Aquele com o verão dos primeiros beijos
Era o verão dos treze.
Henry podia lembrar de tudo muito bem: tinha sol forte, limonada, picolés, e toalhas estiradas no quintal de sua casa, exatamente como qualquer outro dia de férias.
Exceto que aquele acabou não sendo um dia comum.
Naquela tarde, a mãe de Henry e Piper rodopiava pela cozinha enquanto o som de Enchanted saía pela janela junto com o cheiro de biscoitos recém-assados. Ela nem mesmo se incomodou em ver porque o filho gritava o nome da garotinha de cabelos cacheados que frequentava tanto sua casa. Charlotte era responsável, se a menina puxasse sua orelha, Siren saberia que era porque ela tinha feito algo errado.
A mulher suspirou feliz e pôs o prato de cookies com gotas de chocolate sobre a mesa. Piper receberia sua primeira amiga e só Deus sabia o quão difícil havia sido até que esse dia chegasse. Ela amava muito sua filha, e sofreu junto com a caçula quando ela não conseguiu se adaptar bem na escola e fazer amigos, mas Siren também sabia que o temperamento difícil da menor acabaria dificultando as coisas mesmo.
Bom, o importante é que tinha passado.
- Que droga, Char! - Henry resmungou, pulando num pé só enquanto se segurava na garota e massageava a perna dolorida.- Seu pé é de ferro, é?
- Da próxima vez que você zombar de mim, meu pé vai chutar a droga da sua bunda. - Era isso que ela ganhava por deixar Jasper vencer no jogo de virar cartinhas? Era melhor ter deixado o garoto aguentar Henry sendo um besta toda vez que vencia, era tão irritante ser o alvo da ladainha idiota do loiro!
Dunlop, o protegido, riu da cena.
- Ela disse que vai chutar a sua bunda. - Repetiu, brincando com as cartas de pokémon em sua mão.- A Charlotte é tão legal.
A Page sentiu as bochechas esquentarem de vergonha e jogou um cacho que ficava caindo em seu rosto para trás. Ficava meio desengonçada quando recebia elogios e nunca sabia como reagir a eles.
- Va-valeu, Jasper.- Talvez não tenha sido uma ideia tão ruim assim ter deixado o garoto ganhar, afinal.
- É... - Henry olhou para os dois amigos, estranhamente incomodado. Era bom vê-los se dando bem (isso não tinha acontecido instantaneamente quando se conheceram) mas às vezes ele ficava preocupado que Charlotte deixasse de andar com ele (e talvez carregasse Jasper com ela no processo).
Parecia um medo estúpido, mas ele não conseguia deixá-lo para trás. Ele conhecia o colecionador de baldes desde o jardim de infância, sabia que os dois tinham uma amizade forte, mas a Page foi complicada de se conquistar. Ela era realmente a garota mais legal que ele conhecia, gostava muito mesmo de ser amigo dela, e talvez por isso fosse tão inseguro sobre perdê-la.
- E sabe o que garotas legais merecem? - Questionou, pondo o pé acertado de novo no chão e segurando a mão da amiga. Os outros dois pré-adolescentes o encararam sem entender.- Biscoitos. Eu pego pra você, vem.
Jasper só hesitou por uns três segundos antes de gritar que também queria biscoitos, porém nesse meio tempo, seus amigos já estavam fora de vista.
A cozinha estava aparentemente vazia quando o filho de Siren puxou a cacheada fazendo um sinal para que ela ficasse em silêncio.
Charlotte não entendeu porquê ele estava fazendo aquilo, e talvez pudesse tentar compreender se seus pensamentos idiotas não estivessem mais concentrados no fato de que nenhum garoto tinha segurado sua mão por tanto tempo por livre espontânea vontade. Era o Hart, santa paciência!
- Henry, os biscoitos são para a Piper e a amiga dela!- Alertou sussurrando, mas sua resposta foi apenas ele entrelaçando seus dedos como se não fosse nada demais. O coração dela acelerou, se era pela adrenalina do risco ou por causa das mãos juntas, ela já não sabia.
- Você merece um biscoito por ter deixado o Jasp ganhar.- Ele piscou para ela, lhe entregando um dos doces.
