CAP 38
Marina Bittencourt
Eu estava com tanta raiva e ao mesmo tempo tão confusa. Tudo que eu queria era que ela me explicasse o porquê, mas ao mesmo tempo eu só queria ficar sozinha, longe dela e de todos.
Coloquei meu celular no bolso e abri a porta, eu precisava sair. Mas percebi que eu saísse por ali teria que explicar muita coisa, então olhei pela janela e percebi que essa seria minha única opção.
Eu nem ao menos sabia pra onde ir, só sabia que qualquer lugar era melhor que aquela casa. Eu nem se quer percebi que estava indo em direção a cafeteria onde vi a Cecília pela primeira vez, só percebi quando parei em frente.
Resolvi entrar e me sentei próxima ao balcão e pedi um café forte. Paguei o café e me levantei para ir embora com o mesmo, mas me bati com alguém. Por sorte não derrubei o café dessa vez.
— Desculpe — Disse sem nem olhar pra pessoa
— Tudo bem — Respondeu de volta e eu voltei a caminhar na direção da saída — Marina? — parei ao ouvir meu nome
— Amanda? O que faz aqui? — Perguntei surpresa. Não esperava ver ela novamente, muito menos agora.
— Pensei que não se lembraria de mim — Ela riu — E respondendo a sua pergunta — Disse estendendo o café na minha direção — Você está bem? — Aquela pergunta foi como um toque na ferida aberta. Senti meus olhos marejarem e mordi o lábio inferior na intenção de conter o choro — Quer conversar querida? — Eu nem precisei responder, ela apenas me abraçou de lado e caminhamos até a saída da cafeteria — Então? Quer me contar o que aconteceu? — Estávamos sentadas uma ao lado da outra no banco do parque.
Várias crianças corriam e gritavam atrás de seus cachorros ou apenas evitando ser pegos na brincadeira, eu observava tentando me distrair.
— Eu... Não sei se devo — Disse sem encara - lá.
Eu não conhecia a Amanda, quer dizer eu apenas a vi uma vez na frente da escola quando a mesma me parou para pedir uma informação e acabamos conversando, mas me lembro da Cecília não gostar dela e agora ela aparecendo tão de repente, justo nesse momento me trouxe uma sensação estranha.
— Vamos! Sei que não nos conhecemos muito, mas pode confiar em mim — Ela sorriu pegando minha mão
Mas será mesmo? Se nem a mulher que eu chamei de mãe a vida inteira, eu conhecia e achava que podia confiar, não foi sincera comigo, por que uma estranha seria?
— Eu briguei com a minha mãe — Ela me encarou atenta — Não gosto de brigar com ela — Continuei — Mas ela fez algo que... Que eu não sei se consigo perdoar — Tentei controlar a vontade de chorar
— Talvez ela não te mereça como, mãe — Eu a encarei — Talvez exista outra esperando por você — Franzi as sobrancelhas
— O que quer dizer? — Me afastei um pouco
— Não está assustada, está? — Ela se aproximou
— Eu acho que eu devo ir pra casa... E conversar com a minha mãe, resolver as coisas — Me levantei e ela me acompanhou
— Mas já? Eu queria muito conversar mais com você — Dei um passo pra trás, disfarçadamente
— Quem sabe um outro dia? Agora eu preciso mesmo ir — Acenei para ela e comecei a andar de volta pra casa. Eu não deveria ter saído, deveria ter ficado e resolvido as coisas.
Por mais errado que tenha sido, eu sei que ela não fez por mal. Mentir pra mim. Mas ainda sim, não faz com que eu não sinta raiva e traída por ela.
Fui tirada de meus pensamentos quando senti alguém puxando meu corpo em uma direção contrária. Alguém que eu não podia ver, me segurava por trás, mas o que me surpreendeu foi ver o rosto do qual eu me despedi agora a pouco.
— O que é isso Amanda? — Disse tentando me soltar
— Só quero o que é meu — Ela sorriu e Inclinou a cabeça para o lado. Nem tive tempo de gritar, a mesma pos um pano entre minha boca e meu nariz e em alguns segundos eu apaguei.
*
Tentei abrir os olhos, eu ainda não tinha recuperado a consciência, mas senti meus braços amarrados e minha cabeça pesada. Conseguia ouvir vozes, uma delas era da Amanda e a outra uma voz masculina, grave.
Por um breve momento consegui abrir os olhos, eu com certeza estava em um lugar fechado, talvez um apartamento e ainda era dia porquê a iluminação era da luz do sol que vinha da única janela presente. Consegui ver os cabelos da Amanda e tombei a cabeça para o lado. Um homem que estava ao lado dela olhou pra mim e veio na minha direção.
— Aí está meu pote de ouro — Ouvi ele dizer antes de perder os sentimentos novamente.
*
Lívia Bittencourt
— Como que fugiu? VOCÊ OLHOU DIREITO? — Eu estava nervosa, como ela poderia ter fugido
— Olha, não grita comigo — Ela me encarou séria — A Marina sumiu e eu também estou preocupada, mas não foi por culpa minha
— Me desculpe! — Pedi — É só que... — Levei a mão ao rosto — Pra onde será que ela foi? — Ela negou com a cabeça
— Talvez ela atenda o celular — Pegou o aparelho
— Isso, talvez você ela atenda, com certeza — Tive esperanças.
Desviei minha atenção quando o meu próprio celular começou a tocar. Era um número desconhecido, fiquei apenas observando a tela do aparelho até finalmente atender.
