CAP 44
Maria C.M. Ferri
— Como assim você vai embora? — Depois do que pareceram longos segundos finalmente consegui falar — Quando você ia me contar?
Sentei na cama cruzando as pernas. Depois de algum tempo Marina finalmente olhou nos meus olhos, mas nada disse.
— Ia esperar o dia em que você ia embora pra me dizer? — Estava tentando segurar as lágrimas.
Eu estava chateada, muito. Mas eu estava mais triste porquê não queria perde - lá. Não mesmo.
— Eu só não quis contar ontem, porque... Não queria estragar nosso dia.
Me levantei da cama e comecei a andar de um lado para o outro no quarto. Já era manhã, a luz do sol ocupava todo o quarto.
— Eu pensei que a Lívia estivesse bem, que estivesse tentando deixar você ser livre!
— Ela está — Ela se levantou ficando próxima a mim, me fazendo parar de andar pelo quarto.
— Então é você que não quer ficar? — Queria saber o porquê, mas tinha medo da resposta.
— Não quero deixar ela sozinha.
— Acho... Acho que a Lívia te deixou tanto tempo debaixo das asas dela que você não consegue sair, nem agora que tem a liberdade. — Segurei suas mãos — Uma hora você vai ter que viver sua vida, meu amor. Não a vida que a sua mãe quer, uma que você quer.
— Eu sei, mas...
— Você pensa que minha relação com a minha mãe sempre foi fácil? — Neguei com a cabeça — Nossa relação era difícil e o único jeito que eu encontrei de consertar foi me afastando dela. Não pense que foi fácil, porquê não foi. Eu sempre a amei muito e ter que tomar a decisão de deixa - lá doeu demais, mas foi a única maneira que eu encontrei de consertar as coisas entre nós.
— Queria conseguir, mas... Depois do que aconteceu eu não consigo me imaginar tanto tempo longe dela, entende? — Balancei a cabeça negando.
— Não vou pedir pra que fique por mim. Se você precisa ir eu vou acabar entendendo. — Soltei suas mãos — Mas também não me peça pra simplesmente aceitar que vai me deixar, porquê eu não consigo.
Fui até a porta e antes que eu pudesse abrir, sua mão ficou por cima da minha, me impedindo.
— Eu não queria que fosse desse jeito — Falou próxima ao meu ouvido — Você aparecer na minha vida mudou tudo. Foi a melhor coisa que me aconteceu.
Dei meia volta pra que pudesse encarar seus olhos. Lindos olhos. Os mais bonitos e brilhantes que já vi. Era ali que eu sempre me perdia. Naqueles lindos olhos e no sorriso.
Levei minha mão até sua nuca e aproximei nossos rostos. Nos encaramos por um instante e naquele instante eu percebi que mesmo que não estivéssemos juntas, nosso amor existiria pra sempre.
*
— Pensei que fosse morar nesse banheiro pra sempre — Falei quando Liam saiu do banheiro. O mesmo deu um grito ao me ver
— Que susto! — Levou uma das mãos dramaticamente ao coração — Quando chegou? — Se aproximou sentando na ponta da cama
— Ontem — Revirei os olhos — Preciso conversar — Ele então subiu na cama, deitando ao meu lado.
— Sou todo ouvidos.
Então comecei a contar sobre a minha trágica manhã de domingo.
— O que você acha que eu devo fazer? — O encarei
— Meu amor, isso não é uma coisa que eu tenha que dizer — Ele acariciou meus cabelos — É uma coisa que você tem que decidir.
— Você não me ajudou em nada! — Me sentei na cama
— O que você quer? — Ele me acompanhou — Quer que eu te diga: "Vá, fique com a sua namorada e aproveite até o último segundo em que ela vai estar ao seu lado!" Ou você prefere: "Fica aí com essa cara rabugenta, com raiva de meio mundo e odiando o fato de que sua namorada resolveu ir embora e deixar você. Odeie ela pra sempre e se vingue quando for uma adulta amargurada" — O encarei sem resposta — Vamos! Me diga, qual a maldita coisa que você quer ouvir?!
— Quero que me diga que não vou ficar parecendo uma estúpida se eu for atrás dela e pedir pra que ela passe cada segundo desses últimos dois meses comigo, pra que eu não me sinta pior do que vou me sentir quando ela for embora. Porque sei que pedir pra ela ficar não vai ser uma opção.
