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CAP 8

Marina Bittencourt

Até agora não consigo entender o que exatamente está acontecendo na minha vida, não sei por que estou morando nessa casa, não sei o motivo da minha mãe estar diferente, não consigo compreender e muito menos tirar qualquer explicação decente dela.

— Mãe, eu posso te perguntar uma coisa? — Disse criando coragem e me sentando melhor em minha cama -

— Claro Marina, o que aconteceu? — Perguntou se sentando ao meu lado -

— O que estamos fazendo aqui? — Ela me olhou confusa — Digo, o que é tudo isso? Esse seu noivado com um completo estranho que você diz conhecer muito bem, essa mudança de casa e por que quando eu pergunto sobre isso você diz "tudo no seu tempo, minha querida filha" — Disse do mesmo jeito que ela sempre dizia -

— Eu realmente não entendo o que você não está entendendo. — Disse se levantando. Eu sabia o que isso queria dizer, essa defensiva dela era para que eu soubesse que ela não diria nada do que eu queria saber, ou eu me contentava com o que sabia ou então ela ia fazer a ofendida -

— Acontece que você tem tomado decisões que vão afetar não só a sua vida como a minha vida também e eu preciso saber porque. Por que está agindo assim? O que tá acontecendo? Você está com algum problema? — Perguntei me levantando e me aproximando dela -

— Seja direta Marina, me pergunte o que realmente quer saber, não fique com teorias. — Disse irritada -

— O que você está aprontando? — Perguntei irritada também, estava cansada dessa história mal contada — Você não é do tipo que fica noiva do nada, que se muda do nada. Você é do tipo que sempre faz algo com algum motivo por trás, algo que ninguém espera. — Era um alívio poder colocar tudo pra fora -

— É isso mesmo que eu estou entendendo? Você está querendo dizer que eu estou armando alguma coisa? Que eu só faço algo com o intuito de algum interesse por trás? Quem você pensa que eu sou Marina? —Disse irritada -

— Não foi isso que eu disse...

— Você desconfia de mim? Da sua própria mãe?! — Disse fazendo drama e chorando. Eu sabia que ia chegar a esse ponto -

— Mãe, você não tá....

— Já chega. — Disse me interrompendo — Eu não quero mais falar sobre esse assunto, estou muito chateada com você. — Disse abrindo a porta e saindo — Droga!

— Filha! Filha, você ainda não me respondeu! — Minha mãe disse irritada, me fazendo voltar a realidade. Então o que acabou de acontecer, não aconteceu? Era só o que faltava, eu começar a imaginar coisas! -

— O que você perguntou? Desculpe, eu me distrai. — Disse olhando para ela que estava com uma revista na mão. -

— Eu perguntei sobre o que você vai usar no seu aniversário. — Disse se sentando na cama — O que é que você tanto pensa? — Perguntou e eu pensei em dizer a verdade, mas talvez aquela imaginação que eu tive fosse um sinal -

— Que você é a melhor mãe que eu poderia ter! — Disse de coração e ela sorriu -

— Eu sempre soube que você diria isso. — Disse convencida me chamando para um abraço que prontamente eu aceitei -

*

Uma semana depois

Uma nova semana logo começou, as aulas começavam hoje e felizmente esse é meu último ano na escola, assim eu espero. Espero em breve dar início a minha faculdade e poder conhecer novas coisas.

Resolvi não tocar em um certo assunto delicado com minha mãe, acho melhor que as coisas fiquem assim, pelo menos por enquanto. Às vezes é bom deixar a fera tranquila para depois doma - lá.

Sai do meu quarto e ao passar pelo quarto da Cecília que ficava mais a frente pensei em bater na porta e chama - lá, afinal vamos estudar juntas. De qualquer modo seria bom a gente se entender, não sou do tipo de pessoa que gosta de viver com inimizades. Mas descartei a idéia e resolvi descer sem chama - lá.

Ao chegar no andar de baixo pude ouvir vozes vindo da cozinha e resolvi ir até lá.

Franzi as sobrancelhas quando ao chegar avistei minha mãe e o Ricardo aos beijos.

— Parece que o dia de vocês está ótimo. — Disse e eles se afastaram -

— Quer um beijinho também? — Minha mãe disse se aproximando e eu me afastei -

— Eca, mãe! — Disse fazendo uma careta — Bom dia Lucinda — Disse quando ela passou por nós, a mesma respondeu e minha mãe me encarou — O que foi? Felizmente eu fui bem educada — Disse e foi a vez do Ricardo e ela se retirarem. Só então percebi a presença da Cecília na cozinha, ela estava bastante animada falando ao telefone. Certeza que nem reparou minha presença. Com quem será que ela estava falando? O quê? E o que me importa?! Eu hein! As vezes pensamos coisas sem sentido nenhum.

Me encostei na entrada da cozinha e parei a observar, quanto tempo será que ela vai demorar aí?

— Merda! — Ela disse de forma dramática levando a mão ao coração ao levantar da cadeira .

Nada entre nós mudou desde que nos conhecemos, mas pelo menos não brigamos como cão e gato.

— A quanto tempo você está aí? — Perguntou -

— Quase nada. — Disse dando de ombros — Vamos? não quero me atrasar. — Disse e caminhei em direção a saída sem esperar por uma resposta -

O caminho até a escola foi feito em total silêncio, exceto quando a Cecília comentava algo com o Thomas, nosso motorista e ele ria ou concordava com ela em resposta. Quando chegamos na escola entramos e fomos cada uma para um lado. Fui atrás da Hannah, sabia que ela surtaria ao me ver aqui. Não contei que iríamos estudar juntas, preferi fazer surpresa.

— Se acertar quem é na primeira tentativa ganha um beijo — Disse ao me aproximar dela e cobrir seus olhos com minhas mãos e ela quase deu um pulo, pelo susto imagino eu -

— Sua vaca! — Disse se virando - eu não acredito que fez isso comigo — Disse cruzando os braços — Você me enganou direitinho — Disse indignada e eu ri -

— Não teria graça se eu contasse. — Disse rindo — Não vai querer meu beijinho? — Disse fazendo bico -

— Já te disse que não curto mulheres, mas se esse fosse o caso, com toda certeza os seus beijos seriam meus. — Disse convencida — Mas eu aceito um abraço bem apertado. — Disse esticando os braços e eu não hesitei em abraça - lá. -

*

Ficamos conversando até o sinal tocar e quando isso aconteceu fomos para a nossa aula de matemática, que por sorte a maioria de nossas aulas era as mesmas, o que faria com que ficassemos mais tempo juntas.

Ao chegar na sala de matemática o professor ainda não havia chegado, então ficamos na porta conversando com algumas pessoas, na verdade a Hannah estava fazendo isso, eu simplesmente não conseguia prestar atenção na conversa, nem em qualquer coisa que estivesse acontecendo ali, pois meus olhos estavam vidrados nos olhos escuros dela. O motivo? Nem eu mesma sei, eu só sei que estava acontecendo e mais uma vez eu não sei de nada que se passa na minha vida, o que há comigo? Percebi que ela também não desviava o olhar do meu, o que me fez questionar, o que está acontecendo?

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