aquele em que ele Não se forma
Charlotte estava ligeiramente ofegante quando chegou na casa dos Hart. Embora a pressa não fosse exatamente necessária, uma desculpa para sair de seu próprio baile de formatura não foi assim tão desagradável.
Em algum lugar dela estava escondida a confissão de que a noite parecia incompleta.
— Tia Kris? — Perguntou, percebendo que parecia um pouco mais desesperada do que esperava.
— Charlotte? — A Hart mais velha parecia confusa. — Não era pra você estar no seu baile? Aliás, você está linda, querida, meus parabéns pela formatura.
— Obrigada. — Sorriu, tímida. — Eu... Quis vir mais cedo.
Bem mais cedo, por sinal.
Meia hora antes ela estava no auditório do Swellview Highschool, dançando com Jasper e tirando fotos com Piper quando seu celular vibrou com algumas mensagens da mãe dos Hart. Agradecendo mentalmente, a Page usou isso como justificativa para escapar — foram muitas, muitas, fotos e Jasper era um surpreendentemente bom dançarino, porém energético demais, sempre que ela tentava fugir para a mesa deles ele a puxava de volta.
Quando finalmente achou seu lugar, ficou distraída por um momento, notando o vazio na cadeira intocada ao seu lado. O mundo ficou em silêncio por um segundo e ela esqueceu as luzes azuis e roxas passeando pela salão, se perguntando como seria se Henry tivesse se formado junto com eles e estivesse aqui. Então o segundo se foi, e ela estava na casa dele.
— Bom, pode subir. — Sorriu gentilmente. — Tenho que buscar o Jake, e depois a Piper, certo?
Charlotte assentiu, esperando a mais velha sair para subir as escadas. O corredor estava como sempre, então ela mal prestou atenção, já imaginando a cena que encontraria detrás da porta quando segurou a maçaneta do quarto.
Ela entrou em silêncio, sem importar-se com a luz apagada, e sentou-se na cama, assim como tinha feito alguns anos atrás.
Não foi necessário esperar muito até que ele aparecesse.
Henry Hart naquele smoking seria uma visão que ela com certeza guardaria para sempre.
O loiro suspirou, desconectando os fones de ouvido que usava para deixar a música soar no ambiente. Como ele não havia ligado nenhuma iluminação até agora, Charlotte decidiu que era seu momento.
— Adele, Henry, sério? — Declarou, ao mesmo tempo que ativava o interruptor. Ele gritou, exatamente como da vez em que ela o descobriu como Kid Danger. Charlotte sorriu com a nostalgia.
— Credo, Char! — Exclamou, com uma mão espalmada no peito. — Quem espera alguém assim no escuro?
— Eu cheguei agora pouco, e não seja dramático. — Revirou os olhos. — Se é que você consegue não ser.
— Tá, tá. — Ele abanou com a mão, largando-se em sua cama. — Você não devia estar em outro lugar? Sentiu minha falta, não foi?
— Desesperadamente.
Henry abriu seu típico sorriso zombeteiro, levantando para cutucá-la.
— Vai, admite logo.
Charlotte virou para longe, sentindo o rosto esquentar.
— Você devia ter ido. — Afirmou, resoluta e séria.
O Hart suspirou, perdendo o humor.
— Eu sei. — Concordou. — Mas eu não me formei, Char, e era um baile de formandos do ensino médio.
— Eu sei, mas mesmo assim... — Ela se interrompeu, sem palavras. Não tinha como explicar o que ela queria fazendo sentido. — O seu lugar estava lá. Você ia estar lá.
— Char, imagina o inferno mental que seria ter que estar entre todo mundo que se formou. — Levantou-se, indo até ela. — Sem contar no climão quando fossem falar comigo. A srta. Shapen ofereceu um dos gatos dela pra mim, Charlotte. Eu sou alvo de pena da srta. Sha.pen.
A cacheada riu, deixando que ele descruzasse seus braços e entrelaçasse suas mãos junto com as dele.
— Como foi a festa? Você não devia ter vindo mais cedo.
Charlotte olhou por um momento para os braços dos dois balançando enquanto Henry brincava.
