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Aquele com a Música

Henry adora o jeito como a câmera tem capacidade de prender um momento, guardar uma memória, capturar sentimentos.

As pessoas costumam dizer mais pelo olhar do que pelas palavras.

O loiro sorriu, encarando a tela de seu notebook com uma foto que ele havia tirado. Não dava pra distinguir nada, mas lembrava exatamente tudo que acontecera: Ele e Charlotte estavam caminhando pelo parque, o sol estava se pondo e a luz estava ótima, amarelada e forte o suficiente para iluminar a pele da amiga de um jeito que a fazia brilhar o suficiente para deixar as estrelas enciumadas. Como andava com sua mais nova câmera, ele a pediu uma foto, e depois de muita insistência, ela cedeu.

Estava prestes a tirar a segunda quando Jasper apareceu detrás de uma árvore correndo e trajando uma máscara que até hoje ele não faz ideia do que era. Charlotte se assustou e correu em sua direção, derrubando os dois na grama. Tudo que o segundo clique registrou foi um borrão dos cachos da jovem.

Sempre que olhava a fotografia lembrava-se do som da risada da Page preenchendo o ambiente. E talvez seja porque ela estava mais perto de seu coração do que de costume -caíra por cima dele- mas seu riso acendeu algo dentro de seu peito.

Foi ali que descobrira estar apaixonado por ela.

O único problema era ela estar apaixonada por Jack, um cantor famoso que nunca tinha um fio de cabelo fora do lugar.

Bem, já havia se passado quase um ano desde aquele dia, e cerca de um mês e meio depois dele se dar conta de seus sentimentos, ela terminara seu relacionamento. Como o jovem apaixonado que era, permitiu que aquilo o enchesse de esperanças... Que lhe foram tiradas no momento em que percebera tudo que arriscaria declarando-se.

Henry, então, resignou-se na zona de amigos por si próprio, não compartilhando aqueles sentimentos com ninguém além de papéis.

Sim, papéis, no plural mesmo.

Ele começara a escrever o que sentia depois de ver um programa de conselhos amorosos, que nunca admitiria a ninguém ter visto, uma psicóloga orientando um dos participantes virtuais.

Hum, não... Ele não enviara sua situação para o chat anônimo do programa. Seria o fundo do poço de sua dignidade, não é?

...

Tudo bem, era ele, e daí?

A questão era que aquilo realmente ajudava e ninguém precisava saber.

Desde então, colecionava textos e versos sobre ela, e os escondia numa madeira solta embaixo do sofá de seu quarto, guardado do resto do mundo.

Alguém bateu em sua porta, demonstrando certo desespero em ser atendido, e o tirou de seus devaneios sobre sua melhor amiga.

- Pode entrar.- Concedeu, fechando a aba do navegador do Google distraidamente enquanto pensava.

Era sua mãe, e ela parecia extasiada. Seus olhos estavam ligeiramente, nem tão ligeiramente, arregalados, sua mão apertava a maçaneta com tanta força que o sangue se esvaía dos vasos, deixando a pele mais branca do que o normal, e um sorriso enorme ameaçava rasgar seu rosto.

Tudo que ele queria perguntar era:

"Mãe, com todo respeito, a senhora está chapada?"

No entanto, com um olhar estranho e intrigado, tudo o que ele perguntou foi:

- Precisa de alguma coisa, mãe?

A mulher deixou escapar um suspiro rápido.

- Tem uma visita pra você.

Henry franziu o cenho e conteve um resmungo. De uma hora para outra, sua progenitora havia decidido bancar a casamenteira, trazendo as filhas de amigas suas e os deixando sozinhos de propósito, enquanto ela convenientemente levaria a mãe da vítima para a cozinha ou o jardim.

- Se for outra garota, ainda estou saindo com a Vick.- Diz, voltando a olhar seu computador.

Antes de qualquer outra coisa: Não, ele não estava usando ninguém para esquecer Charlotte.

Vick havia sido a última jovem apresentada a ele. Henry criara uma cumplicidade com a ruiva assim que suas mães sumiram no jardim e ela dissera:

- Por favor, me diga que também quer se livrar desses encontros arranjados.

Ele a olhou surpreso, todas as anteriores tinham ao menos tentado alguma coisa, mas a situação era sempre constrangedora demais, sem falar que não queria absolutamente nada com elas.

Passado o choque, Henry concordou com a de cabelos curtos, que sorriu satisfeita.

- Ótimo, então é o seguinte: Tenho namorada, minha mãe não sabe ainda, pensei que podíamos nos ajudar.

O loiro sorriu imediatamente, entendendo o plano da jovem. E foi assim que ele e Vick terminaram juntos, ao menos para suas mães. A ruiva era esperta e tinha descoberto seus sentimentos por Charlotte, e de vez em quando fazia cena apenas para provocar ciúme na cacheada, que segundo ela, também gostava de Henry.

O jovem apenas negava, mas não conseguia conter o sorriso de esperança, e mudava de assunto, geralmente perguntando a garota quando ela ia assumir aos pais que não era heterossexual.

Isso a fazia engatar em qualquer outra conversa sem envolver relacionamentos tão rápido quanto um foguete em direção à lua.

- Não é nenhuma garota.- Sua mãe garantiu, ainda sorrindo.- É um garoto.

Legal... Legal, legal, legal, legal, legal.

Sua mãe tinha enlouquecido!

- A senhora... Eu... Quem é que está lá fora, em nome da minha sanidade?

- Jack Swagger!- Disparou, com um gritinho empolgado.

A ruga da testa do loiro aumentou ainda mais. O que o ex de sua melhor amiga estava fazendo na sua casa?

Ele não devia, sei lá, estar numa turnê bem, mais beeem, distante daqui?

- O que... Já vou descer.- Informa de jeito entediado.

- Na verdade, ele pediu para falar com você aqui.- Esclareceu, animada como se tivesse ganhado na loteria.- Você é amigo de um cantor famoso e não me disse nada?

- Eu não...- Precisava começar a formar frases inteiras.- Uh, a senhora pede pra ele subir, por favor?

 - Claro!- Sorriu empolgada, sumindo no corredor.

Por que diabos Jack queria uma conversa particular?

Dois toques o interromperam antes que tentasse adivinhar.

- Entra.

