O amor ganha
Capítulo 1
- O amor ganha
- Arabella Lockhart
Eu estava exausta! Tinha acabado de me sentar dentro do helicóptero que me levaria de volta para o castelo quando soube que precisaria participar de uma reunião ao lado do meu pai quando chegasse. Seria sobre as novas escolas que estavam sendo implantadas em regiões um pouco mais carentes.
Eu havia acabado de chegar de viagem de uma reunião na Grã-Bretanha sobre a carência que ainda era muito visível nos países com os quais tínhamos relações. Por esse motivo, meu pai decidiu me chamar para essa reunião. Além de estar atualizada com as últimas medidas que poderíamos tomar em relação a esse assunto, eu gostava disso tudo. Gostava de poder ter a chance de ajudar pessoas que precisavam. Eu podia ajudar e ajudaria sem hesitar!
Mas eu realmente necessitava de pelo menos uma hora de descanso, e a ida de helicóptero não me proporcionou isso!
- Bem vinda de volta, Alteza - minhas criadas me cumprimentaram com uma exagerada reverência no instante em que coloquei meus pés para fora do helicóptero.
Nessa viagem em especial eu carreguei comigo apenas meu guarda pessoal, Raphael. Minhas criadas, Frida, um pouco mais velha que eu, e Katherine, a mais velha, ficaram para trás, pois por bom senso preferi aceitar as criadas que ofereceram seus serviços durante minha estadia na Grã-Bretanha.
- Espero que a viagem tenha sido produtiva, princesa - uma delas, Katherine, falou, me lançando um sorriso e logo se oferecendo para levar a pequena bolsa que eu carregava enquanto a outra pegava minha mala com meu guarda.
- Sim, foi sim, obrigada - agradeci pela gentileza das palavras e me direcionei junto com as duas e meu guarda para o elevador.
Ele ficou do meu lado direito e Frida e Katherine, as criadas, ficaram em nossa frente.
- Então, - Frida iniciou a conversa após lançar um olhar discreto para Raphael - a senhorita viu muitos homens bonitos?
Isso era realmente estranho demais, eu não conversava tanto com nenhum deles, claro que tinha extremo respeito pelo trabalho delas e tudo mais, só que me perguntar uma coisa dessas estava bem fora da nossa relação que se via como profissional.
Mas, quando escutei um ruído vindo da minha direita, eu me assustei. De canto, olhei para Raphael e o vi encarando Frida furioso e rangendo os dentes, ele nunca falava sem ser necessário e nem soltava sons estranhos. Em relação a emoções, ele era muito mais frio que eu - pelo menos, em frente de pessoas que eu não mostrava nenhuma intimidade, eu era assim-, acho que por isso meu pai achou que formaríamos uma ótima dupla. Nós dois não demonstrávamos tanto nossas emoções, não além do necessário. Mas consegui entender o que Frida tentava fazer, ciúmes. E pelo visto tinha realizado esse feito com sucesso!
Neguei com a cabeça e a apoiei em minha mão, massageando minha cabeça. E com a outra toquei meu colar, um dos motivos por eu entender o que Frida tentava fazer.
Um presente que eu havia dito para todos ao meu redor, que elogiavam e eram indelicados o suficiente para perguntarem quem havia me dado, que havia sido dado pelo filho de um presidente de um país qualquer, por ora era o da Austrália. Sebastian sempre me apoiava nessa história, dizendo que o filho único do presidente havia se apaixonado loucamente por mim na época em que passamos duas semanas no país. Ele não tinha ideia de quem tinha me presenteado, mas ele sabia que se eu estava mentindo era por algo muito mais importante, e era mesmo!
E quando as portas do elevador se abriram e eu levantei minha cabeça pronta para mais um dia de reuniões, precisei me segurar nas paredes. Ele estava ali, logo agora?
Logo agora que eu estava com a minha cabeça a mil por hora? Agora que meu rosto demonstrava todo o cansaço que eu sentia, que meu cabelo sentia - eu tinha a certeza disso! - toda a minha vontade de dormir e se mostrava arrepiado nos lados mesmo após vários produtos sendo jogados nele, tinha que ser agora?
- Bom dia, Alteza - ele fez uma longa reverência em minha direção e eu ficava surpreendida como ele conseguia se controlar tão bem ao meu redor.
Havia um tempo que eu torcia os meus neurônios de tanto pensar nessas cenas, ele fazendo uma reverência, não olhando direito para mim ou simplesmente não notando sequer minha presença. Eu achava que ele estava me iludindo completamente, me fazendo acreditar em algo que era impossível, mas que por um acaso do destino existia e se colocássemos esperança e força de vontade daria certo. Eu me achava uma completa idiota!
