria - ela disse ainda com seu sorriso leve exposto.
Assenti e abri a porta para me retirar, encontrando Raphael conversando com Frida no corredor, os dois levaram um susto ao me perceberem e ficaram de frente para mim com o corpo tão reto quanto podiam.
- Vou resolver alguns assuntos com Elena e aí sim vou estar pronta para sair - informei aos dois e eles concordaram.
Não dei nem mais nenhuma palavra para eles, eu sabia como era difícil conseguir um tempo a sós naqueles corredores tão movimentados e com total sinceramente, não queria ter atrapalhado a conversa dos dois.
Fui andando pelo corredor e virei na segundo direita, na sala de jantar que estava sendo arrumada e supervisionada por Elena, ocorreria algum evento no almoço que minha mãe estaria presente. Quando Elena me viu ela me indicou a mesa e fomos nos sentar em duas cadeiras separadas uma ao lado da outra.
- Bom, melhor terminarmos logo isso para você não se atrasar em cumprir seus horários - Elena me disse ao sentarmos a mesa e eu concordei.
- Minha mãe e Sebastian já deram uma olhada nas fantasias? - perguntei enquanto ela abria pastas e mais pastas de fotos em seu tablet.
- Sebastian disse que o que ele gostaria de usar nós nunca permitiríamos e sua mãe já disse o que o rei e ela irão usar, então só falta você escolher a sua e a de Sebastian - ela disse e finalmente virou o tablet para mim.
No momento em que olhei para a foto já sabia qual seria o tema da festa e o que meu irmão usaria.
Iriamos homenagear os rebeldes de Parforce, vestindo replicas de seus trajes da época. E quando vi isso imaginei que Sebastian precisava ir vestido com uma farda militar, ele iria se sentir extremamente confortável e não iria me culpar por parecer esquisito ou com as roupas apertadas demais para seu gosto.
- Sua mãe ira como Rainha - ela disse me olhando de canto e um sorriso se formou em meus lábios - Eliese Belforte e o rei como o próprio George Belforte.
- Tudo bem, meu irmão irá como um militar da época - falei e ela assentiu firme como se realmente já imaginasse algo do tipo para ele.
- E você? - ela perguntou digitando em outra pasta (como ela não se perdia em meio a tantas pasta?)o que Sebastian iria vestir.
- Ainda não sei, posso ver algumas fotos? - perguntei e ela concordou logo me passando o tablet na pasta de fotos novamente.
Eu passei as fotos e primeiro só se via os ricos que lideraram as rebeliões, os que poderiam ter saído do país, mas ficaram para lutar pelo menos privilegiados. Com certeza isso sempre seria lembrado, mas a maioria também precisava ser uma memória importante em nossa história e foi com isso que me decidi.
- Camponesa - falei deixando o tablet na mesa, eu não precisava mais dele.
- Como? - Elena tirou os olhos de se celular e me encarou.
- Vou como uma rebelde comum, uma camponesa - eu expliquei voltando a ficar de pé e arrumando meu blazer.
- Então será um vestido comum e delicado? - ela perguntou recolhendo com velocidade tudo da mesa.
- Não exagere na delicadeza, eles não tinham tanto tempo e nem dinheiro para tudo isso, mas sei que dará conta - falei com um sorriso bondoso e me virei para sair da sala de jantar.
Agora começaria de verdade meu dia, essas reuniões rápidas, ah quem dera que todas fossem assim! Simples escolhas de roupas, o reino poderia até ser mais feliz com isso!
Sai da sala e me dirigi diretamente para a saída principal onde uma pequena limusine já me aguardava, Raphael estava atrás de mim o tempo todo, mas antes de conseguir sair do castelo eu senti aquele cheiro.
Um perfume amadeirado misturado com o cheiro gostoso dele próprio, Jules. Ele passou por mim, se direcionando ao andar de cima. Jules fez apenas uma reverência rápida e continuou seu caminho.
Como eu gostaria de tê-lo parado, beijado ou pelo menos dado um bom dia que ele merecia, um bem alegre que eu estava disposta a dar. Esses momentos me deixavam insana! Queria que todos soubessem sobre nós e que eu pudesse para sempre falar com Jules nas ocasiões mais importantes, que fosse ele a estar de braços dados comigo em todos os eventos e que ele, apenas ele, fosse o merecedor de estar ao meu lado aos olhos de cada pessoa da Terra.
