CAP 31
Marina Bittencourt
Já se passaram dois dias desde
que a Cecília viajou e eu não via a hora de poder vê - lá novamente.
Estava difícil ficar por aqui sem ela. Não que eu dependesse dela, mas sentia falta da sua companhia.
Ontem mesmo foi impossível falar com ela e hoje parecia que iria pelo mesmo caminho. Recebi uma mensagem dela avisando o motivo do sumiço, mas até agora não recebi uma resposta. Talvez tenha descarregado o celular.
Fora que o clima aqui em casa complicou. Sem querer, acabei ouvindo uma discussão da minha mãe com o Ricardo ontem. Pensei em perguntar o motivo, mas ela ainda está chateada por eu ter fugido da festa de aniversário.
Não me arrependo. Até parece que ela nunca fugiu pra ficar com alguém que gostava.
— Você não entende? — Era a voz do Ricardo.
— Você que parece não entender — Minha mãe dizia alto o suficiente para quem quisesse ouvir.
Me aproximei da porta do escritório para ver se conseguia ouvir melhor. Era a segunda discussão que eu ouvia deles em dois dias. Eles pareciam tão bem. Qualquer que fosse o problema eles estavam escondendo de mim e da Cecília.
— Se você não fizer nada a respeito, eu vou — Minha mãe ameaçou
— O que quer que eu faça Lívia? Hum? Você por acaso...
— É sério? — Resmunguei quando alguém bateu na porta da frente.
Me afastei da porta em que estava e fui até a outra porta.
Quem quer que fosse ainda continuava a bater, abri a mesma e franzi as sobrancelhas sem entender.
— Nicolas? O que faz aqui? — Soeei mais surpresa do que pensei que estava.
— Não posso mais visitar meus amigos? — Ele indagou e fez menção de entrar.
— Ah, eu estava de saída — Disse ficando na passagem, o que fez que com ficassemos mais próximos.
— É mesmo? Posso... Acompanhar você? —
Não!
— Po-Pode — Falei saindo de casa e batendo a porta.
Qualquer que fosse os problemas entre a minha mãe e o Ricardo, não queria o Nicolas xeretando.
— Onde vai? — Ele perguntou quando começamos a caminhar
— Na casa da Hannah, tentei falar com ela o dia todo, mas não consegui. — Esclareci
— Não vejo ela desde...
— Desde que estivemos juntos. Na sua casa — Falei de uma vez — Nicolas — Estávamos lado a lado na calçada agora — Somos só amigos, você sabe, não é? — Quis saber
— Claro — Ele deu um sorriso frouxo e eu assenti
— É bom ter as coisas bem as claras — Continuamos a caminhar até a casa da Hannah.
Foi uma caminhada silenciosa, mas não desconfortável. Eu gostava do Nicolas, da companhia dele. Mas também tê - lo por perto me machucava um pouco, ainda pelo fato do... bebê que eu perdi.
Era um assunto que ainda me abalava e eu não sabia como superar.
Não era como se eu tivesse esquecido, eu apenas enterrei o assunto. Mas com o Nicolas aparecendo era como se o assunto tivesse saído da cova. Me sentia culpada por não contar pra ele.
Não ia fazer diferença, mas... também o envolvia de alguma maneira.
— Chegamos — Sua voz me despertou dos meus pensamentos.
Logo soubemos que a Hannah não estava. Ela tinha saído... Com os pais?
Resolvi não aprofundar a conversa. Talvez esse fosse o motivo dela estar sumida.
— Aceita um café? — Nicolas perguntou — Fazer a caminhada valer a pena — Ele bateu seu ombro no meu
— Um café não faz mal — Aceitei o convite.
Em pouco tempo chegamos na cafeteria. Era a mesma em que eu conheci a Cecília.
Desde que cheguei não conseguia parar de olhar na direção do balcão, onde estávamos quando acidentalmente derrubei meu café nela. Sorri ao lembrar. Agora era uma boa lembrança, mas no dia não foi nada engraçada.
— Ei, terra chamando — Nicolas estralava os dedos na minha frente me trazendo de volta
— Você disse alguma coisa? — Me voltei pra ele
— No que estava pensando? — Ele perguntou e eu bebi do meu capuccino, desviando o olhar
— Nada demais — O encarei — Então, como você está? — Comecei um assunto
— Bem, eu estava pensando em viajar um pouco, conhecer novos lugares — Ele bebeu seu café — Queria que viesse comigo — Arqueei as sobrancelhas
— Eu? — Ri — Não, não posso — neguei com a cabeça — Você sabe que eu estudo, não é?
— E eu sei que está no último ano. Eu posso esperar — Ele tocou minha mão em cima da mesa e eu puxei
— Não é o que eu quero. Não me entenda mal, não seria nada ruim conhecer o mundo — Sorri
O problema é que eu não quero isso com você.
— Só não são os meus planos pra agora — Conclui
— Claro. Desculpe. — Ele desviou o olhar.
— Não se desculpe. — Disse — Agora — Fiz uma pausa — Por que foi lá em casa? — Quis saber
— Ah, eu só fui porque... Seu celular está tocando — Ele disse me fazendo olhar pra mesa onde o mesmo vibrava.
Revirei os olhos ao ver quem era. Atendi a ligação já imaginando o que ela diria. E acertei em cheio.
— Preciso ir pra casa — Falei depois de encerrar a rápida ligação
— Sua mãe nunca vai mudar — Ele negou com a cabeça
— Ela me trata feito criança — Soltei o ar
— Talvez devesse mostrar a ela que você já cresceu a muito tempo — Sugeriu
— Boa idéia — Sorri — Vou começar terminando meu café, não preciso ir correndo pra casa — Pisquei e rimos.