O moreno de cabelos enrolados entrou e cruzou os braços, meio desconfortável, e analisou o ambiente, parando no loiro.

- Oi, Hart.- Acenou com a cabeça.

- Swagger.- Cumprimentou de volta.- A que devo a visita?

Era aquilo. Nada de amenidades, ou o clichê do "Tudo bem?", afinal nenhum dos dois parecia propenso a iniciar uma amizade mágica naquele momento.

- Ao único ponto em comum entre nós: Charlotte.- Disse, direto ao ponto.

- Vocês não terminaram?- Perguntou desinteressado, analisando as próprias unhas.

- Sim, mas eu quero reatar.- Ele faz uma pausa.- E preciso da sua ajuda.

Ok, onde estavam as câmeras?
Aquilo só podia ser uma pegadinha.

Henry deixou escapar uma risada sarcástica e desviou o olhar, balançando negativamente a cabeça.

- Você está falando sério?

Jack franze as sobrancelhas.

- Estou.- Garante.- Quero reconquistá-la e sei que você quer vê-la feliz, não é?

Amargamente, Henry concorda.

- Eu queria... Fazer uma serenata pra ela.

O loiro morde a língua para não rir em voz alta, imaginando a cena e a careta que Charlotte faria. Céus, quem ele esteve namorando?

- Okay...- Concordou, arrastando as sílabas para conter o riso.- Onde eu entro nessa história? O cantor aqui é você.

- Preciso de um compositor. Até tenho um, mas ele está de férias no Japão.- Revela, enfiando as mãos nos bolsos.- Então pensei em você, que a conhece e saberá o que dizer.

Câmeras, sério, aonde estão as câmeras?

- Você foi namorado dela!- Argumentou, incrédulo.

- Mas não estive tão presente quanto você e não sou um compositor tão bom.

- Swagger-

- Sei que gosta dela.- Interrompe, fazendo o rosto de Henry se contrair de surpresa.- E você sabe que eu fui o único namorado dela, o único que ela gostou de verdade.

O loiro desviou o olhar mais uma vez, travando a mandíbula. A vontade de enxotar o cantor de seu quarto ficava cada vez maior.

Jack, alheio ao desconforto do dono do cômodo, continuou:

- Pode fazê-la feliz, Henry, o jeito de fazer isso é me ajudando.

Ele não concorda exatamente, mas também não é como se fosse totalmente mentira.

Se ao menos houvesse uma chance...

Tudo que Henry queria poder fazer era deixá-la feliz.
Mesmo que custasse sua própria felicidade.

- Tudo bem.- Suspira, resoluto.- Eu ajudo.

- Excelente!- Sorri, com seus dentes irritantemente perfeitos.- Vou ficar durante essa semana, pode me dar a música até na quarta? Preciso de um dia pra ensaiar.

- Mas isso é depois de amanhã!- Arregala os olhos.

- Eu sei, sinto muito.- Não parecia que sentia.- Você quer cobrar?

- Não, não preciso de dinheiro.- O loiro bate o dedo indicador repetidamente na perna, impaciente.- Mando um e-mail na quarta com a letra e as partituras.

Jack se ilumina, aceitando o papel e a caneta que o Hart lhe oferece para anotar seu contato.

- Aqui está, muito obrigado.

Henry apenas assente, levantando-se para acompanhá-lo até a porta de sua casa e o vendo entrar no carro esportivo parado na frente do gramado.

A medida que o veículo se afasta, o loiro vai recobrando a consciência de seus atos.

- No que eu me meti?

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Charlotte se joga ao seu lado com um suspiro.

- Isso foi incrível.

- Hum rum.- Murmura, enrolando um cacho da amiga em seu indicador.

- Por que nunca fizemos isso antes?- Indaga, olhando para ele.

- Não sei.- Responde ainda distraído no cabelo dela.

- Percebeu que essa conversa ficou com uma leve conotação sugestiva a outra coisa?

- Desde a hora que você suspirou, mas é só fazer como eu e fingir que é tão inocente quanto uma criança de seis anos.

Charlotte riu.

- Pra você é fácil, sua mente é mesmo a de uma criança de seis anos.

- Se você achar isso estará mesmo sendo inocente.- Sorri de canto.

A cacheada revira os olhos.

- Uh, nossa, meu amigo é um libertino.

- Posso ser várias coisas.- O sorriso dele se alarga.- Inclusive um libertino, se você quiser.

A Page se afasta, sentando-se em sua cama com uma careta. Henry repete seus atos.

- Queria saber o que aquela Vanessa ia achar disso.- Cruza os braços.

- O nome dela é Vick.- Corrige com uma leve risada.

- Tanto faz.- Dispara de volta.- Estamos na minha cama.

- Nós só assistimos uma série. A única coisa que nunca tínhamos feito antes é comer brownie com sorvete, Char.- Justifica, mas ela não o olha.

- Você estava mexendo no meu cabelo...- Disse em voz baixa, como se estivesse em profundo estado de meditação.

- Estava, qual o problema nisso?

O coração dela acelera.

- É que... Uh, você tem dezenove anos e... Você e eu... Você também fica brincando e...

- Char?- Ele a chama, interrompendo o fluxo de palavras aparentemente desconexas que sai de sua boca, incerto sobre o que ela queria dizer.

A jovem o encara por um instante e, lançando um olhar intenso em sua direção, morde o lábio inferior, chamando a atenção do amigo para sua boca. Os olhos dele permanecem lá, avaliando os resquícios de gloss que sobraram, desejando que tivesse sido o responsável pelo sumiço do produto, não o sorvete com brownies.

O cérebro dela entra combustão quando ele começa a se inclinar, sua respiração torna-se desregulada, seus batimentos cardíacos enviam sangue fervente por todo seu corpo, e um calor a atravessa. Charlotte sabe que ele não está pensando direito e embora queira muito encerrar a distância entre seus rostos, sabe que deve se afastar.

Antes que a respiração dele se misture com a sua e ela não consiga raciocinar.

- Deixa pra lá.- Ela diz, quebrando o momento, levantando-se da cama e pegando o prato que antes estava coberto dos doces que comeram.- Vou levar isso lá pra baixo.

A morena sai do quarto, deixando Henry com o coração correndo como louco e borboletas no estômago.
Mas mesmo que ela suma no andar de baixo de sua casa, sua imagem o segue em seus sonhos, o acordando às duas da manhã.