Quando o pouco sol da manhã me atingiu eu consegui respirar fundo e relaxar as mãos que estavam em punho, mas de tanta força que eu fazia com elas eu nem as sentia mais.
Eu desci um lance de três degraus e a limusine parou bem na minha frente. Raphael abriu a porta para mim e tudo que eu pensava era em quantas vezes respiraria fundo antes da nossa chegada a praça, mas pelo menos poderia arrumar o-
- Oi - eu pulei de susto quando entrei no carro terminando por bater uma parte do meu rosto na porta do carro - Nossa, desculpa!
- Demetria! - a repreendi esfregando aonde havia batido sem nem mesmo ainda tê-la olhado, a conhecia tempo o suficiente para saber que só ela me daria um susto daqueles.
- Eu mesma! - ela disse e eu abri os olhos a encontrando sorrindo com seus cachos castanhos caindo em volta de seu rosto moreno.
Aquela era um das minhas poucas amigas, uma que eu não precisava fingir falsos sorrisos ou levantar o queixo demais para mostra-la que eu era uma princesa e sabia o que fazia. Demetria era extrovertida, mas assim como eu ela era séria quando precisava ser.
- Você não achou que o Peter Pan e o Senhor Frieza teriam me deixado entrar aqui se eu fosse um serial killer, certo? - ela perguntou e logo soltando uma gargalhada quando senti o carro entrando em movimento.
- Eu achei que você fosse me encontrar no evento - eu falei dando uma última mexida no meu rosto quando reparei o que ela havia dito - Espera, Peter Pan?
O Senhor Frieza eu já estava acostumada, era assim que ela chamava Raphael desde que ele começou a trabalhar como meu guarda, mas o outro nome era novidade para mim.
- É, seu motorista - ela indicou os bancos da frente onde Joseph e Raphael estavam.
- Bom dia, Joseph - cumprimentei antes de reparar que já estávamos saindo pelos portões do castelo.
- Bom dia, alteza - ele falou e eu me virei novamente para Demetria.
- Fiquei um longo tempo te esperando - ela disse enrolando um dos seus cachos perfeitos no dedo indicador -, ele tem 29 anos, acredita? Você teria dado em cima dele tranquila!
- Eu ou você? - perguntei erguendo uma sobrancelha em sua direção sem desviar meus olhos da minha agenda que eu havia acabado de abrir.
- Aquele dia lá na escola preparatória - ela sussurrou e eu fechei minha agenda com força.
- Eu fiquei desnorteada - eu falei me virando para ela -, e foi apenas daquela vez.
- Teu passado te condena, dona Arabella - ela falou rindo e se aproximando de mim para encostar sua cabeça em meu ombro.
Eu neguei com a cabeça reabrindo minha agenda e voltando a verificar os compromissos dos meus próximos dias.
- Sabe - Demetria recomeçou a falar -, estamos precisando rir mais! - ela levantou a cabeça, mas continuou próxima de mim - Nem estamos vivendo em momentos tão difíceis quanto nossos antepassados viveram, só que sempre estamos na mesma monotonia, isso é tão errado!
Eu sabia o porquê dela estar falando sobre sorrisos e alegria uma hora daquelas, Demetria estava trabalhando por um tempo em uma agência de advocacia local, ela estava se saindo muito bem até ter que ajudar em um caso que envolvia a morte de uma criança. Minha amiga era forte, mas não tanto quanto ela mesma esperava, aguentou até o final do caso onde não conseguiram reunir provas o suficiente contra o acusado, o homem saiu livre.
- E o que você sugere? - perguntei com um sorriso.
- Não é sugerir algo e sim fazer algo diferente.
Ah, se ela soubesse o tanto de coisas que eu fazia de diferentes, como namorar as escondidas com o guarda de meu irmão, ela iria adorar essa fofoca.
