Às 18:49 da noite de São João, eles corriam apressados à praça da Sé, cortando diversos sinais de trânsito – tudo com a sirene da viatura em alto e bom som para terem uma desculpa diante dos outros motoristas. Em frente à Catedral de São Paulo, acontecia a festa junina, e o frio de junho era compensado por quentões e danças de quadrilha, misturadas entre a infinidade de barracas montadas servindo doces, salgados e também brincadeiras. Foi em meio àquela aglomeração que Adriana Tatagiba, Kátia Kitamura e Miguel Soares se infiltraram a toda velocidade em direção à torre do relógio.

          19:11.

          Eles finalmente subiam a escadaria da igreja, quando lá no alto já conseguiam avistar por trás a silhueta de uma garota negra com os mesmos cabelos cacheados e volumosos da vítima que caíra ali mesmo pela manhã, o mesmo casaco amarelo mostarda, o mesmo jeans azul, o mesmo tudo. Ela parecia hesitar para entrar, e segurava entre as mãos a foto de um garoto com a mesma cor de pele, olhos e cabelos dela. Anotado no que parecia ser canetinha preta, havia uma data 12/05/2018. Tudo isso Kitamura podia ver porque já se encontrava próxima daquela garota de aparência cansada e olhos marejados.

          – Milena – e, chamando-a, entregou-lhe o bilhete. Sem esperar por sua reação, ela desceu as escadas em direção aos parceiros.

          – E agora? – perguntou Kitamura.

          – Agora é com ela. Já demos bastante tempo nosso pra essa garota, agora ela decide se quer dar mais tempo a si mesma – eles se afastavam, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

          O que não pensavam era que naquele mesmo dia 24 de junho de 2021, uma quinta-feira fria, em um espaço e tempo diferente, pouco depois das dez badaladas do relógio, encontravam-se na frente da Catedral de São Paulo as gentes e as pombas paulistanas, coexistindo e habitando um ambiente ordinário em que nada além da pressa costumeira ou correria, parecia acontecer. As bandeirinhas de uma festa junina que ainda estava por vir não testemunhavam nada fora do comum além da preparação de festa.

          Em algum lugar não muito longe dali, duas oficiais se encontravam para pôr novidades em dia depois de meses separadas no trabalho. Kitamura comia seu pé-de-moleque e não lhe faltava um molar sequer. Tatagiba exibia à parceira a nova camiseta cáqui que adquirira num brechó. E, sem que nenhuma das duas se desse conta, mais um estranho caso de Adriana Tatagiba e Kátia Kitamura havia chegado ao fim.