Então é na madrugada de terça, com a luz da lua enchendo boa parte de seu quarto, que ele começa sua música.

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Manter-se num emprego por muito tempo era bom para o currículo, mesmo que esse emprego fosse na Bugigangas. E era por isso que Henry se encontrava lá, em plenas sete horas da manhã depois de uma madrugada em claro.

Seus olhos o traíam, querendo a todo momento fecharem-se, quando o refrão de "High Hopes" estourou sua audição.

- TÔ AQUI, TÔ ACORDADO!

Uma risada alta ecoou pelo local, martelando em seu cérebro.
Ótimo, dor de cabeça.

- Sua cara foi im-pa-gá-vel!- Exclamou Victorie, limpando algumas lágrimas que escaparam de tanto rir.

- Como é que sua namorada te aguenta?- Perguntou resmungando.

- Beijo bem, quer que eu te mostre?- Brincou, lançando uma piscadela para ele e se inclinando sobre o balcão.

Henry revirou os olhos.

- Não, obrigado. O que veio fazer aqui? Pensei que ia sair com seu pai.

- Minha mãe conseguiu me livrar, dizendo que era nosso aniversário de namoro ou algo assim.- Ela começa a brincar com o pote de canetas que tem cabeças de famosos na tampa.- Olha só! É uma das Kardashian, né?

- É sim.- Concorda, observando-a analítico.- Quando vai voltar a falar com ele?

O olhar da ruiva não encontra o dele.

- Ei, já imaginou um dueto do Shawn Mendes com Harry Styles? Eu ia falar Justin Bieber, mas isso não vai rolar.- Riu, claramente tentando mudar de assunto.

- Vick...

- Eu vou falar com ele!- Cede, largando Shawn, Harry e Justin.- Só não hoje...

- Sei que foi um choque descobrir que tem um irmão mais velho, mas pelo menos seu pai não escondeu isso da sua mãe quando descobriu, não foi?

- Os dois esconderam de mim, mas as coisas vão se resolver.- Deu de ombros.- Também não sou o melhor exemplo de honestidade, não é?

Henry sorriu levemente, mas o som da porta da loja sendo aberta o interrompeu.

- Hen, pensei que nós...- Charlotte entra falante, distraída no celular, e levanta o olhar antes de terminar sua sentença.- Ah... Oi.

Vick a encara com uma animação que faz o Hart ficar apreensivo.

- Hey...- Sorri.- Charlene?

- Charlotte.- Corrige neutra, mudando o peso do corpo para a perna direita.- E você é a...

- Victorie, ou Vick.

O sorriso que a Page abre faz o corpo de Henry tremer. O ambiente fica carregado com a tensão entre as duas, mesmo que a ruiva estivesse apenas encenando.

- Vick? Tipo aquele remédio pra resfriado?

O Hart leva a mão a boca bem a tempo de conter uma risada e olha de uma garota a outra. Victorie se encosta na superfície atrás de si.

- Ela é boa.- Admite, olhando para o loiro.- Ia se dar bem com a Alexa.

- Quem é Alexa?- Charlotte pergunta, aparentando despreocupação ao rodear o balcão e ficar ao lado do loiro.

- A namorada dela.- Henry revela, olhando ansioso para a cacheada ao seu lado.

Como esperado, a reação da jovem vai de confusão a espanto em frações de segundo.

- Desculpe, o quê? Pensei que vocês estivessem saindo!

- A ideia era essa.- Vick ri.

- Hey, não, a ideia não era bem essa.- Henry corrige rapidamente.- A ideia era que mamãe pensasse que nós estávamos saindo. Lembra que eu te falei que ela estava bancando a casamenteira?

A morena respira fundo, e os três segundos mais tensos da vida do Hart se passam diante de seus olhos.
Então ela se vira para Vick com a sombra de um sorriso.

A sombra de um sorriso! Aquilo não podia ser bom...

- E você estava passando pela mesma coisa porque não se assumiu?- Charlotte pergunta a Victorie, sem se preocupar em responder o jovem ao seu lado.

Recado entendido.

Vick olha preocupada para o colega, que baixa o olhar para a superfície do balcão, e se volta para a Page, notando o resquício de raiva em seus olhos.

- Sim, planejo assumir quando as coisas em casa se acalmaram um pouco. Muita coisa acontecendo, sabe?

- Ah sim, as coisas mudam rápido.- Afirma, deixando a indireta lançada ao amigo pairar no ar.- Tenho umas coisas de última hora pra resolver... Até uma outra vez?

- Claro.- Responde simples.

- Tchau, Henry.- Cumprimenta seca.

- Posso te dar uma carona?- Indaga ansioso, levantando a cabeça rapidamente.

- Não, obrigada.- Responde ríspida.- E você tem que ficar na loja.

- Char...

O loiro nem percebe que vai atrás dela até ser parado na porta pela virada brusca da cacheada.

- Juro que estou tentando entender, sério!- Balança a cabeça, respirando fundo algumas vezes.- Quer saber? Vou pra casa, quem sabe longe de você as coisas façam sentido.

Henry sente as pernas congelarem e seu coração bater violentamente contra o peito.

- Charlotte, não faz assim, por favor.- Pede, sentindo o temor da adrenalina o impedir de raciocinar.

- Eu não estou fazendo nada! Estou tentando entender o que você fez, ou o que queria fazer, sei lá!

- Não é nada disso que você está pensando!

- Você claramente não sabe o que eu penso! Achei que você só não sabia, mas me enganei e...- Ela desiste das exclamações exasperadas e volta a balançar a cabeça.- Eu nem sei do que eu estou falando.

- Charlotte!- Chama, movendo-se para segui-la, mas uma mão segurando seu braço o impede.

- Deixa ela ir, Henry.- Victorie diz gentilmente.- Aproveita e pensa também, tá? Eu vou indo, desculpe por tudo isso, achei que era a hora certa.

- Agora já foi, né?- Suspira, pressionando as pálpebras.- Tudo bem, vai ver foi melhor assim.

- Certo... Me mantenha informada, ok?

Ele assente meio distraído e a garota vai embora.

E ali, sozinho com seus pensamentos, uma loja vazia, e um coração ainda acelerado, Henry termina a música.