Mas mesmo ela sendo uma das minhas amigas mais confiáveis eu não conseguia contar para ela. Não sabia dizer se era porque eu e Jules nunca tínhamos discutido sobre isso ou porque eu simplesmente não tinha tamanha confiança nela. Eu achava isso injustiça da minha parte, Demetria confiava tanto em mim, eu sabia praticamente de tudo da sua vida, e ela não sabia o detalhe mais importante da minha.
- Sabe - comecei e ela que estava olhando pela janela voltou a me encarar -, o evento será agradável - foi tudo que consegui concluir por enquanto.
- Sebastian nos encontrará? - ela perguntou e eu assenti antes dela voltar a olhar para fora do carro pela janela - Pelo menos daremos boas risadas - ela disse mais animada e eu revirei os olhos, sim, Sebastian iria me fazer forçar os lábios um contra o outro para continuar mostrando minha fisionomia séria para a mídia.
- Chegamos, alteza - Raphael informou antes de sair do carro para abrir a porta para mim. Pela janela eu já podia ver todos os fotógrafos acumulados do outro lado da calçada.
Assim como eu Demetria levantou os ombros e soltou um suspiro, tínhamos realmente que estar preparadas emocionalmente e psicologicamente para passar em frente a todas aquelas pessoas, tentando não decepcionar ninguém que nos desejava ali para um bem maior.
- Vamos - disse apontando com a cabeça para a porta que Raphael abriu para mim. Quando sai Frida e Katherine já estavam me aguardando, já não usavam seus uniformes habituais, mas sim saias sócias pretas até os joelhos e um blazer preto por cima de uma camisa social azul.
- Alteza - elas acenaram com a cabeça -, senhorita Demetria - elas também a cumprimentaram.
- Depois falo com vocês direito - Demetria disse de canto de boca -, no momento preciso ser uma pessoa centrada na frente das câmeras - ela falou acenando para o outro lado da calçada onde os fotógrafos já lançavam flashes em cima de nós.
Frida e Katherine deram uma risada engasgada e viraram o rosto para o outro lado se escondendo das câmeras. Raphael nos indicou o caminho para o chafariz do centro da praça onde se concentrava um maior número de monumentos levantados em nome dos nossos antecessores. Seria lá que eu faria meu pequeno discurso para as crianças e para todos que estivessem presentes incluindo professores e os responsáveis pelas crianças.
E eu realmente me surpreendi ao ver tantas pessoas interessadas na educação, mas o interesse não durou muito quando comecei a ver pessoas querendo chegar um pouco mais perto de mim ou tirar uma foto minha, dando a entender que eu era um tipo de celebridade e que não tinha o mínimo de consideração realmente por o que iria acontecer aqui.
Isso chegava a me dar um pouco de raiva, eu queria pedir para eles que se afastassem, que deixassem que as reais celebridades, que eram aquelas crianças de diferentes condados do país, brilharem em seu dia. Mas eu apenas sorria levemente e acenava para alguns que me chamavam como se aquilo me agradasse ao extremo.
- Tem muitos guardas aqui - Demetria disse baixo ao meu lado, quase não consegui ouvi-la pelo barulho que se fazia ao nosso redor.
Eu concordava com ela, a praça estava infestada de guardas e mesmo assim eles estavam tendo problemas para conseguir conter tantas pessoas.
- Por que não escolheu um local fechado? - Demetria sussurrou novamente para mim enquanto caminhávamos em direção a um pequeno palco montado em frente ao chafariz - Poderíamos estar vendo eles amaçando o rosto contra uma janela de vidro, o que seria muito mais engraçado.
- Eu tentei - respondi deixando um sorriso ainda exposto no rosto -, mas as crianças nunca tinham visitado a praça central de Heide e eu iria me sentir horrível se não permitisse isso - falei antes de recebermos um aceno de Margarett Carson, a atual diretora da primeira escola construída em Heide e organizadora do evento.
Caminhamos em sua direção, ela estava sentada na última cadeira, destinada aos participantes e convidados do evento, que ficavam em frente ao palco.
- É um prazer imenso ter a senhorita aqui, alteza - Margarett falou dando um longo sorriso e fazendo uma pequena reverência em minha direção.
- É uma honra poder estar aqui, Margarett - respondi com um sorriso gentil - Essa é Demetria Benird.
