CAP 39
Maria C.M. Ferri
Depois que a Lívia saiu atrás da Marina eu só conseguia andar de um lado para o outro na sala.
Não conseguia parar de pensar sobre o que poderia estar acontecendo e pior, o que poderia acontecer.
Sentia um aperto no peito só de pensar em como a Marina estava, eu torcia pra que ela estivesse bem — A considerar a situação — Ficava apreensiva também em relação a Lívia.
Agora que tudo havia mudado eu não nutria mais um sentimento de indiferença para com ela e sim um de carinho familiar.
Escutei a campainha tocar repetidas vezes, isso me deu a impressão de que seja quem for está apertando aquilo a algum tempo.
No primeiro momento pensei que poderia ser a Marina, mas com certeza não era já que a Lívia acabou de sair, então só poderia ser o meu pai.
Mas por que ele não usou a chave?
— Ah..! É você — Disse com desânimo ao abrir a porta
— Posso entrar? — Ele estava receoso e morto de vergonha, eu sabia, mas dei de ombros e ele entrou — Eu sei que você não quer ouvir minhas desculpas, mas...
— Liam — Chamei sua atenção. Eu esperava poder dizer, mas um sentimento de angústia tomou conta de mim, me fazendo querer chorar
— Está tudo bem? — E aquela pergunta foi a deixa pra que eu deixasse tudo pra fora
— Não — Neguei com a cabeça, enquanto chorava. Com a cabeça abaixada, senti quando Liam se aproximou de mim, me abraçando. Sem questionar mais nada, apenas me dando apoio.
Me agarrei a ele com força, um misto de sentimentos tomava conta de mim naquele momento. O medo de perder a Marina, a impotência de não fazer nada pra ajuda - lá naquele momento, o alívio que eu estava sentindo por finalmente ter meu melhor amigo ao meu lado de novo.
Algum tempo depois quando eu finalmente consegui me acalmar, nos sentamos no sofá e eu contei tudo que estava acontecendo nesse dia louco.
— Não sei o que é mais surpreendente. O seu avô ser seu tio, a sua sogra ser sua prima ou descobrir que a sua sogra não é a mãe biológica da sua namorada — Ele negou com a cabeça — Não julgo a Marina, eu também teria fugido no lugar dela — Eu o encarei — Desculpe!
— Eu só quero ela de volta, entende? — Senti as lágrimas a beira dos meus olhos novamente
— Vem aqui — Me aconcheguei em seus braços e ele afogou sua mão no meu cabelo, voltando a dizer — Ela é forte e vai voltar pra casa, você vai ver.
— Vai mesmo, não é? — Me afastei para encara - ló e ele assentiu — Acho que ela ainda vai estar chateada com você.
— Eu sei, mas eu vou fazer com que ela me perdoe. Você me perdoou, não é? — Fez bico
— Não devia, mas eu amo você demais pra ficar com raiva pra sempre — Sorri — Só me prometa que nunca mais fará algo assim, Liam. Eu não quero, não quero mesmo ter que me afastar de você.
— Eu prometo — Cruzou os dedos — Eu também não quero perder você, jamais. — Me abraçou — Você vai ter que me aturar até a gente começar a usar bengala — Ri pensando na possibilidade — Mudando de assunto — Me afastei do abraço— Será que a Lívia está se saindo bem com os "pais do mal"?
E foi então que eu voltei a ficar apreensiva sem saber o que estava acontecendo. Mas eu sabia que podia confiar que a Lívia traria a Marina de volta. Eu tinha que confiar.
Lívia Bittencourt
— Fique á vontade. A casa é sua! — Amanda disse dando passagem para que eu entrasse.
Pela desorganização da casa, ela não parecia ter mudado, nesse quesito.
— Onde ela está? — Falei me voltando pra ela, enquanto a mesma fechava a porta — Onde está a minha filha, Amanda? — A empurrei contra a porta, com uma das minhas mãos em seu pescoço.
— Se me fizer... Alguma... Coisa — Quanto mais ela tentava falar, mais raiva eu sentia e isso me fazia apertar mais seu pescoço — A sua... filhinha... Vai pagar o preço — Então eu a soltei — Melhor assim — Disse passando a mão em volta do pescoço, onde havia ficado a marca dos meus dedos.
— Me diz logo o que você quer e a gente acaba com isso de uma vez.
Por fora eu tentava aparentar o mais forte possível, mas eu estava com medo dos pés a cabeça. Medo do que o maldito do Jonas poderia fazer.
— Não assim, tão rápido — Não foi a Amanda quem disse, mas não precisava de muito pra saber quem era.
E aí estava ele, com aquele maldito sorriso perverso no rosto. Mas não foi nele que minha visão focou em prestar atenção e sim na minha garotinha que tinha os olhos cheios de lágrimas.
— Solta ela — Eu disse tentando me aproximar, mas ele deu um passo pra trás. Foi então que eu vi que ele estava com uma faca envolta do pescoço da minha filha.
Eu via nos olhos dela o pedido de socorro, mas eu não sabia o que fazer. Eu só sabia que não podia correr o risco de perde - lá, isso não.
— Eu estou aqui, não estou? Então deixa ela ir, ela não tem nada a ver com isso — Eu tentava segurar as lágrimas
— É... Você tem razão — Jonas disse — A princesinha não tem nada a ver com isso — Deu um beijo na bochecha da Marina que estava com a boca amordaçada — Mas EU sou o pai dela, ENTÃO EU DECIDO! — Ele gritou
— Fica calmo, amor — Amanda se aproximou dele e eu a olhei como nunca havia olhado antes, com nojo.