— Foi boa, eu acho. — O silêncio continuou era um indicador de que o loiro queria ouvir mais detalhes, mas ela realmente não tinha muitos. — Tirei milhares de fotos com a sua irmã, dancei e respondi milhares de perguntas sobre você.
— Você disse a eles que eu amo muito cada um dos meus fãs? — Respondeu, sorrindo quando ela revirou os olhos novamente.
— Virei garota de recado, por acaso? — Retrucou, esperando ouvir Henry rir ou piscar para ela.
Ao invés disso, quando olhou para ele, encontrou algo diferente. O mundo parou de novo, como tinha feito no baile, mas agora ela tinha ele para tirar a sensação estranha e substitui-la por algo quente que deslizava em seu sangue e acelerava seu coração.
— Você é linda. — A voz baixa pegou Charlotte de surpresa. — Muito linda.
Os braços deles pararam de se balançar, mas o aperto em suas mãos ficou mais forte. Eles estavam tão perto um do outro que ela não conseguia pensar em mais nada. Eles estavam tão perto um do outro que ela não podia acreditar que alguma vez na vida sentiu frio. Ele parecia um filme, soava como música e ela queria esquecer o resto de sua vida e ser imprudente como ele, dizer as coisas que viessem em sua cabeça, mergulhando mesmo que não pudesse ver o fundo da água.
— Henry.
O Hart segurou os braços dela, os posicionando ao redor de seu pescoço, e a abraçou, deixando sua cabeça descansar grudada na dela.
— Dança comigo, Char. — Sussurrou, e ela conseguiu reconhecer a voz de Adele cantando os primeiros versos de When we were young.
Então ela dançou, tão lentamente que era quase como flutuar. Ela deixou todas as memórias dançarem também, com os olhos fechados. Tentando tatuar as lembranças para que nunca fossem embora, o apertando mais forte, ignorando as lágrimas.
Charlotte sabia que seus caminhos iam se desfazer, e ela lutou, levou tudo dela para não deixar esse momento acontecer, mas há coisas que ainda te encontram mesmo que você fuja.
E a despedida encontrou Charlotte silenciosamente, se esgueirando aos poucos.
— Henry. — Sua voz quebrou no meio do nome, a raiva corroendo e se misturando a sua tristeza. — Você deveria ter se formado.
— Eu sei... Eu sei. — Ele a abraçou, deixando que ela se livrasse das lágrimas antes de enxugá-las. — Mas você sabe onde me achar, não sabe? Eu sempre vou ser o mesmo. E você precisa ir.
Ela se afastou, segurando seu rosto, olhando em seus olhos.
— Eu amo você, Henry.
— Eu sabia. — Sorriu, piscando repetidamente para afastar as lágrimas. — Você sabe disso, Char.
Ela balançou a cabeça, com raiva de si mesma.
— Eu nunca falei.
— Você não precisava, Charlotte. Eu também nunca disse, mas você sempre soube, não é?
Ela queria gritar que não era o suficiente, mas não tinha ar suficiente para isso quando ele se aproximou.
— Eu amo você. — Sussurrou, limpando as lágrimas de seu rosto, deixando um beijo no topo de sua cabeça.
E ela tentou acreditar que ele também sempre soube enquanto assistia tudo se desfazer diante de seus olhos, em um espiral de momentos que acabou no pior momento de sua vida: o da realização.
Ela acordou sozinha, e agora se lembrava de como era o frio.
Não tinha mais volta, não tinha mais Henry, mas o cheiro dele ainda estava no travesseiro que ela agarrou.
Ela queria seu melhor amigo de volta, ela queria descobrir o que aconteceria se eles ainda tivessem uma chance.
Ela queria entender porque justo eles se tornaram uma daquelas coisas injustas das quais as pessoas falavam com tristeza e afirmavam que não era pra ser.
E ela não queria virar a parte que escuta e tenta acreditar nisso, porque era uma ferida que o tempo nunca iria curar.
Era pra ter sido.
Aquele dirigível nunca deveria ter existido e era para ele estar aqui.
Henry deveria ter se formado.
[ ♟️ ]
IT'S BEEN A LONG TIME COMING BUT...
it's me! hi! 💜
culpem a Adele por este capítulo triste! espero que todos estejam bem, obrigada por ler.
see you!
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