— Alô? — Levei o celular até o ouvido — Quem é? — Eu estava com pouca paciência para brincadeiras hoje
— Há quanto tempo, querida — Uma voz feminina do outro lado da linha disse — Espero que não tenha se esquecido de mim — Claro que eu não havia esquecido.
Sempre que se menciona o nome do fantasma, ele vem averiguar o motivo.
— O que você quer Amanda? — Fui direto ao assunto. Cecília ao ouvir o nome, deixou o celular de lado e se aproximou de mim
— Achei que fosse gostar de me ouvir — Ela ainda gostava de joguinhos
— Vá direto ao assunto. Estou muito ocupada — Ela riu
— Acho que eu sei o motivo — Eu nada disse — Queria agradecer por ter cuidado muito bem dela, ela é realmente muito linda, mas não se parece comigo — Meu coração disparou
— O que está dizendo? —
— Ah, eu estou falando sobre a nossa doce Marina. Lindo nome, aliás — Senti minhas pernas fraquejarem
Ela estava com a minha filha. A minha Marina.
— Deixe - a, em paz. Se algo acontecer com ela, você vai se arrepender Amanda e eu não estou brincando — Ela riu do outro lado da linha
— Vejo que ainda existe uma fera em você, quando se trata de defender quem você ama — Ela parecia nostálgica, mas eu não estava afim de relembrar os velhos tempos.
— Quero a minha filha — Disse entre dentes
— Você sabe que ela é minha filha —
— ELA É MINHA FILHA E SÓ MINHA! — Gritei — O que você quer? Sabemos muito bem que não é simplesmente seu instinto materno falando — Ela riu
— Tem razão, foi mais forte que eu. O Jonas me mataria se me ouvisse falar assim — Foi então que eu entrei em desespero
— Cadê a minha filha? Deixa eu falar com ela — Comecei a andar de um lado pro outro
— Ah, ela está conhecendo o papai dela
— Sua....
— Você sabe o que eu quero e sabe onde me encontrar. Sabe também que não sou do tipo que gosta de sair da zona de conforto e não sabemos quanto tempo o Jonas vai ter paciência com a doce Marina, ele odeia você e ela... Ela é igualzinha a você — Desligou o telefone
— Maldita — Murmurei enquanto ligava novamente
— O que aconteceu? Ela está com a Marina? Ela está bem? — Cecília me enchia de perguntas e a maldita não atendia ao telefone
— GRR!! — Joguei o celular contra parede
— Ei! — Ela se aproximou de mim
— Ela está com a minha filha — Eu estava nervosa.
Pelo menos o Ricardo e o meu... O Maurício não estavam em casa. Já bastava a Cecília no meu pé.
— Acha... Acha que ela pode fazer algum mal a Marina? — Ela perguntou com medo
— Não — Segurei suas mãos — Ela não, mas... O Jonas, não confio nele
— Temos que chamar a polícia? — Neguei com a cabeça — Mas...
— Não. Sem polícia. Eu vou resolver isso — Ela me encarou espantada — O que é?
— Eu vou com você — Falou decidida.
Me admirava a coragem dela. Tanto que me fez sorrir no meio desse terror, mas era muito arriscado.
— Não — Fui firme — É muito perigoso
— Eu também a amo, não posso ficar aqui com os braços cruzados, esperando — Soltou suas mãos da minha, revoltada.
— Eu sei — Me aproximei dela. Ela virou o rosto e escutei ela soluçar — Eu já tenho uma filha em perigo, não posso por outra também — Ela me encarou com os olhos cheios de lágrimas — Não sei o que aconteceu, mas... Mas eu tenho um forte carinho por você Cecília, um que eu nem imaginava e eu não me perdoaria se algo acontecesse com você por minha culpa — Ela me encarou confusa e em seguida senti os braços dela me envolvendo em um forte abraço. Surpresa demorei a retribuir, mas o fiz.
— Só me prometa que vai trazer ela de volta — Ela ainda chorava — Por favor — Se afastou de mim e eu assenti
— Eu prometo — Sorri fraco — Agora eu preciso ir, já demorei demais aqui — Fui na direção da saída
— Confio em você — Cecília disse assim que passei pela porta, atrás de mim. Sorri para ela e entrei no carro.
*
Passei por vários sinais vermelhos, o que com certeza me traria multas mais tarde, mas eu nem sequer ligava. Tudo que eu conseguia pensar era que eu precisava trazer a Marina de volta pra casa e em segurança.
Mas eu também não conseguia parar de pensar em como seria quando eu a visse de novo. Depois de mais de uma década, apesar da raiva que eu sentia agora por ela ter raptado minha filha eu não conseguia odiar a pessoa que ela já foi um dia. Minha amiga.
Estacionei o carro em frente ao prédio em que ela morava antes de nos afastarmos de vez e era certo de que ela ainda estava ali. Senti meu coração quase sair pela boca só de pensar em subir até lá, mas o medo de perder minha filha não me deixou outra escolha.
Sai do carro e fui pelas escadas, o maldito elevador ainda continuava inútil como eu me lembrava e tudo ali continuava igual.
Alguns minutos depois quando finalmente cheguei no terceiro andar. Tudo ali parecia silencioso, parecia até que ninguém morava ali, mas continuei seguindo até chegar na porta que me levaria até minha filha. Bati na porta.
— Chegou quem faltava — Alguns segundos depois quando eu me preparava pra repetir o gesto, ela me surpreendeu abrindo a porta.
Era ela. Mais velha, claro, mas ainda do mesmo jeito que eu me lembrava e ao mesmo tempo tão diferente que me fazia questionar se algum dia eu realmente a conheci.
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