E aí quando ficávamos sozinhos ele me provava que não havia me ignorado, dizia cada passo que eu tinha dado no dia e cada expressão que eu havia feito e as que ele gostava de ver em mim enquanto eu estava distraída com Sebastian, quando conversava sobre frivolidades com Elisa ou quando discutia algo sobre Parforce com meus pais. Ele conhecia cada detalhe que era relacionado a mim, e eu conseguia chutar para fora dos meus pensamentos, tudo que poderia estragar o nosso relacionamento e aproveitar cada segundo que tínhamos um com o outro entre todo o tumulto que se mostrava em nossos dias.
- Soube que Raphael estava doente e que eu teria que substitui-lo - ele informou me encarando.
O QUÊ? Que maluquice era essa? Não, não mesmo! Jules não podia fazer isso comigo hoje, ele não podia. Eu estava péssima e não iria ficar com essa cara horrível de frente para o homem por quem eu era apaixonada, de jeito nenhum! Não, nem pensar!
- Não - falei rápido demais e todos olharam para mim com o cenho franzido -, Raphael não está doente, está? - perguntei devagar.
Olhei desesperada para o meu guarda e ele negou devagar para mim, desviando o olhar para Jules.
- Não, eu estou bem! - Raphael respondeu - Deve ter sido uma informação errada, estou bem! Afinal, quem estaria com o príncipe Sebastian nesse meio tempo?
Eu e Frida, que pelo jeito estava realmente apaixonada por Raphael, suspiramos aliviadas. Eu, por não precisar olhar para Jules enquanto estava relativamente um caco e Frida, por Raphael estar bem de saúde. Quase troquei um toque de mãos com ela por entendê-la perfeitamente.
Olhei para Jules e ele franzia a testa. Ele sabia que depois de uma viagem eu adorava passar nem que só fossem cinco minutos ao seu lado e eu nunca trocaria isso por nada, mas por enquanto eu nem queria que ele olhasse para mim.
- Sim, claro - o guarda pessoal de meu irmão respondeu -, eu devo ter ouvido errado, perdão - ele fez mais uma reverência e se retirou enquanto eu queria sair correndo e ir atrás dele e falar que só queria estar mais apresentável para ele.
Mas o deixe ir.
Frida e Katherine se direcionaram para o meu quarto, carregando meus pertences, e Raphael me acompanhou para o escritório do meu pai. Os guardas do meu pai abriram caminho para mim fazendo ao mesmo tempo uma reverência, eu entrei e meu pai sorriu quando reparou que era eu e, sinceramente, com aquele sorriso, eu finalmente me sentia em casa.
- Como está minha primogênita? - ele perguntou antes de vir me dar um abraço.
- Só um pouco cansada! - eu admiti e ele soltou uma risada junto com uma careta.
- Sinto muito por fazê-la participar dessa reunião, mas é importante que esteja presente - ele explicou me soltando do abraço e voltando a organizar alguns papéis em sua mesa.
- Eu sei, estou atualizada - concordei, andando até a janela atrás da mesa de meu pai.
- Mas você precisa ir se acostumando, sabe disso - ele falou e eu revirei os olhos - Se você decidir não deixar a coroa para Sebastian, - ele enfatizou isso, mesmo eu sabendo que ele não queria. Ele desejava que eu ficasse com o trono, mas um dos motivos para não querer ficar com ele era porque Jules existia em minha vida e em meu coração, por todo ele.
Meu pai continuou falando algo sobre a coroa ser importante e um grande feito para os primogênitos da família. E eu simplesmente me desliguei totalmente quando percebi Sebastian brincando com Atticus do lado de fora do castelo e Jules se juntando a ele, eles trocaram algumas palavras e os dois caíram na gargalhada.
Argh, o que eu não daria para ser a filha do meio ou até mesmo a mais nova! O que eu não daria para poder ter mais tempo com Jules!
- Pronta? - meu pai tocou meu braço e eu terminei dando um pulo - Ei, você está mais cansada do que eu imaginei! Os ingleses são tão entediantes assim? - ele perguntou e eu terminei soltando uma risada.
- Só me distrai, apenas isso - eu alisei a saia do meu vestido. Ele ia até os joelhos de cor pérola do jeito que eu gostava para o dia a dia. Mesmo assim, às vezes eu realmente gostaria de ser um pouco mais ousada que Elisa, só às vezes. Encarei meu pai e sorri - Estou pronta, vamos?
- Claro - ele concordou e me ofereceu o braço.
