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CAP 40

Marina Bittencourt

Os poucos minutos em que eu estava ali dentro me pareciam uma eternidade.

Quando percebi que minha mãe já tinha perdido os sentidos foi o pior momento da minha vida. Eu não podia perde - lá. De jeito nenhum.

Por sorte a ambulância não demorou a chegar mas, infelizmente a polícia também apareceu e eu já sabia que isso seria um problema, principalmente por minha mãe ter matado o infeliz daquele homem, mas ela só fez isso pra me proteger e se ela não fizesse seria ela quem estaria morta agora.

Ao menos a Amanda estava viva, então seria um problema a menos. Mas ela precisou ser trazida ao hospital também, já que tinha perdido os sentidos quando minha mãe a acertou na cabeça.

Eu andava de um lado para o outro esperando que o Ricardo chegasse logo e assim eu tivesse notícias da minha mãe. E eu também estava morrendo de saudades da Cecília, eu não a vi desde que fugi e toda essa loucura aconteceu. E nem dá pra acreditar que tudo isso foi em apenas um dia. E que dia.

— Marina — Ouvi a voz do Ricardo e olhei na direção dele.

— Ricardo — Fui até ele e o abracei — Que bom que você chegou — Me afastei para encara - ló — Não me dizem nada sobre a minha mãe.

Pelo telefone eu contei o que pude pra ele.

— Você está bem? — Eu com certeza não estava no meu melhor dia.

— Eu vou ficar bem — Falei impaciente.

— Vou ver o que eu consigo descobrir e já volto — Ele me deu um beijo na testa e saiu.

E então eu a vi. Meu coração acelerou de uma forma que pensei que fosse sair pela minha boca a qualquer momento. Ela sorriu pra mim e veio correndo em minha direção.

Me abraçando forte, me deixei envolver em seus braços. Nem ligava se estavam olhando pra gente, agora eu só queria estar nos braços dela.

— Você me deu um susto e tanto — Ela disse ainda me abraçando — Eu senti tanto medo — Me afastei e vi seus olhos marejados

— Me desculpe — Pedi — Eu só...

— Shh — Me calou com o dedo indicador em meus lábios — Apenas prometa que não fará de novo — Assenti

— Eu prometo — E a abracei de novo.

— Que dia — Ela falou em meu ouvido

— Tudo que eu quero é esquecer ele de uma vez — Me afastei e nos sentamos. Ainda na sala de espera, enquanto o Ricardo não voltava

— Você está bem? — Ela entrelaçou sua mão na minha — Quer falar sobre...

— Eu só quero que a minha mãe venha pra casa comigo — Falei — Só isso — Ela me deu um beijo suave na testa e esperamos o Ricardo voltar.

*

Acabei cochilando em algum momento. Mas ao ouvir a voz da Cecília ao longe, despertei.

— O que houve? — Perguntei desorientada

— Você acabou dormindo — Sorriu — O meu pai voltou com notícias — Fiquei em alerta

— Ela...

— Ela está bem — Ele se sentou ao meu lado.

Respirei aliviada.

— Mas ela vai precisar passar a noite aqui. É apenas pra ficar em observação — Me tranquilizou

— Eu posso vê - lá? — Ele assentiu

— Mas o médico disse que não podemos demorar, ela precisa descansar — Assenti. E então eu fui vê - lá.

— Mãe! — Sorri quando ela me encarou, assim que entrei no quarto. Ela estava acordada e não estava mais pálida, fora o braço enfaixado, ela parecia igual.

— Meu amor! — Esticou o braço bom me chamando para um abraço que eu prontamente fui receber.

— Eu tive tanto medo...

— Eu também — Ela beijou minha cabeça — Você não imagina o quanto, mas o importante é que estamos aqui — Me afastei o suficiente para encara - lá  — e bem — Sorriu pra mim.

— Mas o que vai acontecer depois? Você... Não vai ser presa, não é? — Senti uma pontada no coração ao pensar no pior.

— Não se preocupe com isso — Alisou meu rosto — Eu vou resolver tudo — Sorriu

— Como não vou me preocupar? — Me afastei — Se...