- Você percebeu?! Eu-
- Você é mesmo muito legal, Char.- Ele apertou a mão dela uma segunda vez, levemente, com cara de bobo. Gostava da sensação de fazer aquilo - Até quando chuta minha perna e me ameaça.
Charlotte riu, mordendo um pedaço do cookie roubado. - Seu estranho. Espera... Você sabia que eu deixei ele ganhar e ainda ficou enchendo meu saco!
Henry deu de ombros com um sorriso maroto, mas antes que os dois caminhassem de volta para o quintal, a campainha tocou e Jasper surgiu na cozinha, reclamando por ter sido deixado sozinho.
Siren desceu as escadas com uma Piper animada e saltitante logo atrás ao mesmo tempo em que os três discutiam no outro cômodo, o que fez Charlotte enfiar o biscoito inteiro, ainda meio quente, dentro de sua boca. Os olhos da menina se encheram de lágrimas mas ela forçou um sorriso quando a Hart caçula olhou desconfiada em sua direção.
A porta sendo aberta a salvou de ser vista tentando assoprar a comida quente em sua língua, os imbecis de seus amigos rindo igual hienas que não podem fazer muito barulho atrás de si.
- Marla!- Piper abriu os braços para a garotinha que entrava e as duas trocaram um leve abraço. Atrás delas, a Sra. Hart cumprimentava a irmã de Marla, que devia ter a idade de seu filho mais velho.- Vem! Vamos subir! Mamãe fez biscoitos pra gente! Não é, mãe?
- Sim, claro, querida.- Sorriu, se dirigindo para a cozinha.- Henry, faça companhia para irmã da Marla enquanto eu levo alguns biscoitos lá pra cima, ok? Vou mandar alguns pra mãe dela quando descer.
- Tá, mas a gente não ganha nem umzinho?
- Depois, querido.- Ela deu um tapinha no ombro do filho antes de subir as escadas.
A irmã de Marla, Francine, usava um batom rosa pink da cor das mechas pintadas em seu cabelo e mascava chiclete olhando para o celular, indiferente às outras pessoas da sala.
Henry, Jasper e Charlotte trocaram um olhar como se quisessem decidir se deviam falar com a garota ou não. Pelo que viam na escola, ela parecia legal, só meio estabanada.
O Hart estava prestes a cumprimentá-la, afinal se fosse rejeitar uma amizade apenas pela pessoa ser distraída ele não deveria ter Jasper como melhor amigo, quando a própria resolveu se pronunciar.
- Vocês andam sempre juntos - Observou curiosamente, avaliando o trio dos pés a cabeça.
- Somos melhores amigos! - Jasper respondeu prontamente. Tinha um sorriso enorme no rosto, o que fez Henry e Charlotte se entreolharem com diversão por trás de suas costas. Eles adoravam provocar o Dunlop por ter uma queda por Francine.- Você também tem melhores amigos? Porque você pode andar com a gente, se quiser...
- Eu tenho, mas obrigada.- Francine sorriu timidamente.
Ela não era muito popular, pelo que Charlotte se lembrava, mas sempre a via com outras três garotas.- Como vão Hayley, Claire e Tessa?
- Bem. - A garota deu uma checada rápida no celular. - Na verdade, elas estão lá fora, vamos fazer um piquenique no parque.
- Isso parece legal.- Disse Henry, querendo parecer simpático.
- Uh! Nesse caso, espera um segundo! - Jasper correu para fora, deixando os restantes confusos.
Charlotte pensou que ele tinha ficado muito nervoso e fugido, dada a sua demora, mas, alguns bons minutos depois, o suficiente para Francine já estar pronta para ir embora, ele voltou com um buquê de flores silvestres amarelas e os braços arranhados de -provavelmente- espinhos.
Ela e Henry assistiram da varanda o momento em que o colecionador de baldes estendeu as flores para a de mechas rosas parada na calçada.
Francine parou por um segundo, olhando para o menino e o buquê. Suas bochechas estavam vermelhas e suas amigas gritavam brincadeiras de dentro do carro, mas ela não parecia ligar para nada além da cena à sua frente.
O Hart e a Page ficaram apreensivos de que ela pudesse rejeitá-lo, afinal, ela parecia estar congelada, mas, para a surpresa de todos, a irmã de Marla segurou o buquê e o rosto do Dunlop, beijando-lhe.