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- Ok, deixa eu ver se entendi...- Disse Piper, apoiando o cotovelo na janela aberta do carro em movimento, o Range Rover do irmão.- Jack Swagger, cantor famoso, te pediu pra escrever uma canção de amor sobre a sua melhor amiga?

- Que também é ex dele.- Concordou, virando a esquerda para deixá-la no banco da cidade.

Havia explicado toda história à irmã, inclusive a discussão que tivera com há dois dias com a cacheada, que até o momento, estava lhe ignorando por completo: Não respondia suas mensagens, não atendia suas ligações, não o recebia em casa... Não estava lhe dando só um gelo, era um iceberg completo.

- No que você estava pensando quando aceitou fazer isso?!- Indaga exasperada.

- Nela.- Responde firme.- Estava pensando nela.

- Você só pode gostar de sofrer!

Henry suspirou.

- Estou mais para potencial a suicida.- Resmungou.- Só fiz o que achei ser melhor pra ela.

Piper travou o maxilar com tanta força que ficou surpresa por não ter quebrado nenhum dente.

- Meu Deus, como você é burro, Henry!- Balança a cabeça.- E trouxa! Burro e trouxa!

- Valeu, irmãzinha, isso ajudou muito.- Sorriu sarcástico.

- Se ela terminou com ele é porque alguma coisa mudou!

- Você não tem como saber disso.- Retruca, apertando o volante.

- Hello?- Revira os olhos.- Ela é minha amiga também! E amigas contam esse tipo de coisa uma pras outras, sabia?

- Então por que eles romperam?!- Pergunta Henry, perdendo a paciência.

Piper desvia o olhar imediatamente, mordendo o lábio inferior antes de murmurar:

- Isso não vem ao caso agora.

- Vem totalmente!- Rebate.- Não era você que estava dizendo que fiz burrada?! Só queria vê-la feliz, droga!

Piper bate o pé freneticamente a cada palavra do irmão, tentando não ceder aos gritos e falar demais.

- E SE ELA QUISESSE SER FELIZ COM V... OUTRA PESSOA!?

- Eu acho que ela me diria isso!

A loira esfrega o rosto com as mãos abafando o som frustrado que sai de sua boca.

- Talvez não!

O rosto de Henry se contrai em confusão.

- Por quê não?

Silêncio.

- Chegamos.- A Hart Diz, cortando a pausa que havia feito.

O mais velho encosta o carro, mas segura o braço da irmã.

- Piper, o que você quis dizer?

A garota sentiu a vontade de ser sincera borbulhar provocadora em seu interior, a sufocando principalmente ao encarar o irmão e seu olhar vulnerável, que transmitia um certo temor, apreensão e, no fundo, um lampejo brilhante de esperança.

Mas ela comprimiu os lábios e engoliu em seco.

- Fale com ela.- Diz, saindo do veículo.
Henry tomba a cabeça no banco por um instante, fechando os olhos. Tinha entregado a música na quarta pela manhã, e tudo no que conseguia pensar enquanto Jack chovia elogios pela letra era no quanto ele queria dizer a ela pessoalmente tudo que tinha posto no papel.

Havia entrado numa loucura, agora, depois de dois dias sem ela, conseguia ver.

E aquilo parecia querer comê-lo vivo.
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Charlotte largou a bolsa da faculdade em cima da escrivaninha e se sentou na ponta de sua cama, esfregando o ponto entre seu pescoço e orelha.

Seu olhar pousou na cabeceira, inundando-a na lembrança dela e Henry ali, rindo um do outro e tontos de tanto açúcar, provocando um suspiro pesado.

Era uma tarde de sexta livre e tudo que queria era fazer alguma bobagem vazia com ele, esquecer essa bagunça de sentimentos, a discussão que tiveram e qualquer coisa que não fossem eles dois juntos como sempre.

Tinha sido relutante em admitir, afinal só haviam se passado dois dias, mas a verdade era uma só: Estava com saudades.

Seus olhos se desviaram inconscientemente, interrompendo seu filme de memórias, e caíram em seu celular.

Podia mandar uma mensagem, não podia? Ele tinha mandado tantas que havia perdido a conta.

Ou talvez ligasse pra ele...

O aparelho parecia ter voado sozinho até sua mão e parecia prestes a chamar pelo contato de Henry, também independentemente claro, mas seu orgulho ainda resguardava a desculpa de que deveria manter a dignidade intacta. Afinal, ela havia tido um relacionamento a não tanto tempo e nunca havia se sentido tão tentada a ligar para o ex como tinha vontade de ligar para o loiro naquele momento.

A cacheada segurou o telefone com mais força, batendo-o em seu queixo repetidas vezes enquanto pensava.

É isso, não ligaria.

Decidiu, empurrando o objeto para longe de si, mas como se lesse seus pensamentos, o nome do loiro brilhou na tela, enviando um frio à sua espinha.

Ela hesitou.

Porém atendeu.

Sua voz não saía, então esperou que ele lhe falasse algo.

"Charlotte"

Seu tom era rouco e não havia nada interrogativo como ela achava que seria. Respirou fundo e fechou os olhos.

"Estou ouvindo"

Um silêncio torturante se seguiu na linha.

"Não... Preciso ver você."

O corpo dela arrepiou involuntariamente pela forma necessitada que ele soou. Só sua voz a fazia sentir tanta coisas misturadas que era difícil respirar corretamente.
Ela mordeu o lábio inferior.

"Estou em casa" / "Estou na sua porta"

São as frases ditas logo em seguida, ao mesmo tempo.

Charlotte desceu as escadas, com o celular ainda pendurado em sua mão, e abriu a porta.

Ele estava de pé, mas olhando para baixo, também segurando o telefone ao pé do ouvido.

Seus olhares se encontraram e ele desceu o braço lentamente, guardando o aparelho na calça jeans em que enfiou as mãos com timidez.

- Entra.- Ela diz, abrindo espaço, sua voz mal soando pelo ambiente carregado de tensão.

- Liguei até para sua mãe.- Diz, depois de encará-la por alguns segundos, para quebrar o gelo.

- Ela me disse, mas...- Olhou para os pés.- Precisava pensar em algumas coisas.

O habitual Vans que o ele costumava usar entrou em sua linha de visão e ela engoliu em seco, levantando a cabeça. Sua respiração se prendeu na garganta ao encontrar o olhar dele, escuro e lascivo. O calor do corpo do loiro irradiava em ondas, praticamente implorando para que ela perdesse a sanidade.

