CAP 36
Marina Bittencourt
Como ela pôde fazer isso comigo? E justo com o Liam! Quem ela vivia dizendo que era como um irmão pra ela. Mentirosa.
— Marina, espera! — Ela gritava logo atrás de mim
Por culpa desse pé estúpido eu não podia correr nem se quisesse. Estava melhor, mas ainda doía.
— Olha pra mim — Ela segurou meu braço — Deixa eu me explicar — Ficou na minha frente, bloqueando minha passagem
— Não. Quero. Ouvir. Você — Disse pausadamente tentando segurar as lágrimas — Saía da minha frente — Puxei meu braço
— Não! Não sem antes conversar com você. Por favor — Ela estava prestes a chorar.
Eu queria acreditar nela, queria mesmo. Mas aquela maldita imagem deles juntos não saia da minha cabeça. Minha vontade era de mandar ela embora da minha vida de uma vez.
— Escuta — Ela tentou se aproximar, mas eu me afastei. Acabei resmungando quando apoiei o pé no chão com certa força. — Vamos pra casa, você repousa o pé e me escuta. Está bem? — Eu a encarei, furiosa sem dizer uma palavra.
Eu não queria ir pra minha casa, não com a minha mãe lá. E ficar em pé só iria piorar minha situação e no fundo eu queria ouvir ela se explicar, queria que ela me convencesse de que eu estava errada.
— Vamos logo — Ela me deu um leve sorriso e assentiu.
Um pouco mais de meia hora depois chegamos na casa da Cecília. Infelizmente tive que aceitar a ajuda dela para subir as escadas e ir até seu quarto.
— Trouxe a bolsa de gelo — Ela voltou e se aproximou da cama onde eu estava com a perna esticada.
Ela se sentou na beirada da cama e colocou a bolsa de gelo entre o meu pé e o tornozelo. A sensação era gratificante.
Com a mão dela ainda sobre minha perna eu fiz um som com a garganta chamando sua atenção.
— Eu estou ouvindo — Disse cruzando os braços — É bom aproveitar enquanto não posso ir a lugar nenhum — Ela se sentou mais perto de mim e suspirou
— Não vou dizer que o que você viu não era o que pareceu, mas eu fui tão pega de surpresa quanto você...
— Você está fazendo isso mesmo? Olhando nos meus olhos e me dizendo que não teve culpa? — Alterei a voz
— Meu amor você sa....
— Não. Me chama assim — A interrompi — Não mais — A todo custo eu tentava segurar as lágrimas
— Marina, eu nunca faria isso com você — Ela disse séria — Nunca faria isso com a gente — Pegou uma de minhas mãos, tentei puxar de volta, mas ela foi mais forte — Eu amo você. E eu nunca mentiria sobre isso.
— Mas...
— O Liam me pegou de surpresa, eu realmente não esperava e nunca concordaria com aquilo. Você não sabe o quão irritada com ele eu estou. Mas eu peço que me desculpe, eu podia ter previsto, sei lá ou me afastado antes — Eu acreditava nela. No amor que sentimos uma pela outra.
— Por que ele fez isso? — Quis saber
— Eu... Não posso dizer — Puxei minha mão de volta
— Você ainda o defende?! Como quer que eu acredite em você?! — Tentei me levantar, mas ela me impediu
— Você não vai sair daí
— Você não se meta na minha vida — Estava prestes a me levantar quando em um movimento rápido feito por ela a mesma me fez cair na cama e ela por com de mim — Saía de cima de mim — Gritei
— Não — Ela negou com a cabeça — Não até você parar e me ouvir — Segurou meus braços ao lado da minha cabeça
— Quer saber de uma coisa? — Eu a encarei — Você vai me ouvir agora, eu odeio você — Ela me olhou confusa e depois sorriu
— Você não está falando sério — Ela disse desacreditada
— Ah, eu estou — Afirmei com a cabeça — Não sabe o quanto eu te odeio nesse momento — Ela suspirou e sorriu de lado
— E eu também amo você — Ela veio na minha direção e eu virei o rosto
— Eu te odeio tanto.
