CAP 6
Maria C.M. Ferri
De todas as coisas que poderiam acontecer, essa para mim é o cúmulo do absurdo, sinceramente. Tudo isso só pode ser alguma pegadinha de mal gosto do destino, eu não duvido.
— Agora, analisando bem eu vejo uma certa semelhança entre vocês duas. — Meu pai disse me fazendo sair de meus pensamentos -
— Fico lisonjeada, pois você Cecília é muito linda. — Lívia disse ou eu deveria chama - lá de madrasta? -
— Obrigada - disse a encarando de verdade pela primeira vez — Mas está equivocado pai — Disse me virando para ele — Não vejo nada de semelhante entre nós duas — Disse desviando o olhar, mas era mentira minha. Estranhamente existe mesmo uma semelhança entre mim e a Lívia, o que é bizarro já que não temos parentesco algum. -
*
Estávamos na cozinha, nós três. Lívia sentada ao lado do meu pai e eu de frente para ele. Eles conversaram animadamente e tudo o que eu queria era correr para bem longe.
Eu nem pude contar para ele sobre o meu dia, nem pude contar sobre uma maluca que esbarrou em mim com café e ainda disse que a culpa era minha.
Horas antes
Resolvi sair para passear um pouco, precisava ver como andavam as coisas por aqui, faz anos que não venho aqui e muita coisa mudou desde então, passei em algumas lojas e comprei umas roupas que com certeza eu iria usar depois. Passei perto de uma cafeteria e não pude deixar de sentir o aroma que vinha de dentro, sentei próxima ao balcão e fiz o pedido. Enquanto esperava não pode deixar de ouvir algumas garotas do meu lado conversando e soltando gritinhos histéricos ao falar de garotos. Revirei os olhos e negei com a cabeça.
Recebi meu pedido e meu celular vibrou, era uma mensagem da minha mãe. Conversamos um pouco e eu me levantei para ir embora, guardei meu celular e senti algo morno molhar minhas costas, segurei minha respiração e soltei antes de me virar para trás e dei de cara com uma das garotas dos gritos histéricos com um copo de café na mão e uma cara de culpada.
— MAIS QUE MERDA! — e
Esbravejei irritada -
— Foi sem querer tá? Não tive culpa. — disse sínica -
— Ah não, claro que não. Você está querendo dizer que a culpa foi minha? — Disse irritada -
— Bem, pensando um pouquinho, sim, a culpa foi sua. — Disse calmamente e eu a olhei incrédula -
—Sua... - fui pra cima dela e ouvi a mesma gritar, mas não consegui bater ou chegar perto. Uma das garotas que estava com ela se colocaram na frente e senti alguém me segurar pela cintura. — pode me soltar. — Disse levantando as mãos para cima e respirando fundo — Eu não vou mais para cima dela. — Disse para a moça que me segurava e ela me olhou desconfiada — É sério. — Revirei os olhos — Pode me soltar. Eu vou embora. — Disse encarnado a moça e ela me soltou — Peguei meu café no balcão que já estava frio e me dirigi para saída, mas voltei e fiquei a uma certa distância dela. — Torça para não me encontrar de novo. — Disse com raiva e abri a tampa do meu copo de café e joguei todo o líquido nela que deu um grito. -
— Sua estúpida! — Ela gritou e eu mostrei o dedo do meio para ela e saí da cafeteria.
Voltei dos meus pensamentos, mas eu ainda não conseguia acreditar no que estava vendo, só podia ser um pesadelo, mas é claro e por que não? Afinal antes do meu pai chegar eu estava deitada na cama, posso facilmente estar dormindo. Nossa, isso é realmente um alívio, tudo não passa de um terrível pesadelo. - me convenci disso -
— Meu amorzinho... Cecília? Maria Cecília! — Ouvi a voz do meu pai, mas que estranho parecia tão real. Não quero acreditar que seja, tem que ser um pesadelo. — Maria Cecília. — Ele disse novamente me encarando -
— Sim, pai. — Disse passando minhas mãos pelo meu corpo para ter certeza de que eu não estava dormindo e suspirei tristemente por ter a certeza de que tudo aquilo era real. -
— Você parece que estava no mundo da lua. No que estava pensando? — Perguntou -
— Em como me livrar dessa sua namoradinha. — Pensei — Em nada demais. — Disse mexendo na comida do meu prato. -
Se tudo aquilo era real, como eu tristemente tinha que reconhecer então essa tal de Lívia é do tipo de mulher que não trabalha, que só vive as custas de um homem. E esse homem da vez era o meu pai, mas como será que ela consegue? Fala sério, eu surtaria se tivesse que depender de alguém a essa altura da vida.