— Ficar parecendo uma estúpida pra quem? Hum? — Ele sorriu — Não seja boba. Não há nada de errado em você ir atrás dela. As vezes o orgulho mais atrapalha do que ajuda.
Ele estava certo.
Eu nunca conseguiria aceitar o fato de que ela iria mesmo embora, mas o fato de que eu era completamente louca por ela fazia isso parecer a pior coisa do mundo. No fundo eu sabia que isso iria acontecer em algum momento, por mais que eu fantasiasse a idéia de que seríamos o "final feliz" uma da outra. Ainda éramos jovens e essa não seria uma separação definitiva. Era apenas uma pausa até o segundo tempo.
— Até que você tem alguma razão — Confirmei
— Eu sempre tenho — Se gabou, jogando um longo cabelo falso pro lado.
James Smith
— James! O que está fazendo? — Fui surpreendido pela Hannah entrando no quarto.
— Não aguento mais ficar deitado nessa cama — Resmunguei quando ela deixou uma bandeja farta sobre a cama e me ajudou a sentar novamente.
— Você sabe que ainda não pode fazer esforços — Me repreendeu
— Bobagem. Eu já estou ótimo — Cruzei os braços.
— Eu sei que não é nada bom ficar "preso", mas eu não quero que você tenha que voltar para o hospital, James. — Suspirei derrotado.
— O que você trouxe, estou morrendo de fome — Ela riu
— Quando você não está com fome? — Aproximou a bandeja de nós
— E onde está minha linda sogra? Ainda não agradeci a ela por ter me deixado ficar aqui com vocês — Peguei uma das frutas levando até a boca.
— A minha mãe... — Hannah coçou a nuca antes de responder — Ela.. ela foi ver o meu pai — A encarei, balançando a cabeça lentamente.
Ainda era tudo tão recente. Estar na casa da Hannah não ajudava muito a esquecer o que aconteceu, porquê onde quer que eu olhasse, eu sabia que aquele homem já havia passado por ali. Era a casa dele. E apesar de tudo ele ainda era pai dela.
— James... Não fica assim — Tocou minha mão.
— Está tudo bem — Forcei um sorriso.
— Onde ele está não vai poder fazer mal a mais ninguém — Ela sorriu — E por isso minha mãe foi até lá. Com ele preso é mais fácil pra ela conseguir o divórcio e finalmente se livrar dele. — Afastei a bandeja e estiquei os braços para que ela se juntasse a mim — Eu me sinto tão bem quando fico assim... Tão perto de você — Ela disse com a cabeça apoiada em meu peito — O jeito que seu coração muda as batidas — Passei a mão por seus cabelos.
— E você não imagina o motivo que faz meu coração mudar as batidas? — Ela olhou pra mim, negando com a cabeça e com um sorriso travesso nos lábios que dizia o contrário — Então, já que eu sou bonzinho, vou te dar uma dica.
— Estou ouvindo.
— O motivo é uma pessoa muito especial — Comecei. Ela me observou atenta — Ela tem os olhos mais lindos que já vi, um cheiro que me embriaga, a voz mais doce que me leva a calmaria e ao nervosismo ao mesmo tempo.
— E ela tem um nome? — Hannah perguntou em uma falsa curiosidade.
— Tem um belo nome — Segui o jogo — Mas ela tem algo além disso. Ela tem uma coisa que a torna diferente de todas as outras.
— E o que é? — Ela se afastou ficando frente a frente comigo.
— Só ela faz o meu coração mudar as batidas — Disse, sendo pego de surpresa quando Hannah me puxou para um beijo apaixonado.
Todos os nossos beijos eram apaixonados pra mim. Porquê eu era apaixonado por ela e não tinha nenhuma dúvida quanto a isso. E eu sabia que o sentimento era recíproco.
Valentina Mazza
— Quando me chamou pra algo ao ar livre não imaginei que fosse isso — Disse carregando a cesta até próximo da árvore onde ele havia parado.
— O que esperava? — Me encarou por cima do ombro.
— Não sei — Dei de ombros — Não sabia que você gostava dessas coisas — Disse quando Oliver estendeu a toalha no gramado do parque.