*
— Onde você estava? — Minha mãe me interrogou assim que entrei em casa.
— O que houve? Por que está com essa cara? — Perguntei me sentando ao seu lado no sofá.
— Não foi nada — Disse mexendo no cabelo —
Eu sabia que era mentira. Sabia reconhecer quando ela estava triste.
— Por que discutiu com o Ricardo? — Perguntei me aproximando. Ela juntou as sobrancelhas em confusão e eu sabia que era esse o motivo.
— Você ouviu? — Disse sem jeito
— Foi meio difícil não ouvir — Esperei que ela falasse, mas ela apenas encerou o chão — Mãe, pode conversar comigo — Segurei sua mão
— Se ele não me entendeu, você muito menos — Ela disse se levantando
— Por que não tenta? —
— Conheço você muito bem pra saber que não é uma boa ideia — Suspirou — É melhor você ir dormir, amanhã vai levantar cedo — Ela se aproximou, me dando um beijo na testa e saiu.
Eu odiava quando ela insinuava que sabia tudo. Como eu ia agir ou reagir... Mas algo estava acontecendo, algo que ela não queria e nem iria me contar por vontade própria, a não ser que eu a levasse até o limite.
*
Era hoje que a Cecília chegava de viagem. Assim que acordei vi que tinha uma mensagem dela, uma foto dela no aeroporto. Eu estava morrendo de saudades.
Infelizmente ela só chegaria a tarde. O que me deixava mais ansiosa, nem sei se vou conseguir prestar atenção em alguma aula.
— Ei, terra chamando — Hannah disse batendo palmas na minha frente
— Oi! — Disse
— No que estava pensando? — Sorri — Ou melhor, quem? — Ela riu — Quando ela volta? — Perguntou
— Já está vindo, mas ela só vai chegar a tarde — Sorri de lado
— Algumas poucas horas, você vai ver que vai passar rapidinho — Ela disse encarando as pessoas que chegavam.
— Fui até a sua casa ontem. Você não estava — Voltou a atenção pra mim — Soube que os seus pais...
— É, eles voltaram — Me interrompeu
— E como, você está? — Ela revirou os olhos
— Não sei se consigo me acostumar com eles aqui. Principalmente o meu pai, você não sabe o que ele fez
— O quê? — Falei quando ela simplesmente parou de falar e fixou o olhar na entrada da escola. Olhei na direção em que ela estava olhando e vi o James.
Eles pareciam em uma bolha, só deles.
— Você ainda não se acertou com ele? — Perguntei quando ele nem se aproximou de nós, apenas seguiu caminhando para o outro lado do pátio.
— Não — Disse quase em um sussurro
— Hannah — Toquei em seu braço e ela voltou a atenção pra mim. Seus olhos estavam marejados — Você realmente gosta dele não é? — Ela assentiu — Então o que está esperando? Outra aparecer e conquistar ele? Eu não conheço tanto o James, quanto conheço você, mas sei que ele está realmente apaixonado, qualquer um pode ver.
— Eu...
— Você tem que ir atrás da sua felicidade, não importa o que custe — Acariciei seu rosto — É melhor ter uma vida cheia de riscos do que uma carregada de arrependimentos — Sorri lhe passando confiança.
*
O dia se passou na mais pura
lentidão.
A Hannah me contou sobre o terrível jantar que teve. Eu estava triste por ela. Os pais demoram tanto tempo pra estar com ela, e quando voltam a tratam desse jeito.
Por mais que ela se fizesse de forte eu sabia o quanto ela estava sofrendo e como se não bastasse ainda tinha a situação dela com o James.
Eu a chamei para dormir lá em casa, de início ela recusou, mas acabou aceitando. Só disse que iria em casa pegar algumas coisas e viria a noite.
Eu já havia chegado em casa a algum tempo. Minha mãe não estava em casa, o que significava que eu estava sozinha.
Depois de tomar banho, eu vim pra sala assistir TV pra passar o tempo. Mas nem a televisão estava conseguindo me distrair.
Ouvi batidas na porta e levantei correndo pra abrir. Eu não estava esperando ninguém e a Hannah só viria a noite, então só poderia ser a Cecília.
Meu sorriso se desmanchou quando vi que não era ela.
— Não sabia que minha companhia era tão desagradável assim — Ele riu, entrando.
— Nicolas o que faz aqui, de novo? — Perguntei diretamente
— Não posso mais visitar você? — Pareceu ofendido
— Todos os dias? — Fechei a porta —
— Desculpe, não sabia que não era bem vindo — Ameaçou sair
— Não foi isso que eu quis dizer. — O impedi — A verdade é que, a Cecília está pra chegar e vocês não se dão muito bem, não quero um climão, entende? — Esperava que ele entendesse e fosse embora
— Por que está tão preocupada? Eu sou seu amigo a muito mais tempo — Se aproximou
— Sim, mas... Acontece que a Cecília...
— Está tudo bem, venha aqui — Juntei as sobrancelhas em confusão — Ou não posso mais abraçar você? — Riu
— Pode — Dei de ombros e ele me abraçou.
Um abraço apertado demais, íntimo demais. Comecei a me afastar, mas antes de fazê - lo por completo ouvi a voz da Cecília, sem nem ter escutado ela abrir a porta.
— O que você está fazendo na minha casa? — Era visível seu incômodo. Me afastei do Nicolas por completo.
Ela olhava furiosa para ele.
Para ele, e em nenhum momento, pra mim.
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