- Estou muito feliz de poder estar presente - Demetria se pronunciou fazendo a diretora sorrir mais ainda -, estou ansiosa para conhecer as crianças!
- E elas para conhecerem vocês! - ela falou feliz e eu tinha certeza que logo ela daria saltos de alegria que Demetria acompanharia sem hesitar.
- Onde elas estão? - perguntei olhando ao redor da praça e não achando ninguém correndo ou brincando.
- O senhor Neumann ofereceu um pequeno lanche para as crianças - ela explicou começando a caminhar e nós a seguimos com Raphael logo atrás de nós junto com minhas criadas.
- Quem é esse senhor? - Demetria perguntou.
- O senhor Neumann é dono do restaurante Château Couronné*¹ - comecei explicando enquanto íamos até seu restaurante que nem chegava a ser uma caminhada de tão perto que era da praça -, ele se ofereceu para fornecer o almoço para todos os convidados do evento.
- Entendo, mas ele é francês? - ela perguntou, devendo ter estranhado o nome do restaurante com o contraste em seu sobrenome.
- Descendente - Margarett completou e eu assenti confirmando -, se não me engano sua mãe é francesa e seu pai parforcense.
Chegamos até o restaurante que a primeira parte era uma incrível vista, seu telhado lembrava de verdade a um castelo (mas se eu fosse criança garanto que acharia que se tratava de um carrossel!), havia um pequeno lance de escadas ao qual depois de subir você perdi o ar com a beleza exposta por dentro do restaurante. Todo o ornamento da decoração era delicado demais envolvendo um brilho de charme e luxo ao mesmo tempo. Eu não sabia como um homem que era dono de um lugar assim aceitaria crianças ali dentro, pessoas donas de lugares desse tipo gostavam de seres humanos que tivesse de dezesseis anos para cima, não queriam estragar sua pradaria ou expor os outros clientes a choros.
Mas quando olhei para as mesas elas se encontravam vazias e estranhei logo de primeira, até sentir Demetria tocar em meu braço e indicar as portas duplas que levavam a cozinha do restaurante.
Uma das portas estava meio aberta e de lá ouvíamos risadas que não cessavam, uma conversa baixa se ouvia, e foi para lá que eu caminhei junto da diretora e Demetria. E quando entramos na cozinha lá estavam todas as crianças ao redor de um dos balcões onde eu deduzi ser o senhor Neumann terminava um prato e explicava para as crianças como ele era preparado fazendo graça e elas não conseguiam parar de rir.
A criança mais velha ali deveria ter quatorze anos e até ela se divertia com as explicações do chefe de cozinha, ao redor deles havia outros cozinheiros, cada ocupado com seus afazeres, mas todos tinham um sorriso no rosto e às vezes lançavam olhares carinhosos na direção das crianças.
- E quando você chega com a calda nesse trecho da corrida - o senhor Neumann falou quando pegou o saco de confeitar e colocou sua ponta ao redor da salada no prato - e aí o carro explode e - ele fez o som de explosão com a boca e apertou o saco de confeitar, mas não só uma vez, ele construiu uma pequena flor delicada com a calda fazendo as crianças e até a mim mesma bater palmas.
- Senhor é modo de falar, certo? - Demetria perguntou enquanto batia palmas e sorria olhando para o dono do restaurante que usava um dólmã*² preto com detalhes em azul, diferente de todos os outros chefes na cozinha que usavam trajes brancos com detalhes em preto.
Ele realmente tinha a aparência mais nova do que eu imaginava, cabelos negros penteados para o lado e a pele bronzeada que combinava perfeitamente com o sorriso carinhoso que ele mandava para as crianças. Uma das crianças soltou um gritinho e quando eu reparei todos eles já olhavam para trás e admiravam ou a mim ou a pequena tiara que eu carregava.
- Queridas crianças, deem boas vindas a nossa princesa - o senhor Neumann pediu e um coro de boas vindas soou em meus ouvidos, eu terminando sorrindo e acenando com a cabeça - Eu sou Aldrick Neumann e bem vindos a Château Couronné.
- É um prazer estar aqui - falei com um sorriso -, e queria parabenizar todos vocês pelo grande feito no concurso! - eu disse com um sorriso para as crainças e todos eles deram um grande sorriso sentindo orgulho de si mesmo como era bem merecido.