— Eu te amo mais do que amo a minha vida e isso nunca vai mudar — Minha visão começou a embaçar e eu sabia que não conseguiria mais segurar as lágrimas
— Eu odeio o fato... De amar você — Ela sorriu — Sua estúpida — Foi a minha vez de sorrir — Não consigo odiar você, não consigo. — Ela soltou um de meus braços e acariciou meu rosto, limpando as lágrimas que havia escorrido.
— Assim como eu não consigo deixar de amar você — Disse aproximando seu rosto do meu.
Unindo nossos lábios em um beijo lento, ela se ajeitou melhor sobre meu corpo, com uma perna de cada lado. Logo sua língua pediu passagem na minha boca e eu cedi.
O beijo ficou mais ávido, minha mão foi em direção ao zíper de suas vestido, deslizando para baixo até o final.
Paramos o beijo e nos encaramos por um tempo, ofegantes. A ajudei a se livrar do vestido e observei seu belo corpo só de langerie.
— Gosta do que vê? — Ela disse sedutora vindo até mim
— Muito — Respondi me sentando na cama, retirando meu vestido.
— Eu já disse o quanto você é linda? — Ela se aproximou jogando meus longos cabelos pra trás
— Sempre — Disse antes que ela tomasse meus lábios junto aos seus, num beijo voraz. Descendo para meu pescoço onde ela ficou por um tempo isso com certeza deixaria uma marca
Me deitando de volta na cama ela desceu até meus seios ainda cobertos pelo sutiã azul escuro que eu usava.
Depois de se livrar do mesmo, ela se concentrou em meu seio esquerdo, enquanto massageava o outro com a mão. Em minhas mãos estava um punhado de seus cabelos, soltei um gemido abafado por estar mordendo o lábio.
Eu sabia que não havia ninguém em casa e nem o risco de sermos pegas, mas ainda sim, não queria escândalos.
Segurei seu rosto entre minhas mãos e beijei seus lábios. Ela fez uma trilha de beijos desde o meu rosto até chegar na minha barriga, onde eu já me contorcia de expectativa e excitação.
— O que está esperando? — Disse quando ela parou
— Gosto de observar você — Deslizando o dedo indicador ao redor dos meus seios ela fez caminho até a beirada da minha calcinha — Gravar seus traços — Dito isso, ela deixou um beijo em minha coxa e quando dei por mim já estava sem calcinha.
*
— Então o Liam é gay? — Estávamos na cama, mas precisamente tomando café na cama.
— Mas você não pode contar pra ninguém — Cecília disse séria — Ele ainda não está pronto, mas eu tive que contar pra você porquê não quero te perder e foi culpa dele — Ela encheu a boca de torrada
— Por isso ele beijou você na frente da mãe — Disse mais para mim do que pra ela — Deveria conversar com ele — A observei, ela comia feito criança
— Eu vou — Disse de boca cheia e eu ri — O que foi? — Ela me encarou confusa
— Você está com a boca toda suja — Neguei com a cabeça
— Me ajuda — Ela se aproximou — Não consigo ver onde está sujo né? — Disse passando a mão nos lábios
— Você parece uma criança — Limpei toda sujeira de seu rosto
— Eu não sou criança, muito pelo contrário — Ela me roubou um selinho
— Sabe o que eu tava pensando? — Ela negou com a cabeça
— Não mesmo. O quê? — Voltou a atenção pra mim. Abri a boca pra dizer, mas nada disse quando ouvi meu nome, mais precisamente minha mãe gritando meu nome — É a Lívia? — Nos encaramos e eu levantei da cama.
Felizmente eu não sentia mais dor alguma, apenas um incomodo quando eu forçava muito o pé ou corria.
— Ela vai me matar — Disse antes de sair do quarto — Quando cheguei no meio das escadas ela me encarou, parecia aliviada e com um pouco de raiva também — Oi — Disse sem ter certeza de que era o certo a dizer
— Oi? Você sai, passa a noite fora e nem pensa em me ligar? — Eu sabia que ela estava se segurando pra não fazer um escândalo — E que roupa é essa? — Eu estava com uma camisa longa da Cecília.