— Tem muita coisa sobre mim que você ainda não sabe — Ele piscou se sentando ao meu lado
— Mesmo? — Ri, trazendo a cesta de piquenique para próximo de nós — Então o que você está esperando pra começar a me mostrar? — Ofereci um sanduíche pra ele e peguei um pra mim.
— Aqui? A essa hora do dia? — Ele me encarou com falsa surpresa — Que safadinha — Balançou a cabeça em sinal negativo, mordendo os sanduíche e eu o encarei séria por alguns segundos. Mas não o suficiente, logo começamos a rir.
— Você é um palhaço — Falei ainda rindo
— É uma das minhas melhores qualidades.
— Não sei se fico animada pra conhecer as piores — Dei uma mordida no sanduíche — O que foi? — Falei com a boca cheia quando ele me encarou.
Sem desprender o olhar do meu, ele afastou a cesta de piquenique que estava no meio de nós, se aproximando. Levou sua mão direita até o canto da minha boca.
A princípio senti um arrepio quando sua pele quente entrou em contato com a minha mesmo que por um breve momento. Ele estava tão perto que era impossível dizer qual respiração era a minha e qual era a dele, já que estavam sincronizadas.
— Você é sempre tão desastrada pra comer? — Disse mexendo com o polegar ainda no canto da minha boca.
— Só quando algo me distrai — Consegui dizer antes que ele se aproximasse ainda mais. Dessa vez, unindo nossos lábios.
De primeira ele apenas os deixou próximos, como se quisesse ter certeza de que eu queria. Nossos olhares ainda conectados, diziam que ansiavam um pelo outro.
Fazia algum tempo que eu comecei a me aproximar do Oliver, mas não foi com essa intenção. Eu gostava da companhia dele e das conversas. E uma coisa foi levando a outra e quando eu percebi, já era um pouco tarde pra dizer que eu queria apenas a amizade dele.
Sem esperar por mais, quebrei a mínima distância que ainda havia entre nós, unindo nossos lábios de forma calma, mas necessária.
Não sei quanto tempo durou o beijo, mas foi o suficiente para me fazer querer mais e perder totalmente o fôlego.
Nos afastamos apenas o suficiente para nos encarar, nossos olhares conectados.
— Sonhar é bom, mas a sensação do real é bem melhor.
— Então você tinha expectativa? — Me afastei, sorrindo
Ele apenas voltou a morder o sanduíche. Lançando um olhar travesso para mim, que estranhamente agora brilhava.
— Talvez — Ele lançou sorrindo e eu retribui involuntariamente.
E foi então que comecei a me perguntar, quando? Quando exatamente aconteceu? Todas essas sensações e confusões. Essa súbita necessidade de apenas te - ló ao alcance dos olhos, de ver e sentir.
Mas a resposta não veio.
Marina Bittencourt
2 meses depois
Os últimos dias passaram voando. Quanto mais eu aproveitava aos momentos, mais rápidos eles passavam.
Semana passada foi a nossa formatura. Algumas lágrimas e becas foram os maiores companheiros desse dia e pensar que parece que foi ontem que tudo começou.
Apesar de ter sido um ótimo dia, com emoções compartilhadas de felicidade, foi também o dia em que a Cecília começou a ficar mais distante.
Eu sei bem que não tem sido fácil pra ela lidar com o fato de que eu estou indo embora e pra mim também não tem sido nada fácil. Nesses últimos meses, passei a praticamente morar com ela. As vezes eu achava que essa aproximação só faria mal a nós duas depois, mas ficar afastada era muito pior. E tem sido desde que a Cecília se afastou.
Eu estava terminando de arrumar as malas quando minha mãe entra no quarto para me avisar que já está pronta e só me aguardando.
— Já estou indo — Disse apenas e ela saiu. Pedindo que eu não demorasse.
Fui até a gaveta da cômoda que estava praticamente vazia, exceto pelo que eu ainda não tinha tido a coragem de tirar de lá. Com um suspiro, abri a gaveta e tirei de lá um papel que estava dobrado em quatro partes. Marcado pelo tempo, mas ainda sim, tão lindo quanto da primeira vez que vi.
Flashback:
Assim que deitei na cama a porta do meu quarto foi aberta escancaradamente. Eu teria dado um pulo da cama se já não soubesse quem era.