- Bom, acho que vocês têm um evento importante aguardando vocês - senhor Neumann falou em direção as crianças -, nos vemos no almoço.
Todas elas saíram passando por mim e dando pequenas e atrapalhadas reverencias, acompanharam a diretora para fora da cozinha enquanto eu e Demetria ficávamos para trás junto com os outros cozinheiros.
- Elas são tão lindas - Demetria sussurrou para si mesma vendo as crianças se afastarem com um sorriso.
- Bem vinda, alteza - o senhor Neumann se aproximou um pouco e fez uma reverencia cordial -, estou feliz que a senhorita tenha aceitado meu convite para o almoço em meu restaurante.
- Eu fiquei extremamente grata com seu convite, as crianças parecem ter gostado muito daqui - eu disse com um sorriso que ele retribuiu - Essa é Demetria Benird, minha amiga e convidada - falei colocando uma das minhas mãos no ombro dela.
- É um prazer conhece-lo - Demetria acenou com a cabeça para ele e ele sorriu devolvendo o aceno.
Demetria sorriu dessa vez, um sorriso que há muito tempo eu não via, mas que me causava certo medo sobre o resultado que ele poderia ter sobre a vida de minha amiga. Na última vez nada tinha saído muito bem e isso fazia parte de um dos motivos por eu ainda não ter contado sobre Jules para ela. Minha amiga tinha medo que meu coração pudesse se despedaçar tanto quando o dela tinha sido.
- O prazer é todo meu - ele respondeu.
- Bom, tenho uma distribuição de troféus para participar - anunciei e os dois concordaram -, se me derem licença - falei já me retirando com Demetria ao meu lado.
Quando saímos da cozinha e estávamos distantes o suficiente olhei ao redor percebendo que Raphael e as criadas ainda estavam na porta da cozinha, pedi com um aceno de mãos para que eles continuasse lá.
- Demetria - a chamei segurando seu braço a fazendo parar e ela suspirou fechando os olhos.
- Foi apenas um sorriso, Arabella - ela disse abrindo os olhos e me fitando.
- Não foi e você sabe disso - eu acusei mantendo minha voz e feições leves como sempre.
- Acho que você tem que esquecer Ethan, sabia? - ela questionou se virando para mim - Eu já esqueci!
- Ele eu já esqueci - garantia -, mas não consegui esquecer o que ele fez com você - apontei para ela que respirou fundo e desviou o olhar.
- Um sorriso inocente para um desconhecido não quer dizer que eu queira algo com ele, sabe disso, não é?
- Às vezes querer algo com alguém é inevitável - falei antes de voltar a me virar para frente e caminhar para a saída fazendo um gesto para que Raphael, Frida e Katherine voltassem a nos seguir.
- É tão incrível o quanto você conhece sobre sorrisos e coisas inevitáveis - ela disse deixando um sorriso desenhado em seus lábios - Um dia alguém vai roubar seu coração e aí sim você vai ver o que é inevitável!
-x-
*¹ O nome do restaurante significa Castelo Coroado até onde minhas informações me permitem saber, se estiver algo errado na tradução me fale, por favor!
*² Dólmã é o traje de que os chefes de cozinha usam tradicionalmente.
Notas finais (Capítulo grande tem notas grandes hehehe):
Hey, sei que não foi um capítulo grande coisa (pra falar a verdade fiquei mega nervosa pra postar esse capítulo hahaha), mas eu precisava apresentar para vocês como é um pouco do dia da Arabella (e olha que o dia dela mal começou!) e também as pessoas que estão ao seu redor como a Demetria, lembrando que essa é a minha versão Demetria, hein, a da Laura pode ser bem diferente!
Ah, vou ir postando os shapes (para quem não sabe, representação física dos personagens) a cada capítulo, ok! No primeiro está a Arabella, no segundo o Jules e nesse aqui a Demetria.
Mas quem aí tá curioso com o verdadeiro significado do colar da Arabella? E sobre esse tal Ethan? E o Aldrick, será que é boa gente? haha Até o próximo capítulo amores e não esqueçam de deixar seu comentário *3*
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