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CAP 37

Maria C.M Ferri

— Preciso falar com ela — Lívia diz passando por mim, indo de encontro as escadas.

Estávamos apenas nós duas na sala, meu avô... Meu tio — Acho que vou levar um tempo pra me acostumar — Estava no escritório, tentando conversar com o meu pai, que não queria ouvir as explicações dele e com razão.

— Melhor você não ir agora — Disse segurando seu braço. Ela me encarou e se sentou na escada — Ela está de cabeça quente e eu tenho certeza que a última pessoa que ela quer ver é você agora — Ela começou a chorar

— Eu só... Eu só queria proteger ela — Cobriu o rosto com as mãos

Eu me sentei um degrau abaixo e pus a mão em seu ombro.

Eu não sei, mas depois das revelações de hoje, algo em relação a ela mudou pra mim.

— É normal ela estar chateada — Ela me encarou — Você escondeu a verdade dela por anos. Você não esperava que ela te abraçasse e te enchesse de beijos não é? — Ela desviou o olhar

— Claro que não, mas ela nem me deixou explicar — Sua voz ficou embargada — Tudo que eu fiz foi por ela, porquê eu queria que ela ficasse segura e bem e isso não ia acontecer se eu a deixasse com eles — Tinha raiva em sua voz

— Os pais biológicos dela? — Quis saber. Ela exitou, mas assentiu — Você os conhecia bem? — Eu estava curiosa e ela não tinha com quem conversar, então eu estava me oferecendo pra ouvir

— Sabe... — Ela disse baixo e eu me aproximei — Você é muito curiosa — Revirei os olhos, voltando para a mesma posição de antes

— Se você não me contar, vai contar pra quem? — Cruzei os braços — E além do mais, vai ser bom pra quando eu for conversar com a Marina, ela...

— E quem disse que ela vai ouvir você? —

— Eu sei que sim. Mas me conta, você os conhecia ou não? — Ela me ignorou — Você roubou ela? — Ela voltou a olhar pra mim, incrédula

— Claro que não! — Quase gritou — Eu salvei ela — Ela disse pensativa, parecia lembrar do ocorrido

— E aí, como... Você os conheceu?

— Eu e a Amanda nos conhecemos na escola — Começou — Estávamos no penúltimo ano quando ela chegou. Ela era bem tímida. Isso porquê eu não a conhecia bem ainda — Riu — Bom... Nos tornamos amigas — Ela olhou pra mim — Não foi difícil, a gente pensava igual sobre quase tudo e tínhamos gostos parecidos, era como... — Ela voltou a encarar o nada, pensativa — Era como se ela fosse uma versão de mim, uma que gostava de se arriscar e fazer coisas que eu mesma não tinha coragem de fazer. Bom, e aí a gente cresceu

— E depois? — Quis saber. A essa altura, eu já estava com o queixo apoiado nas mãos, interessada.

— Nós seguimos caminhos diferentes, mas estávamos sempre juntas — Continuou — Sempre, mas...

— Mas?

— Mas tudo mudou quando ela conheceu o Jonas. Aquele ser asqueroso — Fez cara de nojo — Foi aí que nós começamos a brigar, o tempo inteiro — Voltou a olhar pra mim — Por qualquer motivo, por menor que fosse. E quando eu disse que não gostava dele? Nossa, foi a gota d'água — Ela revirou os olhos — Acredita que ele veio dizer pra mim que eu só estava com ciúmes? Que eu era interessada na Amanda — negou com a cabeça

— E você não estava? — Perguntei curiosa

— Interessada nela? — Falou incrédula — Claro que não

— Na verdade eu estava falando sobre os ciúmes — Ela abriu e fechou a boca sem saber o que dizer — Pode continuar — Incentivei

— Então... — Seus olhos marejaram — A gente... Ela, começou a se afastar. Eu estava furiosa, mas tão furiosa que eu nem fui atrás dela, só deixei ela ir.

— E você se arrependeu disso?

— Muito — Respondeu de imediato — Se eu não tivesse feito isso, com certeza ela estaria bem.

— Ela...

— Não. Ela não morreu — Disse desfazendo meu raciocínio — Pelo menos quando eu a vi pela última vez, ela estava viva. Enfim, quando tomei coragem e fui atrás dela pedir desculpas — Riu sem humor — Eu achei que tivesse batido na porta errada. Ela estava tão... Diferente. Tinham se passado meses, ela começou a usar drogas, se tornou uma viciada — Ela fez uma pausa. Segurando as lágrimas — Foi tudo minha culpa, se eu não tivesse...

— Ei! Não foi culpa sua — Passei a mão nas suas costas. Não sabia o que fazer, mas eu sabia que queria saber o final da história. — E aí, você ajudou ela? — Perguntei me sentando ao seu lado. Ela me encarou por um tempo, antes de voltar a olhar pro nada e responder.

— Eu não ia. Ela não tinha mais salvação. Mas aí... Ela estava grávida — Negou com a cabeça — Quando, quando ela me contou eu nem acreditei, mas aí eu decidi que devia ficar. Não por ela, mas pelo bebê. De alguma forma, todo o carinho que eu tinha pela Amanda, foi transferido pro bebê. — Olhou pra mim — Eu não sei explicar, mas foi o que aconteceu. Bem, então, eu fiquei com ela, mesmo suportando o Jonas e como pode imaginar, ele não perdia uma oportunidade de tentar me prejudicar.