- Espero que tenha se saído melhor do que eu, porque só consegui pensar numa coisa.- Sussurrou com a voz rouca, olhando descaradamente para a boca dela.

Charlotte sentiu os ossos ganharem consistência de geléia. Sabia só de encará-lo a resposta para do que perguntaria, estava praticamente escrito em sua testa, mas ainda sim indagou:

- No que?

Seus olhos se encontraram por alguns segundos, como se encaixassem os termos do que aconteceria. Um pedido de permissão silêncio, que foi, do mesmo modo, concedido.

Ah, graças a Deus pelos anos de amizade que resultaram naquela interpretação de olhares que não necessitava de palavras.

- Nisso.- Henry finalmente respondeu, milésimos de segundo antes de esmagar seus lábios contra os dela de forma desesperada.

Sentia que aquilo poderia vir a ser um erro, e para o caso de chegar a ser, faria ser o erro do qual jamais se arrependeria.

E estava se saindo bem nisso.

Suas mãos rastejaram pelas costas dela e a seguraram firme, erguendo-a levemente do chão para compensar a diferença de altura entre os dois. Na ponta dos pés, Charlotte passou os braços pelo pescoço do mais alto, arranhando o local levemente ao subir a mão até a nuca do loiro, que aprofundava o beijo com passos errantes até a parede próxima a escada.

- Sua mãe está em casa?- Perguntou com a voz grave, antes de descer os beijos até o pescoço da cacheada, que arquejou um "não" fracamente.

A meia resposta dela o fez sorrir e mover os lábios para perto de seu ouvido.

- Ótimo.- Sussurrou, antes de puxá-la escada acima, parando apenas na porta do quarto dela para deixar mais um beijo em seus lábios.

A parte entre entrar no cômodo e cair na cama foi uma confusão de flashes sucessivos que acabaram com uma Charlotte deitada, levemente consciente de que tinha se livrado dos sapatos de algum jeito, e um Henry em cima dela sem camisa.

Era bom que ela não estivesse de pé, pois seus joelhos estavam assustadoramente instáveis naquele instante. Uma pequena parte sua sabia que deveria questioná-lo sobre o que estavam fazendo, mas o jeito que ele a beijava deixava seu cérebro fervendo e seu corpo pedindo por mais e ela não queria parar.

Mas foi parada.

E por uma guitarra.

- Que droga é essa?- Charlotte indagou irritada, quando os dois se separaram e olharam na direção da janela.

- Merda, esqueci disso.- O loiro reclamou, passando a mão nos cabelos desgrenhados.

- Esqueceu?- Franziu a testa.- Como assim "esqueceu"?

Henry resmungou algo ininteligível e começou a procurar pela camisa enquanto os primeiros versos começaram a soar.

E se eu pudesse, eu compraria todos os sorrisos seus só pra mim

- É o Jack?!- A garota arregalou os olhos e pulou desajeitadamente da cama, pondo-se ao lado da janela, apenas o suficiente para ver o que acontecia em seu jardim de modo anônimo.- Ele não está fazendo...

- Uma serenata para você?- O Hart perguntou com deboche.- Ah, está, está sim.

Charlotte abriu a boca e balançou a cabeça, tentando ao menos balbuciar uma palavra coerente.

- Isso... Ele nem ligou pra checar se eu estava em casa!- Exasperou-se.- É sexta, droga! Nem uma pedrinha no vidro sequer!

- Sinceramente, se ele tivesse jogado uma daquelas suas enciclopédias eu nem teria notado.- Sorriu sem pudor, fazendo a cacheada corar e desviar o olhar para fora novamente.- E sério que seu ex está fazendo uma serenata pra você lá fora e é isso que te preocupa?

E se eu pudesse eu viveria um clichê com você do início até o fim

- Esse filho da mãe chega no meu quintal e começa a cantar tranquilamente! Eu podia fingir que não tem ninguém em casa e deixar ele lá!

Charlotte bateu o pé no chão algumas vezes, depois cruzou e descruzou os braços, incerta de como devia agir.

Ela nunca ficava assim, droga, sempre sabia como proceder mas...

Processar que Jack estava cantando em seu jardim -uma música realmente doce, mas ainda sim era seu ex e ela não queria mais nada- e Henry, que beija bem pra caramba, estava ao seu lado presenciando aquela cena com uma cara nada boa estava tirando a melhor dela.

- O que foi?- Perguntou a Henry, que a olhava de bochechas vermelhas.

- Nada.- Respondeu automático, rápido demais, e desviou o olhar para janela.- Aquilo é uma Les Paul Gibson?!

- Uma o quê?- Indagou confusa pela troca repentina de assunto.

- A guitarra.- Explicou, tentando seu melhor para não colar o rosto no vidro.- São caríssimas e... Maravilhosas.

Charlotte apenas revirou os olhos diante da obsessão por instrumentos de corda que poucos sabiam que o loiro tinha. O jovem era capaz de recitar todos os tipos de guitarra mil vezes.

- Por quê ele não parou de tocar?- Perguntou brava.- Ninguém apareceu na janela!

- Vai ver ele acha que você está num conflito interno entre aparecer na janela e descer correndo para os braços dele.- Cruzou os braços amargamente, apoiando o corpo na parede enquanto a observava.

Charlotte o lançou um olhar rápido antes de pigarrear e encarar os pés.

Eu imagino mil jeitos de te conhecer,
de me apaixonar por você
E entre todos os caminhos que a gente percorreu,
meu coração se tornou seu

Enquanto o barítono de Jack se encaixava - para o azar de Henry, de forma perfeita- a melodia, os dois trocaram se encontraram encarando um ao outro. Não era assim que o loiro imaginava que ela fosse ouvir essas palavras, mas de que outro jeito seria se haviam sido escritas para aquela finalidade?

E tudo que eu quero,
tudo que eu desejo,
tudo que eu preciso é você.

- É melhor eu resolver isso...- A cacheada murmurou devagar, presa aos olhos do melhor amigo.

Do melhor amigo que havia beijado...

Seja dia ou noite,
Frio ou calor,
Tudo que eu preciso é do teu amor

- Eu saio pelos fundos, aposto que ele nem notou meu carro.- Respondeu sem quebrar o contato visual.