Caminhamos até a sala de reuniões. Eu consegui apresentar um gráfico que tinha resgatado da reunião na Grã-Bretanha e de lá mesmo tinha enviado para o meu pai. Mas depois, com as propostas oferecidas, não consegui me concentrar em nenhuma, sofri para anotá-las e reler tudo daqui a algumas horas de sono.
Mas algumas coisas soltas que ouvi eram bem interessantes como, por exemplo, a distribuição de livros e pagar a pessoas na área para montarem barracas como pontos de leitura e outras para lerem para os menores incentivando a leitura desde cedo.
- Agora finalmente pode descansar - meu pai me disse com um sorriso quando a reunião se encerrou e a última pessoa saiu da sala, deixando apenas nós dois -, nos vemos no jantar?
- Sim, será uma honra ter o senhor no jantar, Majestade - falei com um sorriso de canto e ele gargalhou. Era raro demais tê-lo nos jantares e isso era realmente motivo de piada.
- Minha Arabella fazendo piadas sarcásticas? - ele botou a mão no peito fingindo um susto - É, você está realmente cansada!
Concordei com um sorriso e me retirei da sala. Raphael estava lá me aguardando para me acompanhar até minha porta e aí sim trocaria de turno com todos os outros guardas que ficavam pelo castelo, mas o que custaria adiantar o trabalho?
- Você está dispensado - falei, me virando para ele -, se não aí sim ficará doente de exaustão! - Expliquei, e ele assentiu, fez uma pequena reverência e se retirou indo pelo caminho contrário ao meu.
Eu comecei a caminhar em direção ao meu quarto, mas ainda faltava tanto e só queria dormir um pouco. Apoiei a mão em uma porta qualquer e fechei os olhos.
- Acho que está precisando de ajuda - senti uma mão grande e forte, que eu bem conhecia, segurar minha cintura e me empurrar para dentro da sala cuja porta eu segurava.
Não precisei abrir os olhos para saber quem era e nem queria, aquilo ali valia mais do que o sono, ah, Deus, como valia! Eu estava verdadeiramente grata a mim mesma por ter dispensado Raphael mais cedo.
Quando abri os olhos Jules fechava a porta da sala, que eu reparei ser a de música (e fiquei realmente surpreendida de ter chegado tão longe!), sem tirar suas mãos da minha cintura.
E me beijou, mas não era como o primeiro beijo da sua vida que era horrível ou como o primeiro beijo do homem que te amava, não, era o beijo do Jules. Era como estar no paraíso, ter o momento perfeito e sentir tudo que você sonhava em sentir. O coração acelerado, o desejo te ter aquilo para sempre, se agarrar àquele momento com unhas e dentes.
E foi o que fiz, me agarrei a Jules com tudo, seu cabelo macio entre meus dedos, e a outra mão eu passava pelo seu peito até seu pescoço sem hesitar, apenas querendo aquele momento. Com os lábios deles se movimentando urgentemente entre os meus, seu gosto se misturando com o meu, eu reparei que era tudo que precisava para a vida toda.
- Por que não me deixou substituir Raphael hoje? - Ele perguntou enquanto ia em direção ao meu pescoço, preenchendo o caminho com beijos - Poderíamos ter arrumado um tempo juntos bem antes!
Eu ri e me desprendi do momento por um segundo, fazendo meu cérebro ganhar vida novamente.
- Droga, Jules - sussurrei o empurrando e ele ficou confuso - Eu não queria que você me visse assim - balancei os braços e virei o corpo para olhar ao redor da sala, se eu continuasse o encarando não continuaria com meu argumento, que era bastante válido.
- Desse jeito como? Linda desse jeito? - ele já estava atrás de mim passando seus braços pelo meu corpo e começando a beijar minha nuca.
- É - concordei e balancei a cabeça - Não, claro que não! - Contrariei, me separando dele novamente - Eu estou cansada e horrível, não me importo tanto assim com a aparência, mas eu queria estar melhor! - justifiquei e dei mais alguns passos para trás.
Ele era terrível! Jules concordava com tudo que eu falava, me observando, estreitando os olhos como se estivesse debochando de toda a minha explicação bem pensada, era sempre assim! Não era a primeira vez que ele fingia concordar comigo e entender todos os meus argumentos milimetricamente calculados com seus olhos estreitos, mas sempre era de puro deboche, o que me dava raiva era eu amar essa cara que ele fazia!
- Eu adoro te ver assim, descabelada - ele levantou o braço para alcançar meu cabelo e eu me afastei, mas não adiantou em nada. Existia um piano bem ali, e eu não consegui mais fugir dele. Ele alcançou meu coque frouxo e o desfez rapidamente encaminhando seu rosto para o meu pescoço e respirando ali.