— Como, você pode ficar do lado dele Amanda? — Eu sabia que dos dois a única capaz de ter algum tipo de empatia, seria ela. — Você não vê o que ele está fazendo? Ela... Ela é sua filha — Dizer aquelas palavras fizeram meu coração se partir, mas era preciso — Como pode fazer isso com ela? — Ela me olhava confusa, como se finalmente entendesse o que estava acontecendo ali.
— Não dê ouvidos a ela, sua estúpida! — Jonas cuspiu as palavras — Não vê que ela está tentando enganar você?
— Não é verdade — Dei um passo pra frente, me aproximando mais dela — Eu nunca mentiria pra você — Neguei com a cabeça — Se ele a machucar — Apontei pra Marina que estava apavorada — A culpa vai ser sua — Ela me encarou com as sobrancelhas franzidas.
— Não! — Ela negou com a cabeça — Ele não vai fazer isso, ela é o nosso bebezinho — Ela disse tentando se aproximar da Marina, mas ele recuou — VOCÊ PROMETEU!! — Ela gritou
— Pare de falar, mulher — Ele bateu com a mão na própria cabeça e a que estava com a faca pressionou mais no pescoço da Marina.
— Amanda — Chamei seu atenção — Me escuta — Cheguei mais perto dela — Se soltar a Marina, a gente resolve isso, está bem? Só nós três — Ela negava com a cabeça — Eu te dou todo dinheiro que você quiser... Tudo
— Tudo? — Jonas falou ambicioso
— Tudo — Me voltei pra ele — Se você soltar ela.
— Fecha...
— NÃO! — Amanda gritou, antes que ele terminasse de falar — Ela é minha filha e ela vai ficar comigo — Ela sacou uma arma que estava na cintura, eu me afastei.
— Amanda... Pensa bem no que você vai fazer — Ela alternava a arma entre mim e o Jonas que ainda estava com a Marina.
— Você roubou minha arma? — Ele falou surpreso
— Não vou abrir mão da minha filha — Ela disse apontando a arma pra mim — E se você é a única me atrapalhando...
Então Marina gritou. Um grito abafado pela mordaça, mas um grito. Negando com a cabeça e em prantos.
Eu só queria arrancar minha filha dali e leva - lá pra casa.
— Não meu amor, eu não vou fazer isso na sua frente — Ela se aproximou da Marina.
— Não seja maluca! Ande, me dê essa arma — Jonas falou — Você nem sabe atirar — Ele riu
— Ora... Você quer ver?
Enquanto eles discutiram entre si, eu sabia que precisava eu mesma fazer alguma coisa ou aquilo nunca acabaria.
Com pesar, acertei a cabeça da Amanda com um vaso de vidro e a mesma caiu no chão. Sem parar pra pensar, peguei a arma que estava caída.
— Chega dessa lenga - lenga! — Destravei a arma. Ficando atrás do corpo inerte da Amanda — Você vai me entregar minha filha e eu vou sair com ela daqui — Disse apontando a arma pra ele.
Faziam anos que eu não pegava em uma e eu estava nervosa, se não fosse pela minha filha estar na frente daquele canalha eu já teria disparado sem nem pensar.
— Aposto que você sempre sonhou com isso não é? Por um fim na minha vida — Eu o ignorei — Mas acontece que eu também já tive esse sonho e nele quem morria era você — Ele empurrou a Marina e sacou um revólver, apontando pra mim.
Tudo aconteceu tão rápido. Marina caiu no chão. Ele destravou a arma, apontando pra mim. Meu coração dizia pra ir até minha filha e protege - lá, mas eu sabia que ele sentia mais ódio de mim do que de qualquer outra pessoa e se eu fosse até lá só a prejudicaria.
Se eu ficasse poderia levar um tiro. A não ser que eu atirasse primeiro.
O som de disparos se fez presente. Marina gritou. Por causa do impacto fechei os olhos e ao abrir os meus próprios, os olhos de Jonas estavam arregalados, fixados em mim. Eu respirava ofegante. Ele caiu de joelhos no chão.
Uma bala no peito e logo uma poça de sangue estava embaixo dele.
Eu o matei.
— Mãe? — Senti o calor dos braços de minha filha em volta de mim.
— Sim, eu estou aqui — A abracei e chorei — Está tudo bem — Senti uma pontada no ombro, mas ignorei — Você está bem? — Segurei seu rosto em minhas mãos.
— Eu vou ficar bem — Seus olhos estavam avermelhados — Mãe, você está sangrando — Tocou levemente meu braço.
— Eu estou bem — Disse, mas comecei a sentir uma tontura.
— Mãe, você está pálida — Me apoiei nela — Vamos sentar — Ela me conduziu até o sofá, se sentando ao meu lado.
Comecei a sentir meu corpo suando frio. Eu já havia perdido uma quantidade significativa de sangue, fazendo com que boa parte da minha blusa ficasse encharcada.
— Filha — A chamei com os olhos pesados
— Vai ficar tudo bem — Ela dizia pressionando um pano contra o ferimento — Eu vou chamar ajuda, tá bom? — Sua voz estava falhando
— Eu amo você Marina e sempre será assim — Ela chorava
— Mãe...
— Mesmo que eu não tenha muito controle sobre isso — Tentei sorrir — Eu sempre fiz o que eu achei que era necessário por você...
— Eu sei, mãe. Eu sei — Ela usava as duas mãos pra pressionar o sangramento — Só fica comigo, está bem? — Senti meus olhos ficarem mais pesados — Não me deixe sozinha, mãe. Por favor! — Ela encostou sua cabeça no meu peito.
— Eu amo você... Minha filha — E foram as últimas palavras que eu disse antes que uma escuridão me sugasse.
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