Algo dentro dele queria quebrar se ele fosse embora e essa mesma coisa queria gritar para ela que não voltasse com com o pop star em seu quintal, mas, como acontecia sempre, o olhar dela sobre o seu o deixava sem palavras.

E eu imagino mil jeitos de te dizer,
que a pessoa que eu amo é você
Mas não importa a maneira que eu tente falar
teu olhar me cala

- Henry...

E meu coração dispara
o cérebro trava
Só de ouvir o som da sua voz

- Hum?- Virou esperançoso, seu pulso martelando forte na caixa torácica.

Charlotte sentiu o estômago revirar numa volta completa e mordeu o lábio, incapaz de dizer o que queria. Precisava urgentemente falar com ele antes.

Mas uma coisa eu te digo,
as coisas só fazem sentido,
Quando você está comigo

- Vejo você mais tarde.- Foi o que saiu.

O loiro assentiu, sumindo pela porta ao notar que a música estava em seus últimos versos e Jack podia acabar o vendo saindo da casa.

Porque eu amo você...
Porque eu amo você...

- Só você...- Cantou baixinho de dentro do carro, olhando a garota que gostava finalmente aparecer na janela com uma expressão indecifrável ao longe.

Jack pareceu motivar-se mais diante da aparição de Charlotte, e foi o suficiente para Henry se dar conta de que nunca deveria ter entregado aquela música ao Swagger.

Não era como se ele desejasse que ela não fosse gostar, afinal ele havia escrito a letra e criado a melodia, mas seu estômago ainda afundava, cada vez mais fundo, quando se lembrava de que muito provavelmente havia contribuído para eliminar qualquer esperança de que algo fosse acontecer entre ele e Charlotte.

Justo quando sentira, de verdade, não sua mente apaixonada lhe pregando peças, que tinha uma chance real de que ela se sentisse ao menos atraída por ele.

Já era noite quando notara que havia se trancado no quarto o dia inteiro. Não havia sido de propósito, só estava pensando demais. Sua mãe deve ter notado que o carro estava de volta a garagem, então estava ocupada em alguma tarefa ou novo hobby, sua irmã ainda estava fora, resolvendo questões sobre sua poupança... Ou talvez estivesse com Charlotte, conversando sobre tudo que acontecera.

- Sou um idiota!- Resmungou, passando as mãos entre as mechas loiras.- De primeira linha.

A cólera o cegou e o impulso percorreu seu sangue, o fazendo arrastar o sofá com mais força do que o necessário. Suas mãos se livraram da tábua solta de seu chão e agarraram os papéis que havia acumulado ao longo dos meses, mas ele não foi capaz de rasgá-los.

De que adiantaria? Poderia apagar todos aqueles versos, não mudaria em nada o que sentia por ela.

Ele respirou fundo e fechou os olhos. Não sabia se era hora de superar Charlotte, era surreal estar falando em superação quando ele havia finalmente provado o beijo dela, mas independente de tudo, isso não aconteceria de uma hora para outra assim.

Então, se dando por vencido pelos próprios sentimentos, o loiro resolveu guardar os papéis no lugar de antes e descer para jantar, tomar um banho e voltar ao quarto para atirar-se na cama.

E assim ele fez, bem, menos a parte sobre se sobre a cama...

- Charlotte?- Perguntou confuso, congelando no lugar assim que entrara em seu quarto.

Seu coração errou uma batida ao vê-la ali, parecendo um anjo com os cabelos cacheados lhe emoldurando o rosto.
O olhar dela estava arregalado enquanto segurava um papel nas mãos.

- Foi... Foi você... Foi você que escreveu!- Balbuciou, misturando dúvida e certeza no mesmo tom.

Seu cérebro entrou em ação para liberar adrenalina por todo seu corpo, causando o frio em seu estômago que o impediu de respondê-la. Também não era como se ele soubesse o que dizer...

A cacheada levantou-se do lugar onde estava sentada e o encarou.

- Caramba, Henry! Quando eu penso que finalmente estou te entendendo você me aparece com uma falsa namorada lésbica ou com um esquema duvidoso com algum namorado meu?!

Namorado... A palavra o perfurou sem aviso prévio. De repente não importava o jeito exasperado que ela gesticulava ou o fato de ter cometido o erro de não guardar a letra junto com as outras folhas.

- Vick é bi.- Corrigiu olhando para os pés, porque não estava preparado para que ela o desse a notícia de que havia voltado para os braços do cantor teen.

- E isso importa agora?!

- Não quero ter que me importar com nada agora!- Retrucou, lançando um olhar firme para ela.- Estou cansado, Charlotte...

E ele parecia realmente cansado quando o silêncio os envolveu, deixando que o garoto sentasse em sua cama esticando os braços para trás. Charlotte ficou na sua frente.

- Eu... Só preciso entender, Henry... Mais cedo eu e você-

- Eu sei o que aconteceu mais cedo.- Interrompeu em voz baixa.- E sinto muito pela Vick, mesmo sem saber ao certo pelo que estou pedindo desculpas... Não queria fazer você acreditar que eu estava saindo com alguém.

Charlotte tentou absorver aquelas palavras e as decifrar em seu cérebro, mas ainda parecia tudo embaçado.

Aquilo era bom, certo?
Por que não parecia bom?

- Não queria?- Perguntou no mesmo tom que ele havia usado.

- Talvez uma parte minha quisesse, mas não pra te deixar brava ou fazer com que você se sentisse de lado.- Explicou, sem encontrar os olhos dela.

A cacheada permaneceu calada, tentando arrumar palavras para descrever o que passava por sua cabeça. Era como se a tivessem dado um enigma cheio de códigos escritos em hieróglifos.

Para falar a verdade, se Schwoz dissesse que seu amigo havia adquirido o poder de confundir a mente das pessoas, ela ficaria aliviada, porque não estava acostumada com a incompreensão que a dominava nos últimos meses quando o assunto eram seus sentimentos sobre o Hart.

Respirou fundo, na tentativa de focar apenas nas palavras que diria.

- Não é preciso passar cinco minutos na minha presença para descobrir que sou uma pessoa racional, Henry.- Começou, fechando os olhos.- Mas não sei porquê, não sei como e não sei quando... Não consigo ser racional quando você está envolvido. Estou uma bagunça por dentro. Você me bagunçou.- Revelou, mordendo o lábio com força como se isso a motivasse a continuar sem perder o filtro entre a boca e o cérebro. Não queria escorrer sentimentos que muito provavelmente não seriam correspondidos, só deixá-los subentendidos estava de bom tamanho.