— Finalmente terminei! — Ela disse se jogando na minha cama e me entregando uma folha.
— O que é isso? — Perguntei segurando o riso e me ajeitando na cama.
— O meu desenho, se esqueceu? — Cecília esticou mais o braço para que eu pegasse a folha — Na verdade, o seu desenho. Vê se gosta. — Sorriu ao dizer. Aquele sorriso que sempre me fazia sorrir logo em seguida.
Virei a folha que estava do avesso desde que ela me entregou e permaneci encarando o desenho. Era eu. Ou melhor, um desenho de mim. Ela disse que o faria, mas não achei que ela fosse realmente boa naquilo. Eu estava de perfil, meus cabelos ondulados e parte do meu vestido vermelho estava no desenho, o vestido do dia do aniversário da Hannah.
Me encantei com cada traço. Realmente era eu, só que aos olhos dela. Nunca pensei que me veria daquela forma, não era como me encarar no espelho ou ver meu reflexo em qualquer lugar, era como se eu realmente pudesse me ver. O que mais me chamou atenção foi o sorriso. Meu sorriso. Não pensei que sorrisse assim.
— E então? Gostou? — Perguntou curiosa — Está aí olhando a horas — Bufou
— Eu... Amei! — Lhe encarei pela primeira vez desde que vi o desenho. — É lindo! — Sorri
— É você. Não tinha como ser outra coisa — Riu
— Confesso que duvidei das suas capacidades em fazer algo digno — Ela arqueou as sobrancelhas — Mas você é muito boa, sério. Eu diria que estou até mais bonita aqui — Disse colocando a folha ao lado do meu rosto — Vê?
— Para mim são iguais. Porquê é assim que eu vejo você — Sua voz foi suave.
— O sorriso.
— O quê? — Me encarou confusa
— Foi o que eu mais gostei. É assim que eu sorrio? — Perguntei colocando o desenho ao meu lado na cama e a encarei aguardando sua resposta.
— É assim que você sorri para mim — Disse
Me doía demais ter que deixa - lá. E mais ainda pensar que ela estava sofrendo por minha causa. Mas a verdade é que eu ainda não tinha coragem pra simplesmente viver ao lado dela e esquecer o resto. Não a coragem que eu tinha quando a beijei pela primeira vez.
Com o desenho em mãos, peguei minhas malas e seguimos para o aeroporto.
Faltava alguns poucos minutos para o embarque.
Meu coração dizia para ficar, mas minha cabeça dizia o contrário. Passou - se algum tempo até que o vôo foi anunciado. Foi quando o grupo mais inusitado apareceu.
Eu não esperava, pois tinhamos nos despedido no dia anterior, mas era sempre bom vê - los.
— Quase não me pegam aqui — Sorri quando se aproximaram
— A culpa foi toda do Liam — Valentina disse, com as mãos entrelaçadas as do Oliver. Agora que começaram a namorar, não se desgrudam mais.
— Minha? — Se fez de ofendido — Não me façam dizer o que me fez demorar — Olhou para os outros com certo repreendimento.
Eu estava feliz em vê - los, mas meus olhos me traíram quando começaram a procurar pela única pessoa que eu realmente desejava ver.
— Ela não vem, não é? — Todos olharam uns para ou outros, mas foi Hannah quem respondeu quando se afastou do James e se aproximou de mim.
— Ela disse que não queria que houvesse uma despedida — Balancei a cabeça lentamente em sinal positivo.
Mais uma vez o vôo foi chamado. Escutei a voz da minha mãe me chamar. Me despedi de todos com abraços fortes e promessas de um encontro em breve.
— Você não é a única que está sofrendo — Hannah disse antes de me soltar.
Ela poderia estar falando sobre ela mesma. Mas eu sabia que era sobre a Cecília. Segurei a vontade de chorar na frente deles e ser convencida a ficar.
Me despedi uma última vez e caminhei até a sessão de embarque. Comecei a dizer a mim mesma que foi melhor assim, pois com toda certeza eu teria ficado se a Cecília me pedisse. Porquê eu não teria como dizer não pra ela de novo.
Mas eu escolhi ir. E arcaria com todas as consequências que viriam a partir dali.
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Penúltimo capitulo? Isso mesmo! E pra encerrar vem uma leve emoção no último capítulo.
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