— Pai? — Ela disse e só então notei a presença dela e a do Ricardo que tinha acabado de entrar
— Lívia — Ele disse com um misto de surpresa e felicidade
— Eu... Eu só vim buscar a Marina — Ela estava de costas pra mim, mas sabia que ela estava sem jeito
— Que ótimo, vamos ter uma reunião de família? — Cecília disse atrás de mim quando o avô dela entrou. Parecia mesmo uma reunião em família, se fosse combinado, ninguém viria.
— Eu queria mesmo ver você — Ele disse vindo na nossa direção. Cecília foi em sua direção, mas parou quando ele ficou de frente pra minha mãe — Precisamos conversar — Cecília e eu trocamos olhares.
— Desculpe? Não tenho nada pra falar com o senhor — Minha mãe disse
— Mas eu tenho algo que falar com você... Lua — Todos olhamos pra ele.
Em algum momento eu já havia escutado isso, mas não me lembro onde.
— Lua? Co-como? Do que está falando? — Cecília perguntou. Minha mãe olhou para o Ricardo rapidamente e depois desviou o olhar
— Era por isso que eu queria falar com você — Olhou pra Cecília e depois voltou o olhar pra minha mãe — Desde o dia em que eu te vi pela primeira vez, você me pareceu familiar.
— Eu... — Ele a interrompeu antes que pudesse concluir
— Me deixe falar — Pediu. Ela nada disse então ele continuou — Eu sabia que a conhecia, mas não sabia de onde. Foi então por um acaso que eu reparei na sua leve semelhança com a minha neta — Elas trocaram um olhar rápido e voltaram a prestar atenção no senhor a frente — E ao ver seu sinal em forma de lua no pulso eu não tive mais dúvidas — Disse virando o pulso dela e lá estava ele. O sinal que lembrava uma lua crescente.
Eu e o Ricardo não dizíamos nada, apenas observamos.
— Então uma idéia maluca se passou pela minha cabeça — Continuou — Eu precisava ir atrás da minha filha — O encarei com confusão.
Como assim filha? Eu sabia que minha mãe foi adotada, mas nunca ia imaginar que o pai dela, era avô da Cecília.
— Como assim filha? — Foi a vez do Ricardo se pronunciar
— Contratei um detetive. E ele encontrou você... Bom, acho que é você — Ele tentou se aproximar, mas ela recuou
— Um pouco tarde não acha? — Ela foi em direção ao Ricardo — Juro que não sabia — Ela estava prestes a chorar — Não quando conheci você — Ele prestava atenção a cada palavra — Quando, comecei a suspeitar eu... Eu fui embora — E ela chorou.
Eu nunca tinha visto minha mãe chorar assim. Ela realmente gostava do Ricardo.
— Por isso você foi embora — Cecília disse — Não por causa de mim e da Marina.
— O que tem vocês duas? — Seu avô perguntou.
Ou nosso avô?
— Mas como você descobriu? — Cecília perguntou pra minha mãe. Ignorando a pergunta do avô
— Quando o vi a primeira vez. Senti algo... Estanho e mandei investigarem sobre os meus pais biológicos. — Ela se voltou para ele — Não se engane. Eu nunca quis saber das pessoas que me abandonaram, mas agradeço pelo que fez, eu tive pais incríveis — Ela secou as lágrimas do rosto
— Eu não abandonei você — Ela riu sarcástica, negando com a cabeça — Nunca faria isso. O que aconteceu foi que eu perdi você — Tentou explicar
— Claro, depois de tantos anos você não poderia ter inventado uma desculpa melhor? — Ele passou a mão pelo rosto, nervoso
— Você tinha 4 anos e o Ricardo 2. Eu tinha uma viagem de trabalho, sua mãe já havia morrido e a única pessoa que eu confiava pra deixar você era minha irmã — Olhou pro Ricardo — A mãe do Ricardo.
— Mãe? Você... Você é meu tio? — Ele perguntou sem acreditar
— Você não adotou o meu pai? — Foi a vez da Cecília
— Eu vou chegar lá — Ele voltou a encarar minha mãe
Eu era a única sobrando ali e não estava entendendo nada.