Henry ficou quieto, incapaz de dizer um monossílabo sequer, enquanto sentia o coração acelerado chegar a sua garganta.

Era um sonho, aquilo não estava acontecendo... Impossível.

- Estou falando sério quando digo que tento entender você, porque uma hora estamos prestes a ultrapassar todas as linhas da amizade e cinco minutos depois você está tão afastado de mim que parece me detestar.- Seus olhos se apertaram como se ela estivesse com alguma dor e sua voz ficou insegura, o que era novo para Henry. Novo e aterrorizante.- Me sinto perdida... Sinto como se tivesse algo e depois perdesse isso, mas não sei o que faço para parar, não sei o que estou fazendo de errado e não gosto disso.

O Hart engoliu em seco, despreparado para tanta sinceridade, e notou que Charlotte estava começando a perder o foco, despejando as frases que vinham a sua cabeça, esperando que ele entendesse.

- Já me cansei disso.- Ela apontou entre os dois de repente, abrindo os olhos.- E nem sequer descobri o que isso é! Por favor, chega de sinais confusos, chega desses joguinhos de ciúme, só... Só me explica o que está acontecendo entre nós dois.

Ele queria dizer que não sabia, queria dizer que a única coisa na qual não era um completo ignorante era no que dizia respeito aos seus sentimentos sobre ela. Queria dizer que também estava bagunçado e que ela tinha feito aquela bagunça nele.
Mas as palavras certas não apareciam, justo quando mais precisava...

Então ele resolveu mostrar a ela.

Henry se levantou, fazendo Charlotte recuar um passo confuso, e caminhou até seu sofá antes que qualquer hesitação o fizesse desistir.

A Page assistiu sem entender o que o loiro fazia ao arrastar o estofado e se agachar. Sinceramente, ela pensou seriamente que ele ia sair pela janela quando começou a subir as escadas.

Apenas um momento de loucura, ele não precisava saber disso.

O Hart soltou a madeira e puxou a caixa em que guardava os papéis. Seu estômago embrulhou e a única coisa que conseguiu pensar foi:

É agora ou nunca.

Em seguida, sentou-se no chão e lançou um olhar ansioso para a morena, que ainda o encarava com uma careta de desentendida.

- Não sei o que te falar agora, mas tenho certeza que vai entender se eu ler alguns desses pra você.- Revelou, lutando contra o nervosismo que fazia sua boca tremer.

Ainda com a mesma expressão, a garota se pôs a sua frente, enquanto permaneciam separados pelos papéis que ele havia derramado no chão.

- O que é tudo isso?- Perguntou, o observando passar as folhas em uma ordem, talvez cronológica.

- Coisas que escrevi porque não podia ou não conseguia te dizer. Pensamentos aleatórios.- Explicou, entretido demais para vê-la arregalar os olhos.

- Isso tudo é sobre mim?- Indagou boba, chamando a atenção dele para si.

O loiro sorriu.

- É tudo sempre sobre você, Charlotte.

Se já não estivesse sentada, ela precisaria se apoiar em alguma coisa, porque suas pernas perderam a força naquele instante. Henry parecia gostar de provocar esse efeito nela.

- Esse é de um dia em que eu senti ciúmes de você.- Revirou os olhos.- Devo ter vários desse. E, pensando bem, prefiro que você leia, aliás não precisa ser em voz alta.- Completou, as bochechas tingidas de vermelho.

"Detesto o jeito que ele te olha. Olharia para você muito melhor do que ele. Não sei se isso é possível, mas é verdade."

A cacheada sorriu, balançando a cabeça.

- Esse é do dia em que saímos para tomar sorvete.- Disse, ainda envergonhado.- Está até escrito num guardanapo.

"Aposto que seus lábios são tão doces quanto a calda de morango que você escolheu. Aposto que seu beijo faria o sorvete parecer sem graça."

Ele a observou morder o lábio, mas foi incapaz de saber que um rubor subira ao rosto da garota, ela por outro lado, estava bem ciente de todas as reações de seu corpo.

- Esse é de quando conversamos de madrugada porque você teve um pesadelo, lembra?- Sorriu levemente, os olhos transbordando de carinho por ela.- E esse é de algum momento que fiquei te secando na Caverna Man.

- Sua sinceridade é tocante.- Brincou, vermelha pelas revelações, enquanto pensava em como nunca notou seu amigo a encarando.

"Conversaria por dias seguidos se tivesse certeza que você não enjoaria de mim. Queria poder abraçar você agora, enrolar um cacho seu no meu dedo e deixar um beijo no topo da sua cabeça, queria te dizer que foi só um pesadelo e que eu daria minha vida por você."

"Você é linda da cabeça aos pés, por dentro e por fora. Seu sobrenome deveria ser tentação. Não, na verdade, deveria ser Hart... É, com certeza melhor."

- Esse é do dia que estudamos juntos para as provas finais.- Entregou o próximo.- E esse é daquele campeonato de ping pong entre você e o Ray.

- Isso foi há meses...- Comentou, sentindo a analogia de borboletas fervilhando alegres em seu estômago ganhar força.

- Ah, eu sei disso.- Disse com uma risada e um leve erguer de sobrancelhas.

"Adoro a forma como você morde a caneta e detesto não ser essa caneta."

"Você fica quente quando está concentrada, na verdade você sempre é quente... Queria descobrir como seria ter toda essa atenção pra mim."

- Henry!- Arfou surpresa, mas sem conter o riso que escapara.

- O que?- Deu de ombros.- Em minha defesa, eu não pretendia te mostrar essas coisas. Toma, esse é de quando nós fingimos namorar pra ganhar a sobremesa daquela lanchonete no Valentine's day.

"Acho que nunca fui tão feliz na minha vida, experimentei o que é ser mais do que seu amigo e corro o sério risco de ter me viciado. E ainda ganhei sobremesa grátis por isso, parece injusto, mas não sou eu quem vai reclamar... Estou me perguntando porque é tão incrível assim ser seu namorado. Deve ser porque você é a namorada."

- E esse é de quando eu cheguei em casa na mesma noite.