O primeiro beijo de Jasper, bem ali, na calçada, com umas seis pessoas (incluindo a mãe de Francine) como testemunhas.
O queixo de Charlotte caiu e Henry engasgou.
- Charlotte do céu, você 'tá vendo o mesmo que eu?! - Henry sacudiu o braço da amiga, a euforia das amigas de Francine os contagiando.
- Eu disse que só acreditaria nisso vendo, mas agora 'tô vendo e não acredito. - Sorriu, puxando seu braço antes que o loiro arrancasse.
O que um beijo faz com as pessoas?
Bem, é diferente pra cada um...
O caso de Jasper o transformou num cacto.
O menino ficou lá, colado no chão, debaixo do sol escaldante de verão e pra terminar, com espinhos nos braços. Só faltava ficar verde ao invés de vermelho.
Era como se ele tivesse sido jogado numa piscina de bolinhas e depois descoberto ter ganhado na loteria. O Dunlop estava tão radiante que seus amigos precisaram arrastá-lo para dentro após o carro da mãe de Marla sumir de vista.
O resto da tarde foi exclusivamente dedicada a falar sobre o momento que Francinne virou o mundo de Jasper de pernas pro ar. Foi o marco daquele dia, sem dúvidas, e seus amigos estavam absolutamente felizes por ele, mas nenhum dos dois aguentava mais ouvir a história.
Foi incrível sim, mas eles estavam lá!
Nas primeiras quinze vezes foi fofo e engraçado ver o Dunlop tão empolgado, mas agora que ele tinha ultrapassado a marca de trinta Charlotte não aguentava mais ouvir a palavra beijo. Ou lábios. Ou nuvens, que era o jeito que seu amigo usava para descrever como havia se sentido.
Henry, por mais orgulhoso que estivesse de seu melhor amigo, queria muito tampões de ouvido no momento. Era assim que todo mundo que beijava alguém ficava? Nem parecia grande coisa para o Hart...
De qualquer forma, era para Jasper, e isso era mais do que bastante para o loiro não mandá-lo se calar.
Charlotte parecia entediada também, o que ao menos queria dizer que ele não estava sendo um idiota com seu amigo, ou não o único, no mínimo. Era bom que Dunlop soubesse o quão valiosa era a amizade dele para ele e Page, porque só assim para ouví-lo começar a explicar pela enésima vez a sensação que um primeiro beijo causa.
Mais tarde, quando a noite caiu, Jasper foi o primeiro a ir embora. Queria muito contar à avó o que tinha acontecido e por isso havia escolhido não ficar para o jantar.
A Sra. Page, por outro lado, geralmente demorava para buscar a filha devido ao horário de seus plantões no hospital. Às vezes o trio aproveitava a oportunidade para passar a noite na casa de Henry e conversar durante a madrugada, sussurrando encolhidos num cobertor sobre o teto do quarto do loiro.
Muitas das melhores memórias dos três eram assim, passando o dia inteiro juntos.
Henry sabia que tinha muitas coisas que ia se lembrar para sempre, e as últimas horas haviam sido um bom exemplo. Estava cansado, e a agitação de seu cérebro e corpo de treze anos parecia ir embora junto com o sopro da noite, que levava as folhas da copa da árvore de seu quintal. A luz da lua cobria tudo que conseguia, uma fina camada prateada sobre tudo que o loiro conseguia pôr os olhos. Ele se sentia confortável mesmo com o frio do ambiente, afinal tinha seu manto quadriculado envolta dos ombros e uma barra de chocolate roubada da cozinha nas mãos.
De repente, o coque abacaxi de Charlotte surgiu escalando até seu lado direito. Ele nunca esqueceria do pijama de cor verde pastel estampado com mini-abacates.
Abacates, de todas as frutas possíveis.
- Vai dormir aqui?
Charlotte aceitou a mão que ele ofereceu para ajudá-la a terminar de subir enquanto respondia que sua mãe perguntou se poderia buscá-la pela manhã.
- Ela e sua mãe ainda estão no telefone.- Informou, uma expressão preocupada cruzando seu rosto iluminado pelo satélite da Terra. - Acho que tem a ver com o papai.
Os ombros de Henry caíram.