— Estava chovendo, pedi que ela passasse a noite já que você iria com ela pra casa dela, mas ela não quis. Disse que seria melhor levar você naquela noite — Ele negou com a cabeça — Eu estava com um mal pressentimento, deveria ter detido ela, mas não. Eu a deixei ir. Deixei você ir — Todos prestavam atenção. Atentos — No dia seguinte eu recebi a notícia. O carro tinha batido, foi parar perto de um rio — Sua voz ficou embaçada. Comecei a acreditar no que ele dizia — Minha irmã morreu no acidente, você... Não encontraram seu corpo e o Ricardo foi o único sobrevivente.
— Então porquê mentiu? Por que sempre me tratou mal durante todos esses anos? — Ricardo se aproximou dele
— Porque eu culpei você! — Gritou — culpei sua mãe. Era culpa dela eu ter perdido minha filha e porquê você teve que sobreviver e ela não? Porquê foi o corpo dela que não encontraram e você ficou ali? Eu culpava você. Então eu queria fazer você pagar pelo que aconteceu
— Eu era uma criança — Ricardo disse sem acreditar.
Eu estava com pena dele. Sofreu todo esse tempo, ainda foi punido por uma coisa que nem ele mesmo teve culpa
— Eu sei. Me desculpe — O mais velho tentou se aproximar dele, mas Ricardo recuou
— Então somos primas? — Cecília se aproximou de mim
— O quê? Somos? — Eu estava confusa
— Somos — Ela afirmou — Se a Lívia, é filha do meu avô, que na verdade é meu tio, que é tio do meu pai, e pai da Lívia, isso torna ela prima do meu pai e minha também, e o que faz de você minha prima já que você é filha dela — Cecília falou alto chamando a atenção de todos — Tá aí uma coisa que eu não esperava
— Nem eu — Olhei pra minha mãe
— Pai, você é meu pai né? — Ricardo olhou surpreso pra Cecília
— É claro que sim, Maria Cecília — Ele veio até ela
— Era só pra ter certeza — Ela o abraçou — Se alguém tiver mais algum segredo familiar, a hora é agora — Ela disse rindo — Não adianta ficarem com essas caras, somos todos família agora. O que é estranho
E o que isso significava pra mim e pra Cecília?
Minha mãe ainda me encarava, parecia aflita. Fui até ela ao mesmo tempo que o Maurício, mas ela o dispensou.
— Mãe, você está bem? — Ela segurou meu rosto e sorriu em meio as lágrimas
— Você... Sabe que eu te amo não é? — Eu assenti — Isso nunca. Me escuta bem. Nunca vai mudar, você me entendeu?
— Você está me assustando, mãe — Soltei meu rosto de suas mãos. Ela me puxou para um abraço. Chorou e com um pouco de relutância me soltou.
Eu não estava entendendo nada. Ela queria me dizer algo? Só estava emotiva pelas descobertas do dia? O que estava acontecendo?
— Você é minha filha, eu amo você mais que tudo no mundo — Ela segurava minhas mãos — Mas... Mas eu... — Ela começou a chorar de novo
— Mãe, é só dizer. Tá tudo bem — Tentei tranquilizar ela
— Eu... Eu não gerei você — Ergui as sobrancelhas, confusa — Eu adotei você, eu salvei você — Soltei minha mão das suas
— Você... Mentiu pra mim — Minha voz quase não saiu, ao contrário das lágrimas que jorravam — Mentiu pra mim a vida toda — Falei me afastando dela
— Não... Não, eu ...
— Não chega perto de mim! — Coloquei a mão na frente do corpo — Nunca mais — Eu estava furiosa.
Queria que ela sumisse, queria que todo mundo sumisse, queria sumir.
Eu só conseguia ouvir um zumbido e meu coração acelerado.
Olhei para ela uma última vez e subi as escadas correndo. Nem ligando pra dor que causava no meu pé. Por instinto fui até meu antigo quarto e tranquei a porta. Eu já nem conseguia sentir minhas pernas, então me deixei desabar no chão. Tendo como companheiras, as lágrimas e a dor de ser enganada.
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