— Você vai amar conhecer a filha da Lívia, ela tem a sua idade. — Meu pai disse sorrindo para mim
— Filha? — Eu disse incrédula, era só o que faltava — Então isso é tipo promoção compre um e leve dois? — Disse irritada e meu pai me encarou surpreso -
— Vocês vão se dar super bem, não duvido disso — Lívia disse para mim, ignorando completamente o que eu havia dito agora a pouco. Odeio ela ser tão simpática -
— Não tenho dúvidas. Se ela for como você então... — Disse com sarcasmo — Só por ser sua filha eu já a odeio — Pensei
— No jantar vocês vão se conhecer. — Meu pai disse bebendo algo que havia em seu copo -
—Nós vamos jantar fora? — Perguntei terminando minha refeição, que não foi em melhor companhia -
— Não. — Meu pai disse e sorriu — Ela vem jantar aqui com a gente. -
— Hum. — Disse bebendo todo o meu refrigerante — Então vamos jantar cedo? por que se formos jantar no horário de sempre vai ficar tarde para elas irem embora. — Eu já não gostava delas, mas também eu não era uma cretina a ponto deixar as coitadas irem embora sozinhas tarde da noite — O que foi? — Disse ao ver que ambos me encaravam -
— Filha, a Lívia e a Marina, a filha dela vão dormir aqui. — Meu pai disse hesitante tocando minha mão que estava sobre a mesa -
— Dormir aqui? Na nossa casa? Por que? — Perguntei irritada puxando bruscamente minha mão para mim -
— Porque a Lívia é a minha noiva e eu...
— Espera. — Disse o interrompendo — Noiva? Ela não era sua namorada? — Perguntei incrédula com aquela bomba relógio em cima da minha cabeça. A algumas semanas eu jurava que você ainda era apaixonado pela minha mãe e agora você vem com essa de noiva? Que merda. -
— Eu nunca disse que ela era minha namorada. — Meu pai disse calmo -
— Tá de sacanagem...noiva? — disse olhando para ele e tentando controlar minha respiração -
— Eu não quero causar problemas. — Lívia disse se levantando e eu fiz um sinal com a mão para que ela parasse. Por que raios eu fiz isso? Eu quero é que ela vá embora. -
— Você está bem? — Meu pai perguntou ao ver o meu estado e eu apenas balancei a cabeça em sinal positivo. -
— Eu estou bem, é só que...noiva! Caralho....noiva? — Disse e neguei com a cabeça e sai da cozinha, indo em direção ao meu quarto. -
Subi as escadas apressada e tranquei a porta do quarto ao entrar me joguei na cama. Eu não estava triste, eu estava com raiva e chateada por ele não ter me contado antes. E poxa, se eles são noivos logo eles vão se casar e ela vai ser a minha madrasta. Eu estou muito chateada, eu achei que fosse aproveitar o meu pai por todo o tempo perdido, mas já vi que não. Saí dos meus pensamentos quando ouvi batidas na porta.
— Eu estou bem pai. — Disse, pois só poderia ser ele. -
— Você não quer conversar? — Perguntou do lado de fora -
— Eu acho que essa conversa deveria ter sido antes, não? — Perguntei ainda na cama -
— Eu sei que eu errei, me perdoa. Eu deveria ter te contado antes e não trazer ela assim, desse jeito para que se conhecessem. Me desculpa. — Ele disse e um breve silêncio se instalou -
— É, você deveria. — Disse abrindo a porta — Mas eu te perdoo — Disse e sorri fraco e ele me abraçou — Ela tem mesmo que morar aqui? Com a gente. — Disse ainda no abraço -
— Eu já fiz o convite, não posso desfazer assim. — Disse me soltando e me encarando -
— É claro que pode, a casa é sua. — Disse firme encarando - o -
— Nossa. — Ele disse -
— Então está tudo certo, eu disfarço o seu convite já que a casa também é minha. — Disse cruzando os braços -
— Não é bem assim, mocinha. Vamos ver como ficam as coisas, tenta conhecer ela, ela é uma boa pessoa. — Disse e eu revirei os olhos -
— E a filha dela não pode ficar com o pai? Tem que vir logo para cá? — Perguntei incomodada -
— Não sei sobre o pai dela. Você pode perguntar assim que fizerem amizade. -
— Eu não vou fazer amizade com a filha dessa...