— Você está muito cansada, precisa ir pra casa.

— Você também e eu não vou sair daqui sem você — Segurei sua mão e ela sorriu pra mim

— Fico feliz que esteja bem, mas não precisa ficar.

— Mas...

— Mas, nada. Amanhã eu já vou ter alta e então, vamos ver o que acontece. Agora você vai pra casa com o Ricardo, está bem? — Eu não respondi — Está bem? — Repetiu

— Sim, senhora. Mas só porquê eu quero que você descanse bem. Mas amanhã eu venho buscar você, está bem? — Ela sorriu

— Como quiser — Ela ficou me encarando

— Pode perguntar — Falei e ela me encarou desentendida

— Perguntar o quê? — Eu sorri

— Eu conheço você, mãe — Ela deitou e eu ajeitei os travesseiros para que ela ficasse mais confortável

— A Amanda...

— Ela está bem. Veio para o hospital também, mas está bem. — Ela apenas sorriu de lado.

— Promete que vai descansar? — Não queria falar sobre aquela mulher.

— Prometo, se você prometer que vai fazer o mesmo — Sorri

— Prometo — Dei um beijo em seu rosto e logo tive que sair pra que ela descansasse.

Maria C.M. Ferri


Depois que essa loucura toda passou — Pelo menos por enquanto — Eu finalmente consegui respirar aliviada.

— É bom estar em casa de novo — Marina disse, me tirando de meus pensamentos, se enfiando debaixo do grosso edredom ao meu lado.

— Ah, achei que tivesse sentindo falta da minha companhia também — Fiz bico

— Talvez um pouquinho — Demonstrou com os dedos

— Tão pouquinho? — Rocei nossos narizes

— Muito — Ela me encarou sorrindo

O sorriso dela era o mais lindo. Trazia um brilho ao seus olhos e um conforto no meu coração.

Já estávamos perto o suficiente para sentir nossas respirações e um beijo foi inevitável.

Segurei seus macios e longos cabelos por entre meus dedos, aprofundando mais o beijo, que começou suave, mas se tornou urgente.

Ofegantes paramos o beijo, mas ficamos próximas.

— O que houve? — Marina passou o polegar no meu rosto, secando uma lágrima que eu nem havia percebido.

— Só estava pensando — Balancei a cabeça e ela me encarou para que eu continuasse — Não é nada — Tentei me afastar, mas ela segurou minha mão entre as suas

— Se não fosse nada, você não estaria assim — Soltei a respiração

— É que... Ultimamente eu tenho pensado muito sobre o futuro e as vezes eu acho que... Que não vamos estar juntas até lá.

— Você está terminando comigo? — Eu a encarei assustada

— O quê? Não... — Ela começou a rir

— Eu estou brincando. Escuta — Segurou meus rosto entre suas mãos — Aconteça o que acontecer, você é e sempre será o único amor da minha vida — Tentei falar, mas ela me impediu — Ainda somos jovens e talvez a vida nos afaste em algum momento, talvez novas paixões venham. Mas nada, nunca vai impedir que eu volte pra você — E então selou seus lábios nos meus.

*

Já faziam muitos minutos com certeza e eu me arriscaria a dizer que algumas poucas horas já deveriam ter se passado, desde que a Marina dormiu e tudo que eu conseguia fazer era acariciar seus cabelos, enquanto eu a observava.

Não importava o quanto eu tentasse, eu não conseguia dormir e nem parar de pensar que em algum momento ela poderia sumir se eu a perdesse de vista outra vez.

Levo um pequeno susto quando meu celular começa a vibrar na cômoda ao lado da cama.

Eram 2AM e eu não podia acreditar que alguém realmente estava me ligando. Mas sorri ao ver que era minha mãe, o dia pra ela já havia começado enquanto o meu ainda estava pra começar.

— Mãe? Eu estava com saudades — Disse assim que atendi a ligação

— Eu também, muita. Espero não ter acordado você — Ela parecia receosa

— Não acordou.

— Não consegue dormir?