"Bem... É isso. Acabei de viver uma amostra do meu sonho. Queria te dizer que quando te deixei em casa queria entrar com você, que quando você beijou minha bochecha fiquei desejando seus lábios nos meus, e o mais importante: Queria te pedir pra ser minha namorada. De verdade. Não só para ganhar comida de casal grátis -ainda que isso tenha sido ótimo- e não só por uma noite, mas pra vida toda."

Charlotte segurou os papéis com força, enquanto seu pulso acelerava num nível anormal e seu rosto esquentava pela milésima vez. Henry tinha escrito muito, e ali, sentada diante dele, observando o rosto vermelho, os lábios curvados num meio sorriso de canto, o cabelo caindo sobre o rosto e os olhos suaves, tudo em que ela conseguia pensar era em como desejava que ele tivesse falado a ela. Uma só vez teria sido o suficiente.

"Adoro que você seja tão inteligente, sei que vai conquistar o mundo e espero estar do seu lado para te abraçar e dizer que estou orgulhoso. Estou sempre orgulhoso, na verdade."

"Amo o jeito que seu nariz enruga quando estamos discutindo. Você é fofa."

"Detesto que seja difícil conseguir um sorriso seu, mas vê-lo compensa. Seus dentes são realmente perfeitos."

"Queria te chamar de minha garota, provavelmente você me bateria pela expressão sugerir que pessoas são objetos... Queria saber se estou certo."

- Você está certo.- Murmurou, devolvendo um dos papéis para que ele entendesse do que ela falava.- Bateria em você, mas sorrindo.

- Não era assim que eu queria descobrir, mas bom saber.- Provocou, piscando para ela.

- Só não descobriu se outro jeito porque não quis.- Argumentou, pegando mais alguns papéis de jeito despreocupado, embora por dentro estivesse um emaranhado de sentimentos.

Por mais que as intenções dele estivessem claras como uma noite de lua cheia, uma única coisa ainda não fazia sentido.

- Por que você escreveu a música para o Jack?

O Hart, que parecia já esperar por aquele questionamento, pôs outro bilhete em sua mão.

"Você ainda pensa nele? Só quero que você seja feliz, mas queria que fosse eu do seu lado."

- Você parecia feliz com ele e pra mim bastava.- Afirmou olhando para o colo.- Sabe quantas garotas dariam tudo pra ser uma flor do seu jardim hoje?

- Uma flor? Por quê não eu?

Henry apenas sorriu, conectando seus olhos nos dela e ofertando a ela um outro verso diferente.

- Basta olhar uma vez para saber que não tem ninguém como você, Charlotte Page.

"Seus olhos sempre brilharam assim ou eu estou louco? Você segurou minha mão e sorriu, isso quer dizer alguma coisa? Posso quase jurar que você estava com ciúmes. Eu tenho uma chance? Porque se meu coração fosse algum prêmio, você seria a ganhadora e se você quisesse a lua, eu daria um jeito de trazer pra você. Se quiser que eu pare de ser clichê, é só me falar... Muito embora as chances de que você veja isso são quase inexistentes. Eu tenho certeza, e isso é assustador, que amo você. Será que você pode me amar também?"

A respiração dela se tornou entrecortada.

Ele disse que a amava.
Henry a amava.

E não havia nenhuma dúvida que ela o amava de volta.

- Henry...- Chamou devagar, tirando a atenção dele de suas próprias mãos.
A cacheada se pôs de joelhos e aproximou-se, segurando o queixo do loiro para que seu olhares se encaixassem. O coração de Henry errou uma batida quando os lábios dela encontraram os seus num beijo curto.

- Você tem todas as chances.- Sussurrou, sentindo um arrepio percorrer suas costas quando Henry a segurou pela cintura e respondeu com outro beijo.

- Prometo não desperdiçar.- Sorriu, descolando seus lábios ofegante, enquanto uma onda de felicidade o afogava no perfume dela.

A mão dela deslizou por sua bochecha, ao passo que seus olhos vaguearam pelos detalhes do seu rosto. Seu coração ainda batia acelerado, ao mesmo tempo que ela perdia-se nos detalhes dele. As madeixas que precisavam de um corte caindo sobre a face, sua pele macia sobre seus dedos, o começo de uma barba que a fez sorrir, seus olhos amendoados presos a ela. Os inúmeros sentimentos corriam por seu corpo, como se fizessem parte do seu sangue. Como se ele fizesse parte dela.

- Eu amo você, Henry.- Sussurrou em meio a atmosfera calma que haviam criado.

- E eu amo você, Charlotte.- Respondeu, deixando um selinho casto antes de trazer a garota para seu colo.- Mas, preciso ser sincero, se você não me amasse depois disso tudo aqui...

A morena riu, tombando a cabeça para trás levemente.

- Idiota.

- Sério!- Exclamou.- Seu coração teria que ser de pedra ou-

Ela teve que o beijar, primeiro porque tinha que calá-lo e segundo porque conseguia pensar em melhores formas de aproveitar o tempo sem interrupções musicais.

Ah, ela agradecia ao mundo musical, tinha sido ele que os trouxera até ali, graças a ele, tinha novamente um Henry sem camisa para apreciar.

Charlotte sorriu.
Sim, ela era mesmo grata...

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Hey!
Nossa, amei muito escrever isso, sério.
Primeiro: Eu compus uma música com melodia e letra!!! Eu tô sem acreditar até Agora, emocionada real (a AutoraMediana pode provar, mandei aúdio cantando pra ela KKKK) Não é nenhuma pérola da Cindy Lauper ou da Beyoncé, mas quem sou eu perto dessas rainhas?

Segundo: Você acaba de ler mais de sete mil palavras, sinto muito se foi cansativo '-'❤

Terceiro: Vejam as histórias das minhas maravilhosas e queridas:
AutoraMediana,
gi-linsky, Goneg1rl, AdharaGoldstein, cooperygirl, lyralion, lari_evangelista e Nadia-Norman.
São tudo!❤

Eu com certeza tinha mais coisas pra falar aqui, mas esqueci de tudo...
This is me, guys...

Enfim, é isso, espero de todo coração que tenham gostado e, ah, confiram Love Match, minha nova história que anteriormente era "Aquele com o aplicativo"
Beijos pra vcs e se cuidem!

See you😘

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