- Ele não voltou ainda, né?
A menina se limitou a negar com a cabeça. Não achava que o pai ia voltar, mas parte dela (uma que odiava) ainda tinha esperança de que aquilo fosse apenas uma viagem de negócios como os adultos diziam para tentar lhe enganar.
Henry odiava o fato de não poder fazer nada.
Ele odiava que o pai de Charlotte não voltasse para casa e odiava vê-la triste.
Sua melhor amiga era uma pessoa tão incrível e doce! Ela era corajosa e forte também, sempre defendendo Jasper e até mesmo ele. Charlotte não merecia ser abandonada pelo pai, nem por ninguém.
Na verdade, ninguém merecia ser abandonado, e o Hart detestava imaginar quantas outras crianças passavam ou já passaram por isso.
- Sinto muito, Char. - Ele jogou a coberta por cima dela e abraçou os ombros da garota. - Quer chocolate? Posso fazer alguma coisa pra você?
Charlotte sentiu algo repuxar no estômago, uma sensação estranha, porém boa, que a deixava quente e segura. Apesar do caroço idiota que tinha na garganta, ela se sentiu agradecida por não estar sozinha, e feliz por ser Henry ao lado dela.
- Aceito o chocolate. - Respondeu, quebrando um pedaço da barra que o garoto segurava. - Então, acha que o Jasper 'tá escrevendo o nome dele e da Fancine nas paredes do quarto dele agora?
Henry soltou uma risada curta.
- Por favor, Char! É o Jasper!- Explicou. - Ele já deve estar fazendo baldes que combinam.
A garota arregalou os olhos.
- Meu Deus, Henry! A gente devia ter aconselhado sobre coisas que ele não devia fazer! E se ele realmente chegar com baldes de casal na casa da Francine amanhã?
- A gente liga pra ele amanhã cedo.-Tranquilizou, apertando o ombro dela levemente.
- Do jeito que ele ficou animado, talvez quando acordarmos já seja tarde.- Argumentou, segurando um bocejo.
- Ele realmente ficou... como você diz? Em êxtase? - O loiro a viu confirmar. - Não entendo toda a empolgação, mas fiquei feliz por ele.
- Eu também.- Concordou Charlotte, descansando a cabeça sobre o ombro do amigo.- Foi fofo... E aposto que você também ficaria empolgado se fosse o seu primeiro beijo.
Divertido pela provocação de sua melhor amiga, ele a empurrou de leve, enquanto ela imitava o som de beijos estalados que o fizeram rir mais.
Henry se sentiu feliz, genuinamente, de um jeito que não se lembrava de ter sentido com outra pessoa senão Charlotte.
- Você também acha que é super importante? - Questionou quando ambos diminuíram as risadas. - Essa coisa de primeiro beijo e tudo?
A garota franziu o nariz pensando.
Não fantasiava muito sobre seu primeiro beijo, mas já tinha esbarrado na ideia antes, claro, com ela e seus colegas virando adolescentes e tudo...
- Não é suuuper importante, mas tem que ser com uma pessoa legal, que eu goste, pelo menos.
O Hart emitiu um som de confirmação.
- Você 'tá certa-
- Como sempre...- Cantarolou, interrompendo, e eles trocaram um sorriso.
- Eu entendo essa maluquice toda que a quase todo mundo tem. Imagina você, que é toda espertinha, babar no seu primeiro beijo?- O garoto suspirou, dramático. - Que desastre, Char.
- Cala a boca, imbecil!- Ela riu.- Se o Jasper não babou, por quê eu faria isso?
- Isso foi meio maldoso... mas é verdade. Assim como também é verdade que acidentes acontecem, hein?
Charlotte revirou os olhos.
- Não vou babar no meu primeiro beijo, Henry.
- Como você sabe?- Provocou, virando-se de frente para ela.
- Podemos nos beijar e eu mostro a você.- Encarou de volta, erguendo as sobrancelhas.
Henry engoliu em seco, sentindo o estômago vibrar de forma estranha. Ele não conseguia desviar o olhar e não sabia dizer se ela realmente falava sério, mas de repente seu coração estava acelerado e ele estava pensando de verdade na ideia de beijar sua amiga.