— Como sabe? — Sorri

— Coisa de mãe. Você está bem? — Suspirei

— Acho muito estranho quando sente essas coisas — Rimos

— Então... O que aconteceu? — Ela perguntou curiosa

— Você não tem que trabalhar não? O dia aí já começou — Ela estralou a língua

— Pra sua informação, hoje eu vou apenas a tarde — Eu murmurei — Então...

— Então que... Tenho estado muito insegura ultimamente.

— E porquê?

Eu ainda não havia contado a minha mãe, sobre a Marina. Não tive tempo quando a vi pela última vez e não queria fazer isso pelo telefone.

— Tenho medo de perder uma pessoa importante — Disse apenas, observando a Marina que se mexeu na cama. A feição em seu rosto havia mudado, antes tranquila, ela agora parecia assustada. Peguei sua mão e uni na minha.

— Perdas acontecem, minha filha. É inevitável, mas você não pode ficar pensando sempre no quando, sem aproveitar o agora.

— Tem razão. Mãe... Tenho que te contar uma coisa.

— Eu também — Ela estava empolgada — Em algumas semanas eu vou ter umas férias e eu pensei em ir ver você, o que acha?

— Acho ótimo — Sorri — É perfeito. Então o que eu tenho pra contar pode esperar, vai ser melhor ainda pessoalmente.

— Então está bem. Mas acho bom você ir dormir agora, já está tarde — Revirei os olhos

— Eu sei. Te amo.

— Eu te amo mais.

*

— Você não vai tomar café? — Perguntei quando a Marina me deu um selinho e ia saindo da cozinha.

A todo momento durante o sono ela se remexia na cama, parecia estar tendo algum pesadelo.

Pela manhã ela agiu como se nada tivesse atrapalhado seu sono. Talvez não mesmo ou ela não se lembrava e eu não queria comentar e causar transtorno pra ela.

— Tenho que ver minha mãe — A encarei séria

— A sua mãe não vai fugir — Fui até ela — E o meu pai já está lá, não precisa você ir correndo sem nem tomar café — Conduzi ela até a cadeira ao meu lado, onde estava sentada anteriormente.

Ela me olhou com cara de poucos amigos, mas não protestou.

Contei pra ela sobre o Liam e que ele estava arrependido, mas ela não quis falar sobre.

— O que foi? — Ela perguntou quando me viu olhar para o celular

— Não sei ainda. O Liam disse que o James e a Hannah não foram pra escola hoje.

— Talvez eles tenham fugido juntos — Riu

— Se não estivéssemos tão perto das provas eu sugeria que fizéssemos o mesmo — Lhe roubei um beijo.

O beijo tinha gosto de café recém passado e nossas línguas brigavam por domínio.

Uma de minhas mãos agarram firme a cintura da Marina, nos aproximando, enquanto a mesma agarrou firme meus cabelos pela nuca.

O beijo estava se tornando urgente e mesmo que ninguém estivesse em casa, não queria correr o risco de ser pega no flagra no meio da cozinha.

— O que você acha de... — Parei o beijo pra falar, mas outra coisa me fez me afastar da minha namorada.

A campainha.

Revirei os olhos e ela riu.

— Já que achou engraçado, porquê não vai abrir? — Ela me deu um tapa na mão que ainda estava em sua cintura.

— Se você me soltar, eu vou — Neguei com a cabeça

— Não quero.

A campainha tocou repetidamente. Quem quer que fosse, estava com pressa.

Marina saiu para abrir a porta e eu fui atrás por pura curiosidade de saber quem era esse infeliz.

— Hannah? Entra — Tinha que ser um deles. Sempre é. Meus amigos atrapalhadores.

— Achamos que você e o James tinham fugido pra alguma praia — Falei quando a mesma entrou e só então pode ver que ela estava chorando — O que houve? — Olhei pra Marina que abraçou a amiga.

— O James... — Ela chorava

— Vocês terminaram de novo? — Marina perguntou, mas Hannah negou com a cabeça

— Então... — Me aproximei e ela me entregou o celular.

Marina me olhou sem entender, ainda com a amiga entre os braços e eu li o mais rápido que pude a mensagem que estava aberta.

— O James foi sequestrado.

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