— E como você fez pra ela te entregar a Marina? —

— Não foi difícil — Voltou a encarar o nada — Eu sabia que não ia demorar pra ela voltar aos velhos hábitos. E eu sabia, quando vi a Marina pela primeira vez, quando eu a peguei no colo e ela segurou o meu dedo — Sorriu ao dizer — Eu sabia que não podia deixar ela, ela tinha que ser minha. E foi o que eu fiz. Eu ofereci uma boa quantia em dinheiro e ela nem ao menos pensou... Acho que no fundo eu queria que ela brigasse comigo sabe? Que me fizesse ver o quão sem coração ela seria se vendesse a própria filha, mas ela não fez isso. Ela olhou pro bebê nos meus braços e disse que tínhamos um acordo.

— Então você a comprou — Refleti

— Não. Quer dizer, não exatamente. Primeiro fizemos tudo da maneira legal. Não queria surpresas mais tarde, se a Marina seria minha filha, então ela seria minha filha e pronto. E depois, por trás das cortinas, eu entreguei o combinado. Eu sabia que ela faria isso, a venderia por quem pagasse mais, então porquê não pra mim? Eu a amei desde o primeiro instante — Sorriu — E quem sabe onde ela iria parar se ficasse com aqueles dois? Não, eu tinha que proteger ela. Acha que eu fiz errado? — A encarei surpresa

— Não — Disse sincera — Não mesmo — Sorri

— Agora vai falar com a minha filha — Deu dois tapas na minha mão — Diz que eu quero explicar tudo — Me levantei da escada

— Ela tem ao menos que ouvir você — Disse e comecei a subir as escadas, indo atrás da Marina.

Fui até ao meu quarto, mas ela não estava. Então provavelmente estava no antigo quarto dela.

— Marina, sou eu — Bati na porta — Você pode abrir? Quero conversar com você — Sem respostas — Se você não disser nada eu vou entrar — Alertei — Marina — Abri a porta, entrando no quarto.

Estava vazio, como era de se esperar, mas uma coisa estava errada. Senti o vento soprar e me virei na direção.

— Merda! — Fui até a janela.

Voltei para a sala e encontrei a Lívia andando de um lado pro outro.

— Foi rápido — Ela sorriu nervosa — Então, ela vai deixar eu me explicar? — Perguntou nervosa.

Eu não sabia como dizer, mas tinha que dizer.

— Não falei com ela — Disse e ela me encarou confusa

— E o que está esperando?

— Ela... Ela não está.

— Como assim, não está? — Caminhou até mim

— Eu acho que a Marina fugiu. — Disse por fim e começando a acreditar que aquilo realmente estava acontecendo.


James Smith

— Por que você já vai? — Hannah disse olhando pra mim. Ela ficava linda quando fazia bico. Comecei a rir — Do que está rindo? — Ela se sentou na grama, onde estávamos deitados. Ainda segurando minha mão.

— Você fica muito fofa quando faz bico — Me sentei ao seu lado. Ela revirou os olhos

— Você ainda não me disse porquê vai embora. A minha mãe gostou de você — Ela sorriu

— Eu também gostei muito dela.

— Mas? — Me encarou esperando uma resposta

— Não quero estar aqui quando o seu pai chegar — Ela abaixou o olhar

— Certo. Não julgo você, também fugiria da presença dele se pudesse — Segurou nossas mãos unidas na altura do rosto — Você ainda não me contou o que ele te disse no outro dia.

E eu nem diria. Provavelmente nunca.

Flashback — Algumas semanas atrás

— Então você está namorando a minha filha? — Ele caminhou até sua mesa no escritório, se sentou na cadeira atrás dela e apontou para a cadeira a frente.

— Sim, senhor — Disse me sentando — Minhas intenções...

— Não me interessam suas intenções com ela — Me interrompeu — O que eu quero é que você se afaste dela, o quanto antes. Não me importa se vai machucar o coração dela ou coisa do gênero, mas faça — Eu apenas o observava.

Já sabia que ele não era um bom homem, mas ainda sim, me surpreendi.

— Você me entendeu? — Continuou quando eu nada disse.

— Ouvi bem o que o senhor sugeriu — Disse me levantando — Mas vou ter que recusar — Ele me encarou surpreso, talvez pela minha coragem ou idiotice — Não vou abrir mão da Hannah, a não ser que a mesma me diga que não me quer.

— Acho que você não me entendeu — Ele se levantou — Se não se afastar da minha filha — Disse caminhando até mim — Vai se arrepender. E eu não costumo dar segundas chances — Ameaçou

— Vou correr o risco — Disse e saí antes que ele pudesse dizer ou fazer qualquer outra coisa.

Flashback off

— Não foi nada demais, mas temos opiniões diferentes. — Menti

Me despedi da Hannah e sai de sua casa. Ela me ofereceu carona, mas eu preferi recusar. Não queria trazer problemas pra ela e também eu precisava caminhar e pensar.

Eu já havia me decidido. Não me afastaria da Hannah por nada e muito menos a base de ameaças.

Eu estava andando tranquilamente quando uma Van preta passou em baixa velocidade. Estava prestes a anoitecer e a rua estava pouco movimentada.

Tive um mal pressentimento e comecei a adiantar os passos, mas antes que eu pudesse pensar em correr, dois caras enormes me agarraram e me jogaram dentro da Van.

Eu estava sem reação, mas a porta ainda estava aberta. Eu só precisava correr pra fora dali, mas então ele apareceu do lado de fora da Van, se aproximou e disse:

— Eu disse que não dou segundas chances, garoto — Senti uma forte pancada na cabeça e apaguei.

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