- Hen, qual é? - Charlotte indagou rindo. - Não faz essa cara de quem esqueceu a tarefa de matemática, eu 'tava brincando.
Brincando, Hart! Ouviu?!
- Pff... Cla-claro que 'tava! - Debochou rindo depois de um segundo. - Mas...
Era estupidez, mas agora que a ideia estava lá ele não conseguia esquecer. Simplesmente parecia certo ter seu primeiro beijo com Charlotte, e parecia certo que o dela fosse com ele também.
O motivo?
Bem, ele arranjaria um ótimo.
Algum dia...
- Mas?- Repetiu a cacheada, arqueando uma sobrancelha.
- Podíamos fazer isso.- Completou, num ato de coragem que coloriu suas bochechas de vermelho vivo.- Tipo, se formos um desastre, ninguém saberia... Ninguém precisa saber, na verdade! Podemos nos beijar, como-como um teste!
A garota franziu o rosto, dividida entre achar a ideia irracional e loucamente surpreendente. A Page não fazia ideia de onde aquilo tinha vindo, e ela detestava não saber das coisas. Imaginou se ele estava com ciúme por Jasper ter beijado uma garota primeiro, mas não, o loiro devia saber que nada mudaria isso e, além disso, antes ele realmente parecia feliz pelo amigo. Também não havia como Henry querer beijá-la... Não é que não se achasse interessante, é que o Hart parecia não vê-la por essa luz. Mas então, o que restava? Ele estava inseguro quando chegasse a sua vez e realmente só queria...
- Um teste...- Falou incerta, mas ainda considerando a ideia. O garoto mordeu o lábio, ansioso.
Ele era fofo -roubando biscoitos para ela e segurando sua mão- e a fazia sentir coisas, não estava preparada (ou não queria) analisar o que era, mas se fosse sincera, não imaginava ninguém melhor que Henry para ser seu primeiro beijo.
- Tudo bem.- Concordou, inconscientemente umedecendo os lábios.
O loiro arregalou os olhos.
- Hum?! Tudo... bem?
- Sim.- Disse, simples, mas também nervosa.- Como um teste, ninguém precisa saber, certo?
- Ah- bem, certo.
Parecia que Henry tinha levado um choque elétrico de alta voltagem. Tipo, ele acordou hoje esperando que o dia terminasse de muitas formas, mas nunca dessa.
O loiro inclinou o corpo para frente, seguindo o fio invisível que parecia o puxar, e de repente, o fato dele saber que era Charlotte ali não parecia tão reconfortante quanto deveria.
Não é que não quisesse beijá-la, é que ao fitar o castanho escuro dos olhos dela, nunca de tão perto quanto agora, soube que não queria estragar isso.
Ele não podia estragar.
Mas sentiu que ia.
Sua respiração travou nos pulmões, como se esperasse ser atropelado ou socado no olho, e tudo que se passava em seu cérebro eram mil Charlotte's saindo correndo, algumas lavando a boca com sabonete e outras vomitando.
O coração do Hart ia sair pela boca.
Onde diabos ele estava com a cabeça? Mas que droga ele estava pensando?!
Ele não estava.
E talvez fosse essa sua salvação, pensou.
Na hora, e o Henry do futuro gostaria de deixar bem claro, apenas na hora, durante o desespero, a agonia e o medo de fazer algo muito esquisito e perder sua melhor amiga, a ideia que ele teve pareceu ser uma boa ideia.
Mas ficou óbvio, cerca de um segundo depois, o quão errado ele estava, porque Henry Hart simplesmente entrou em pânico e, bom, não tem jeito bonito de falar isso:
Simplesmente acertou Charlotte com a cabeça.
- AII! MINHA TESTA, HENRY! MAS QUE MERDA-
- DESCULPA! DESCULPA!
- Cara, se isso criar um galo na minha cabeça, você 'tá morto! - Reclamou, massageando o local machucado.
Henry queria muito ser atropelado ou levar um soco no olho agora. Qualquer coisa que o tirasse dessa miséria covarde e embaraçosa que chamava de sua vida.
- Mil desculpas, Char! - Implorou. - Eu-eu... Fiquei muito nervoso, daí entrei em pânico!
- Isso era pra ser um teste, Henry! Um teste de beijo, não de futebol de cabeça! - Relembrou, de cara amarrada.