- Não vejo problema nenhum em como você está! - ele confessou soltando um riso.
Ele conseguiu! Tirar deboche de todo o meu argumento, contrariá-lo e ainda por cima fazer meu cérebro parar de funcionar novamente - e sem tirar o fato de quando eu saísse dali teria que me preocupar com meu cabelo, porque todos que me conhecessem, nem que de vista, sabiam que eu nunca seria vista em publico com o cabelo bagunçado.
- Jules - eu sussurrei -, você não pode ficar fazendo essas coisas!
- Como o quê? - ele perguntou com inocência e eu bati em seu peito, fazendo ele sorrir enquanto voltava a beijar meu rosto.
- Distrair minha mente - soltei um suspiro quando ele beijou perto do pingente do cordão que ele mesmo havia me dado no nosso primeiro ano juntos.
- O quê? - ele exclamou, parando de me beijar quando percebeu o que eu tinha dito, tampei sua boca com medo de alguém ter nos ouvido.
- Tá maluco? - eu perguntei, mesmo rindo de sua reação.
- Você me chamou de distração? - ele perguntou um pouco mais baixo dessa vez, arrancou minha mão da frente de sua boca. Eu não me aguentei e gargalhei.
- E você é o que então? - perguntei inocente enrolando meus braços em seu pescoço, o forçando a abaixar um pouco.
Ele era tão alto quanto Sebastian, o que significava bem mais alto que eu. Com aqueles olhos verdes bem destacados e o cabelo tentando sempre ser rebelde e fugir do poderoso gel que ele era obrigado a usar para deixar o cabelo alinhado e sua barba, argh, como eu queria revê-la. Eu adorava como ele ficava com barba e só tive a oportunidade de vê-lo assim uma única vez. Esperava que um dia pudesse acariciar seu rosto e senti-la ali presente, todos os dias!
- Sou o bem maior mais precioso que você tem, pode confessar - eu sorri, porque, depois da minha família, Jules era realmente o bem maior da minha vida, o tesouro que eu nunca queria enterrar para ser encontrado por outro. Eu amava aquele país e queria o melhor para ele, mas Jules era o meu amor e isso eu não trocaria por nada. Por isso apenas concordei e voltei a beijá-lo.
Relembrando cada detalhe de toda nossa trajetória até aqui, quando nos conhecemos quando Sebastian se machucou no primeiro dia em que Jules trabalhou como seu guarda pessoal, e ele me acalmou dizendo que Sebastian estava bem. Como sempre achávamos um meio de trocar olhares entre jantares e bailes importantes e como fomos aos pouco nos apaixonando nesse meio tempo.
- É melhor irmos - Jules se separou de mim e eu concordei - Já deve fazer mais de cinco minutos que estamos aqui e isso é perigoso - ele explicou e eu fiquei séria, como sempre acontecia.
Nunca era eu que me preocupava em excesso com o tempo e sim Jules. Ele nunca esquecia por completo o mundo lá fora, por minha culpa! Quando eu estava com ele, não ligava para nada ao nosso redor, não de verdade, mas ele sempre se lembrava que eu era uma princesa e que era a herdeira do trono do nosso país.
- Jules - segurei a farda de seu uniforme antes de ele se virar para sair da sala -, eu estou com medo! - confessei.
- Bella, já conversamos sobre isso - ele segurou meu rosto e eu desviei o olhar do dele e encaixei meu rosto em seu peito -, você é uma princesa e eu apenas da guarda.
- Não - neguei, passando meus braços pela sua cintura e o apertando -, eu vou deixar o trono para Sebastian e não quero saber se ele vai ficar sem seu guarda porque eu que vou ficar com você - falei determinada, levantando minha cabeça para olhá-lo.
Ele riu e acariciou meu rosto com carinho.
- Você irá assumir o trono, vai continuar o bom trabalho que seu pai esta fazendo e - ele me beijou - vai me roubar do seu irmão, ele sobrevive sem mim! - Soltei um riso. - Você ainda vai ajudar muitas pessoas, Bella, muitas pessoas!
Eu sorri. Queria que tudo fosse perfeito como nós imaginávamos, a minha sugestão ou a dele estava ótima para mim. Mas nunca seria tão simples assim, eu sabia muito bem disso.
- Nos vemos depois do jantar, estarei de guarda hoje - ele disse e eu fiquei nas pontas dos pés para lhe dar um último beijo.
- Eu te amo, Jules - falei, separando nossos lábios.
- Eu também te amo, princesa Arabella - ele falou com um sorriso.
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