— O que há com a sua língua? Você anda falando coisas muito feias em? — Meu pai disse me repreendendo -
— Eu não sou mais criança, pai. Tá legal? — Disse emburrada -
— Seja legal com elas. Por mim. — Meu pai pediu -
— Você quer mais? já não basta elas na minha casa, não? — Disse irritada e meu pai me olhou sério — Está bem Ricardo Ferri. — Disse pronunciando seu nome e dessa forma ele sabia que eu não estava concordando cem por cento com ele — Só vou fazer isso porquê amo você. — Disse e ele me deu um beijo na testa. -
— Obrigado. — Disse - você vem? — Perguntou indo na direção das escadas e eu neguei com a cabeça -
Voltei para o quarto e comecei a pensar sobre como seria a minha vida daqui para frente. Tudo o que eu pensei que seria, não vai ser mais. Agora eu tenho que lidar com uma madrasta e a filha dela. Nem a conheço, mas já não gosto e vou deixar isso bem claro.
Peguei meu celular em cima da mesa que havia ao lado da minha grande cama e liguei para minha mãe. Não demorou muito e ela atendeu.
— Atrapalho? — Perguntei -
— Não mesmo, como vai meu amorzinho? — Minha mãe perguntou -
— Por que vocês sempre tem apelidos cafonas pra mim? — Perguntei indignada -
— Então do que quer que eu te chame? — Ela perguntou -
— Não sei, que tal pelo meu nome? — Sugeri -
— Então está bem minha Maria. — Disse segurando o riso -
— Ah, por favor. Por Maria não. — Resmunguei — Me chama de Cecília, mãe. Sabe que eu odeio o Maria. — Disse irritada e minha mãe gargalhou. -
— E por que acha que a chamei assim? Porque sei que não gosta. — Disse e ficamos em silêncio por um tempo — O que houve? Você parece irritada. — Disse quebrando o silêncio -
— Por que você me conhece tão bem? — Perguntei com lágrimas nos olhos por estar com saudades dela -
— Porque eu sou sua mãe. — Disse e eu pude ouvir seu riso -
— Eu estou chateada mãe. Chateada porquê o meu pai tem uma noiva e não me contou. — disse — Mãe? — Disse por não obter resposta -
— Noiva? — Disse mais para si, mas eu ouvi perfeitamente -
— Reagi da mesma maneira — Disse -
— Eu só estou...
— Surpresa — Dissemos juntas -
— Ele não vai abandonar você. — Ela disse, me confortando -
— Ela tem uma filha. Da mesma idade que a minha. -
— Ela te tratou mal? — Minha mãe perguntou -
— Pior que não. Odeio o fato de que ela seja tão simpática. — Disse me lembrando de seu rosto. -
— E a mãe?
— É ela mesma. Ainda não conheci a filha, só vou ter o desprazer na hora do jantar. Por que na hora da comida em? Não gosto de ir comer de mal humor. — Desabafei -
— Você só está com ciúmes, logo passa. -
— Eu não sei não... — Disse negando com a cabeça -
Ficamos conversando por uma eternidade, horas, mas a minha mãe tinha que trabalhar então encerramos a ligação mais cedo. Comecei a pensar sobre como seria o meu ano letivo, o meu último ano na escola, assim eu espero. Até agora nunca perdi o ano letivo ou sequer fiz recuperação, só espero que nesse ano não seja diferente.
Estava entediada e como ainda iria demorar muito para o jantar e meu único amigo nessa cidade nem estava nela, como a muito tempo eu não o via pessoalmente, eu resolvi ir até a minha pequena estante de livros ou o meu pequeno mundo e escolher um livro para ler. Acabei me esbarrando com o livro orgulho e preconceito. Já ouvi falar, mas nunca cheguei a ler, então por que não agora? Tirei ele da fileira em que estava e me joguei na cama para começar a ler sobre a famosa Elizabeth Bennet.
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