- Desculpa! - Choramingou. - Se serve de consolo, minha cabeça 'tá doendo também.
A garota franziu os lábios e estapeou o lugar avermelhado acima da sobrancelha do Hart, que começou uma sequência de ai's quase ao mesmo tempo.
- Caramba, Char, eu já tinha pedido desculpa!
- Hum, isso não ajudou a minha dor. - Lamentou falsamente.
- E me bater ajudou? - Reclamou com uma careta.
- Fez eu me sentir melhor, com certeza. - Sorriu brilhantemente, dissipando a raiva e um pouco da dor de sua cabeça. - Por que ficou nervoso?
Henry ainda massageava o pequeno galo em sua testa quando respondeu que não queria estragar o primeiro beijo dela, nem o dele. Foi como se todo o peso do mundo tivesse sido jogado em suas costas.
Eles se sentaram um do lado do outro novamente.
Na verdade, não era sobre o primeiro beijo em si, era mais sobre Charlotte sendo a outra pessoa com ele, mas claro que isso não foi dito em voz alta.
- Talvez eu me importe mais do que pensei... - Confidenciou, a olhando timidamente.
Charlotte o encarou de volta, querendo de verdade que ele a beijasse. Era estranho e ao mesmo tempo eletrizante, como se houvessem ímas invisíveis ligando ele a ela e vice-versa.
Quando ela deu por si, a ponta de seu nariz estava tocando levemente a dele, asas de borboletas farfalhando em seu estômago, suas respirações se misturando.
Seus olhos foram se fechando, como se caíssem no sono, e seus lábios se encontraram no meio de uma explosão de fogos de artifício que parecia acontecer dentro do peito de Henry.
O primeiro beijo foi estranho, talvez lento demais, bagunçado, mas eles não sabiam o que estavam fazendo ainda.
O segundo não foi exatamente bom, tampouco o terceiro, apesar de ter melhorado. Foi no quarto beijo que eles pareciam ter encontrado um ritmo próprio, nem muito devagar, nem muito rápido, os dedos dela enrolados no cabelo dele, enquanto ele segurava seu rosto.
Quando se soltaram daquela vez, ele deixou um selinho casto no canto de sua boca e ela notou suas mãos estavam entrelaçadas como mais cedo, mesmo não se lembrando quando aquilo havia acontecido.
Charlotte não conseguiu se mover, não querendo que aquilo acabasse como um teste.
Talvez eu me importe mais do que pensei, disse. Agora ela desejava que ele se importasse ainda mais do que antes.
- Char? - Murmurou, preocupado por ela não ter aberto os olhos ainda. Sua cabeça também estava meio que doendo por permanecer nessa posição, mas ele estava mais preocupado com ela, ok?
- Talvez eu me importe mais do que pensei também. - Sussurrou, apertando sua mão na dele e finalmente se afastando para ver a expressão no rosto do loiro.
Ele sorriu, segurando seu queixo e trazendo-a para perto para beijar o ponto acima de sua sobrancelha - longe de tocar o local onde acidentalmente acertara mais cedo.
- Bom 'pra mim, né? - Piscou.
- É, só você pra acertar uma cabeçada em uma garota e ela ainda querer sair com você... Quer saber, isso deve ser uma concussão, viu?
- Foi um acidente, eu juro! Eu pensei que se fosse de uma vez o nervosismo ia acabar. - Suspirou. - Você nunca vai esquecer disso, né?
Charlotte riu, beijando-lhe a bochecha.
- Não mesmo, Hart.
[♡♡♡]
Este capítulo é dedicado a todas as almas bv's deste site.
Lembrem-se, vcs não perderam o bv porque são vencedores KKKKKKKK
Também dedicado especialmente a: AutoraMediana, CHAPASGF e lyralion, porque amo o talento que vcs tem!
E a LucieneDePaula3 pelo comentário me incentivando a atualizar, espero que você goste!!
Eu amo muito os chenry, e espero que vocês tenham gostado dessa one tanto quanto eu gostei de escrever (tive que assistir vários vídeos de histórias de primeiros beijos pra me inspirar e foi tão hilário quanto trágico KKKKKKK)
Enfim, é isso, galera! Bebam água, se alimentem direitinho e leiam bastante!
See you😘
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